segunda-feira, 23 de junho de 2008

Que venham as novas janelas!



Alegria, sorte, mudança, esperança, sorrisos, muitos sorrisos em El Salvador!

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Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.

Mundo Grande - Drummond.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Alguém disse...

Nada se penetra, nem átomos, nem almas. Por isso nada possui nada. Desde a verdade até a um lenço tudo é impossuível. A propriedade não é um roubo: não é nada.

Lagoa da Posse
Livro do Desassossego - Bernardo Soares (Fernando Pessoa).

segunda-feira, 16 de junho de 2008

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Feliz Dia dos Namorados!



André Gorz e Dorine.

Quem quiser entender o motivo de estarem aqui, no dia dos namorados.... tem um montão de coisas na internet sobre eles... ou leiam o Carta a D.
A história faz valer a pesquisa.

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"Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei".


Tagore

sexta-feira, 6 de junho de 2008

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Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.

Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.

Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,

eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto.

- Sonetilho do Falso Fernando Pessoa

Carlos Drummond de Andrade
In Claro Enigma, 1951.

Figura: Pessoa por Almada Negreiros

terça-feira, 3 de junho de 2008

O (des)encontro.


Causava-lhe estranheza e até certo desprezo, quando percebia nos outros uma carência “naquilo”... Aquilo que não existindo, era para ela como não ter uma orelha ou uma perna... que em seu entendimento se tinha naturalmente, era como peça original de fábrica. Para ela não era motivo de preocupação, nem de dispêndio de energia ou esforço. Exauria-lhe, ao contrário, ficar ouvindo as queixas alheias sobre esta baixa e os queixosos por vezes não acreditavam nela ou tomavam-na como arrogante, quando afirmava nunca ter sentido tal ausência. Afirmava nunca ter...
E passou tanto tempo sem precisar lidar com a não existência do “buraco”, que quando aconteceu do buraco se abrir, ela foi engolida por ele... era para ela, terreno há muito (todo) tempo desconhecido.
O curioso é que o que iniciou a abertura do buraco foi estar diante da materialização personificada de um conjunto enorme de características humanas, que até então ela julgara como ideais ou próximos do que com muito descuido se chama de perfeição.
A utopia em forma de gente, germinou nela a inédita dúvida sobre todas as certezas que sempre tivera sobre si mesma. A criatura, a perfeição inventada, talvez fosse nada mais que a projeção dela mesma ou do que apreciaria ter como seu... e vendo existir, fora de si, de carne e osso, ficou escancarado que o que ela julgara ideal durante tanto tempo, era muito diferente do que verdadeiramente via no espelho todos os dias... Foi assim que se deu o (des)encontro.

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"Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia…. - Friedrich Nietzsche

Pintura: Edgar Hilaire Germain de Gas / Edgar Degas - Before de Mirror 1885 - 86.