sexta-feira, dezembro 30, 2011

Esperar...


Escolhi-te porque gostei do teu olhar. 

Podias muito bem estar à espera do novo ano, sentada num dos degraus, vestida de escuro, mas sem ocultares a tua beleza, com um cigarro entre os dedos e um olhar com alguma melancolia, mas incapaz de esconder a esperança que pode vir aí...

O óleo é de Marcelo Bravo Becerra.

quarta-feira, dezembro 28, 2011

Arrumar as Ideias


Mais difícil que arrumar a secretária, é arrumar as ideias.

Separar coisas como a ficção, a poesia, o ensaio, o teatro ou o cinema...

Ainda ontem estive de volta ao primeiro acto de uma peça que estou a escrever, uma comédia romântica. Chama-se, "O Amor é uma Invenção do Cinema".

Gostava de me sentir menos envolvido no quotidiano, ter mais tempo para mim, mas parece-me que isso ainda não vai acontecer em 2012...

O óleo é de Kjetil Jul.

terça-feira, dezembro 27, 2011

Arrumar a Secretária


Quem passa o ano a "nadar em papeis", como eu, tem sempre a preocupação acrescida de arrumar a secretária, de separar o que é importante e o que é acessório, com a esperança de que o ano novo seja mais "organizado".

É aqui que surgem as dificuldades, tudo me parece importante, as pilhas de papeis e de livros raramente diminuem, quanto muito mudam de sitio...

O óleo é de Brad Slaugh.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

As Estradas, os Carros e as Pessoas

Não esperava encontrar tanta gente nas estradas no dia de Natal. À hora de almoço havia mais confusão junto à Ponte, que num dia da semana. Talvez uma boa parte dos filhos tenham decidido ir almoçar com os pais, como foi o meu caso.

Eu sei que a estrada não é definitivamente um lugar de paz, nem mesmo num dia que devia apelar ao amor e à compreensão, mas...

Se uma boa parte das pessoas quer chegar o mais rapidamente aos seus destinos, outros nem por isso. Isso explica-se pelas oscilações de velocidade que podem ir dos sessenta aos duzentos.


O mais estranho é que as pessoas que conduzem a menos velocidade, são quase sempre as que têm comportamentos mais perigosos nas auto-estradas. São as que ensaiam ultrapassagens a menos de oitenta, quando estamos próximos, obrigando-nos a travar (e a dizer uma série de palavrões pouco dignos da quadra...), que não sabem a bênção que representam os sinais de mudança de direcção (quantos acidentes se evitariam com este simples gesto...), etc. 

Todos lhe chamamos condutores de fim de semana (realmente fazem-se notar mais aos sábados, domingos e feriados...), mas eu diria que são pessoas inábeis para a tarefa e que não deviam conduzir automóveis.

O óleo é de Mark Lague.

sexta-feira, dezembro 23, 2011

O Natal e a Bondade Divina


Faltava uma semana para o Natal, quando o Manuel, com apenas oito anos, chegou a casa e disse aos pais que nunca mais ia à catequese e à missa.

Os pais estranharam esta decisão, ainda por cima tão afirmativa, embora reagissem de forma diferente. O pai sorriu para dentro, satisfeito por o filho ter descoberto tão cedo, a farsa que era a igreja. A mãe ficou muito desgostosa, queria que o filho descobrisse Deus, seguisse os seus ensinamentos e fosse sobretudo uma boa pessoa.

Quando durante o almoço de sábado a mãe questionou o filho sobre a sua atitude, este respondeu que tinha sido escolhido para ler um poema de Natal na missa, por ser quem lia melhor na catequese. Só que o padre assim que soube, disse à catequista que quem ia ler o poema era o neto do senhor Ferreira, o homem mais rico e importante da aldeia. 

Para que não restassem dúvidas sobre a sua posição, fez uma pergunta à mãe, que a deixou sem palavras: «Se Deus é assim tão bom, porque razão quer que sejamos pobres e não tenhamos presentes de Natal?»

O óleo é de Derek Gollahen.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Estrangeiro? Não Obrigado. Quanto Muito Diferente.


Não é o que estão a pensar, não é um nega ao nosso primeiro-ministro, que está sempre a pensar no bem-estar dos portugueses, até os aconselha a emigrarem, especialmente professores, para o reino do Eduardo dos Santos.

Chamaram-me "estrangeiro", por já ter as prendas de Natal compradas a uma série de dias, escapando às filas intermináveis nas estradas que vão desaguar nos centros comerciais, sem falar das no interior das lojas.

Só no centro da cidade de Almada é que não se nota a correria atrás dos últimos presentes.

Isto não é de modo nenhum uma critica às pessoas que inundam as grandes superfícies atrás das últimas oportunidades. Percebo-as melhor que há um ano. No meio de tanta indefinição, aproveitam enquanto ainda há dinheiro...

O óleo é de Andrezej Gudanski.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Podias Estar à Minha Espera



Quando entro já lá estas, sentada sozinha na tua mesa.

Olhamos-nos como se disséssemos bom dia sem palavras.

Pouco tempo depois olhas para o relógio e vais à tua vida.

O mais curioso é que nunca te tento dar uma vida, arranjar-te um emprego ou encontrar-te uma rua.

Prefiro que sejas a mulher sentada, que espera que eu chegue ao café, para depois partir...

O óleo é de Katarzina Rzontkonska.

segunda-feira, dezembro 19, 2011

«Ó Escola!»


Há anos que não ouvia a expressão, «ó escola!». Quando me virei estava longe de pensar que era alguém a meter-se comigo. 

Quem passou pela Marinha conhece bem esta expressão, utilizada entre camaradas, normalmente dos mais antigos para os mais modernos.

Sim, camaradas. Por lá colegas eram as meninas oferecidas das ruelas viciosas e dos bares manhosos, que proliferavam por uma outra Lisboa, distante da dos nossos dias.

Era um antigo companheiro, que não via há mais de quinze anos. Falámos um pouco e despedimos-nos. Quando ele se afastou senti que aquele conhecimento era quase de outra vida, por termos actualmente tão pouca coisa em comum.

Às vezes pensamos que mudámos pouco, mas felizmente há sempre um ou outro episódio que nos prova o contrário...

O óleo é de Adam Pekalski.

domingo, dezembro 18, 2011

Os Sapatos Amarelos


Achei curioso encontrar um par de sapatos amarelos, de senhora, em cima de um "caixote" do lixo, de uma das ruas secundárias de Almada.

Como tinha a máquina comigo, aproveitei a oportunidade e registei o momento, já a pensar numa "posta", que podia ser sobre qualquer coisa, até sobre uma "cinderela" qualquer, que passasse por ali, achasse graça ao amarelo dos sapatos (confesso que me lembrei do ferrari amarelo da canção, tal como do famoso porsche amarelo do Futre).

A proximidade do Natal também tem destas coisas...

sábado, dezembro 17, 2011

Tempo da Solidariedadezinha


Irrita-me este tempo da "solidariedadezinha", dos fulanos que aparecem orgulhosos na televisão, ufanos por  uma vez por ano se lembrarem que existem pobrezinhos e gente sem abrigo. São tão queridos, que até são capazes de vestir um aventalzinho e servir-lhes uma refeição.

Como deve ser bom pensar que dos 365 dias, um apenas, é suficiente para alegrar os "pobrezinhos" e para lhes fazer sentir que afinal deus existe...

O óleo é de Peter Smets.

sexta-feira, dezembro 16, 2011

No Tempo em que Éramos Quase Pobres...


No tempo em que éramos quase pobres, tinha poucos amigos da minha idade com carro.

Aos vinte e muitos poucos anos recordo que boa parte dos amigos da "borga", com quem me aventurava na noite, eram todos ligeiramente mais velhos que eu.

Estou a falar da primeira metade dos anos oitenta. Há quase trinta anos...

Dentro da noite, conhecíamos alguns mulheres, quase "aves nocturnas", que também escolhiam a quinta-feira como espaço de diversão, escapando às enchentes do fim de semana.

Como ninguém tinha carro e gostávamos mais de gastar dinheiro em cerveja que em táxis, esperávamos quase sempre pelo primeiro barco da manhã.

Nem sempre estávamos em bom estado, mas como éramos jovens, não custava nada fazer uma directa. O quase ligeiro peso dos olhos era coisa pouca, mesmo quando com mais uns "quilos" depois do almoço...

Esperávamos muitas vezes o barco à beira-mar, a olhar o rio com a neblina matinal, quase sempre divertidos e sem esperar que aparecesse ele rei dom Sebastião, como neste óleo de Tim Etiel.

quinta-feira, dezembro 15, 2011

A Linha do Oeste


O fim anunciado da Linha do Oeste foi tema de conversa, com uma amiga, que curiosamente está ligada ao PSD.

A conversa estava a correr bem enquanto recordámos as várias viagens que fizemos juntos com outros amigos comuns e passámos ao lado das coisas sérias. O problema foi quando eu coloquei o dedo na ferida e culpei este governo de querer poupar onde não pode e de estar apostado em destruir o melhor transporte do mundo.

O que achei mais engraçado foi ela aproveitar a deixa para culpar o PS desta e de outras medidas. Sorri e abanei a cabeça, dizendo meio a brincar: «senhor perdoai-lhes, não sabem o que fazem nem o que dizem». O que eu fui fazer e dizer. Não achou piada e até foi capaz de me deixar a falar sozinho. Pensava que ela já não tinha idade para fazer uma  cena destas, mas estava enganado...

Provavelmente, daqui a um ano esta gente ainda anda a culpar o "socras", de todos os males deste país.

O óleo é de Fábio Hurtado.

terça-feira, dezembro 13, 2011

As Cavacas e os Cheiros da Mercearia dos Primos


Quando era pequenote devia abusar da familiaridade dos primos que tinham uma mercearia e um café em Salir de Matos. Acho que o café do primo Zé foi mesmo o primeiro das redondezas. Enchia-se de gente aos domingos à tarde, que chegavam das aldeias vizinhas, montados em motorizadas ruidosas, as famosas "zundapps", "famels", "sachs V5" e "casais".


Mas havia dois sitios ainda melhores, um era a fábrica de cavacas das Caldas deles, onde eu e o meu irmão nos enchiamos de açúcar, quando nos autorizavam a "rapar" os tachos. O outro era a mercearia da prima Ermelinda, onde se podia sentir o cheiro do café e das bolachas maria e de baunilha, vendidas avulsas...


O óleo é de Bernard Safran.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

«Não achas estranho, trabalhares com três gajos com nome de mulher?»


Há pormenores que achamos tão normais, que só reparamos neles quando alguém nos chama a atenção.


Trabalhei durante quase quatro anos numa secção em que três dos meus colegas tinham nome de mulher. Não sei porquê, mas raramente nos tratávamos pelos nomes próprios. Talvez fossem resquícios da vida escolar ou militar, ou apenas hábitos herdados desses lugares onde trabalham quase só homens.

Foi por isso que fiquei quase de boca aberta quando o Silvestre me perguntou: «não achas estranho, trabalhares com três gajos com nome de mulher?» Só mesmo ele, tão distraído com as coisas importantes, era capaz de reparar numa minudência dessas.

Claro que não era estranho, eu diria que se tratava de uma mera casualidade que os meus colegas se chamassem Graça, Rosário e Paula. Se não fosse o palerma do Silvestre, capaz de tropeçar numa pedra ou meter os pés numa poça, nunca repararia nesse pormenor...

Sei que lhe disse qualquer coisa do género: «e se fosses ver se lá fora está a chover?»

O óleo é de Anna Magill.

sexta-feira, dezembro 09, 2011

As Benditas Mulheres


Eram pouco mais novas que eu. Escutava-as com e sem atenção, enquanto fingia que corrigia a revista, quase a ir para a tipografia. Estar mais ou menos atento dependia sobretudo das suas palavras, do que eram capaz de dizer sobre o mundo dos homens.

As mulheres são muito menos púdicas a falar de nós, que nós delas. Acho que não somos tanto de catalogar, de impor qualidades e defeitos, com tanta objectividade e pertinência.

Lembrei-me do jantar de amigos da quarta-feira, em que raramente apareceram mulheres à mesa. Eu sei que elas na infância e adolescência nunca têm papeis muito vincados nas nossas vidas. Era mais fácil sairmos à noite aventura com amigos, que fazer o "passeio dos tristes" com as nossas namoradas, até porque há trinta e alguns anos não haviam todas estas liberdades de hoje...

O óleo é de Evgeniy Monahov.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Lias, Bebias, Sorrias...


Estive algum tempo a olhar-te.


Lias, bebias e sorrias, debaixo dos teus óculos escuros, como se estivesses na tua ilha, sem ninguém à tua volta.

Olhava-te com admiração, indeciso. Não sabia se deveria acreditar na tua capacidade de abstração ou na tua qualidade de actriz.

Lembrei-me da Laura, que gosta tanto de escrever e de representar...

O óleo é de Jerone Garth Parker.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

«Que bom voltar a sentir-me comunista.»


Perguntei por ti e disseram-me que não aparecias por ali há meses.


Fiquei no mínimo intrigado, até por aquela esplanada ser um dos teus "escritórios" favoritos.

Telefonei-te e disse que estava por ali, à tua espera.

Bonacheirão como de costume, disseste que já estavas a caminho. Pelo meio ainda explicaste que a renda do escritório era demasiado alta e resolveste alugar um mais pequenote e com uma preço mais acessível.

Apareceste dez minutos depois, com o teu estilo inconfundível de "parte pratos". Começaste logo por pedir um cigarro a um conhecido, confessando que já não compravas tabaco há mais de um mês, "vendendo" à malta a quem cravavas um "paivante" a treta de que andavas a tentar deixar de fumar.

Sempre a sorrir, disseste que estavas acampado mesmo em cima da crise, uma "puta" alemã ou francesa, que te obrigou a mudar de vida. Um pouco mais a sério lá explicaste que o teu ordenado curto de actor fora reduzido para metade, assim como o de todos os elementos da companhia. E com o "escritor" a mandar na cultura as coisas só têm tendência a piorar...

O que antes era impossível deixou de ser, até confessaste estar preparado para fazer o papel de padre ou sacristão nos "morangos com açúcar".

Eu sei que somos bons a tirar partido das coisas más, por isso nem estranhei que dissesses que uma das coisas boas destes tempos foi teres voltado a viver em "comunidade". Beber café e almoçar e jantar no teatro passou a ser natural, a malta até improvisou uma copa e uma cozinha, onde cada um pode exibir os dotes culinários. E bebedeiras, agora só em casa ou nas dos amigos.

Gostei muito da tua expressão, carregada de ironia: «que bom voltar a sentir-me comunista.»

O óleo é de Hans Leijerzapf.

domingo, dezembro 04, 2011

Quando a Diferença não Faz Grande Diferença


O antigo futebolista brasileiro, Sócrates, deixou-nos hoje, com apenas 57 anos, vitima de uma intoxicação, que se tornou fatal devido ao seu passado de abuso do consumo de álcool.


Foi um jogador diferente, a par da sua carreira futebolista, formou-se em medicina, que penso nunca ter exercido, pois quando abandonou o futebol colocou a sua popularidade ao serviço da democracia e dos mais desfavorecidos, envolvendo-se no mundo da política brasileira.

Outro aspecto curioso, foi ter partido no dia em que o seu clube do coração, o Corinthians, se sagrou Pentacampeão Brasileiro.

Escolhi este título, porque Sócrates tinha tudo para não morrer desta forma, precocemente. Não foi um dos muitos futebolistas, que enquanto jogou, apenas pensou no presente (gastando boa parte do seu ordenado milionário em carros e mulheres velozes). Além da formação superior, era um exemplo de carácter e coragem, dentro e fora dos relvados.

sábado, dezembro 03, 2011

As Fotos de Família


Passei a pente fino os três envelopes de fotografias e não encontrei uma única sem pessoas.


Uma amiga herdara-as dos avós e nunca lhes mexera, confessou-me que lhe fazia mal ver todas aquelas pessoas que conhecera e que já não estavam cá. Mantinha-as na mesma caixa de madeira, penso que de charutos, que lhe tinha sido entregue como herança.

Como sabia que eu gostava de fotografias e tinha interesse pela história local, emprestou-mas e deu-me carta verde para digitalizar as que quisesse.

Acabei por digitalizar meia-dúzia delas, apenas pela sua profundidade, pelo que se via por detrás das pessoas.

Para a maior parte das pessoas as máquinas fotográficas, apenas serviam para retratar gentes. Havia mesmo quem fosse periodicamente ao fotógrafo, tirar fotografias com outra qualidade e dimensão, para oferecer e também para ficarem registadas nos álbuns de família.

O óleo é de António Doughi.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Da Independência à Dependência


Hoje é um dia especial, por duas razões importantes: uma nacional, outra mundial.


Provavelmente foi o último Primeiro de Dezembro que comemorámos como feriado. Se já pouca gente liga ao dia da nossa Restauração, no já longínquo ano de 1640, em que nos conseguimos ver livres dos espanhóis, daqui para a frente ainda cairá mais no esquecimento.

Também se comemora o Dia Mundial da Luta Contra a Sida, a doença mais traiçoeira e cobarde do nosso tempo. Infelizmente ainda não se descobriu a cura, mas graças aos avanços da medicina, tem sido possível melhorar a qualidade de vida dos doentes, permitindo que tenham uma vida quase normal.

O preconceito também tem diminuido. A Sida deixou de ser a doença das minorias, para passar a ser a doença dos descuidados e distraídos...

O óleo é de Vijender Sharma.