A crise
A cena desenrola-se no Mercado Municipal de Tomar, na ultima Sexta-Feira, depois de ser conhecido que os membros do executivo da Câmara PSD e na figura pessoal do seu Presidente anunciaram em conferência de imprensa o combate à crise no Concelho de Tomar.
Personagens da conversa:
D. Maria da Conceição vendedora de hortaliça no mercado.
Sr. Antonio Paciente, comerciante local com porta aberta na Corredoura.
Dr. Felizardo, conhecido por ter muitos conhecimentos e ligação intima com o executivo tomarense no poder.
Tema da conversa: A crise.
O Dr. Felizardo cumprimenta o Sr. Paciente e a jeito de entabular conversa, dirige-se à D. Maria da Conceição:
- Então como está a venda da hortaliça hoje, não me diga que a crise já fez aumentar a mesma?
D. Conceição:
Nem me fale da crise Dr. que a crise já eu conheço neste Mercado há alguns anos.
Estou farta de escutar e dizem-me que o Mercado vai ter novas instalações que os senhores da Câmara vão fazer alguma coisa, que agora é que vai melhorar e veja o estado em que isto está?
Eu na venda nem ganho para pagar o terrado, levanto-me às seis da manhã, chego aqui e olhe…eu que criei esta hortaliça e este mel, com tanto amor não o consigo vender….sobretudo porque as poucas pessoas que aqui passam….nem compram em Tomar… ….vão para fora do nosso Concelho fazer as compras.
O que me leva a vir ainda ao Mercado é acreditar que algo vai mudar e com este dinheirinho tão pouco que ganho, como posso pagar as despesas. Sobretudo agora que me disseram que a água vai aumentar mais 3.1 %.
Eu já li que foi proposto na Assembleia e na Câmara outras medidas, mas o Sr. Presidente da Câmara não aceitou. E agora diz que vai combater a crise.
Ele que vá falar com o Presidente da Junta que bem conhece a nossa situação e com as pessoas da aldeia onde moro que fica logo a saber o que é a crise.
Resposta do Dr. Felizardo:
Não é bem assim. Já sabemos que esta Câmara já lá está há alguns anos, mas agora, este ano é que vai. Vai ver, descobriram maneiras de combater a crise. Este ano vai.
Comentário do Comerciante Sr. Paciente que assiste ao diálogo:
Pudera este ano é ano de eleições. O Sr. Presidente da Câmara nem sabia que existia crise, quando aprovou o Orçamento da Câmara e dos Smas. Num dia não havia crise, no outro descobriu a pólvora: Conferencia de Imprensa com as medidas contra a crise. Ainda não vi nenhuma. Eu que até votei PSD nas ultimas eleições para a Câmara.
Dr. Felizardo: Lá está você, nunca está contente, temos que apertar o cinto, já viu as grandes obras que foram feitas em Tomar. E continuam. Esta Câmara é teimosa, tem ideias fixas.
D. Conceição: Pois isto está mal e sempre para os mesmos. Deviam levantar-se todos os dias ás seis da manhã para trabalhar, conhecer melhor o Concelho, as gentes esquecidas e logo veriam como se combatia a crise.
Comerciante Sr. Paciência:
Ainda se esta Câmara ouvisse alguém. Esperto foi o Engenheiro Paiva porque disso sabe ele, que adivinhando a crise da qual é também responsável se demitiu e foi para outras paragens. Quem cá fique que aguente.
Se os restantes elementos do executivo do seu partido tivessem juízo, tinham feito o mesmo, mas agora ainda tem a lata de vir apresentar medidas contra a crise, quando esta já bateu no fundo do Concelho de Tomar. E olhe que existem pessoas de valor no PSD de Tomar, mas também não lhes ligam. Crise pior não pode haver. Sobretudo de ideias.
D. Maria da Conceição:
E os responsáveis quem são?
Sr. Paciência:
Para mim os mais importantes que conheço são os que governam ou desgovernam a Câmara.
Fizeram ouvidos moucos às propostas que lhes foram apresentando, aprovaram propostas que melhoravam o nosso comércio e a nossa vida, mas depois nada fizeram. E ainda vem falar em crise. Crise anormal em relação aos outros Concelhos já tínhamos, agora temos é uma crise extraordinária.
Esta Câmara tem bons funcionários, com experiência e aptidões mas os que mandam não sabem gerir. Se eu não soubesse gerir as minhas fracas vendas, dos poucos turistas que ainda nos visitam, já tinha morrido à fome e encerrado a porta. È tudo uma questão de gestão e de prioridades na governação, mas isso parece que não existe na Câmara. Pudera o dinheiro também não é deles. Só servem para aumentar as taxas, aplicar coimas a torto e direito e o povo, os comerciantes que se danem. E ainda vem agora falar de medidas contra a crise.
DR. Felizardo:
Vocês já viram as obras que se fizeram:
A Fonte Cibernética – que beleza, foi uma boa gestão e combate a crise.
O Parque atrás da Câmara – Que obra, foi um bom investimento, fora uns problemazitos que surgiram. Mas combate a crise.
Esta ponte nova grandiosa e com largas faixas de rodagem, parece que estamos em Veneza. Serve para fugir mais rapidamente da crise.
O novo estádio Municipal. Tanto verde e com tanta vista. Também combate a crise.
O novo Pavilhão Municipal. Muito bem enquadrado naquela zona, embora meta alguma água. Dinheiro bem investido. Também combate a crise.
Posso garantir que nunca tivemos uma Câmara como esta, garanto.
D. Maria Conceição: Eu só os conheço quando aqui vem em campanhas eleitorais. Não notei nenhuma diferença, só para pior.
Mas se querem falar de crise falem comigo e com os restantes vendedores do mercado que lhe dizemos.
Comerciante Sr. Paciente:
Nasci e fui criado em Tomar, os meus filhos já abalaram para outros Concelhos onde montaram negócio e safam-se apesar da crise, agora eu que continuo a gostar de Tomar e a acreditar não me tornam a enganar.
Se me falam agora em crise, perguntem aos meus colegas de profissão e alguns já fecharam as portas, desde quando é que a crise se agravou em Tomar. Não foi agora por causa dos americanos, da crise financeira mundial, crise já eu conheço há muito e os senhores que mandam na Câmara, nada fizeram e agora ainda tem a lata de vir falar de medidas contra a crise.
Para mim a maior crise foi estarem á frente da Câmara e nada resolverem, porque eu com a 4ª classe sei mais de gestão na minha loja, que eles na Câmara e logo fui eu votar neles.
Para mim a melhor medida contra a crise, era demitirem-se e não voltarem a candidatar-se. Já mostraram que não sabem combater qualquer crise, antes sim provocam-na, tornando-a pior.
Dr. Felizardo: Nem todos se queixam, tenham fé.
E abalou, deixando sós o comerciante Sr. Paciência e D: Conceição.
Comentário do Sr. Paciência no final:
Pudera, a crise a ti nunca chegou. Não sabes o que é isso. Afinal só vens a Tomar de tempos a tempo e quando tens medo de perder o tacho. Antes ficasses lá por Lisboa, pois a mim nunca compraste nada e Dª Conceição veja lá se levou algum mel ou hortaliça.
Dª Conceição: Eu apesar de analfabeta ainda acredito que depois das próximas eleições em Tomar e sobretudo para os habitantes das aldeias do nosso Concelho, a vida pode melhorar.
Sr. Paciência: É ainda o que me mantêm vivo e ainda com a porta aberta. Deus a oiça D. Conceição e venda-me lá um pouco desse mel e alguma hortaliça, porque sei que são produtos tomarenses e assim sempre a ajudo a si e ao Concelho.
Moral da história:
Não nos façam perder tempo com teatros de campanha eleitoral.
A crise combate-se com um boa gestão e acreditando nas pessoas e nas propostas que lhes apresentam, sobretudo ouvindo os outros e trabalhando em equipa.
Quem não sabe gerir a própria Câmara, aproveitando os seus recursos humanos e financeiros, como pode querer combater a crise, parte dela provocada pela má administração destes últimos anos.