"I hope the fences we mended
Fall down beneath their own weight"

John Darnielle

padaoesilva@gmail.com

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Duas Faces


O Benfica entrou com uma identidade vincada no Dragão, na primeira parte colocou o Porto em sentido, com posse e boa circulação de bola, agressividade defensiva e a equipa subida. Desta feita, não se viu um Benfica com o autocarro estacionado à frente da área (estratégia que deu a vitória o ano passado), nem uma equipa incapaz de controlar o jogo a meio-campo.

Nos últimos anos, não me recordo de ver um Benfica tão destemido e personalizado a jogar contra o Porto fora. E a comparação não é de somenos: este é, afinal, o onze titular menos forte das últimas temporadas e, convém não esquecer, a equipa entrou em campo com uma ala direita que o ano passado fazia o tirocínio na equipa B. Esta foi uma das faces do Benfica este fim-de-semana. Uma face bem positiva e que augura um futuro auspicioso.

Infelizmente houve outra face. A da equipa que perdeu os três jogos oficiais disputados fora da Luz (com Sporting, Arouca e Porto). Como a próxima deslocação é a Madrid, para defrontar o Atlético, o Benfica arrisca-se a fazer quatro jogos fora e a acumular quatro derrotas. Esta é a face mais negativa.

Que fazer agora? Consolidar uma ideia de jogo distinta da do passado (da qual se têm visto sinais nas últimas partidas), estabilizar o onze titular e não escorregar de novo. O Benfica pode mudar de política, apostando em jovens vindos da formação, mas tem de combinar essa aposta com a capacidade ganhadora do passado recente. Caso contrário, não há estratégia de aposta na formação que resista.


publicado no Record de terça-feira

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Os parafusos e os apertos


Ninguém antecipou melhor o benefício da pausa para as seleções do que Jardel quando disse que tinha sido "importantíssima para apertar os parafusos". Como se viu na exibição magistral contra o Belenenses, a questão não era apenas apertar os parafusos e recuperar algum tempo perdido na pré-temporada, a solução passava também por estabilizar os parafusos, isto é, a base da equipa titular.

Com Jardel, o Benfica ganha capacidade na organização defensiva, enquanto o brasileiro compensa as quebras de velocidade dos seus parceiros defensivos; Talisca, mesmo que a posição 8 não seja o seu lugar natural, acrescenta verticalidade ao jogo e, de todas as jovens soluções testadas à direita, Gonçalo Guedes é aquele que já passou a fase de projeto de jogador e se aproxima mais de um jogador de corpo inteiro.


Já os apertos tiveram outro efeito. Ao contrário dos jogos anteriores, desta feita viu-se uma ideia de jogo clara, com muita circulação de bola, uma equipa mais de posse do que no passado e um jogo interior muito dinâmico. Acima de tudo, o Benfica revelou uma agressividade defensiva que não se havia visto até agora. Mesmo a vencer desde os primeiros minutos, a equipa cometeu 23 faltas, das quais 16 na primeira parte, enquanto o Belenenses, derrotado copiosamente, cometeu apenas 18. Uma equipa cujo jogo assenta em trocas de bola constantes tem de ser também agressiva na recuperação. Só isso permite que os solistas exibam toda a sua genialidade: o que, aliás, explica as exibições superlativas de Gaitán e Jonas.













publicado no Record de terça-feira

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cuidar do Futuro



mais informações e atualizações na página de facebook do livro.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

As mesmas condições


"Quando a esmola é grande, o pobre desconfia", costuma dizer-se e é bem capaz de ser verdade. Aqui a "esmola" são as notícias de propostas tentadoras por jogadores do Benfica, prontamente rejeitadas, e o "pobre" é o plantel do Glorioso que precisava de ter sido reforçado e não foi.

Logo após o fecho do mercado foi noticiada uma proposta de 10 milhões do Chelsea por Luisão, outra de 16 milhões do Nápoles por Cristante, ainda uma de 20 milhões de origem desconhecida por Gonçalo Guedes e foi ainda aventado que o Liverpool teria oferecido 25 milhões por Gaitán. O mercado fechou, o Benfica não se cansou de recusar propostas (claro está, devidamente almofadado pelos vários jogadores da equipa B vendidos pelo número redondo de 15 milhões) e, no fim, ficou com um plantel paradoxalmente grande e desequilibrado.


Com quase 30 jogadores, o Benfica consegue a proeza de ter, pelo menos, três jogadores (Talisca, Djuricic e Taarabt) para a posição 10, que raramente utilizará, enquanto a posição 8, fulcral no 4x4x2, depende apenas de uma solução de recurso (Pizzi), que continua a gerar ceticismo.

É por isso que, ao longo desta época, continuarão a ecoar as palavras de Luís Filipe Vieira na apresentação de Rui Vitória: "há uma garantia que quero deixar – vais ter as mesmas condições que outros tiveram". Rui Vitória pode ser capaz de dar a volta ao texto e formar titulares num ápice a partir de jogadores da formação, mas não parte com as mesmas condições de Jorge Jesus. Já Vieira "gostava de ter dado mais um ou dois jogadores" ao treinador, a verdade é que não deu.

publicado no Record de terça-feira

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Bendita Pausa


Uma vitória merecida, uma exibição pobre e a persistência de sinais preocupantes. Esta pode bem ser uma descrição do Benfica-Moreirense.  À imagem dos jogos anteriores, o Benfica entrou em campo amorfo, sem intensidade, mas, desta feita, a equipa foi capaz de dar a volta ao resultado porque mostrou garra e Rui Vitória arriscou e fez substituições em tempo útil. Será este um bom rumo?

Sim e não. Claro que a capacidade de inverter resultados desfavoráveis e a atitude revelada são indicadores muito positivos. Da mesma forma que ter um treinador com sentido de risco, que não atrasa as substituições até aos minutos finais é um bom sinal. Há, contudo, um grande 'mas' em tudo isto.


Uma equipa que ambiciona conquistar títulos pode recorrer de quando em quando a uma solução de risco, empurrando o adversário para dentro da área, através de jogo direto para os avançados, mas esta opção não pode ser usada por sistema. Se este é o plano B que anda a ser treinado, é preocupante; se é utilizado nos jogos sem que antes seja testado, é ainda mais preocupante. Assim como assim, já lá vão duas partidas em que, em desvantagem, o Benfica coloca três avançados e ainda põe o ala esquerdo a fazer todo o corredor. Desta feita resultou, a probabilidade de voltar a resultar é baixa.

Bendita, por isso, esta pausa para as seleções. O Benfica vai ter duas semanas bem necessárias para desenvolver as suas ideias de jogo ofensivo; para equilibrar as transições defensivas e para estabilizar emocionalmente a equipa. São tarefas hercúleas, mas ou os problemas se resolvem agora ou pode ser tarde.


publicado no Record de terça-feira