A BRIGADA DE REACÇÃO RÁPIDA
«Paulo Portas, o maior criador de ‘sound bytes’ da política portuguesa, fez este fim de semana uma rara aparição e mostrou ter as qualidades intactas. Não estava a falar de futebol, mas podia estar. Disse Portas que os actores políticos são hoje uma "brigada de reacção rápida" - sempre de dedo em riste ou preparados para comentar a declaração de outrem.
É a pura verdade. A tecnologia, as ferramentas de comunicação, os media, a social media estão a transformar vertiginosamente a nossa sociedade e, fazendo nós (todos) parte dessa mudança, é difícil sermos lúcidos quando a analisamos.
No espírito de Portas, que, como poucos, utilizou os meios de comunicação para passar e condicionar a mensagem, estava a incapacidade que decisores e organizações têm neste tempo, em muitas ocasiões, para em vez de agir, simplesmente reagir.
Ora, no futebol português esta visão assenta em pleno. E, se bem que a partir de um certo momento todos estejam com os mesmos procedimentos e a usar as mesmas manobras, parece agora claro que no tema central dos últimos meses – o caso dos emails – o Porto agiu, e com uma estratégia bem definida, enquanto o Benfica reagiu tendo-o feito tarde e de forma pouco articulada.
Mas nem tudo mudou e ainda existe, felizmente, espaço para o Jornalismo. Vejamos dois casos dos últimos dias. Na manipulação das imagens da Vila das Aves foi preciso um trabalho da CMTV para denunciar uma situação inaceitável. Após a peça jornalística exibida na segunda-feira, todos sabiam, afinal, que as imagens tinham sido truncadas, era uma evidência, os especialistas em frames multiplicaram-se, mas até essa noite, ninguém o tinha dito.
A partir daí o Porto fez o que tinha a fazer, o Benfica explicou-se com dificuldade. A manipulação pode não ter sido feita pelo departamento de comunicação do Benfica, mas a sua divulgação está no espírito da "brigada de reacção rápida".
O Jornalismo, através da ‘Sábado’, também tem tido um papel relevante no caso dos emails. A revelação de que Luís Filipe Vieira conhecia por antecipação a posição dos árbitros sobre os vouchers adensa a ideia de que existe uma teia de interesses e influências.
Existirá, se procurarmos uma visão panorâmica, questões macro e, como é importante nas sociedades, espaço para o Jornalismo. O pior é o frenesim diário que atinge todos, incluindo os mais altos responsáveis e os que falam em seu nome. Aí, sim, está o problema principal, porque a falta de senso tem sido imensa. Nos comentários ao minuto, nos tweets com jogos a decorrer, atingindo o ridículo nos vídeos truncados. A linguagem do café já tinha passado para os canais de notícias, para os blogs de adeptos radicais (também há uns quantos simplesmente magníficos), e caiu agora com estrondo na social media dos protagonistas. Admiram-se com o clima de ódio?
Um adeus amargo
Eu sei que anda meio Mundo, ou mais, comovido com as lágrimas de Júlio César e, faço notar, as lágrimas não são de crocodilo – são autênticas. Há naquele adeus uma genuína emoção, fruto de um tempo bem passado. Mas é a única parte que faz sentido. Tudo o resto está mal. Ao menos mal contado. É evidente que Júlio César vai continuar a jogar e que se sentiu destratado pelo Benfica; é evidente que esta foi a semana errada para fazer o anúncio, quando a equipa tem de estar focada no grande jogo do Dragão – aproveitando até alguns sinais negativos do Porto – sem qualquer factor (evitável) de perturbação e, finalmente, a gestão do anúncio também deixou a desejar: antes do Benfica falar já a família do jogador andava pelas redes sociais a dar nota do "fim". Com a emoção à flor da pele, estes aspectos vão ser negligenciados, mas eles são reveladores que a máquina do Benfica, ou a estrutura, está menos afinada do que em épocas anteriores. E aqui não estamos a falar de comunicação.
Jonas
Tendo chegado à Luz após uma muito má experiência em Espanha, o brasileiro Jonas teve uma segunda vida no Benfica. Sem exagero, ele foi desde a sua chegada , mesmo nas épocas em que as lesões o afligiram, o jogador mais influente da Liga portuguesa e o factor que desequilibrou o jogo a favor do campeão. Goleador implacável e silencioso, Jonas não tem uma boa folha de serviços nem contra os grandes nem na Europa. Mas quando se observam os números globais já não há dúvidas de que ficará na história.
Bryan Ruiz
Nunca saberemos toda a história do divórcio anunciado que acabou, afinal, na manutenção do casamento entre Bryan Ruiz e o Sporting. E talvez isso pouco importe. Observando o plantel e os compromissos que existem nas várias frentes, um jogador com a qualidade, a inteligência e (neste caso) a disponibilidade física de Bryan pode ser um grande reforço para a segunda parte da temporada. Jorge Jesus, teimoso e até caprichoso, já mostrou ser capaz de colocar uma pedra sobre temas desta natureza – quem não se lembra do caso Cardozo no Benfica. O Sporting só tem a ganhar.»
(Nuno Santos, Ângulo Inverso, in Record)
Para os mais cépticos e ferozmente críticos de Nuno Santos, eis aqui mais uma valiosa pérola saída da ostra de um Jornalista que honra o Jornalismo, deslumbrante de nácar e com um peso específico a pedir meças ao que de melhor se produz em Portugal!...
Pena que Nuno Santos se veja compelido, lá longe, a perguntar ao vento que passa, notícias do seu país. Sorte dele, e nossa afinal, que hoje por hoje, já o vento não cala a desgraça e tudo lhe diz! A nossa sorte vem depois da sua inconfundível pena e do "ângulo inverso", e da forma quase altruista com que nos privilegia!...
Bem haja Nuno Santos, até ao regresso!...
Leoninamente,
Até à próxima