EU, MERCENÁRIOCarlos Leça da Veiga*
Há dias, o “SP” publicou uns textos sob a vacinação antigripal, assinados pelo Senhor Jornalista Gobern Lopes, sobre cujo conteúdo entendo dever fazer algumas considerações
Acompanho todo o sentido critico acusatório que as peças jornalísticas, agora em causa, conferem aos interesses comerciais das grandes químico-farmacêutica que, bom grado ficarem-se-lhe a dever produtos farmacêuticos duma valia terapêutica inestimável, isso não devia autorizá-las nem justificá-las a possuir uma ganância desenfreada com o saque exigente de mais valias exorbitantes, conseguidas, indiscutivelmente – isso não pode ignorar-se – à custa do sofrimento dos seres humanos.
Há, de facto, um comportamento eminentemente explorador, logo muito desumano, das empresas químico-farmacêuticas, razão para nunca ser demais fazer recordar-lhes, como o melhor dos exemplos a dever opor-se-lhes, que o do Homem a quem ficou a dever-se a descoberta do primeiro antibiótico, a penicilina, nunca quis registar a patente do seu invento, tudo em favor dos benefícios incomensuráveis que desde então e para todo o sempre, a troco de nada ganhar, todos, no mundo inteiro, ficaram a dever-lhe.
A verdade manda dizer-se que, para comentar com todo o desfavor as intervenções comerciais das empresas produtoras dos medicamentos inclusive a sua participação menos apropriada nas manobras financeiras internacionais, não vinha nada a propósito atacar e denegrir a importância da vacinação antigripal seja qual for a sua estirpe epidemiologicamente dominante e ao fazê-lo, sem ter armas próprias, esconder-se a adversidade incontida, por detrás do escudo demasiado esfumado de, “em vésperas do início da primeira fase da vacinação, em Portugal, são muitos os médicos, enfermeiros e pessoal do sector da Saúde que manifestam a intenção de não serem vacinados”. Quem serão os aberrantes – repito, os aberrantes – que, em pleno século XXI, levantam objecções à prática da vacinação contra as enfermidades infecciosas, no caso a gripe A, pretextando riscos sem razão de ser já que, na realidade, não os há.
Que a vacina tinha sido feita há muito pouco tempo! A antigripal tem de o ser, como sempre foi, caso contrário a endemia ou a epidemia, com o decorrer do tempo, passa-lhe adiante.
Que a vacina antigripal tem efeitos secundários.
Quais? Não tem e aqueles personagens que dizem tê-los têm de apresentar uma comprovação objectiva e não, como hábito, meras suposições na versão corrente das deduções fantasiosas. Quaisquer desses imaginados inconvenientes infectantes exigem comprovação na conformidade dos postulados de Kock ou, até, com alguma cedência, segundo os critérios de Bradford Hill e de Evans. Pelo certo, nenhum dos profissionais que opinou disparatadamente, se alguma vez ouviu falar deles, muito provavelmente, não percebeu o que queriam dizer.
Também, ao fazer-se divulgação sobre o problema da gripe não pode falar-se dos vinte milhões mortos como consequência da infecção pelo vírus da gripe de 1918 sem acrescentar, para tranquilizar quem nos ouve e lê, que o agente microbiológico, autor factual dessas mortes, não era o vírus gripal mas sim uma bactéria que pode sobrevir á infecção virica, contudo, hoje em dia, ao contrário de dessa época já longínqua , caso apareça, tem tratamento antibiótico eficaz e muito efectivo.
O articulista, Senhor Jornalista Gobern Lopes, deixou escrito que “irão aparecer alguns mercenários públicos para contestar as vozes discordantes e escamotear os argumentos reais que levam muitos a recusar a vacina”. Tenho o orgulho máximo em enfileirar no lote desses mercenários (antes nisto que noutra coisa!!!) e nisso empenhar o meu brio profissional.
Mas quem são os autores e defensores daquilo a que, no texto, foram chamados argumentos reais?
Por decoro não quero citar os personagens mais utilizados na campanha ainda em marcha, ou melhor, os mais badalados. Uma, coitada, tem as alucinações próprias da sua doença crónica; a outra, se acerta contra a coercibilidade desta vacinação (a gripe é um entidade nosológica demasiado benigna para merecê-la), espalha-se e demonstra que o doutoramento pouco efeito teve no desenvolvimento do seu saber médico como pode depreender-se quando faz a atribuição, aliás indemonstrada e imensamente imaginada, de alterações neurológicas secundárias.
Regressar ao medievismo, às ajudas mitológicas, aos textos sagrados, aos miasmas pútridos, à geração espontânea, às explicações sem base científica actualizada ou, como é moda em curso, às práticas ditas alternativas, isso não e nunca. Mercenário ou regular, sim e para jamais ceder.
Opiniões avulsas, sem substrato cientifico e espaldadas na conformidade invocada dum imaginário direito de opinião – Liberdade e Democracia não são a mesma coisa – se podem dar muita satisfação a quem delas quer fazer alarde, contudo, convêm saber se os outros, quantos deles, com informação limitada e distorcida, não irão ser vitimas infelizes desses arautos de tais supostas boas novas.
Fica-me a convicção firme e inabalável de estar a prestar um débil, porém, um bom serviço à comunidade, sempre e quando defendo a vacinação antigripal, feita com consentimento autorizado e administrada a quem, para isso, tem indicação formal, tanto clínica, como epidemiológica. Oxalá todos conseguissem uma mesma satisfação pela obrigação cumprida.
Quanto às desconfianças que a OMS tem espalhado pelo mundo e que, no texto do “SP”, merecem referência bastante, tal como, sabe-se lá, quais e quantos compromissos internacionais reprováveis manterá com quem mais lhe fornece benesses, é uma matéria sobre a qual só tenho convicções pessoais repletas de desconfiança, todavia, quase por completo, indemonstradas, razão bastante para não imitar outros e dar palpites disparatados.
A Saúde é um bem demasiado precioso para que qualquer ouropel deite a perder muito do pouco que, em seu favor, apesar de tudo, já é possível fazer-se.