Quando o Manuel exclamou, antes de nos despedirmos e dele entrar no café-tasca, «olha as minhas putas feias», segui o meu caminho a pensar na frase.
Só dias depois, com alguma lata à mistura, é que lhe pedi para me explicar o significado das suas palavras, que me lembraram Garcia Marquez e outros escritores latino-americanos, que nunca fecham as "putas" das suas história em bordeis.
Manuel confidenciou-me que nunca gostou de beber sozinho e que só havia uma forma de beber acompanhado, era pagar uma rodada à meia dúzia de homens feitos, que assim que o viam, se encostavam ao balcão e nunca faziam cerimónia, quando ele dizia se queriam beber alguma coisa. Enquanto havia alguém que pagasse, não largavam a roda, e se alguém os "picava", diziam que se tinham esquecido da "puta" da carteira, que ficava quase sempre em casa...
«Isto é quase como o sexo (não foi esta palavra que ele disse...), se não tiveres mulher, normalmente tens de pagar a alguém para te dar prazer e a maneira mais fácil é recorreres a "putas", conhecidas ou desconhecidas. Nas tascas e cafés acontece o mesmo, se não tiveres amigos que gostem de beber e se quiseres companhia, tens de abrir os cordões à bolsa. Desta maneira, acredita que nunca te faltam "putas feias", capazes de rir por tudo e por nada ou de estarem de acordo contigo, só para beber um copo de vinho ou uma cerveja, sem gastar tusto.»
O óleo é de Juan Subira Domingo.