o
anjo se arrasta
pela
calçada e sonha com a ruína
da
cidade industrial enquanto mede
com
os olhos vermelhos a distância
e
a trajetória do voo impossível
até
o Paraíso onde queima a sua alma
inexistente
como o azul da voz que ecoa
em
sua asa amputada. A ponte
que
leva pra dentro tem chão de vidro
moído
e ele escreve com passos e sangue
as
palavras que suas asas riscariam
nos
céus – é mais fácil medir o chão
imaginário
e por isso sempre
mais
letal, mas não se deve olhar
pra
trás e tentar ler as palavras
cor
de vinho que vazaram sobre o pavimento
feroz
porque a asa
que
sobrou arrasta suas penas e borra
a
tinta antes que o sentido
evapore.
Entre
despejos,
catástrofes e flores febris, a asa
solitária
é um aleijão, inútil
como poemas que cicatrizam
na
pele da memória enquanto
anoitece,
iluminuras
que
acendem com seus códigos
as
luzes das avenidas.
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