JOSÉ MARIA RICCIARDI – Não. No tempo de Luís Godinho Lopes, o Sporting incumpria permanentemente com os orçamentos que apresentava aos bancos. E tinha prejuízos elevadíssimos. São factos. O ambiente não era propício a qualquer espécie de reestruturação, que aliás não se fez. Mais. Na altura, o vice-presidente com o pelouro financeiro [José Filipe Nobre Guedes] até já estava a preparar um PER [Processo Especial de Revitalização]. Quando se está a fazer uma reestruturação, não se prepara um PER, não é?
R: Prepara-se uma falência?
JMR – PER é uma protecção de credores, não tem nada a ver com reestruturação bancária. O Sporting estava perto da falência, isso é indiscutível. Tinha perdido a credibilidade junto aos bancos e os bancos estavam decididos a não acorrer mais às necessidades de tesouraria do clube. Portanto, quem efectivamente fez a reestruturação foi Bruno de Carvalho. Tive a oportunidade de colaborar, através do banco de investimento a que presidia na altura [BESI]. Essa reestruturação foi extraordinária, muito bem conduzida.
R: Com negociações duras...
JMR – Muito. Mérito total de Bruno de Carvalho e Carlos Vieira, é preciso que se diga. E de Guilherme Pinheiro. Resultou numa reestruturação extremamente positiva para o Sporting. Gostava que isso ficasse bem frisado, porque é a verdade.
R: Ainda assim, pode ficar em risco a maioria na SAD com a conversão dos VMOC em 2026?
JMR – O Sporting tem de se munir dos fundos necessários a adquirir uma parte desses VMOC, de maneira a manter a maioria da SAD, conforme é promessa da direcção.
R: Não está preocupado?
JMR – Não. Pela situação financeira do Sporting, pela equipa directiva, por aquele que é o treinador que mais valoriza os jogadores em Portugal, pelos novos contratos com a NOS, pelo aumento das receitas, pela presença na Liga dos Campeões. Não tenho qualquer dúvida de que o Sporting irá ter os meios para resolver este problema.
R: Diz que Jesus é quem mais valoriza os jogadores em Portugal...
JMR – Parece-me indiscutível.
R: Se Madeira Rodrigues for eleito, ele deixará o Sporting.
JMR – Pedro Madeira Rodrigues tem legitimidade, se ganhar, de poder escolher outro treinador. Correcto. Não vejo problema.
R: Mas entende que Jesus é a pessoa certa no lugar certo?
JMR – Disso não tenho qualquer dúvida. Aliás, nunca vi os nossos rivais tão nervosos como agora para desfazer esta dupla, Bruno de Carvalho e Jorge Jesus. Nunca vi. Há muitos anos... Com as outras direcções, a que eu pertenci, estavam sempre muito contentes, nomeadamente com as últimas... Estavam contentíssimos.
R: Acredita que o Sporting será campeão no próximo mandato?
JMR – Com certeza. É preciso perceber outra coisa. Um clube que está sempre a mudar de presidente e de treinador não vai a lado nenhum. Veja-se há quantos anos o senhor Jorge Nuno Pinto da Costa está a dirigir o Porto. E há quanto anos Luís Filipe Vieira está no Benfica. Já se fez um grande trabalho mas é preciso tempo. E o ano passado não fomos campeões por muito pouco.
R: Esperava-se mais este ano.
JMR – Acontece. Mas estamos no caminho certo.
R: "José Maria Ricciardi queria ser dono do Sporting, escolher presidentes, até jogadores." Como responde a esta acusação de Pedro Madeira Rodrigues?
JMR – Acho ridículo e um atestado de menoridade aos sócios. Os presidentes do Sporting não são escolhidos por ninguém. Quem os elege são os sócios. E em todas as eleições houve alternativas. Acho isso absolutamente ridículo. Segundo ponto: nunca indiquei jogador nenhum, nem treinador. Nunca me meti nessa área, porque fiz parte de conselhos fiscais. Pedro Madeira Rodrigues deve ter sido mal informado.
R: A mesma lista acusa a actual direcção de falar em demasia do Benfica. Concorda?
JMR –Aceito. Esta direcção não é perfeita, ninguém é. Pode ter incorrido nalguns erros. Mesmo assim, fez um trabalho absolutamente notável face à situação em que o Sporting se encontrava.
R: Esteve muitos anos no Conselho Fiscal e Disciplinar. Por que aceita agora fazer parte da lista de Bruno de Carvalho ao Conselho Leonino?
JMR – Tenho grande prazer em colaborar com o Sporting. São funções em que eu posso participar, ao contrário de outras, cuja intensidade não permitiria, por causa dos meus projectos e da minha vida profissional.
R: "Ganhe quem ganhar, tem de ser de goleada", para citar Bruno de Carvalho?
JMR – Eu sou um democrata: a partir de 50% é vitória. Aliás, na política, com o nosso sistema eleitoral, nem é necessário. Estou convicto de que Bruno de Carvalho irá ganhar as eleições. A percentagem para mim não é o mais importante.
R: Não tem dúvidas sobre quem vencerá?
JMR – Certezas só no dia do acto eleitoral. Não tenho esse pretensiosismo. Mas tenho a forte convicção de que esta lista irá ganhar as eleições.»