Sempre que há um tema polémico em discussão, faço um exercício, que nem custa muito: tento "vestir a pele" dos protagonistas, e só depois de pensar um pouco, é que dou a minha opinião (quando dou...).
Por exemplo, era incapaz de escrever este primeiro parágrafo do artigo de opinião da jornalista Joana Petiz publicado hoje no "D.N.": «E mais de 20 anos depois veio a greve. Uma paralisação
inédita na Autoeuropa, com a qual não concordam muitos dos seus funcionários e
nem sequer o homem que conseguiu incríveis regalias para quem ali trabalha,
enquanto representante dos funcionários, e que fez cair a Comissão de
Trabalhadores - que negociou um acordo chumbado por aqueles que representava. O
problema: a produção do novo modelo da Volkswagen. Não é que sejam retirados
direitos aos trabalhadores. Pelo contrário, a empresa até lhes garantia mais um
dia de férias e 175 euros por mês, além das regalias previstas para os turnos,
em troca dos sábados de trabalho obrigatório durante dois anos. Nada que seja
estranho para quem trabalha no comércio, na restauração, na hotelaria ou mesmo
nos media. Mas os senhores da Autoeuropa garantem que não estão disponíveis
para trabalhar ao sábado, que isso não é vida que se concilie com uma família e
que muitos deles nem sabem onde hão de deixar os filhos nesse dia.»
Em primeiro lugar porque este texto está cheio de "certezas" e de "ficções". Em segundo lugar, porque não se deve comparar o que não é comparável.
Quando a senhora jornalista diz é uma paralisação inédita, com a qual não concordam muitos dos seus funcionários, gostava de lhe perguntar como foi possível parar a produção da fábrica, com tão pouca aderência. E se é uma paralisação inédita (a primeira greve em vinte anos), é porque a proposta apresentada pela empresa representa um retrocesso no dia-a-dia destes trabalhadores (que não têm nada que ser comparados com quem trabalha no comércio, na restauração, na hotelaria ou nos media).
Mas esta mania tão portuguesa, de querer sempre nivelar por baixo, tem destas coisas...
Num país em que normalmente se "come e cala" (em nome da crise, que raramente chega às administrações...), gosto de ver trabalhadores a lutarem pelos seus direitos.