Mário Zambujal, num estilo tão seu, é um daqueles escritores que jamais desiludem.
Em «Romão e Juliana», no seu jeito inconfundível a misturar comédia e tragédia, vivemos um amor (aparentemente) sem limites, qual Romeu e Julieta.
As famílias de Juliana e Romão, inimigos de longa data, jamais poderiam imaginar ou conceber a ideia de um Valebranco com um Pontefina. Sempre me disseram que o amor tem um afinado sentido de oportunidade, aparecendo nos lugares e nas horas mais inesperadas.
Foi assim com a Juliana, que num incêndio, conhece Romão e por ele, incendeia também o seu coração assolado. Estaria, assim, o cenário criado à maior tragédia que só o amor pode provocar.
Furiosos pela saudade vitalícia, o casal corre perigos, salta muros e rouba beijos um ao outro na pressa das noites que passam velozes de mais.
Até ao dia em que tudo, repentinamente, parece mudar pela obra dos dias, já cansados e desesperados, quem sabe. Força das circunstâncias?
Poderá o amor sobreviver sem obstáculos ou, quiçá, sejam aqueles o seu maior motor de sobrevivência?
Mário Zambujal escreve com uma ironia brilhante.
Sempre fiel ao seu estilo narrativo, o autor lança achas a uma fogueira de que, atualmente, muito se fala. Estará o amor, também, em vias de extinção na perspetiva única de um futuro instantâneo e prazeres vagos como a noite? Dá que pensar.
Irónico, mas tão certeiro, vai levar o leitor a olhar para dentro e a questionar-se. Esse é o primeiro passo para que a vida se forre de mais sentido, sobretudo, nestes dias velozes que apagam o essencial priorizando a leveza, essa tal leveza do momento.