Os problemas de Vieira
«Perder por 0-3, na Luz, com o Sporting, no primeiro jogo em que o seu ex-treinador, agora ao serviço dos leões, visita a Catedral, não é coisa de somenos. É uma grande pancada! A diferença de produção futebolística foi tão abissal que fica difícil arranjar argumentos 'oficiais', distractivos, pois claro, para justificar tamanho desaire. Não foi coisa do acaso. O Benfica exibiu algumas das suas limitações e fragilidades e acusou - quer queiram quer não - a ausência do 'cérebro', que ainda por cima reforçou o rival histórico, Sporting.
Já se sabia que, a menos que o jogo na Luz acabasse empatado, o tecto iria desabar em cima das cabeças de quem perdesse. Desabou em cima de Luís Filipe Vieira, da 'estrutura' e de Rui Vitória, porque não foi uma derrota qualquer, não foi um desaire mínimo na sequência de um dérbi equilibrado e apertado; foi um inêxito total e incontestável, sob qualquer ponto de vista.
No futebol, é assim para todos: quando se perde, as críticas chovem. A expressiva derrota frente ao Sporting foi tão inesperada - basicamente pela expressão quantitativa e qualitativa - que as críticas tinham de cair como granito no telhado benfiquista. As críticas externas são normais, de diversos quadrantes, as parciais e as mais imparciais, porque o Benfica mereceu-as: jogou nada frente ao Sporting e seu rival de sempre. As internas é que são mais difíceis de digerir e carecem de explicação. Para atalhar, a maior 'doença' do Benfica chama-se protagonismo. E Vieira quer ser protagonista à custa do não protagonismo dos seus 'apoiantes' - algo muito difícil de conquistar. Não esquecer que Vieira já se teve de debater, noutros momentos, com focos de protagonismo interno, como foram os casos de Rui Costa, Rui Gomes da Silva, José Eduardo Moniz, António Carraça (à custa da 'despromoção' de Rui Costa) e outros proclamados 'papagaios'.
Já se percebeu que, no momento, Luís Filipe Vieira e o Benfica têm dois problemas externos: Bruno de Carvalho e Jorge Jesus. O presidente do Sporting, por razões de 'génese antibenfiquista' e porque pretende denunciar, no auge da sua afirmação e num estilo que não rejeita o confronto, alguns benefícios protagonizados alegadamente pelo Benfica; e o treinador do Sporting, por motivos associados ao processo que o fez mudar da Luz para Alvalade.
Vieira tem, todavia, outros dois problemas, estes de natureza interna: Rui Gomes da Silva e Rui Costa. O vice-presidente do Benfica porque, apesar do disfarce, nunca lhe perdoará o facto de o ter 'chicoteado' ('chicotada psicológica', sim) da SAD, achando que o cargo de vice-presidente seria suficiente para o manter controlado e relativamente contido, apenas disponível para 'defender o Benfica' contra os ataques verbalizados pelos adversários. O que já se viu que não é tarefa nada fácil, senão impossível. O administrador, ex-jogador de muitos talentos, porque foi identificado por Jesus como o único elemento da estrutura que percebe alguma coisa de futebol e porque, na sua primeira fase como dirigente do Benfica, chegou a ser mais 'presidente' do que o próprio Vieira - e daí um prolongado ciclo 'na sombra', a troco de um bom ordenado.
Quando o Benfica desistiu de Jorge Jesus, para implementar a fórmula do magistério da 'estrutura', era previsível que, à primeira contrariedade, a dita 'estrutura' fosse colocada em causa. E isso foi feito, ruidosamente, pelo vice-presidente Rui Gomes da Silva, que num registo populista vem há muito preparando a melhor oportunidade para 'assaltar' a presidência do Benfica. Outra vez a sede de protagonismo. E o Benfica a sustentar todos estes egos, os mesmos que não tiveram a humildade de reconhecer que a transformação desportiva começou no balneário, sob uma liderança feia, chata e má, às vezes insuportavelmente arrogante, e que o clube e a SAD só a tinham de saber potenciar como extraordinária valência.
A estrutura de um clube de futebol deve ser o mais invisível possível. Devem ser as formigas que trabalham para dar as melhores condições possíveis ao treinador e à equipa de futebol. Temo que o Benfica não consiga perceber isso e encete um ciclo de 'sportinguização' em que o clube (de Alvalade) pagou com juros as vaidades, os caprichos e a sede de protagonismo de uns tantos. Chegou o tempo de perceber se Luís Filipe Vieira é mesmo um líder ou se é um bluff, no que diz respeito à gestão do futebol.
NOTA - Se fosse presidente de um clube, eu faria os possíveis para ter o melhor treinador junto de mim. E dar-lhe todas as condições para ter êxito. O êxito dele seria o meu. Nunca contrataria um treinador mediano para fazer valer a ideia de que os sucessos são meus e da estrutura.»
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)
Os "três secos no bucho" acabaram por ter o condão de levantar a crosta da ferida, sob a qual se escondia terrível infecção...
A "simultânea" que o Sporting vai jogando em diferentes tabuleiros, só pecará pelo exagero da admissão de tantos opositores!
É preciso melhor calendarização!...
Leoninamente,
Até à próxima