sábado, 30 de outubro de 2010

Final do campeonato brasileiro JKA 2006 (1)

Final de kumite individual do campeonato brasileiro JKA de 2006 entre Chinzô Machida (PA) e Ronaldier Nascimento (BA).

Esses dois atletas protagonizaram uma das maiores rivalidades dentro do karate Tradicional / JKA de todos os tempos. Além dessa final na JKA, eles fizeram três finais seguidas no Tradicional: 2001 (PR) e 2002 (GO), ambas vencidas por Chinzô, e 2003 (MT) vencida por Ronaldier.

Se levarmos em conta as categorias individuais dos campeonatos brasileiros Tradicional (kata, luta e fuko-gô) e JKA (kata e luta), eles somam 29 títulos (15 do baiano, e 14 do paraense)

Final campeonato brasileiro JKA 2006 (2)

domingo, 24 de outubro de 2010

O problema é o ser humano

Quando Bruce Lee popularizou as artes marciais orientais divulgando o Kung Fu em seus filmes, muitos consideravam essa luta chinesa como a melhor de todas. Qualquer outra era inferior, o Kung Fu reinava no imaginário popular.
Depois veio a onda mundial do Karate, mais especificamente o Shotokan. Aí então os faixas-pretas eram considerados pessoas perigosas, que poderiam matar com apenas um golpe. As outras lutas, coitadas, não tinham a menor chance.
No começo dos anos noventa, novo “bum”, dessa vez, do Jiu Jitsu. A luta agarrada teve seu nome divulgado mundo afora através da família Gracie. E todas as outras lutas passaram a ser inúteis, ridículas, só o Jiu Jitsu servia.
Com a evolução do vale-tudo – e com praticamente todos os lutadores aprendendo luta de chão – os confrontos começaram a ser decididos em pé, na trocação. Veio o Muay Thay desbancar todas as outras. Aí, nenhuma prestava, só o Muay Thay.
Com o K1, o confronto entre Muay Thay e Kyokushin se acirrou, e muitos lutadores da arte marcial de Okinawa mostraram seu valor. Então, lá foi o Kyokushin disputar o título de “melhor luta de trocação” com os praticantes de Muay Thay.
Agora, para surpresa de muitos, o Karate Shotokan volta aos holofotes com Lyoto Machida. E eis que vejo pasmo em sites de bate-papo as pessoas apregoando que o Shotokan é a melhor luta que existe, porque Lyoto venceu lutadores de Muay Thay, etc.
Conclusão: Shotokan é a única luta de alto que presta, muito melhor que todas as outras.
Fiquei intrigado. Desde novo, jamais desmereci nenhuma luta séria – ou seja, aquelas onde há treinos duros, combates, etc. Qual é o ponto em se fazer isso? Será que desmerecendo os outros, nos sentimos melhores? Será que diminuindo os outros nos sentimos maiores?
Karate Shotokan, Kyokushin, Kung Fu, Muay Thay, boxe, Tae Kwon Do, judô, jiu-jitsu, luta-livre, etc, etc, etc... TODAS são artes marciais de extrema eficiência. O melhor ATLETA terá vantagem, independente de qual luta pratique.
O único fato é que para que um lutador seja completo ele deverá praticar uma luta de alto e uma de chão (judô/Shotokan, ou jiu-jitsu/boxe, ou luta-livre/kyokushin, ou qualquer outra combinação). Aí sim ele poderá ter certa vantagem sobre quem pratica só uma.
Vou sempre bater nessa tecla de que não existe melhor luta, mas melhor lutador, apesar de saber que o problema é o ser humano, que sempre tenta puxar a brasa para a sua sardinha.
OSS.

domingo, 17 de outubro de 2010

Chinzô Machida vs Fábio Simões

Uma super luta entre dois dos maiores lutadores do Brasil, válida pela semi-final do campeonato brasileiro JKA de 2006.

OSS

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Entrevista: Rousimar Neves



Rousimar Neves é conhecido em todo Brasil pela sua qualidade técnica e por seus inúmeros títulos de kata individual e por equipe. Ele está na Seleção Brasileira desde 2004, tendo desde então participado como titular em todas as competições internacionais.
Em 1999, participou do Panamericano de karate Tradicional pela Seleção Brasileira.
Mas o multi-campeão é também o responsável pelo fortalecimento do karate JKA de Minas Gerais, e tem trazido muitos atletas fortíssimos aos campeonatos brasileiros da JKA, e cedeu alguns inclusive para a Seleção Brasileira, como Bernardo Marinho, Fernando Macedo, Laís Lery, Juliana Filgueiras e Juliana Vitral, entre outros.
Além de ser atleta e professor de karate, tem ainda que acordar todos os dias às 4:45 para ir para o trabalho. Tem que ter fôlego e força de vontade - uma realidade entre os atletas da JKA no Brasil.

- Há quanto tempo pratica karatê?

Há trinta e dois anos.

- De todos os seus títulos, qual considera o mais importante?

Todos eles tiveram sua importância... mas o último agora, do sul americano, teve um prazer maior, porque depois de ficarmos três anos consecutivos sendo vice dos argentinos, finalmente conseguimos ganhar. E essa foi a primeira vez que o Brasil conquistou esse título no kata equipe masculino.
Um outro que marcou também foi no confronto da equipe brasileira contra a equipe da universidade Kokushikan, do Japão. Dos oito finalistas do kata, sete eram japoneses. Consegui ficar em segundo lugar. Quando entrei para a final, o ginásio inteiro gritava “Brasil”! Foi de arrepiar...
Isso aconteceu na USP. Nunca mais esqueci.

- Qual foi a primeira competição que participou?

Eu tinha 15 anos, no mesmo ano em que comecei a treinar. Foi um torneio na cidade de Rio Pomba, onde ganhei kata e kumite na minha faixa etária.


- Quem foi o melhor lutador que já viu competindo?

No Brasil tem vários lutadores excelentes. Gosto muito das lutas do Paulo Afonso (PA). Tem o Vinicio Antony (RJ), Ronaldier (BA), Lyoto e Chinzô Machida (PA), Vladimir Zanca (MT)... a lista é grande. Você também, que está em uma excelente fase, e prova disso foi sua vitória no kumite individual no brasileiro desse ano, onde passou por lutas muito difíceis, sendo a mais complicada delas contra o Paulo Afonso.
No Japão tem o Ogata, que pudemos ver lutar bem de perto. O cara é muito bom, com um tempo de luta incrível.
Tem o Kokubun (JPN), que tem uma tranqüilidade incrível, o La Grange, da África do Sul, que é excelente...
Isso sem falar nos que nunca vi lutar, mas ouvi falar muito, como Ugo Arrigoni, Ronaldo Carlos, Denílson Caribe... a lista é grande, e seria injusto dizer um nome só.


- Você acha que o treino de kata ajuda no kumite?

Tenho toda certeza que os dois caminham juntos.
Através do treino constante de kata você aprende a relaxar os ombros, focalizando toda a força no tandem, e com isso a sua sequência de golpes no kumite fica com uma velocidade incrível. Assim como suas defesas para o contra-ataque.
E o treino de kumite faz com que o kata não fique somente como uma coreografia. Para mim quem faz kata tem que mostrar um algo mais do que o simples movimento. Tem que mostrar que realmente está lutando, e que o que está fazendo também seria feito na hora do kumite. Esse é o espírito.
Creio ser esse o meu jeito de treinar, e que ainda me faz competir até hoje.


- O que dá mais prazer, ser campeão ou ver seus alunos ganhando?

Anos atrás eu me preocupava muito em ganhar medalhas. Hoje o que mais importa é se estou ou não conseguindo me controlar... minha ansiedade, medo, insegurança. Melhorando isso, vou melhorar como pessoa. Mas fico feliz sim, confesso, quando os meninos me deixam ganhar...rsrs...estão sendo bonzinhos comigo.
E agora, vendo meus alunos seguindo meus passos, fico muito feliz. Cada vez que um deles entra, é como se eu estivesse entrando junto, sem demagogia. Desde o mais novo, Daniel Klein, até o Fernandinho, com 21 anos, passando por todos que fazem parte da minha equipe: Juliana Vitral, Juliana Filgueiras, os irmãos Braga – Bernardo, Lucas e Victor.
Senti imenso prazer vendo minha filha, Caroline, participando comigo no sul americano, no Chile em 2008. Também quando fizemos en-bu num campeonato brasileiro Tradicional. Eu achava engraçado quando partia para cima atacando e olhava para o rosto meio assustado dela...rsrs. Foi muito gratificante. Essa, inclusive, foi minha despedida nas competições de en-bu.
Hoje me sinto mais feliz vendo meus alunos sendo campeões, do que eu mesmo ganhando. Dá aquela sensação de dever cumprido. O que peço a eles é somente lealdade, humildade e respeito, para comigo e com todos.


- Você vem desafiando o tempo, pois a idade não parece pesar e você dá a impressão de estar cada dia mais competitivo. Você considera que está na melhor fase da sua vida de atleta? Até quando pretende competir?

Realmente nunca pensei em desafiar o tempo... me sinto bem competindo, e não me vejo sem treinar karate, e cada vez que treino consigo melhorar alguma coisa e me dá vontade de testar. É isso o que tem me acontecido. Mas a idade pesa sim... e esse ano foi ainda mais difícil, pois fui para o campeonato brasileiro JKA com hérnia inguinal bilateral, e isso me atrapalhou muito para treinar. Não fui 100%, tanto que fiquei na reserva do kumite equipe. Voltei do brasileiro e fiz a cirurgia o mais rápido possível para me recuperar a tempo do sul americano. Mesmo assim não cheguei 100% também. E mesmo com esses contratempos ainda consegui os títulos este ano que você já conhece, estava ao meu lado.
Me sinto numa fase muito boa sim, o que me falta de condicionamento físico é compensado pela experiência que tenho hoje. Com isso tenho aprendido a usar a energia somente na hora de necessidade mesmo. E isto deixa meus movimentos mais fortes e rápidos.
Pretendo competir ano que vem no Mundial da Tailândia. Vamos ver se terei força.
Mas queria mesmo era completar os 50 anos competindo no absoluto...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Matéria no Portal do Vale-tudo

Segue abaixo a transcrição na íntegra da matéria publicada no Portal do Vale-Tudo

"05/10/2010 - 17:10:53

Ex-treinador de Belfort vence Sul-Americano de Karate treinando sozinho
Marcelo Alonso


Campeão brasileiro de luta individual e tri-campeão brasileiro de equipes no karatê Shotokan em 2010, Jayme Sandall foi um dos grandes destaques da seleção brasileira que venceu o sul-americano, disputado no dia 19 de setembro em Belém. O curioso é que para conseguir estes títulos o carioca treinou sózinho. "Desde setembro de 2009 após a volta do UFC 103, aonde ajudei nos treinos de Vitor Belfort, por problemas de horário e de trabalho, passei a treinar sozinho, Eventualmente treinava com Vinício Antony e Vitor Belfort. Vinício, inclusive, me ajudou muito me passando treinamentos mais profissionais, muito parecidos com os que os lutadores de MMA fazem”, conta Jayme. Após esse período difícil, as coisas só pioraram para Jayme. Em fevereiro de 2010, a academia aonde ele dava aula foi demolida, e desde então ele ficou sem dar aulas e ter aonde treinar. Sem deixar que isso o atrapalhasse, Jayme passou a treinar no bosque do condomínio Barra Sul, na Barra da Tijuca. “Na vida, se nós deixarmos um obstáculo nos atrapalhar, não vamos pra frente. Por isso, na maioria das vezes eu treinava sozinho, algumas outras com dois alunos meus, e outras com um grande amigo que é faixa preta”.

Para não perder o ritmo e manter a forma, Jayme, com a ajuda de Vinício Antony, fez um novo treinamento e adaptou as suas condições. “Quando chove forte, faço um treino que desenvolvi, específico para o karatê, na escada do meu prédio. No bosque, levo meu aparador para poder bater, e meu extensor de borracha, que tem sido um grande plus no meu treinamento de explosão. Faço o reforço muscular em casa, com pesos que comprei. Chego sempre em casa sujo coma terra do bosque, e quando o chão está molhado, chego cheio de lama. Minha mulher adora, para não dizer o contrário (risos)”.

Mostrando que tem força de vontade para continuar, Jayme mostra que a batalha continua e espera em breve ter um patrocínio para ajudá-lo no que for preciso.

“Por incrível que pareça, seguindo esse treinamento que o Vinício me passou,estou treinando seis vezes por semana sem desanimar e meu desempenho melhorou. É como eu disse, para ser campeão tem que ter força de vontade e seguir em frente. Ficar se lamentando, choramingando, não leva a lugar nenhum”.



Segue abaixo o restante da entrevista com Jayme Sandall:


Em qual categoria você venceu o Sul-Americano ?

Luta por equipes. Fiz um total de cinco lutas (individual + equipe) e venci quatro.

Além de você, quem são os maiores nomes da seleção hoje?

Wagner Pereira (SP), Fábio Simões (SP), Vladimir Zanca (MT), Rafael Moreira (RS) e Paulo Afonso (PA). O Paulo Afonso, inclusive, foi o precursor do nosso karatê no MMA, fazendo seis lutas, se não me engano. Na época, apesar de vencer seus confrontos com belos nocautes, ele foi prejudicado no karatê, porque a organização era contra a participação no então chamado vale-tudo. Isso tudo aconteceu na década de noventa. Agora ele está de volta às competições de karatê, atropelando os adversários.

Qual país é a maior potência do Karatê?

O Japão, inegavelmente. Isso se dá pela enorme quantidade de praticantes, porque fica mais fácil encontrar grandes talentos. O karatê recebe muito apoio lá, e os atletas podem viver disso. Além, é claro, da qualidade ímpar dos mestres e professores de lá. É mais ou menos como o jiu-jitsu no Brasil: imenso número de praticantes + qualidade dos mestres e professores = os melhores atletas do mundo.

Depois que ajudou o Vitor para a luta com o Franklin parou de treiná-lo?

Não, continuamos treinando direto depois da luta. Nos últimos dois meses é que ele foi para os EUA, e então paramos de treinar. Mas havia a idéia de eu e Vinício Antony irmos para os EUA para o último mês de preparação dele para a luta com o Okami - que foi cancelada.

Como você viu a derrota do Lyoto?

Fiquei sem dormir naquela noite. Foi muito difícil ver um amigo perder, ser nocauteado. Mas são coisas da vida de qualquer lutador. Acho que o Shogum lutou muito bem, estava com a cabeça muito boa e conseguiu impor seu jogo. Mérito total dele.

Depois que o Lyoto perdeu, o Belfort parou de dar ênfase aos treinos de Karatê?

Na verdade não. Logo depois da derrota, continuamos treinando. Ele inclusive trouxe alguns equipamentos novos muito interessantes dos EUA, como extensores especiais. O Vinício puxava os treinos e eu e Vitor treinávamos forte. O Vitor procurou o karatê em 2001, bem antes de o Lyoto fazer sucesso. E ele sabe das qualidades do Shotokan. É claro que as vitórias do Lyoto foram um estímulo, mas quem conhece o Shotokan bem praticado, confia.

Como vê o confronto dele com o Anderson?

Que o Anderson é um dos melhores lutadores de todos os tempos, eu nem preciso falar. Todo mundo sabe. O Vitor também - não é a toa que recebeu o apelido de "fenômeno". Acho que vai ser uma das melhores lutas da história do MMA, onde tudo pode acontecer - desde a trocação franca até uma finalização no chão. Acredito que vai ser uma luta muito estudada, os dois vão tomar muito cuidado e tentar ser precisos, porque um erro nessa luta pode ser fatal.

Como conseguiu ser campeão treinando sozinho?

Obstinação. Se eu deixar os problemas me desanimarem, ficar me lamentando que não tenho a estrutura ideal, nem patrocínio, e todo esse blá blá blá, não vou chegar a lugar nenhum. Por isso coloquei na cabeça que isso ia ser bom pra mim, que eu poderia fazer treinos mais específicos, e usei a adversidade como estímulo. O Vinício passou umas séries de treinos bem interessantes que eu consegui fazer sozinho. Às vezes treinava na chuva, porque tenho treinado ao ar livre. E, tomando água na cabeça, escorregando na lama, ficava com raiva, e usava isso para treinar com mais força. No final, acabou dando certo...

Sem patrocinadores, você consegue viver só do Karatê ou tem que trabalhar em outras áreas?

Sou veterinário, formado desde 2001. Viver sendo atleta de karatê, no Brasil, é praticamente impossível. Eu sempre soube disso, então segui em uma profissão que adoro, e que consigo ter horários muito flexíveis.

O Karatê não conseguiu uma vaga nas olimpíadas. Como vê esta falta de apoio?

O karatê não está nas olimpíadas, e isso dificulta imensamente na hora de arrumar patrocínio. Mas isso é culpa da politicagem dentro do karatê, que se dividiu em várias federações e organizações. Tudo que é dividido fica mais fraco, mas infelizmente os interesses pessoais ficaram por cima da arte marcial. O resultado é a fragmentação do karatê."

www.portaldovt.com.br/pt/?channel=2&id=2214