quarta-feira, setembro 18, 2024

Portugal: o país onde a culpa normalmente "morre solteira"


Tenho lido e ouvido muitas críticas, que falam de "populismo" e de "demagogia", em relação ao discurso de ontem do primeiro-ministro.

Luís Montenegro disse que vão existir consequências sobre a catástrofe dos incêndios, que desta vão atrás dos culpados e dos muitos interesses instalados.

O "populismo" interessa-me pouco. Tenho medo é da "demagogia". Que o primeiro-ministro tenha dito todas estas coisas apenas para "inglês ver", e que amanhã ele e os outros governantes continuem a assobiar para o ar.

Quem está no terreno, sabe que mais de metade dos incêndios são provocados por "mão criminosa". Normalmente são ateados quase em simultâneo, e em zonas diferentes, onde há muito pouca probabilidade de surgirem devido a causas naturais.

E continua a existir muita incúria dos proprietários, que não limpam os seus terrenos, os seus pinhais e eucaliptais (inclusive o Estado...). Quando estes se localizam próximos de povoações ou de casas, têm de ser encarados como práticas criminosas, casos de policia. E nestes casos, também há responsabilidades públicas, tanto da parte das autoridades policiais como do poder local (Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais).

Os "comentadores" televisivos agarram-se muito às alterações climáticas, como se elas fossem as grandes causadoras destes dramas, que vão destruindo o país. 

Continuo a pensar que somos nós, os grandes culpados da maior parte das tragédias. Sobretudo quando se trata de povoações. É notório que não fizemos o suficiente para as proteger (as imagens televisivas são o grande exemplo, mostrando-nos terrenos e matas por limpar, rente a casas e a aldeias...). Como escrevi anteriormente, muitos destes culpados têm rosto e nome.

Espero que o primeiro-ministro, (tal como as ministras da Justiça e da Administração Interna nas suas áreas de actuação...), não se fique pelos discursos, enfrente este problema, com seriedade e sem medo. 

Não podemos continuar a fingir que não se passa nada, com a culpa a "morrer solteira".

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


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