sexta-feira, 27 de março de 2015
e, até prova em contrário, o disco de 2015 é
que, aliás, pode ser, dylanescamente, resumido assim:
"Who do you think you are?
Just a girl that can play guitar"
quarta-feira, 25 de março de 2015
O problema de sempre
Não restam dúvidas de que o Benfica de Jesus é
temível quando engata aquele carrossel ofensivo que asfixia os
adversários. Também é sabido que se trata de uma formação que, de quando
em quando, é capaz de defender sem bola, para depois lançar contra
golpes letais (foi assim este ano no Dragão). Mas há cinco anos que se
sabe também uma outra coisa: estamos perante uma equipa incapaz de
controlar um jogo com posse de bola. No fundo, o Benfica ou ataca ou
defende sem bola, quando procura pautar o ritmo do jogo, adormecendo-o e
mantendo o controlo da bola, a equipa falha.
Bem
pode Jesus queixar-se da arbitragem, mas em Vila do Conde manifestou-se
uma debilidade que acompanha a equipa há algum tempo: a incapacidade
para gerir uma vantagem. O problema, por estranho que possa parecer, foi
mesmo o golo madrugador. O que não seria problemático caso a equipa
tivesse continuado a atacar, procurando o segundo golo. Mas como, por
motivos insondáveis, a opção foi deixar passar o tempo, quase abdicar de
atacar e fazer uma gestão imprudente da vantagem, no final aconteceu o
que vinha sendo anunciado: a derrota e, de longe, a pior exibição da
temporada.
E,
ao contrário do que foi sugerido nas análises à partida, a mudança do
sentido de jogo não ocorreu apenas na segunda parte. Durante a primeira
metade, já se pressentia um Benfica apático, que pareceu estar sempre a
jogar em inferioridade numérica no meio-campo e que foi incapaz de
esticar o jogo, aproveitando os espaços que um Rio Ave a pressionar alto
oferecia.
Mas como nem tudo pode ser mau,
não só o que se passou no Estádio dos Arcos deve servir como
aprendizagem para os oito jogos em falta (dos quais seis são em Lisboa),
como ao FC Porto faltou o estofo de campeão, que surge precisamente nos
momentos em que é possível aproveitar as falhas dos adversários.
publicado no Record de ontem.
terça-feira, 24 de março de 2015
o terror que há sempre no fundo informulado de uma vida
"(...)
E a morte passa de boca em boca
com a leve saliva,
com o terror que há sempre
no fundo informulado de uma vida.
Sei que os campos imaginam as suas
próprias rosas.
As pessoas imaginam seus próprios campos
de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar.
Por vezes tudo se ilumina.
Por vezes sangra e canta.
Eu digo que ninguém se perdoa no tempo.
Que a loucura tem espinhos como uma garganta.
Eu digo: roda ao longe o outono,
e o que é o outono?
(...)"
o resto, que é quasetudo, está aqui
E a morte passa de boca em boca
com a leve saliva,
com o terror que há sempre
no fundo informulado de uma vida.
Sei que os campos imaginam as suas
próprias rosas.
As pessoas imaginam seus próprios campos
de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar.
Por vezes tudo se ilumina.
Por vezes sangra e canta.
Eu digo que ninguém se perdoa no tempo.
Que a loucura tem espinhos como uma garganta.
Eu digo: roda ao longe o outono,
e o que é o outono?
(...)"
o resto, que é quasetudo, está aqui
quarta-feira, 18 de março de 2015
O David Luiz
Deixem-me recuar uma semana, pois no futebol há
imagens que perduram e renovam a paixão. Quando, num volte-face, o David
Luiz marcou o golo que dava uma vida adicional a um PSG que tinha tudo
para estar derrotado pelo Chelsea, tive a certeza de estar perante um
desses momentos de reencontro do futebol consigo mesmo.
Mas
não há momento sem contexto e o de Londres era linear. De um lado, um
jogar administrativo, que amarra jogadores talentosos a um modelo que
tem tanto de eficaz como de desinteressante – é este o futebol do
Chelsea de Mourinho; de outro, uma equipa em inferioridade numérica e
que, muitas vezes, não ultrapassa a sua condição de repositório de
craques com contratos milionários.
Provavelmente,
sem um acrescento de drama, o PSG teria sido o amontoado de talento que
teima em ficar aquém das suas capacidades. Ora o drama eram as
circunstâncias pessoais de David Luiz – o defesa que Mourinho viu partir
com um alívio que não se cansou de verbalizar, que participou num
cataclismo futebolístico no último Mundial, regressava a Londres.
Vi,
vezes sem conta, as arrancadas irresponsáveis de David Luiz pelo
meio-campo acima, de bola controlada e com o abismo atrás de si, e sei
que se trata de um jogador que tem o condão de desequilibrar, num só
movimento, a sua equipa e o adversário. É essa atração pelo risco que
faz do brasileiro um jogador singular, que oferece improviso a um
futebol que se deixou burocratizar.
Quando eu
e o meu filho gritámos o primeiro golo do PSG como se fosse do Benfica,
o Vicente, com o olhar ingénuo que tentamos não perder quando vemos um
jogo de futebol, repetiu, perante as celebrações do David Luiz, "Pai,
ele está a dizer Benfica". É muito provável que estivesse. Afinal, o
David Luiz, na sua imprudência tática, ajuda-nos a preservar um olhar
infantil sobre o futebol. É essa a matéria de que são feitos os craques
que não esquecemos.
publicado no Record de ontem
quinta-feira, 12 de março de 2015
Vencer com raça
Durante 45 minutos, em Arouca, num mini-Estádio da
Luz, esteve presente um mini-Benfica. Uma equipa amorfa, sem intensidade
e que pareceu ter ficado tolhida por um duplo erro defensivo de Eliseu
(mais um) na mesma jogada.
Depois, ao
intervalo, e com o espectro da Mata Real a pairar, tudo mudou. E, desta
feita, mesmo com a entrada de Talisca, a diferença não foi de natureza
tática. O que fez diferença foi a atitude. Repare-se, os dois golos
decisivos, que viraram o jogo, resultaram de jogadas de insistência,
onde, primeiro, Lima e, depois, Gaitán, não desistiram, forçaram o erro
adversário, e revelaram o suplemento competitivo que constrói equipas
campeãs.
A vitória em Arouca está aí para
demonstrar que não basta o talento individual, nem sequer a organização
coletiva ou uma eficácia superior nas bolas paradas (onde o Benfica, ao
contrário do habitual, esteve bastante mal) para se vencer campeonatos. É
também necessária uma disponibilidade competitiva capaz de ocultar
insuficiências estruturais (um sector que funciona menos bem) ou azares
circunstanciais (um falhanço individual).
A
este propósito, é sintomático que nos últimos três jogos fora
(Alvalade, Moreira de Cónegos e Arouca), o Benfica tenha sido capaz de
reagir a resultados negativos, invertendo a tendência do marcador. A dez
jornadas do fim, a capacidade de uma equipa vencer na raça é tão
importante como os atributos coletivos e/ou individuais. Além de três
pontos, o Benfica trouxe de Arouca uma atitude competitiva que importa
continuar a alimentar.
PS - O discurso do
colinho, como seria de esperar, já está a dar os seus frutos. Agora, com
tantas queixinhas, antes de apitarem a favor do Benfica, os árbitros
pensam duas vezes. Em Arouca ficaram por assinalar duas grandes
penalidades.
publicado no Record de terça-feira
terça-feira, 10 de março de 2015
segunda-feira, 9 de março de 2015
quarta-feira, 4 de março de 2015
Uma corrida a dois
Este fim-de-semana confirmou-se o que era uma inevitabilidade desde o início da temporada: o campeonato é uma corrida a dois. Benfica e Porto são superiores a todas as outras equipas a vários níveis – qualidade individual, organização coletiva e intensidade competitiva. Podem ter dificuldades numa ou outra partida, mas há uma distância significativa entre os dois primeiros classificados e restantes equipas.
O que nos deixa uma certeza: teremos um campeonato disputado e que se decidirá em torno de quatro dimensões – arbitragens; liderança em campo; forma física; e desgaste da Champions.
Muito se tem falado de um Benfica “levado ao colinho”. É uma evidência que semana sim, semana sim, o campeonato é brindado com arbitragens medíocres, mas, quando se fizer a contabilidade final, veremos que no “deve e haver” dos beneficiados teremos um quadro de equilíbrio. O que mudou é que o Porto deixou de beneficiar dos campos inclinados a que se habitou. A forma como as próprias arbitragens vão ser capazes de ficar imunes à pressão do discurso do “colinho” fará diferença.
Durante muito tempo, uma das vantagens do Porto face ao Benfica foi ter uma voz de comando em campo, capaz de funcionar como treinador durante os jogos. Desde a saída de Lucho, o Porto não mais teve um líder dentro do relvado. O Benfica tem Luisão.
Ao
contrário do que se quer fazer crer, não há grandes diferenças entre os
11 titulares. Onde o quadro é menos equilibrado é quando falamos de
segundas linhas. O Porto leva vantagem na qualidade individual do seu
banco. As lesões e a forma física serão, por isso, decisivas. A este
propósito, é uma incógnita o impacto da Champions no Porto. O desgaste
pode fragilizar a equipa, mas bons resultados podem ser um suplemento de
alma adicional.
No fim, a melhor equipa será campeã, pelo que de pouco serve andar, desde já, a ensaiar choradinhos.
publicado no Record ontem
terça-feira, 3 de março de 2015
"but i've given up all attempts at perfection"
queria só dizer-vos que se ouviram o shadows in the night do Bob Dylan e não gostaram (ou, pior, são da opinião que ele não tem voz), o problema é vosso
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