11.8.15


~

Primeiro foram os móveis. As malas cheias. A roupa. Os objectos. Algumas memórias. Seguiram-se os novos habitantes. As plantas. Cactos porque nem sempre estou presente. Alguns novos objectos: oferecidos ou comprados em lugares distantes. Trazer o mundo de fora para o interior. as limpezas, o cozinhar e o arrumar também ajudaram. Viver a passagem das quatro estações. Sentir o ar a mudar. Nova roupa de cama, uma manta no sofá, outras receitas. Enchê-la com amor. Habitar em conjunto. Criar rotinas. Usar electrodomésticos. Limpar muito. Partir qualquer coisa. Mudar o tapete da entrada. Arranjar um local para as pantufas e outro para os chapéus de chuva. Viver o espaço. Trabalhar na secretária. Ouvir música na cozinha. Ler na cama.
Mas nada me transformou mais o sentido de lar, nada me aproximou mais da minha casa, do que a ceder a uma amiga, de coração.
É a minha casa por isso pode ser tua.

7.8.15

Escritórios....




Cada um tem o escritório que merece.

Porque é que já não vale a pena levar as meninas ao cinema



A TV ganhou.
Criou personagens de mulheres com tomates.
Interpretadas por actrizes com eles no sítio.
Tal qual a vida real.
Algo que merece ser visto, aqui.


Cover me up!


Tal como quando descobri fuet vou insistir no consumo disto até me fartar.

6.8.15

...aqui também é (um pouco) a minha casa...







Estar Só é Estar no Íntimo do Mundo

Por vezes   cada objecto   se ilumina
do que no passar é pausa íntima
entre sons minuciosos que inclinam
a atenção para uma cavidade mínima
E estar assim tão breve e tão profundo
como no silêncio de uma planta
é estar no fundo do tempo ou no seu ápice
ou na alvura de um sono que nos dá
a cintilante substância do sítio
O mundo inteiro assim cabe num limbo
e é como um eco límpido e uma folha de sombra
que no vagar ondeia entre minúsculas luzes
E é astro imediato de um lúcido sono
fluvial e um núbil eclipse
em que estar só é estar no íntimo do mundo

António Ramos Rosa, in "Poemas Inéditos"

5.8.15

Momento Kepler



O leão Cecil foi morto e há quem se assuma horrorizado com a humanidade. Há também quem refile com os primeiros e lembre que há pessoas a morrer no Mediterrâneo e na Palestina e... (isto é sempre uma pescadinha de rabo na boca ao estilo Chalie Hebdo em que afinal eram todos Charlie mas apenas até lhes pisarem os calos).

O acto com o Leão, a meu ver, revela o pior da Humanidade. Não há volta  a dar. Estamos a pagar milhões de dólares, viajar de avião, andar não sei quantos kms por estradas manhosas, só para matar um animal, que anda na sua vida, sem que seja por uma necessidade maior do que o narcisismo. Porque a caça é isso mesmo. Uma atitude do género: a minha é maior que a tua. 
- Olha apanhei uma perdiz e mais quatro lebres.  
- Ahaha eu apanhei uma mãe javali mais cinco leitões! 

Não diminuindo o que se passa no mundo inteiro (muitos milhões de injustiças e calamidades) nada me parece menos natural do que caçar por desporto.
Há guerras, os chimpanzés também matam, há crises de fome e território em todo o mundo desde o início dos tempos. É uma infelicidade mas é Humano. 
Matar por troféus, criaturas que devíamos admirar, é mais do que lamentável. É bestial (como, feito por bestas)

Vamos então pensar nesse  planeta Kepler e esperar por novos inícios ou fins menos vergonhosos.

Que força é esta?



(e dias são ganhos quando se descobrem coisas assim)

3.8.15


Sou incrivelmente perfeccionista e metódica.
Até que algo corre um milímetro fora do guião que planeei e me torno a mais anárquica das criaturas.

Cover me Up!



Mas que bom este regresso.

Interrupção Voluntária de Gravidez pós-referendo em Portugal not a wonderland




A experiência é pessoal.
Há vários anos acompanhei uma amiga que necessitou de fazer uma interrupção voluntária da gravidez. Estávamos em Trás-os-Montes, a trabalhar, e todo o  processo se desenrolou à minha vista.
Assim que soube que estava grávida e sem possibilidades (razões pessoais muito fortes que apenas a ela pertenciam) para prosseguir tentou primeiro encontrar um nº de ajuda na internet. Assim que falou com os profissionais desse nº foi direccionada para uma consulta de obstetrícia num hospital da Beira Interior. Como não possuía carro e o hospital estava a cerca de 1.30 horas de onde morava fui eu a sua condutora. 
Chegada à obstetrícia do Hospital a minha colega aguardou como qualquer outra paciente regular pela  consulta onde lhe foi explicado o tempo de gravidez e os métodos de interrupção que podiam ser  aplicados. A seguir foi para casa, alguns dias, para ter tempo de reflexão.
Passados dois ou três dias voltou ao mesmo local para tomar a primeira medicação. Foram-lhe também pedidos (ou prescritos) alguns fármacos e produtos para infecções e lavagem uterina.
Uma terceira consulta foi necessária - distando da segunda cerca de 3 dias úteis - para a toma final do medicamento abortivo. Esta toma só aconteceu depois de cerca de uma semana e meia desde a primeira consulta e após 3 viagens e medicação comprada. Devo dizer que desta vez esperámos num corredor ao mesmo tempo que se ouviam os gritos do parto de uma mulher prestes a dar à luz. Das outras vezes foram várias as crianças recém nascidas e grávidas que passaram por nós. Eu, que apenas acompanhava, fiquei terrivelmente afectada por este episódio tendo, por exemplo, tomado a decisão consciente de nunca fazer uma IVG.
Passada uma semana de tratamentos diários, em casa, que implicavam a lavagem do útero pelo menos duas vezes por dia, coisa que não se consegue fazer no local de trabalho, a minha amiga foi ainda a uma consulta final verificar se tudo se tinha processado como devia e se não tinha sequelas.

Este texto serve para demonstrar que nada neste processo é fácil ou oferecido. Há sequelas mentais porque ninguém passa por isto sem pensar duas vezes na sua escolha. E há já um preço monetário muito alto a pagar: medicamento, viagens (foram precisas 8 viagens de 100 km) e dias de trabalho.
Tenham vergonha por abusarem ainda mais destas mulheres. A hipocrisia é demasiada, por exemplo, quando se fala tão tristemente de mulheres vítimas de violência doméstica que se escolherem proceder a uma IVG terão de esconder todos estes procedimentos dos companheiros e agora ainda arranjar mais dinheiro para as taxas moderadoras e desculpas para consultas com psicólogos e assistente social. 


1.8.15




Um  Sábado de Agosto em casa.
O calor expande-se lá fora.
Aqui ouve-se música que me ajuda a atingir o que mais preciso por estes dias... serenidade.

Chaves dicotómicas




Os senhores da segurança social/ centro de emprego sabem tanto da sua arte que mais vale arranjarem um sistema de chaves dicotómicas para se guiarem.Assim pode ser que, por uma vez, duas pessoas prestem a mesma informação e não tenhamos que pedir uma segunda opinião como quem vai fazer um tratamento médico.

29.7.15

Hoje

"When did you last feel loved? Had your forehead kissed, your eyes met… had someone listen to the story of your day – had someone invite you into their brain, their routine, their hometown? When was the last time you felt love move back and forth freely between yourself and someone else without having to qualify it or justify it?
It’s a good thing."

28.7.15





Há fins de tarde nada românticos. Sem melancolia. Fins de tarde que simbolizam fins de dias esconsos. Negros, feios, sem magia. A esperança fica à porta, a ponta do pé ali junto ao umbral à espera do dia seguinte.

27.7.15


Em Beja

Posso estar longe de paredes queridas ou abraços confortantes.
Posso estar longe de uma cama que reconheço e de um espelho que me conhece.
Posso não ter espaço para animais de estimação.
Posso ter que escolher apenas plantas de folha carnuda ou cactos.
Posso lutar por manter rotinas.
Mas tenho sobreiros e abetardas. 
Tenho todos os livros de bibliotecas.
Tenho a novidade.
E os lugares... não há substituto para os lugares que nunca se chega a conhecer.

25.7.15



Uma semana numa aldeia à beira mar. 
Sobrevivi a alpercatas com purpurinas "família real espanhola style", um bombardeamento, vindo de todas as direcções, de gin, a gente que vai para a praia com cadeiras viradas de costas para o mar "só para apanhar um bronze", meninas que só sabem apanhar o cabelo no cucuruto e ao hype dos percebes.
Comi choco frito, calcei chinelos do Kiabi, bebi leite ucal, apanhei o cabelo (imagine-se) num rabo de cavalo, li até me doerem os olhos e deitei-me na toalha de praia a saborear a brisa marinha.
Como todos os arqueólogos, sou old fashioned.

Férias já  se foram e começa agora uma nova etapa.
Um mês e meio mais em Beja. Terminar o trabalho iniciado e rumar ao Centro do país lá para meados de Setembro.
Depois é voltar onde já fui  - por quatro vezes - feliz. E iniciar a investigação que sempre quis fazer.
Quando é por gosto não cansa não é mesmo?
Entretanto arranjar mais 20 000 projectos para ter  income (na carteira e na vida).
E descansar? 
Mudar para mim já é descansar. 
A vida não têm modo de pausa.

24.7.15




Vive-se quando se vive a substância intacta
em estar a ser sua ardente   harmonia
que se expande em clara atmosfera
leve e sem delírio ou talvez delirando
no vértice da frescura onde a imagem treme
um pouco na visão intensa e fluida
E tudo o que se vê é a ondeação
da transparência até aos confins do planeta
E há um momento em que o pensamento repousa
numa sílaba de ouro É a hora leve
do verão a sua correnteza
azul Há um paladar nas veias
e uma lisura de estar nas espáduas do dia
Que respiração tão alta da brisa fluvial!
Afluem energias de uma violência suave
Minúcias musicais sobre um fundo de brancura
A certeza de estar na fluidez animal

António Ramos Rosa, in "Poemas Inéditos"

Et voila, Petit!


Pim!



Pam!

Philippe Petit




Philippe Petit



Pum!


20.7.15

18.7.15

o melhor livro que li este ano em três frases






“Anything can happen to anyone, but it usually doesn't. Except when it does.” 

“It's so heartbreaking, violence, when it's in a house-like seeing the clothes in a tree after an explosion. You may be prepared to see death but not the clothes in the tree.” 

“There were two types of strong men: those like Uncle Monty and Abe Steinheim, remorseless about their making money, and those like my father, ruthlessly obedient to their idea of fair play.” 

15.7.15

Set my Mood



Eu acho mesmo que é a música que nos vai salvar.
Se não a humanidade
pelo menos cada um dos dias que passam.

a geografia



Quem manda é a economia.
Não. É a política.

I M P L O S Ã O

Afinal, o fim de tudo, o que fica, é a 
geografia.

E, assim, tudo começa de novo.

Em terra de cegos




Sobre as presidenciais: com estes candidatos estapafúrdio se D. Duarte fosse a jogo ainda ganhava.

Sr. Rei Presidente

Dom Presidente Real

Real Presidente da Republica Monárquica

Dom Rei Precidencial

(ficava aqui até amanhã mas tenho ali em espera um bacalhau à Zé do Pipo)

14.7.15

Bang Bang




O trabalho
O doutoramento
Relatórios vários
A vida

Mas se o Sócrates conseguiu atolar dirigir Portugal e ainda manter a sua actividade como zângano eu também lá chegarei.

13.7.15

Pim, Pam, Pum


Pim! 
"Make them laugh, make them cry, and hack to laughter. What do people go to the theatre for? An emotional exercise. I am a servant of the people. I have never forgotten that."

Pam! 


Pum!


[O esquecimento. Mary a primeira grande estrela do firmamento cinematográfico ensina como se esquece a si mesmo para entreter os outros. O que era para ser comédia é no final um argumento dramático. A esquecida foi ela.]

sei que tinha aqui algo emocionante para postar



O Tio Neil 
nunca falha.

Desde Abril



Já aqui não escrevo desde Abril

Deixa cá ver...
A Grécia continua na mesma.
Portugal idem aspas.
O Panteão está mais pobre. A cultura também se vem esvaziando. A educação, inexistente. O civismo, procura-se.

Morreu-me imensa gente. Outros nasceram a quem nunca imaginei filhos.
Vou ao casamento de um ex-namorado (o que vale mais de entre todos).

Ainda estou cá. Ainda existo.

14.4.15

aos magos de palavras que não param de partir (ainda que um bom artífice deixe para sempre a sua obra)


"A inocência é um estado clandestino na ditadura do mundo; tem se dar astuta, tem de recorrer a todas as torpezas para lutar e escapar."


Jornal Público, 4 Dezembro 1990


Herberto Hélder

Estes até a tocar as pombinhas da catrina me fazem palpitar o coração


Comer ou não comer eis a questão



Ter no menu um daqueles pratos que adoramos. 
Saber que os 5kg de alho que leva me vão fazer parar a digestão
O que fazer?
Pois... comer!
(e ficar durante quatro horas com a sensação de que me vou finar)
E o prato é tibornada de bacalhau.

23.2.15

Set my mood!



Leitora deslumbrada me confesso


José Eduardo Agualusa. Rui Zink. Lídia Jorge. João Tordo. Manuel Jorge Marmelo. Valter Hugo Mãe. 

Todos no Contentor 13.

Defeito profissional



Aos olhos de um historiador tudo isto da Grécia é um espanto.

21.2.15

A fauna de Warhol

"Below, in this brief (mildly NSFW) clip from the Kino Library, we see a typical evening at Max’s Kansas City with the likes of Candy Darling, a topless, insane-looking lipstick-smeared Brigid Berlin, Paul Morrissey, Patti Smith and Robert Mapplethorpe, Taylor Mead, Ray Johnson, Marisol and others. That’s Warhol’s Factory assistant Gerard Malanga who we see smoking as the voiceover reader says the word “pretentious.”"



 Candy Darling, uma das estrelas do cinema de Warhol, Transexual e símbolo LGBT morreu, em 1974, aos 29 anos de linfoma. Foi a inspiração para várias formas de arte.

Uma fotografia sua, no leito de morte,da autoria de Peter Hujar, foi usada como capa do álbum de Anthony and The Johnsons I´m a Bird Now, de 2005. 


Esta imagem foi captada no mesmo momento em que diz a suas últimas palavras "You Know I Couldn't Last" eternizadas numa música de Morrisey (que também se encontra no video acima).



Em 1987 os The Smiths usaram também uma imagem sua, uma still do filme Women in Revolt, como capa do single Sheila Take a Bow.


 Também os Rolling Stones lhe dedicaram uma música - Citadel. Estes convieram de perto com toda a azáfama criativa da Factory enquanto se encontravam nos EUA.



Mas a referência maior a Candy e à sua vivência enquanto ocupante da Fábrica Warholiana veio em forma dois hinos

.
 Uma música que, como um espírito deixado neste mundo, nos leva a esse universo paralelo de arte, experiência, loucura e liberdade.



Trendsetter


A minha bolsa mensal teve que ser esticada para poder passar a ir ao ginásio sem maiores despesas (publicações semanais compradas: Visão, Sábado, Expresso) logo não fui a correr (oh a inspiração temática) comprar roupinhas todas XPTO.
Lá desencantei umas calças de Educação Física que nos últimos tempos eram usadas como pijama, uma t-shirt dos Sex Pistols que tinha a mesma função e mais uma ou outra camisola velha mas que tinha decote e não podia levar para o trabalho sob o risco de os senhores das obras me passarem as tardes a olhar para as meninas que dava para adaptar. Os ténis foram recuperados de umas aulas de Hip-Hop (lembram-se? era mais ou menos zumba mas com musicas da Britney Spears e da Aguilera... muito promissor portanto) a que a minha mana ia enquanto adolescente.

Quando cheguei à primeira aula as pessoas calçavam isto





O que é que eu calçava? Vintage caros leitores. Vintage! Já não há para o comum dos mortais. Como diz o título: Transetter. 



19.2.15

Digam lá que o que isto não é tão lindo




Lúcia Miguel, colega da empresa Era, explica num pequeno vídeo documental a importância da descoberta dos Fornos de Cal da Magra (Baleizão, Beja), num projecto Era/Omniknos.

Os trabalhos de arqueologia implementados em empreitadas de grande dimensão espacial ou patrimonialmente relevantes são hoje uma grande fonte de trabalho para arqueólogos (e vários investigadores que actuam em torno da ciência arqueológica) e para além de revelarem importantes informações sobre o passado do território onde habitamos levantam em igual medida novas e misteriosas questões.
Este é um trabalho não só histórico mas cultural.
Quem não conhece as suas raízes desconhece-se a si mesmo.

Marcus Garvey

A slim fat girl diary



Não me apeteceu ainda escrever directamente sobre este assunto  por estar ainda a interiorizar a novidade mas algo se passou comigo que mudou completamente a minha percepção sobre como quero viver.
Devem ser os 30 anos a aproximarem-se (2,5 meses até lá) mas tenho um  maior medo de me detiorar sem razão. Não é morrer. É viver pior. Já andava assim há uns meses. Por exemplo, a relação com o álcool acalmou muito. Um copinho de vinho e basta. Mas no início do ano recebi a visita das minhas análises anuais... e em vez de boas notícias recebi colesterol. 
Sem drama. 228. O pior não foi a evidência ou o valor foi o que eles espelham. Ali, preto no branco, está escrito que eu sou inerte há 8!! anos e como tal qual uma criança deixada à solta num supermercado. Voltando à idade - quase 30!!! - e à tomada de consciência que se seguiu. Rapidamente comecei a procurar alternativas saudáveis às comidas que o Sô Dôtor me proibiu e inscrevi-me num ginásio.
Destas novidades lhes vou dar conta nestas páginas de uma Magra Gorda (48 quilos de gordura no sangue).

As primeiras impressões é que depois de uma aula de zumba (de que não fiquei fã) consegui perfeitamente vir para casa ler um livro de contos da Lídia Jorge. A intelectual em mim está a sofrer um upgrading. Qualquer dia consigo entender o mistério dos enterramentos em fossas da idade do Bronze enquanto dou três piruetas maluca ao som da Shakira.   

Se virem com atenção a menina que está mais atrás encontra-se alegremente e aos pulinhos a determinar porque é que a massa prevista do vácuo quântico têm pouco efeito sobre a expansão do universo.

18.2.15

Cover me Up!



Tenho um enorme fraco por esta versão do Iggy.
Mas há uma para cada momento.





E claro... o seu a sua dona.

Colesterol


Ou o facto que me veio salvar da inércia.
E agora também eu (sim aquele pessoas que se pudesse estacionava o carro no patamar do 3º andar onde mora) sou um pouco como as protagonistas deste video.


16.2.15

As pequenas conquistas de uma habitante rural




Hoje, em Beja, a comida foi tailandesa.*


*Obrigada  Lidl. Sempre subvalorizado.


O provérbio é oriental: o melhor modo de viver uma vida inteira sem trabalhar é fazer sempre aquilo que se gosta.












15.2.15


Tenho o privilégio de que o meu trabalho me leve para vários pontos do País. Sendo a maioria zonas rurais. Por isso as mudanças e a distância não me entristecem. Quem é que fica desanimada quando vê uma pequena coruja no seu castelo de pedra? Ou depois de avistar uma rara abetarda (tão rara que o corrector ortográfico acha que a palavra não existe)?
Para aqueles que não são tão privilegiados como eu - ou que ainda não aprenderam a olhar - aqui fica um bonito retrato da natureza portuguesa.




14.2.15

Algoritmos gone crazy




Ou de como hoje estou em Beja mas amanhã já posso estar na Siria.

ando toda contente pelo Beck





Quando te conheci ninguém me fazia falta. Estava completa sozinha.
Desde a adolescência há sempre alguém, claro. Há sempre quem nos ocupe o pensamento. Uma vestigial marca do passado, uma presença presente que apenas vale para nos fazer rejeitar ou ser rejeitados, ou uma lembrança de um hipotético futuro que nunca será. São os espectros que vamos coleccionando enquanto passagens vivas.
Dizia que me sentia completa. Vivia sem pensamentos esfuziantes mas habitava espaços e usufruía de pessoas. A ansiedade estava ausente, os caminhos planos, os passos seguros. Havia liberdade em ser só uma.
Depois vieste tu. Conheci-te por fotografia. Onde é que já se viu nos dias de hoje? Nesse dia olhei-te e senti-me no topo de uma montanha russa prestes a descer. As entranhas deram sinal. Na tua presença o meu corpo respondia de forma ainda mais visceral. Foi-se a serenidade matinal. Suores, pressas, coração descompassado, lábios secos, tiques nervosos de dedos que não largam os fios do cabelo. À tua frente, uma falsa serenidade. Por dentro, a ebulição.
Lá se foi o caminho em linha recta, o usufruto dos amigos, os lugares, as músicas, os filmes, os livros, as horas egoístas que só a mim diziam respeito. A caixa de mudanças não mexia, todos os dias passei a meter a quinta para tomar uma única direcção, tu.
Aos poucos a paixão complementa-se e ajusta-se. Há lugar para concessões, partilhas e novos hábitos. São dois que se emparelham. Há que manter uma distância constante. Respeitar a individualidade num caminho comum. Os passos são agora mais seguros. A paixão e o amor persistem. A amizade e a admiração crescem. Cinco minutos sem ti e já tenho saudades. Falta-me uma parte.
Quanto te conheci sabia estar completa. Hoje sei que assim foi porque só dois seres completos, serenos e conscientes de si se podem dar tão totalmente um ao outro.


13.2.15

Afonso Cruz: uma vez mais


Bianca Passarge by Carlo Polito


"Este lado do espelho

- Levo uma vida normal, Sr. Dr., ando nua pelas ruas, voo de prédio em prédio, as pessoas à minha frente mudam de cara constantemente, mas à noite, Sr. Dr. à noite sonho que me levanto às oito da manhã, saio de casa e vou trabalhar  durante oito horas. Tenho uma hora de almoço, como à pressa (por vezes em pé), saio às seis e vou para casa de carro, sempre em filas, vejo televisão e, depois, acordo com suores frios. É horrível Sr. Dr. isto acontece-me todos os dias, há anos, dum modo absurdamente repetitivo, e isto não vai lá com comprimidos.
- Isso é uma situação normalíssima, minha cara senhora, normalíssima. Nem imagina a quantidade de pessoas que têm esse sonho. Aliás, poderemos mesmo afirmar que esse é o único sonho normal. A senhora vir aqui queixar-se de coisa tão banal só prova que está bem de saúde. No outro dia apareceu-me aqui um maluquinho, um caso perdido, que sonhava que trabalhava por conta própria, ficava em casa a maior parte dos dias e viajava muito com subsídios ou lá o que era aquilo. Quando ele disse isto, tranformei-me logo numa porta de mogno e mandei-o sair.
(Agnese Guzman, A  Borboleta Taoísta)"

in Enciclopédia da Estória Universal, Afonso Cruz


Crónicas dos 30 ou o que tenho andado para aqui chegar




Hoje ele descobriu-me um cabelo branco.
Sorriu puerilmente.
Beijou-me.

se me quiserem ver a chorar é mostrarem-me coisas destas


Sergei Polunin, "Take Me to Church" by Hozier, Directed by David LaChapelle from David LaChapelle Studio on Vimeo.

Perfeito. Perfeito.