por Ivanildo Abdias
Bochechas rosadas. Cabelo bem penteado à goma. Gaveta de meias e cuecas mais organizadas que a fila de um sábado qualquer no Louvre. Farto e bem alimentado. Detalhes íntimos que insinuam a imagem mais correta de um torcedor do Barcelona. Qualquer um.
Antes mesmo que algum carola saia às turras, defendendo a dissertação de que “vencer é o que interessa, o resto não tem pressa”... Que encontrar elegância na derrota é coisa de fracassados... Vamos com calma. O que o dileto Barça tem que o seu time não tem: Um glorioso pereba vestindo o manto sagrado do seu clube.
No futebol tupiniquim, esquecem as rodas de boteco, os cadernos de esportes, ou o fundão da sala de aula, que para cada gênio com a pelota nos calcanhares, trinta ou mais trastes são jogadores profissionais. Gentio que tenta a sorte em agremiações duvidosas. Um mercado onde remuneração tosca, campos esburacados e pilantragem são o Jesus e não a cruz.
É isso que motiva a devoção ao craque eterno. Aquele que veste o uniforme em batismo. Ele chegou ao seu time, leitor, passando pelos mais terríveis lamentos. Infernos indescritíveis. Cachaças, filhos com várias mulheres, analfabetismo da preguiça... O ídolo, o craque “bandeira”, (como os italianos se referem aos seus) merece as estátuas.
Questione um botafoguense da esquina e ele te virá com um certo “Mané”. Pode-se ir mais longe, um vibrante torcedor do moleque travesso lhe passa o orgulho de ter tido em seu campo o “Mão de Onça”. Um Ceará propõe seu Gildo. Temos um “Einstein”, o resto do time são fulanos, eles pensam. Para cada Corinthians que teve seu Basílio, teve o goleiro Nei “mão de pau”. É o complexo do camisa 10, aquele predestinado a trazer o equilíbrio à força. O craque é como o músico do finado Titanic, toca sua sinfonia até a morte.
O brasileiro só permite a junção de seus craques na amarelinha. Bem, seleção é outra conversa. Mesmo assim, ao ler a escalação do time de 70, é triste saber que um Roque Júnior da vida também esteve lá. Agora, a fatal pergunta ao menino mimado, quem é teu craque? Desinformado ou não, podia denunciar um: Bakero. Um espanhol cabeludo e desengonçado que jogou no time Catalão.
As Chuteiras do feito: O Gol do Adeus |
O camisa 10 de cada um é criado com a dor. Com o silencioso drama que acompanha o ordinário do dia a dia. Do mesmo manto que Bakero se cobriu, Stoichkov, Romário, Cruijff, Giovanni, Messi... Desfilaram. Quem gostaria de estar na pele do menino mimado que levante o dedo.