“Escrever é uma chatice” – disse Chico Buarque na mesa literária Sequências brasileiras, dividida com o escritor Milton Hatoum na Flip 2009.
A frase causou um certo espanto no público participante, mas em se tratando de Chico Buarque, tudo é “desculpável”, afinal, ele era o personagem mais aguardado da festa e o que provocou maior furor entre os presentes, inclusive em mim, fã de carteirinha, que também estava lá para vê-lo. Por fim, ele acrescentou, explicando:
– Ler é mais prazeroso.
A frase causou um certo espanto no público participante, mas em se tratando de Chico Buarque, tudo é “desculpável”, afinal, ele era o personagem mais aguardado da festa e o que provocou maior furor entre os presentes, inclusive em mim, fã de carteirinha, que também estava lá para vê-lo. Por fim, ele acrescentou, explicando:
– Ler é mais prazeroso.
Lembrando desse episódio agora, depois de ver um texto que um amigo jornalista fez sobre sua participação na Flip 2009, me pus a pensar nessa relação dos escritores com a leitura em confronto com a escrita, esta arte tortuosa e astuta, que desafia todo aquele que por ela se aventura.
Na mesma Flip, inclusive, Antonio Lobo Antunes, autor português, que protagonizou a melhor mesa da festa, Escrever é preciso, na minha opinião e de boa parte do público, definiu a arte de escrever como uma tarefa árdua.
– Escrever é um trabalho impossível, porque você está trabalhando com coisas intraduzíveis, anteriores às palavras, e todo o problema é como transformá-las em palavras.
E completou:
– Só vale a pena escrever quando nos é inconcebível, porque ler dá muito mais prazer.
– Escrever é um trabalho impossível, porque você está trabalhando com coisas intraduzíveis, anteriores às palavras, e todo o problema é como transformá-las em palavras.
E completou:
– Só vale a pena escrever quando nos é inconcebível, porque ler dá muito mais prazer.
É engraçado como uma lembrança vai puxando a outra. E a história parece se repetir. Um tempo atrás, assisti a um bate-papo com o escritor Ruy Castro, no Sesc Belenzinho, quando este ainda era aberto ao público (encontra-se agora em uma grande reforma que já dura cinco anos). Na ocasião, além de falar dos seus livros, do processo de trabalho, das pesquisas que precisam ser feitas para escrever, Castro ressaltou sua vontade de, num futuro próximo, passar de escritor a ser apenas um leitor, sua grande paixão.
Até mesmo o grande escritor argentino, Jorge Luís Borges, considerava que tudo o que leu era mais importante do que tudo o que escrevera na vida. “A pessoa lê o que gosta – porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz de escrever”.
Angústias à parte, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, era bastante cético quanto ao processo de leitura e andava na contramão dessa história. Em seu ensaio “Sobre Livros e Leitura”, questionou, por exemplo, o excesso de leituras em detrimento do ato de pensar.
– Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos seu processo mental. Trata-se de um caso semelhante ao do aluno que, ao aprender a escrever, traça com a pena as linhas que o professor fez com o lápis. Portanto, o trabalho de pensar nos é, em grande parte, negado quando lemos. Daí o alívio que sentimos quando passamos da ocupação com nossos próprios pensamentos à leitura.
O que o filósofo alemão quer dizer, na verdade, é que é necessário dar uma pausa na leitura, para podermos assimilar o seu conteúdo e ruminá-lo, criando nossos próprios pensamentos acerca daquilo que lemos. Caso contrário, não damos espaço para a mente processar as informações recebidas.
Ele ainda segue dizendo:
– Se lemos continuamente sem pensar depois no que foi lido, a coisa não se enraíza e a maioria se perde. Em geral não acontece com a alimentação do espírito outra coisa que com a do corpo: nem a quinquagésima parte do que se come é assimilado, o resto desaparece pela evaporação, pela respiração ou de outro modo.
Nem tanto mar, nem tanto a terra. Acredito que possa existir um equilíbrio em tudo. Como leitora por paixão e jornalista por opção (onde tenho a oportunidade de escrever), acho que tanto uma quanto a outra arte têm a sua dificuldade. Há livros que quero ler, mas não consigo passar de algumas páginas; há textos que quero escrever e simplesmente o papel ou a tela continuam brancos à minha frente. É preciso ter paciência – e mais que tudo, persistência.