Cáries
come algodão doce,
cor-de-rosa,
enrolado num espeto,
corado artificialmente,
come algodão doce,
enquanto te apodrecem as gengivas
e caem os dentes,
come algodão doce
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
terça-feira, 7 de setembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Pedradas XI
O dependurado
cai o sol sobre esta cidade,
ontem eram demasiado pequenas as botas,
hoje fuma-se o sonho num cigarro,
amanhã resta um cordel no bolso
cai o sol sobre esta cidade,
ontem eram demasiado pequenas as botas,
hoje fuma-se o sonho num cigarro,
amanhã resta um cordel no bolso
Manifesto XXXIV
ficamos perdidos,
pés mergulhados em alcatrão,
olhos inebriados de luz,
fomos esquecidos,
braços dissolvidos nos silvos,
boca imóvel de medo,
perdemos o rumo,
peito quebrado pelo alumínio,
lábios mortos nas trevas,
estamos distraídos,
fingindo,
rugindo,
estamos silenciosos
pés mergulhados em alcatrão,
olhos inebriados de luz,
fomos esquecidos,
braços dissolvidos nos silvos,
boca imóvel de medo,
perdemos o rumo,
peito quebrado pelo alumínio,
lábios mortos nas trevas,
estamos distraídos,
fingindo,
rugindo,
estamos silenciosos
Manifesto XXXIII
E tu, não sabias?
tu sabias?
não bastam as asas para voar,
todas as andorinhas fogem sempre,
tu sabias?
não chegam as penas sobre os ombros,
tudo pesa para o solo,
e tu sabias, não sabias?
não basta voar ao som das palavras,
não chega pintar as telas alvas da vida,
e tu sabias, não sabias?
essa velha gaiola de ferro
oxidou-te os passos, cercou-te os olhos,
e tu sabias, não sabias?
tudo isso e isso tudo
é simplesmente inútil.
tu sabias?
não bastam as asas para voar,
todas as andorinhas fogem sempre,
tu sabias?
não chegam as penas sobre os ombros,
tudo pesa para o solo,
e tu sabias, não sabias?
não basta voar ao som das palavras,
não chega pintar as telas alvas da vida,
e tu sabias, não sabias?
essa velha gaiola de ferro
oxidou-te os passos, cercou-te os olhos,
e tu sabias, não sabias?
tudo isso e isso tudo
é simplesmente inútil.
Pedradas X
Ignorância
deixa cair a palavra
queimando o peito onde a encerras,
cola os braços ao tronco,
ramos secos à espera da queima,
fica imóvel
pasmando sobre a sombra que cai,
dorme teu sono sossegado,
enquanto secam os teus lábios
deixa cair a palavra
queimando o peito onde a encerras,
cola os braços ao tronco,
ramos secos à espera da queima,
fica imóvel
pasmando sobre a sombra que cai,
dorme teu sono sossegado,
enquanto secam os teus lábios
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Pedradas IX
Pedradas VIII
Procura-se!
procura-se:
o conforto asséptico de um qualquer invólucro,
recém saídos de um banho de gelo
é tortuoso o ar que se inspira
procura-se:
esfregão abrasivo tipo palha de aço,
a pele estala perante o som que circula,
retraem-se as artérias no estranho abraço
procura-se:
um antídoto fatal em frasco de vidro,
o sangue exala o conspurcado sabor do nada,
deixa que chegue lentamente
procura-se:
desesperadamente,
o tudo dentro de um nada
David Lynch, Inland Empire, 2006
procura-se:
o conforto asséptico de um qualquer invólucro,
recém saídos de um banho de gelo
é tortuoso o ar que se inspira
procura-se:
esfregão abrasivo tipo palha de aço,
a pele estala perante o som que circula,
retraem-se as artérias no estranho abraço
procura-se:
um antídoto fatal em frasco de vidro,
o sangue exala o conspurcado sabor do nada,
deixa que chegue lentamente
procura-se:
desesperadamente,
o tudo dentro de um nada
David Lynch, Inland Empire, 2006
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