Durante a apresentação do livro, "Perguntem a Sarah Gross", da autoria de João Pinto Coelho, em Lisboa, a palavra que a historiadora Irene Pimentel mais enfatizou foi, maturidade.
Comecei a ler o romance pouco tempo depois de escutar estas palavras e de conhecer o João, no meu regresso a Almada de cacilheiro.
Logo nos primeiros capítulos percebi o porquê da insistência da Irene. Até me apetecia duvidar que se tratava de uma primeira obra. Pela sua qualidade e segurança (pelo menos aparente), diria que se tratava do quarto ou quinto romance do autor...
O autor aborda a história de Auschwitz com uma divisão temporal (o passado que são os anos 1920, 1930, 1940 e o presente que são os anos 1960), que no início até nos parecem dois romances dentro de um. Comecei por sentir mais interesse pelo "presente", muito graças à Kimberly, mas depois acabei por me identificar com a história e deixei de sentir qualquer diferença nestas viagens pelo tempo.
Quando acabei a sua leitura, não tive qualquer dúvida que se tratava de um dos melhores livros que tinha lido nos últimos tempos.
Além de estar bem escrito, as personagens estavam muito bem construídas. E em termos históricos, embora não tenha um conhecimento profundo de tudo aquilo que envolve Auschwitz, pareceu-me verosímil, mesmo que alguns espaços até possam ter sido inventados...
Com um tema tão forte e sensível, o João podia ter-se deixado levar pelo lado "lamechas", mas não, aborda de uma forma extremamente realista todo este drama que ainda permanece tão vivo entre nós. Mesmo as violações e humilhações, não nos são oferecidas de forma gratuita, o leitor tem a possibilidade de as imaginar, de as viver, dentro de si.
Embora não se trate de um policial, "Perguntem a Sarah Gross", também nos oferece um final surpreendente.
Espero sinceramente que este romance "internacional" siga o caminho que merece e percorra o Mundo, dos Estados Unidos da América à Polónia, passando pela Alemanha, claro. E que chovam perguntas a Sara Gross...
Nota: Estas palavras foram escritas no final de Junho. Como frequento o blogue da editora do João (as "Horas Extraordinárias" de Maria Rosário Pedreira), onde costumamos partilhar as nossas leituras, pensava divulgá-las por lá, em jeito de comentário. Felizmente este livro está a ter a notoriedade que merece, com críticas positivas na "E", revista do "Expresso", reportagens no "Ipsilon" do "Público" e também na SIC (transmitida ontem no "Jornal da Noite"), pelo que faz todo o sentido publicar estas palavras no meu "Largo".