Sinopse:
Ano de 1089. Uma nação em formação ergue-se na bruma do tempo, movida pelo forte e leal braço do povo, pelo arrojo de senhores feudais e pela fé nos ditames da Igreja e dos seus ministros. Num velho mosteiro, são muitas e sinceras as preces, mas também as manobras pela conquista do poder nesse novo território.
Magistralmente concebido, 1089 - O Livro Perdido das Origens de Portugal relata, de forma precisa, viva e cativante, os dias da fundação de Portugal tendo como palco central as terras de um mosteiro beneditino. E não deixa de fora relatos concisos da ambição dos homens e, em particular, dos da Igreja, com os seus segredos e jogos de luz e sombra.
No alvor da nação, plebeus e senhores lutam pelo Céu e pela Liberdade. Um antigo mosteiro esconde ambições, desejos e amores proibidos. 1089 - O livro perdido das origens de Portugal, o nascimento de uma nação, as lutas dos homens, o destino de um povo.
Opinião de Paula Pinto:
Um bom romance
histórico é sempre bem-vindo. Sendo de um autor português, e trazido pela Marcador,
parceria do amigo Corvo Negro, foi com prazer que me lancei num novo
investimento.
Na verdade, o
livro não foi bem aquilo que eu esperava - algo mais grandioso no sentido épico,
esmiuçando os feitos maiores da nossa História. Neste sentido, sinto que a informação
na contracapa me induziu em erro. Acabei por considerá-la muito “spoiler” e
algo “sensacionalista”, não só porque, em vez de se limitar a dar o ponto de
partida para a trama, vai muito mais além nos acontecimentos, mas também porque
dá ao livro um tom mais épico do que na verdade penso que tem.
A
grandiosidade histórica está, de facto lá, sobretudo à medida que vamos
avançando na narrativa. Mas a verdadeira grandiosidade do livro está nas
personagens, e no modo como influenciam e são influenciados pelos
acontecimentos. Adorei-as, os seus pensamentos, as suas quezílias, os seus
afetos, as suas forças e fraquezas, os seus ódios e paixões. O tema épico narrado
num tom mais intimista e de introspeção do que eu esperava, na verdade, agradou-me
imenso. Não era o que eu estava à espera, volto a dizer, mas encheu-me as
medidas. Damo-nos conta do desenrolar dos acontecimentos pelos olhos das
diferentes personagens, e pela vivência que cada uma delas tem desses mesmos
acontecimentos. No fundo, é isso que torna a História rica, é a humanidade que
confere a verdadeira grandeza aos marcos do passado.
É um livro de
leitura envolvente, com uns “pozinhos” de recordação de outras obras como “O
Nome da Rosa” (Humberto Eco) e “Os Pilares da Terra” (Ken Follett). Tal como
estes, o “1089” tem ingredientes apelativos que espicaçam a nossa imaginação: a
Idade Média, monges e mosteiros, amores proibidos, intrigas, a sedução do poder.
Mas tem, também, uma vida muito própria. É que, apesar de se debruçar sobre um
passado longínquo (antes mesmo de D. Afonso Henriques entrar em cena como o
famoso Conquistador), é um passado que nos soa próximo, fazendo dele um romance
quase familiar.
Só não o vejo
como um livro extraordinário pela forma peculiar como está escrito. Não senti
qualquer problema com a linguagem em si – cuidada, muitas vezes poética, com um
vocabulário rico, por vezes quase erudito, mas de fácil compreensão. No
entanto, a espaços, achei a narrativa estruturada de forma confusa. Por
exemplo, a alternância de pontos de vista tornou o romance riquíssimo, mas por
vezes os sujeitos confundiam-se um pouco, havendo parágrafos em que não me foi
fácil perceber a quem pertenciam aqueles pensamentos, ou acerca de quem eles eram
formulados.
Durante a
leitura, e à medida que a história ia evoluindo, o meu relacionamento com a
escrita foi melhorando, e as características que tanto me incomodavam foram-se
tornando mais toleráveis, transmitindo, até, uma certa originalidade. Não é um estilo
que eu goste pessoalmente, mas com o qual aceito encontrar-me novamente. Não
posso dizer que fiquei fã da escrita, mas fiquei fã do escritor.
Autor de
pedaços romanceados da nossa rica História, Emílio Miranda destaca-se com
vários romances trazidos por diferentes editoras, sendo que uma delas outra
parceira do nosso anfitrião: a Saída de Emergência, com “O Livro dos Mosquetes”.
É uma boa alternativa, quer às sagas intermináveis, quer aos episódios
históricos de outras nações que não a nossa. É uma boa aposta em que a Marcador,
a Saída de Emergência e os leitores portugueses devem continuar a investir.
Quem não
conhecer que se dedique a experimentar. No meio de tantas obras do autor, com nomes
e sinopses apelativos, que nos deixam a imaginar, este “1089 - O Livro Perdidos
das Origens de Portugal” é um bom começo. É uma história muito bem narrada,
numa tapeçaria de vários retalhos (tantas vidas que se cruzam!), mas que se
unem de forma uniforme. De forma muito humana, mas sem sentimentalismos
melosos. Muito espiritual e envolvente, com um final que, se por um lado não
deixa de me surpreender, por outro me pareceu absolutamente adequado."