9/10/2008

O dom de ser observado

O sol te fisgou
No flagrante delito
De caminhar pelas ruas.

O sol tem dedos
Azuis, e unhas afiadas
No ofício das sanguessugas.

O sol se retorce por dentro
Do meu couro cabeludo
Como se o seu cérebro
Fosse massa de modelar.

O sol é uma puta, ou melhor
O sol é um olho vigilante
Que joga o clarão sobre você,
Imigrante ilegal, atrás
Dos muros da cidade qualquer.

O sol está grudado em sua pele
E nas paredes quentes do meu apartamento.

O sol torrou meus olhos
E se esconde no capuz preto
Porque sabe que é culpado
Porque, no íntimo,
Reconhece que o sol é um justiceiro
Cheio de razão, apesar

De você ser frio e verde escuro
Por dentro.

2 comentários:

Aldemar Norek disse...

Bem, não sei se é preciosismo de tratamento, mas mudaria para "o sol fisgou você", que para mim é mais forte até que a solução atual. E gostei da "confusão" de vozes, entre "mim" e "você", o que leva a uma indeterminação entre dentro e fora, sujeito e objeto, sujeito e mundo, como aliás é o poema.Ou fiz confusão? Em qualquer caso postei um verbete sobre o mundo porque tem a ver com isso. Ou será com o neo-inutilismo???

Aldemar Norek disse...

A propósito, adorei os links. "Dio!" para Diogo Mainardi é o bicho!!!! rs.
O que mais me incomoda aí não é o teor do que ele escreve, mas o fato ele escrever MUITO MAL !!! Se o texto dele tivesse alguma qualidade poderia até valer a pena ler, concordando ou não. Não se fazem mais Nelsons Rodrigues e Paulos Francis como antigamente....