Aconteceu, na maravilhosa cidade de Fortaleza, Ceará, o trigésimo terceiro campeonato brasileiro de karate-dô Tradicional.
O evento foi marcado pelo alto nível dos atletas, em todas as categorias.
Chamava atenção inclusive as disputas da categoria dangai (faixas verde e roxa), com golpes limpos e lutas tecnicamente muito elevadas.
FEMININO
No feminino, como sempre, o nível altíssimo das atletas proporcionou katas espetaculares.
A maior campeã de kata individual de todos os tempos na JKA, tentava o bicampeonato no Tradicional, depois de ter conquistado seu primeiro título em 2021. Manuela Spessatto (RS), tentava, em 2022, unificar novamente os títulos, feito atingido somente por ela mesma (2021) e pela lenda Adairce Castanhetti (MT), que sagrou-se campeã brasileira de kata individual no Tradicional e JKA no ano de 2005.
Mas, no caminho da gaúcha, havia a tricampeã brasileira de kata individual (2017/2018/2019), Letícia Bastos(BA). E, no Ceará, a baiana derrotou a gaúcha nesse duelo particular. Letícia ficou com o título, deixando Manuela com a prata.
Por equipes, a Bahia ficou com o ouro, superando a fortíssima equipe do Mato Grosso - Estado com maior número de títulos de kata individual e por equipes, no feminino.
Na disputa de kumite por equipes, Bahia e Rio Grande do Sul fizeram uma disputa acirrada, decidida nos detalhes em favor das baianas.
No fukugo, categoria que alterna disputas de kata e kumite, a grande final ficou entre as atletas da Seleção Brasileira Letícia Bastos e Suellen Souza (PR). Sem demonstrar cansaço, apesar de já ter disputado as finais de enbu feminino, enbu misto, kata por equipes (todas no dia anterior), kumite por equipes e kata individual, a baiana conseguiu dominar a luta e ficou com o título, contra uma das melhores e mais perigosas lutadoras do Brasil. Suellen, apesar de seu extenso arsenal de golpes e de sua imensa experiência, não conseguiu reverter a vantagem que a baiana abriu, e ficou com a prata.
No kumite individual, depois de passarem por chaves duríssimas, duas baianas estavam na final: Martinna Rey e a incansável Letícia Bastos. Ela tentava entrar para a história como a única mulher a vencer nas três categorias individuais (kata, kumite e fukugo) no mesmo ano. Entre os homens, apenas Ronaldier Nascimento conseguiu o feito (2004 e 2005). Mas em seu caminho ela tinha uma imensa pedra: Martinna Rey, que chegava à final focada em conquistar o título.
Letícia mostrou que 2022 é seu ano de ouro, pois conseguiu o feito histórico: sagrou-se campeã brasileira de kata individual, fukugo e kumite individual!
Foi a consagração de uma super atleta - atual campeã brasileira JKA de kumite individual. Em 2022, ela conquistou nada menos do que 7 títulos brasileiros (2 na JKA: kumite individual e por equipes / 5 no Tradicional: kumite individual, kumite por equipes, kata individual, kata por equipes e fukugo)
Ela provou que não há limites para um atleta. Que sirva de modelo e exemplo de que tudo é possível com muito treino e dedicação total. É um feito que dificilmente será igualado, e que ficará para a história.
MASCULINO
No kata por equipes o domínio do estado de Mato Grosso parece não ter fim. Donos de nada menos do que 15 títulos nessa modalidade, eles conquistaram para o seu Estado o décimo sexto ouro - récorde absoluto na modalidade.
No kata individual, Allan Araújo (BA), atleta da Seleção Brasileira JKA e da Seleção Brasileira Tradicional, superou uma lesão na perna, sofrida durante a luta contra Fernando Macedo (RJ) na disputa por equipes, e fez uma apresentação irretocável, conquistando o ouro. A prata ficou com o próprio Fernando Macedo, que fez um esforço tão grande em sua apresentação, colocou tanto espírito de luta em seu kata, que ao final da apresentação teve que ser atendido pelos médicos, com exaustão absoluta. Uma grande final, digna do evento.
No kumite por equipes, Mato Grosso tentava defender o título de 2021. Teve que passar pela duríssima equipe do Rio de Janeiro, com uma virada espetacular, no último segundo, conquistada pelo atleta campeão individual de 2021, Vinícius Moreno. Do outro lado da chave, a equipe vice-campeã de 2021, São Paulo, tentava reeditar a final do ano pasado. Para isso, teve que passar pelo Ceará, que, com uma equipe muito forte, surpreendeu o Rio Grande so Sul nas quartas de final.
Na grande final, a repetição da final de 2021.
Dessa vez, o resultado foi exatamente o oposto. Exatamente mesmo.
Em 2021, Mato Grosso ficou com o título após desclassificação da equipe paulista. Dessa vez, ocorreu o oposto: São Paulo ficou com o ouro após desclassificação do Mato Grosso.
Em ambas as finais foram golpes limpos, mas por falta de sorte houve acidentes que obrigaram a arbitragem a desclassificar a equipe.
Isso não tira em nada o mérito dos paulistas, que venceram disputas eletrizantes no caminho para a final!
Antes de escrever sobre o fukugo e o kumite individual, farei um esclarecimento:
Muito se disse sobre minha eventual aposentadoria, e tenho escutado muitas perguntas sobre isso. Esclareço aqui; eu sempre desejei me aposentar no Mundial JKA de 2020, no Japão. Era meu sonho. Então veio a pandemia, e embaralhou tudo. Segui com esse plano, apenas empurrando a data da aposentadoria mais para frente. 2021? 2022? Na verdade ninguém sabia ao certo.
Decidi então me aposentar das competições de karate Tradicional no Brasileirão de 2021, que foi realizado no Paraná, em dezembro. E realmente me aposentei do Tradicional ali, inclusive considerei minha semi-final contra Vinícius Moreno (MT), como minha despedida oficial das competições da CBKT.
na JKA eu ainda seguiria tentando ser convocado para o Mundial do Japão, que, até onde se sabia, seria realizado em 2023.
Mas então fui surpreendido com a convocação para o campeonato mundial de karate Tradicional que será realizado agora, em novembro de 2022, na Eslovênia. A convocação veio antes do campeonato brasileiro, e foi baseada no ranking oficial da CBKT e nos resultados dos últimos anos. Fiquei muito orgulhoso e obviamente senti que era uma oportunidade de ouro de representar meu país em um evento mundial.
Para mim, não há honra maior do que representar o Brasil.
Por isso, participei desse último campeonato brasileiro (agora sim, de forma definitiva, meu último campeonato brasileiro de karate Tradicional).
Seguindo o relato...
No fukugo, o atual campeão, Jayme Sandall (RJ), vencia suas disputas, de olho na outra chave, onde o finalista de 2021, Nalberth Amarante (MT) também vencia suas disputas de kata e de kumite.
E, na grande final, uma reedição da final de 2021.
De um lado o veterano Jayme Sandall, e do outro o jovem - apesar de experiente - Nalberth.
O mato-grossense vinha vencendo as seus combates utilizando-se de sua extrema velocidade, e de um tempo de luta excepcional. Nalberth tem um estilo de luta que lembra muito os melhores japoneses da JKA: luta para frente, com coragem, e com um gyako zuki quase indefensável.
Mas, do outro lado, havia um Jayme focado e que se utilizou de toda a sua experiência para conseguir levar o bicampeonato da modalidade.
No kumite, lutas impressionantes nas 4 chaves. Jayme Sandall (RJ) venceu sua chave depois de passar por um dos atletas mais perigosos da competição, o baiano Allan Araújo; Marcos Amorim (MT), se classificou para as semi finais depois de passar pelo campeão mundial de 2019, Jaime Jr. (SP). na disputa entre os dois, Jayme levou a melhor, e se classificou para a grande final. Do outro lado, Frank Manera (RS), venceu a semi-final contra o campeão de 2021, o atleta mais perigoso de toda a competição: Vinícius Moreno (MT), que, em seu caminho para as semi-finais, passou pelo gaúcho Augusto Spessatto, que a cada evento mostra que é um lutador extremamente técnico e que pode ganhar de qualquer um.
Na grande final - última disputa do evento - Jayme e Frank fizeram uma luta de tirar o fôlego, digna do karate Tradicional.
Depois de trocarem alguns golpes sem marcarem pontos, Frank conseguiu um belo wazari com um gyako zuki jodan que abalou o carioca. Sandall partiu para cima, tentando empatar. Nos últimos segundos, o carioca entrou com mae geri/oi zuki, uma combinação que pegou em cheio e levou o gaúcho ao solo. Mas, no meio da sequência, Frank pegou Jayme de deai de gyako zuki, bem marcado pelos árbitros. O gaúcho, que vinha lutando de forma espetacular todo o evento, foi o grande campeão do kumite individual!
RESULTADOS
*FEMININO
- ENBU: 1) MT / 2) BA / 3) CE / 4) PR
- ENBU MISTO: 1) MT / 2) BA / 3) RS / 4) CE
- KATA POR EQUIPES: 1) BA / 2) MT / 3) PR / 4) RS
- KUMITE POR EQUIPES: 1) BA / 2) RS / 3) CE - 3)PR
- KATA INDIVIDUAL: 1) Letícia Bastos (BA) / 2) Manuela Spessatto (RS) / 3) Martinna Rey (BA) / 4) Wildlayne Amarante (MT)
- FUKUGO: 1) Letícia Bastos (BA) / 2) Suellen Souza (PR) / 3) Carolina Zampa (RJ) - 3) Anne Carvalho (BA)
- KUMITE INDIVIDUAL: 1) Letícia Bastos (BA) / 2) Martinna Rey (BA) / 3) Anne Carvalho (BA) - 3) Marla Taccola (PR)
*MASCULINO
- ENBU: 1) MT / 2) SP / 3) BA / 4) CE
- KATA POR EQUIPES: 1) MT / 2) RS / 3) BA / 4) MA
- KUMITE POR EQUIPES: 1) SP / 2) MT / 3) RJ - 3) CE
- KATA INDIVIDUAL: 1) Allan Araújo (BA) / 2) Fernando Macedo (RJ) / 3) Andrew Marques (SP) / 4) Frank Manera (RS)
- FUKUGO: 1) Jayme Sandall (RJ) / 2) Nalberth Amarante (MT) / 3) Gilberto Amorim (MT) - 3) Augusto Spessatto (RS)
- KUMITE INDIVIDUAL: 1) Frank Manera (RS) / 2) Jayme Sandall (RJ) / 3) Marcos Amorim (MT) - 3) Vinícius Moreno (MT)