Há
algo que se agita no ar. Algo que está na casa, no ar, sem se identificar.
Acredito que se pudesse dar uma forma, uma matéria, a isso que chamam de
saudade diria, tão simplesmente, serapilheira. Pois! Serapilheira.
Perguntar-me-iam: "Então, velhote, que dizes tu?"
Digo
serapilheira. E penso serapilheira.
Penso
nos fios que dela se desprendem, quando velha. Como os sacos da serapilheira,
velhos, depois de usados. Fio de angústia, de agonia, de pânico, de nostalgia,
de dor, de um sorriso escondido, de memórias, de passados, de gestos
ultrapassados, de um nada que foi tudo, tarde demais descoberto. Fios. Tantos
fios que dão matéria a esta saudade que me contorna o peito!
Tempo.
Silêncio. Gaiolas de fruta. Fortaleza. Medos. Corpo que não cede. Sexo
desregulado. Famílias infelizes no seu segredo. E o espelho, que me mostra
tudo, de forma crua e fria, como aquele congelador agora desligado.
Assim
é. Assim tem de ser.
Mas
os fios de serapilheira, esses, estendem-se em mim, no corpo e alma. Alguma
coisa poderei fazer face à voracidade do tempo, mais que não seja… lamentá-la.
www.wook.pt: Todos somos mortais. Entre os chineses, o símbolo da morte é o limão.
Os personagens de A Mesa Limão estão a envelhecer. Entre si, somam memórias felizes, mas também palavras que ficaram por dizer, sonhos não concretizados, amores não vividos, pequenas traições… À sua maneira, todos convivem com as emoções subjacentes às suas decisões. Felizmente, a idade traz, não só sabedoria, mas também paz e serenidade, certo? Errado. Nestas onze histórias, a idade traz simultaneamente paixão, subversão, arrependimento e resignação. Em comum há a percepção de que o tempo está a chegar ao fim, e a irónica consciência de que a eterna questão sobre o sentido da vida continuará sempre por responder.
Um livro notável, de um dos mais consagrados autores ingleses.