28.2.14

Liga Europa (apuramentos de Porto e Benfica)

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- O principal destaque da jornada vai, obviamente, para o resultado do Porto na Alemanha (os dados estatísticos estão em baixo). É um sucesso que encontra relevância, sobretudo, no contexto actual do clube, e em particular na falta de confiança que se abateu recentemente sobre a equipa. No que respeita ao jogo propriamente dito, no entanto, o apuramento não é suficiente para que se façam grandes elogios à qualidade do futebol apresentado. Aqui, a atitude e entrega terão compensado alguma falta de lucidez colectiva e, sobretudo, uma série de erros individuais que são pouco comuns em vários jogadores. Colectivamente, parece-me que o Porto pagou caro o erro de não se ter preparado convenientemente para a forma como o seu adversário ataca, sempre com muita gente, a zona de finalização. Foi sobretudo por aí que se complicou, ainda mais, a situação. O lado mais positivo da exibição é, evidentemente, a reacção final da equipa, em particular quando forçou um jogo mais directo, apelando à presença aérea de Jackson e Ghilas. A má notícia, porém, é que deste indício não resulta qualquer solução para os actuais problemas do futebol portista, já que não será certamente desta forma que o Porto irá abordar os seus próximos jogos. Individualmente, é-me difícil compreender a exibição de Jackson, com Carlos Eduardo a aparecer também num plano bastante medíocre (o que, ainda assim, não impediu que se mantivesse em campo durante 90 minutos). Em contraste, pela positiva destacaria: Mangala, claro, porque apesar da bipolaridade da sua prestação, o saldo é francamente positivo, Fernando e Danilo.

- Bem mais esperada a qualificação do Benfica. Convém, no entanto, que a facilidade do apuramento não se confunda com a desvalorização do Paok. Sobretudo para quem tem como referência o campeonato português, seria muito injusto fazê-lo, tanto para os gregos, como para o próprio Benfica. Seja como for, estão confirmados dois embates de enorme interesse na ronda seguinte, envolvendo Porto e Benfica. Isto, claro, mesmo tendo em conta que qualquer destas quatro equipas jogará sempre com um olho nas competições internas, onde reside a prioridade de todos.


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27.2.14

Champions, oitavos-de-final (IV)

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Schalke - Real Madrid
Na semana passada, a propósito do que se passou no Leverkusen-PSG, tinha antecipado a possibilidade de uma derrocada germânica neste jogo e, mesmo assim, posso dizer que fiquei surpreendido com a facilidade com que o Real Madrid foi, sucessivamente, ultrapassando a barreira defensiva alemã. Foram 6, o que não é pouco, mas podiam ter sido bem mais!

Na base do problema esteve, novamente, a abordagem táctica caseira. Não se repetiu a postura 'kamikaze' da primeira fase de pressão do Leverkusen, é certo, mas dentro do bloco e entre sectores, o Schalke mostrou desde cedo fragilidades que, a este nível e perante este adversário, só podiam ter um custo desta magnitude. Em particular destaque, a forma como a linha defensiva foi flagrantemente exposta, ora pelo risco assumido na profundidade, ora por falta de apoio da linha média às zonas fundamentais, ora pelo espaço entre os elementos do próprio sector mais recuado. É evidente, aqui, que o contexto é fundamental, e é sempre em face do mesmo que sustento estas apreciações qualitativas. Ou seja, este tipo de comportamentos podem ser - e são de facto, pelo que se vê na tabela - suficientes para a generalidade das equipas da Bundesliga, mas uma coisa é defender Nicolai Muller ou Okazaki (Mainz), outra, bem diferente, é controlar um tridente com a qualidade de Bale-Benzema-Ronaldo!

Sobre o Real, é evidentemente um candidato de primeira linha à conquista da final de Lisboa. Reconhecendo o potencial extraordinário da sua linha ofensiva - apenas com paralelo no rival catalão - tenho ainda algumas reservas em relação a alguns aspectos do jogo madrileno. São impressões que me sobram dos jogos que vi, mas como foram poucos não me quero alongar sobre elas...

Galatasaray - Chelsea
Quando se diz que o Chelsea é um candidato a ter em conta nesta prova, não se pode - nunca! - estar a comparar o potencial ofensivo da equipa com formações como Barça, Real, Bayern ou mesmo PSG. Neste sentido, não era razoável esperar uma exibição autoritária da equipa de Mourinho em Istambul, à imagem do que aconteceu noutros jogos destes oitavos-de-final. Para o Chelsea, o caminho terá de ser sempre em sofrimento, degrau a degrau, mas é certo que em qualquer eliminatória e perante qualquer adversário, os 'blues' têm uma hipótese real de sair vencedores. Uma situação que, aos meus olhos, é semelhante à de Atl.Madrid e Dortmund.

O jogo foi interessante, ainda que ambas as equipas tenham mostrado que têm muito por onde evoluir. Sobretudo o Galatasaray, claro, que cometeu mais erros na fase de construção e mostrou mais lacunas em termos de organização e maturidade colectiva. Uma evidência da superficialidade do modelo de jogo turco é, na minha óptica, a forma como Mancini trocou de sistema, como quem troca de camisa, a meio do jogo. A alteração, sendo justo, foi até bastante útil para as aspirações da equipa. O ponto aqui, porém, é que tanto num sistema como noutro o Galatasaray mostrou muito pouco em termos de evolução das dinâmicas colectivas, e por aí se pode explicar também a leveza com que o treinador muda de sistema a meio de um jogo com esta importância. Afinal, a única vantagem de não se ter grandes dinâmicas colectivas assimiladas, é que há pouco a perder quando se mudam as referências colectivas (sistema).
Ainda sobre a mudança táctica, o que sucedeu foi que Mancini começou por jogar em 4-4-2, com Drogba nas costas de Burak. O comportamento ofensivo da equipa passava por projectar os dois laterais e enfatizar a construção pelo corredor central, nomeadamente com o envolvimento dos dois médios e com Drogba como elemento de ligação, entrelinhas (uma função que, sinceramente, me parece desprezar completamente os pontos mais fortes do marfinense). Ora, quando se projecta os laterais a ideia é, geralmente, aumentar a presença no corredor central, nomeadamente pela dinâmica interior dos extremos. Coisa que, no caso do Galatasaray pouco ou nada se viu, e que por isso acabou por redundar numa perda de soluções de passe no corredor central. Assim, quando Mancini mudou para 4-1-4-1, introduzindo mais um médio, fixando Drogba na frente e abrindo Burak, a equipa passou a ter mais uma unidade na fase de construção, o que lhe permitiu pelo menos ter mais apoios na circulação baixa. Assim, e sem que alguma vez tivesse verdadeiramente colocado o Chelsea em sobressalto, o Galatasaray conseguiu pelo menos maior domínio territorial, empurrando a equipa de Mourinho para o seu meio-terreno, algo que na primeira meia hora não tinha acontecido.
Quanto ao Chelsea, foi também um jogo relativamente modesto, onde se destaca a organização defensiva e, também, o envolvimento defensivo de toda a equipa - destacaria, por exemplo, os papeis de Torres e Schurle, neste particular. Com bola, a opção passou quase sempre por uma construção longa, frequentemente usando o jogo aéreo de Ivanovic como referência. É verdade que Mourinho retirou alguma eficácia desta iniciativa, mas também é um facto que o potencial deste tipo de jogo é relativamente limitado para uma equipa com o estatuto do Chelsea. É sobretudo neste capítulo que tenho curiosidade em ver a evolução da equipa, em 2014/15. 

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26.2.14

Champions, oitavos-de-final (III)

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Zenit - Dortmund
Se este era o dia menos interessante, dos quatro em que se disputam os oitavos-de-final, em grande parte tal se explica pela presença do Zenit. Torna-se até difícil de entender a falta de qualidade colectiva da equipa de Spalletti, e não deixa de me vir à memória a equipa do Zenit que, em 2008, venceu a Taça Uefa e a Supertaça Europeia com um elenco bem mais modesto, mas com um nível futebolístico incomparavelmente superior.

Tudo começou com dois golos madrugadores, ambos a levantar muitas dúvidas sobre a prestação de Criscito mas, por muito pesado que tenha sido, esse duplo-golpe está longe de explicar tudo o que aconteceu. Em particular, as dificuldades na fase de construção russa, constantemente comprometida pela falta de soluções de passe oferecidas ao portador da bola. Um regalo para o pressing do Dortmund, que foi sempre alicerçando grande parte do seu potencial ofensivo nas recuperações que, sucessivamente, ia conseguindo no meio-campo contrário. A única surpresa é, pois, o facto do Zenit ter conseguido marcar dois golos, num jogo onde não criou um grande número de oportunidades, isto mesmo tendo partido o jogo desde muito cedo.

Sobre o Dortmund, o passado recente - nomeadamente a época passada - mostra como pode ser perigoso desprezar a formação de Klopp. É uma equipa bem organizada, que conta com algumas unidades de grande qualidade - particularmente, Lewandowski e Reus - e que terá condições para dar prioridade total a esta competição, já que o título interno está completamente comprometido. E este costuma ser um pormenor importante na fase final da prova...

Olympiakos - Man Utd 
Se o Zenit parece estar a mais nesta competição, também não se vislumbram, nesta altura, grandes possibilidades de qualquer destas equipas chegar muito longe na prova. Mais normal o caso do Olympiakos, que não faz um investimento nem tem qualidade para que se lhe exijam grandes feitos. Mais surpreendente, e por isso também mais interessante, é o caso do Man Utd.

Começando pelo jogo, convém não ser demasiado resultadista nas críticas a fazer à equipa de Moyes. Isto é, foi evidente a falta de qualidade da equipa, sobretudo na forma como não conseguiu responder ao condicionamento defensivo, estrategicamente definido, do Olympiakos. Tanto na fase de construção como em zonas mais adiantadas, a equipa não apresentou movimentações colectivas que a ajudassem a chegar aos seus objectivos, sendo também notório o mau desempenho individual de vários jogadores, provavelmente pouco confiantes naquilo que estão nesta altura a fazer. Seja como for - e é aqui que se deve fazer alguma justiça - o Olympiakos também não esteve minimamente perto de criar o suficiente para justificar os dois golos que marcou. Aconteceu, como pode acontecer sempre no futebol, mas não foi algo que se tornasse evidente por aquilo que o jogo mostrou.

O debate em torno de Moyes é interessante, embora do meu ponto de vista não exista grande margem para discussão. O United cresceu, e é o que é hoje, em grande parte porque teve a felicidade de contar com um dos melhores treinadores da história do jogo. Não me vou alongar, aqui, sobre a história de Ferguson, que é a meu ver um das mais ricas que o futebol já nos ofereceu e não cabe, certamente, como subcapítulo deste texto, mas não quero deixar de sublinhar que foi, durante muito tempo, menosprezado na sua competência táctica, e é por aí que se explica muito do problema que a equipa vive hoje. Mas, voltando a Moyes e à situação actual, é absurdo comparar-se este seu inicio, como o inicio de Ferguson, nos anos 80. Ferguson chegou a um United destroçado, e tinha como objectivo reerguer o gigante, há muito adormecido. Moyes chegou a um United campeão, e tinha como objectivo mantê-lo nesse nível, tendo tido todas as condições para tal. Não há comparação possível. O problema do United, hoje, passa sobretudo pela pobreza do seu jogo, e por aquilo que a equipa perdeu com a mudança no comando técnico. Uma coisa é dar tempo aos treinadores para que realizem o seu trabalho, outra é não reconhecer a perda de valor que representou uma simples troca no comando técnico da equipa. Para já, e até pela forma como têm aberto os cordões à bolsa, os donos do clube aparentemente não reconheceram o erro na escolha do treinador, mas seria para mim uma enorme surpresa se o autismo relativamente à situação do treinador se mantivesse até ao inicio da próxima época.

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25.2.14

Outras notas da jornada

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- Começando pelo drama do Dragão, a vida de Paulo Fonseca está definitivamente complicada, mesmo que fique até ao final da época. Creio ser essa a intenção do clube (ou, para ser mais preciso, do Presidente), nomeadamente para poder preparar de forma mais ponderada a próxima temporada, mas o treinador precisa de um milagre para sair por cima no final desta experiência, e ele próprio parece estar a precisar de descanso. Já tenho comentado muito a situação do Porto e de Paulo Fonseca. Sem repetir grandes pormenores, parece-me que esta era uma tempestade anúnciada pela gestão do planel nos últimos 2-3 anos, e que o treinador, mesmo que não tenha tido de facto capacidade para atenuar o problema, nunca pode ser confundido com o instigador do problema.

- Já me tinha referido à gestão dos treinadores na Liga Europa, com Jesus e Paulo Fonseca a mostrar prioridades inversas. Na minha leitura, falará aqui mais alto a experiência de Jorge Jesus que, ao contrário de Fonseca, tem anos suficientes para já ter percebido que se paga o desgaste de repetir o mesmo onze 3 vezes por semana. Coincidência ou não, a verdade é que os resultados neste regresso do ciclo europeu são, para já, de grande contraste, entre Benfica e Porto.

- Em Braga, Jesualdo saiu mesmo. Foi uma época que começou por não correr bem, com os primeiros maus resultados a terem uma boa dose de infortúnio, mas a equipa acabou por prolongar o efeito negativo de cada desaire, tendo reagido sempre muito mal às derrotas. Jesualdo, na minha leitura, pecou por não estabilizar um onze, o que ainda se tornava ainda mais apropriado após a eliminação europeia. A verdade é que isso nunca aconteceu, e à excepção de Eduardo e Aderlan, nenhum outro jogador se manteve como titular e na mesma posição. Demasiadas caras novas, e demasiadas mudanças. Mas nem tudo se perdeu na "era-Jesualdo". O Braga ganhou algumas individualidades de grande valor, tendo todas as condições para, ou fazer já excelentes negócios, ou preparar uma grande equipa na próxima temporada. Rafa e Aderlan serão duas das melhores revelações que o clube já teve nas respectivas posições, e surgiram ainda Pardo e Rusescu que, mesmo com um potencial inferior, têm mantido igualmente um rendimento muito elevado. A estes, acresce o bom rendimento dos veteranos Custódio e Alan, em princípio valores seguros no curto prazo. Segue-se Jorge Paixão, para mim uma surpresa e um mistério.

- Uma nota, também, sobre o final da tabela. O Gil Vicente está em queda livre há algum tempo, restando saber até onde poderá ir. Como escrevi na altura, foi um inicio de época muito estranho com muitos pontos ganhos, mas sem correspondência alguma em termos exibicionais. Se, nessa altura, a equipa acumulou alguma confiança após esses primeiros sucessos, hoje não parece ter nada em que se possa agarrar para inverter o ciclo em que se encontra. Desta vez, perdeu em casa do último, mesmo depois de se ter apanhado, muito cedo, em superioridade numérica. O Olhanense mantém-se um candidato à descida, mas parece já não justificar o favoritismo que o acompanhou praticamente desde o inicio de época. Paços, que continua surpreendemente sem se encontrar, e Belenenses, a quem faltam ideias ofensivas, estão também na linha da frente para ficar atrás de todos os outros.

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24.2.14

Rio Ave - Sporting: Opinião e Estatística

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- Como explicar estas estranhas oscilações no futebol do Sporting? Particularmente, como explicar o sucesso do denominado "Plano B" em contextos específicos, sendo que quando foi aplicado de uma forma mais prolongada, os sinais foram absolutamente contrastantes? Receio que, para quem procura uma solução do tipo "chave na mão", a minha resposta não seja particularmente interessante...
No futebol, como em quase tudo na vida, temos a tentação de procurar nexos de causalidade que possam explicar, linearmente, tudo o que vemos. Acontece que essa tentação, quase irresistível para a natureza humana, nos leva com demasiada frequência a um raciocinio que é, do ponto de vista lógico, errado, nomeadamente por procurar a causa a partir do efeito, e não o contrário. No caso do futebol, repetidamente recorremos à táctica como factor universalmente explicativo, ignorando o efeito complexo da interacção de factores que, de forma dinâmica, vão influenciando o jogo. É por isso que fenómenos como o factor casa, ou o facto de haver mais golos nas segundas partes dos jogos permanecem sem ter uma causa claramente identificada, apesar de assumirem uma influência praticamente transversal a todas as equipas e campeonatos. E é neste sentido que a minha resposta para o mistério do "Plano B" do Sporting se revela desinteressante. Ou seja, não me parece que se possa isolar um factor explicativo para as diferenças de resposta da equipa, e tudo terá provavelmente a ver com a complexidade do contexto e não com uma simples alteração táctica que possa, miraculosamente, resolver todos os problemas de Leonardo Jardim.

- Entrando mais concretamente no jogo de Vila do Conde, referir que foi uma vitória importante do Sporting, num campo difícil e com uma reacção, de novo, muito boa à adversidade. Porém, as boas notícias, para o Sporting, acabam aqui, porque olhando para o jogo como um todo a exibição leonina estará muito longe de oferecer garantias para o que quer que seja.
O factor marcante da partida esteve, na minha leitura, na diferença da resposta da equipa em termos de construção, da primeira para a segunda parte, assim como no próprio comportamento do Rio Ave com bola. Na primeira parte, o Sporting havia sentido sempre muitas dificuldades na ligação do seu jogo, o que é mais habitual no que respeita ao corredor central, mas que não o costuma ser tanto, relativamente aos corredores laterais. Em desvantagem, o Sporting passou a arriscar mais na progressão pelo meio, com William Carvalho a emergir no jogo, com Montero a ser referência como apoio frontal e com Mané a acrescentar capacidade de transporte de bola nessa zona. Ainda assim, note-se, o Sporting não forçou nunca um jogo muito directo, servindo-se apenas de Slimani como finalizador e não tanto como referência para a construção - uma solução que, a meu ver e salvo em raras circunstâncias, retira qualidade ao jogo do Sporting. Daí que, desta vez, o tal "Plano B" tenha tido características diferentes do habitual.  Do ponto de vista do Sporting, seja como for, urge encontrar um rendimento mais consistente e menos dependente destes "gritos de revolta" em situações de adversidade. Até porque, ninguém tenha ilusões, no longo-prazo acabarão por ser mais os pontos perdidos do que as reviravoltas.
Convém, aqui, fazer uma referência ao Rio Ave, que recorreu sempre muito ao pontapé longo (muito longo!) de Ederson para a sua construção. É uma opção que me parece razoável num jogo destes, mas que também me parece ter tido uma interpretação não muito bem preparada, do ponto de vista colectivo. Não sei se o guarda-redes procurava um jogador em concreto ou se tentava apenas bater o mais longo possível, o certo é que frequentemente a equipa não pareceu devidamente preparada para disputar as segundas-bolas, já bem dentro do meio-campo do Sporting. Algo que poderá ter sido decisivo para o domínio territorial que o Sporting conquistou no segundo tempo e que, com um uso mais calibrado deste recurso, provavelmente teria complicado bem mais as aspirações da reacção leonina.

Individualidades (Sporting)
Rui Patrício - Mais um bom jogo, apesar do golo sofrido. Particularmente, importante a intervenção da primeira parte que, com a ajuda de Maurício, impediu o golo do Rio Ave. Tem sido um dos pontos fortes do Sporting neste campeonato e, provavelmente mesmo, o melhor guarda-redes da prova.

Cedric - Já várias vezes o elogiei nesta temporada, mas desta vez fez um jogo simplesmente desastrado. Em particular, com bola, teve um desempenho técnico muito mau, com várias decisões questionáveis, bombeando repetidamente a bola em profundidade, mas quase sempre sem propósito. Defensivamente, por outro lado, não há muito a apontar e confirma a melhoria observada esta época, nomeadamente em termos posicionais.

Jefferson - Se, do outro lado, Cedric esteve mal, Jefferson pouco melhor esteve. Um pouco mais consequente com bola, é certo, mas também à custa de muito risco, optando por conduzir a bola em situações de risco, algo que foi repetindo até se dar a perda que custou um golo à equipa. Também defensivamente, não esteve isento de erros e acabou por salvar a sua exibição pelo decisivo cruzamento para o golo, numa jogada em que tirou partido da má abordagem defensiva de Pedro Santos, antes de cruzar.

E.Dier - De longe, a melhor exibição que lhe vi fazer esta época. Irrepreensível a defender, com várias intervenções fora da sua zona, e desta vez sem comprometer a equipa a construir. Neste registo, sim, é possível perspectivar que Dier venha inevitavelmente a conquistar o seu lugar na equipa. Mas terá sempre de ser a partir das bases, do que é fundamental para um central, e nunca do que é acessório e muitas vezes descontextualizado das orientações colectivas. Veremos que continuidade dará...

Maurício - Não teve de sair tanto da sua zona, comparativamente com Dier, mas esteve igualmente eficaz e interventivo nas suas acções defensivas. Foi manifestamente infeliz no lance do auto-golo, tendo inclusivamente definido muito correctamente o posicionamento numa situação díficil, de inferioridade numérica, mantendo-se na linha de passe para o cruzamento. Único reparo para uma perda de bola na primeira parte, quando quis forçar a entrada da bola em William Carvalho.

William - Não foi um jogo extraordinário, e começou até por ser uma exibição bastante modesta, onde a sua influência no jogo foi escassa. No entanto, cresceu muito na segunda parte, arriscando mais e dando-se bem com isso, o que acabou por ser decisivo para o domínio que a equipa exerceu após o golo sofrido. Tudo somado, acabou por ser das unidades de maior rendimento da equipa.

Adrien - De novo, o contraste entre o que faz com e sem bola. Defensivamente, muito bem, com grande intensidade, ganhando vários duelos e com bom ajuste posicional, nomeadamente entre o meio e a esquerda. Com bola, no entanto, voltou a estar inconsistente, parecendo acusar algum desgaste com o evoluir do tempo e falhando, quer no objectivo de oferecer maior qualidade/consistência à ligação do jogo, quer no propósito de ajudar a aproximar a equipa do golo.

André Martins - É verdade que teve dificuldades em encontrar soluções de passe no último terço, em particular porque o Rio Ave controlou bem os seus movimentos sobre o corredor direito (através de um encaixe individual que já havia resultado no jogo de Alvalade). Mas não concordo que seja este jogo a servir de motivo para que se aponte o dedo a André Martins. Estas são as suas características - para o bem e para o mal - e o seu rendimento não esteve muito distante dos restantes jogadores ou daquilo que vem habitualmente fazendo. Isto é, é verdade que não teve a preponderância que a equipa precisava, mas isso não foi um contraste com o que é hábito ou com aquilo que foi a regra da equipa, na primeira parte. Com Adrien suspenso, seria interessante vê-lo nessa posição, onde creio ter mais vocação para actuar.

Heldon - Pela forma como lhe foi oferecida a titularidade, percebe-se que terá sido uma contratação com forte aprovação do treinador. A verdade é que não conseguiu ainda justificar a diferença para as restantes soluções da posição, quer em termos de capacidade de desequilíbrio, quer em termos de qualidade na envolvência no jogo.

Wilson - Um desempenho bastante modesto, onde teve até uma boa eficácia nas suas aparições com bola, mas onde não conseguiu causar qualquer impacto, acabando igualmente por fazer um jogo de muito pouca utilidade em termos de trabalho defensivo.

Montero - Permanece sem marcar, em parte porque a equipa não tem produzido muito em termos ofensivos, e em parte porque ele próprio não tem conseguido um grande impacto, sentindo-se alguma ansiedade na tomada de decisão. É claro que não se pode esperar a mesma frequência goleadora quando joga numa posição mais recuada, como tem acontecido com frequência, e isso deve ser tido igualmente em conta. Na segunda parte teve algum peso na ligação do jogo ofensivo, oferecendo-se como apoio frontal. Com mais um golo de Slimani e um jogo de suspensão, poderá ter perdido a titularidade como principal referência ofensiva da equipa.

Mané - Já havia causado um impacto positivo, jogando numa posição mais interior, mas onde a sua capacidade de transporte fez alguma diferença relativamente à primeira parte. Depois, acabou por marcar mesmo o golo decisivo, justificando-se a continuidade na aposta que nele vem sendo feita.

Slimani - O seu impacto como substituto tem sido incrível e, até, praticamente impossível de manter no futuro. Na próxima semana terá mais uma oportunidade como titular, e se tiver a sorte de marcar, certamente que a titularidade será sua.

Carrillo - Confesso que não vejo grandes motivos para o seu eclipse recente, suspeitando que os motivos terão a ver com mais do que aquilo que mostra em campo. Isto, porque Carrillo permanece como o mais virtuoso entre os extremos da equipa, e mesmo que a sua regularidade ainda não tenha sido conseguida, também me parece estranho que não tenha surgido mais vezes como alternativa, em algumas partidas recentes. O grande destaque da sua curta presença foi, claro, o cruzamento para o segundo golo.

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21.2.14

Liga Europa, Benfica e Porto

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- Será a Liga Europa uma competição secundária? Para quem, como eu, cresceu de ouvido colado à rádio a cada quarta-feira europeia, esta será sempre uma ideia difícil de encaixar. Esse era nem mais, nem menos do que o climax de qualquer temporada futebolística, e era para aí que se canalizavam os mais ambiciosos sonhos de qualquer adepto, independentemente da competição em causa. Mas, na vida as coisas mudam, e no futebol têm de facto mudado muito com o passar dos anos. Talvez não faça sentido, do ponto de vista lógico, que se dê prioridade a uma competição interna - campeonato - cujo troféu já enche, às dezenas, os museus dos principais clubes nacionais, em detrimento de uma prova de muito maior prestígio global e que apenas por um par de vezes foi conquistada por clubes nacionais. Mas, e volto a repetir esta ideia, o futebol não se explica pelo lado racional, e todos sabemos a importância emocional que tem a organização da festa final do nosso campeonato. A verdade, neste sentido, é que a Liga Europa é mesmo uma competição secundária para muitos clubes europeus - particularmente aqueles que disputam as principais ligas - e também para os portugueses vem-no sendo cada vez mais.

- Uma coisa é o que se diz na conferência de imprensa - e todos dizem o mesmo, que "todos os jogos são para ganhar" - outra, bem diferente, é o que depois resulta nas opções, práticas, dos treinadores. É aí que, claramente, Jorge Jesus e Paulo Fonseca se distinguem. E, vendo bem, percebe-se porquê. Jesus, mais do que nunca, quererá saber pouco ou nada desta competição, estando bem presente na memória o trauma negativo da época anterior, onde a presença na primeira final europeia do clube, ao fim de mais de 20 anos, não chegou para, emocionalmente, compensar os 2 pontos perdidos internamente. Já Paulo Fonseca terá outra perspectiva. O campeonato é o mais importante, sem dúvida, mas já não depende dele, e não será com uma colecção de taças internas que o treinador sairá por cima no final da época. A única maneira de compensar minimamente uma eventual perda na corrida para o título será através de um feito - improvável, mas perfeitamente possível - na final de Turim. E por aqui se explicam, na minha leitura, as prioridades de um e de outro na composição dos respectivos onzes iniciais, sem que tal tivesse evitado, porém, a ironia do contraste entre os dois desfechos.

- Em Salónica, o Benfica arrancou uma vitória ao velho estilo italiano dos anos 90. Não pelo 'catenaccio', que foi mais relembrado na estratégia grega, mas pela forma como geriu o jogo de forma aparentemente tranquila, confiante na sua superioridade, e marcando praticamente na primeira ocasião que teve para o fazer. Parece simples: ir à Grécia, levar uma equipa de rotação, ganhar, fazer as malas e regressar. Parece, mas tal só é possível pela forma como o modelo táctico está assimilado por todos os jogadores do plantel. Outra coisa curiosa é o facto do Benfica ser, agora, uma fortaleza defensiva aos olhos de adeptos e comunicação social, quando há bem pouco tempo todos apontavam as fragilidades defensivas como o principal defeito da equipa. Mistérios...

- Mais curioso ainda, o que se passou no Dragão. O empate, note-se, é mesmo penalizador para o Porto. Não que o Eintracht não tivesse justificado marcar, mas porque foi preciso uma enorme dose de eficácia para que pudesse chegar ao empate. Por muito que o fado nos possa parecer anunciado, são coisas que acontecem a todos. Mas há 3 coisas surpreendentes que me merecem um comentário especial. Primeiro, claro, o "coelho" que Quaresma tirou da cartola. No fim das contas, serão estes rasgos, e a frequência com venham a acontecer, a definir a utilidade do seu contributo, porque em praticamente tudo o resto, já se sabe com o que (não) se pode contar relativamente ao 7 portista. Depois, o caricato segundo golo do alemão: um auto-golo não é assim tão incomum, agora um auto-golo na sequência de um desvio de um outro jogador da própria equipa, confesso que já tenho alguma dificuldade em recordar algo igual. Finalmente, as declarações - não menos caricatas - de Paulo Fonseca. As "gaffes" acontecem a todos, e não serei certamente eu a enfatizar a importância que elas, na realidade, não têm. No entanto, é provável que no caso de Paulo Fonseca elas possam reflectir a insegurança do treinador em relação ao actual momento da equipa e à sua própria posição, em particular. Já o tinha escrito, parece-me que o principal pecado do treinador nesta sua passagem pelo Porto pode ter sido a forma como se deixou afectar pelo ruído mediático em seu redor, e estes sinais podem ter a ver com essa vulnerabilidade.

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20.2.14

Champions, oitavos-de-final (II)

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Arsenal - Bayern
O estatuto actual do Bayern fazia com que a vitória forasteira fosse, à partida, o cenário mais expectável. É indiscutível a justiça do desfecho, mas confesso-me pouco impressionado com a exibição da equipa de Guardiola. Talvez a culpa seja das elevadas expectativas...

Sobre o Arsenal, creio que dificilmente será uma equipa com ambições reais de chegar muito longe nesta prova ou mesmo de conquistar o título interno. Tem uma boa equipa, sem dúvida, mas não o suficientemente para rivalizar com outros concorrentes, sendo que do ponto de vista táctico, por outro lado, se observam limitações importantes e que, na minha leitura, condicionam muito as possibilidades de superação da equipa. Em particular, o espaço entrelinhas, pela facilidade de desposicionamento dos médios, e que foi notoriamente contemplado na estratégia de Guardiola para este jogo.

De resto, Wenger mostrou-se bastante cauteloso na abordagem à partida, particularmente arriscando muito pouco em termos de construção, onde apostou quase tudo numa ligação longa para tentar jogar a partir da segunda-bola, quase sempre sobre o corredor direito. É verdade que esta iniciativa obteve uma eficácia assinalável - também, a meu ver, por algum défice na resposta do Bayern - mas parece-me questionável o ênfase dado a esta solução. O Bayern arrisca muito em termos de pressing em organização defensiva, e sendo certo que qualquer desafio representa um risco, parece-me igualmente que o Arsenal teria qualidade suficiente para se propor algo mais neste plano. De resto, e como tento mostrar no vídeo, foi por essa via que a equipa de Wenger começou por criar mais problemas ao seu adversário, nos minutos iniciais.

Quanto ao Bayern, e como já referi, Guardiola focou muito a sua estratégia no aproveitamento do espaço entrelinhas, com a colocação interior dos extremos e com um deles quase sempre nas costas dos médios do Arsenal. A ideia - parece-me - seria manter os médios inicialmente mais baixos, de forma a atrair o duplo-pivot dos 'Gunners' através da circulação baixa para, depois, aproveitar o espaço criado nas suas costas. A verdade é que, e mesmo conseguindo alguns bons períodos de circulação, o Bayern teve dificuldades em encontrar os espaços essenciais que intencionalmente procurava, acabando por se dar o paradoxo de ser numa das raras ocasiões em que Robben protagonizou o seu movimento mais clássico - da direita para o meio - e sem ninguém entrelinhas, que o Bayern abriu o caminho para o triunfo.

Mas as minhas principais reticências relativamente ao Bayern não vêm daquilo que faz com bola, onde a qualidade é obviamente muito elevada - ainda que existam alguns aspectos que não tenha gostado tanto desta vez. Defensivamente, a equipa parece-me facilmente exposta na sua última linha, havendo muito pouco apoio oferecido por elementos de outros sectores (a excepção é o pivot). É certo que a equipa é forte no condicionamento mais alto e que é difícil ultrapassar sistematicamente essa barreira sem correr riscos importantes, mas é também bom recordar que o Bayern foi campeão europeu utilizando um estilo completamente ao que é hoje praticado, nomeadamente na eliminatória com o Barça. A minha dúvida reside no que acontecerá perante a reedição desse tipo de confronto, ou seja perante uma equipa que possa rivalizar em termos de qualidade na presença em posse, havendo a convicção de que, desta vez, Guardiola manterá por certo a identidade da sua equipa. É, provavelmente, a maior curiosidade que tenho para esta edição da Champions, e espero que o sorteio nos presenteie a todos com esse brinde...

Milan - Atl.Madrid
Quem olhasse para este jogo de uma forma descontextualizada, isto é não conhecendo o trajecto recente das duas equipas, estranharia por certo o enorme favoritismo atribuído aos visitantes. Nem o Atlético tem um historial que o justifique, nem tão pouco em termos de valores individuais se encontra uma evidência explicativa para este "fenómeno". A verdade, porém, é que David e Golias inverteram os papeis num espaço de tempo muito curto, e era sobre o Atlético que estavam depositadas as maiores expectativas. Fazendo justiça à equipa de Seedorf, o Milan não merecia o castigo da derrota. Não que tivesse sido superior ao Atlético, mas porque conseguiu quase sempre controlar o seu opositor e, num par de ocasiões, estar ela própria muito perto de marcar.

De resto, este foi um jogo essencialmente equilibrado, o primeiro nestes oitavos-de-final onde ambas as equipas deram prioridade ao controlo dos espaços essenciais. É claro que o Atlético mostrou mais qualidade em termos tácticos, nomeadamente sendo capaz de seleccionar melhor as situações onde era, ou não, possível pressionar a todo o campo. Em termos de comportamento com bola, porém, a equipa de Simeone não foi tão competente e apenas na segunda parte conseguiu ser mais consistente nesse particular. O Atlético tinha neste embate um desafio importante (que não está ainda concluído, note-se), porque surgia na sequência de uma fase menos bem sucedida em termos de resultados, e onde a confiança podia ser uma fragilidade adicional. Para já, e com alguma sorte, a equipa sobreviveu ao desafio, mantendo-se como 'dark horse' em duas corridas simultâneas. Será capaz Simeone de dar continuidade ao sonho/milagre, mantendo-se até ao fim na luta pelos dois mais difíceis troféus do futebol europeu? Em princípio, dir-se-ia que não mas, chegados aqui, o melhor é mesmo desconfiar...

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19.2.14

Champions, oitavos-de-final (I)

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Man City - Barcelona
A elevada expectativa em torno deste embate era, do meu ponto de vista, perfeitamente justificada. Em particular, havia a curiosidade de observar a forma como qualquer dos conjuntos reagiria perante a capacidade de circulação do adversário. Porque se nos respectivos campeonatos Man City e Barça estão habituados a fazer "gato-sapato" do pressing alheio, raramente qualquer delas se confrontou com o seu próprio veneno. Neste sentido, o jogo mostrou algumas coisas interessantes, acabando o equilíbrio por ser desfeito pelo lance do primeiro golo. Aqui ficam aqui algumas notas que, a meu ver tacticamente, lançaram os dados do jogo:

- Mais respeito por parte do Pellegrini: Não alterou a estrutura - de novo, mudar as características dos jogadores não implica forçosamente que se mude a estrutura - mas quis 1) claramente manter o controlo sobre a projecção ofensiva dos laterais, abdicando de um ala interior à esquerda, e 2) oferecer maior presença defensiva à linha média, com a inclusão de David Silva na primeira linha de pressão, mas com a missão de baixar para uma linha mais baixa, sempre que a posse do Barça assim o exigisse. Um comportamento que retirou à equipa a primeira referência vertical para o momento de transição, e daí talvez se explique a maior dificuldade de progressão após a recuperação da bola.

- Posse do Barça: Para além das opções no onze - e provavelmente mais importante - notou-se a preocupação do City em baixar as linhas perante a posse do Barça, privilegiando a protecção dos espaços essenciais em detrimento de maior urgência na procura de recuperar a bola. O resultado foi, na minha leitura, bom. Ou seja, é verdade que o Barça teve muito mais bola, mas o facto é que apenas com muito pouca frequência chegou a zonas verdadeiramente problemáticas para o City. Aqui, pode-se questionar a movimentação catalã no último terço, frequentemente com pouca presença para responder às entradas da bola na última linha contrária e, pontualmente também, com alguma redundância de movimentos. Nota, do lado do City, para o comportamento de Demichelis, muito facilmente atraído pelas movimentações contrárias - era uma oportunidade que se abria para o Barça mas, note-se, não foi por este motivo que se deu o lance decisivo.

- Posse do Man City: Muita qualidade na circulação, com menor volume, é certo, mas com mais verticalidade e capacidade de aproveitar espaços essenciais, nomeadamente a zona entrelinhas. Esta diferença resulta, não só da postura de ambas as equipas com bola, mas sobretudo da postura mais pressionante do Barça, relativamente ao City. Este dado fez com que o City fosse mais vezes provocado pelo pressing contrário, definindo-se mais rapidamente situações de definição das jogadas em que, ou o Barça recuperava, ou o City encontrava espaço para progredir. E foi quase sempre assim, enquanto o jogo esteve 11x11. Outro aspecto que me parecia ter algum potencial era o 'overlap' dos laterais do City, um movimento muito forte na equipa de Pellegrini e que o Barça poderia ter dificuldades em controlar, pela velocidade com que é feito e pelo posicionamento habitual dos médios e extremos blaugranas. No entanto, esse movimento nunca chegou a ser testado no jogo.

Perante estes dados, o jogo foi decorrendo com algum equilíbrio, acabando tudo por ficar determinado num lance de transição, e que podia ter acontecido para qualquer lado. É claro que a maior qualidade técnica do Barça ajuda, e que a decisão de Demichelis é, igualmente, questionável. Mas, não tenho dúvidas, também podia ter sido o City a ganhar vantagem numa situação semelhante. O City deverá sair, mais uma vez, de forma permatura desta competição, mas fica clara a sua evolução nesta temporada e, pelo menos para mim, a sua candidatura ao título interno fica reforçada com a saída da Champions.

Leverkusen - PSG
É certo que não ajuda sofrer um golo praticamente na primeira jogada do jogo, mas não creio que isso sirva para explicar tudo o que aconteceu. Confesso que me espanta a abordagem do Leverkusen, nomeadamente a forma como arriscou na sua postura pressionante, perante uma equipa tão forte tecnicamente como é o PSG. Subir linhas para pressionar a todo o campo pode parecer sempre uma boa ideia para dois adeptos, numa conversa de café, mas... para o treinador do Leverkusen, num jogo de Champions frente ao PSG, só muito dificilmente o poderia ser. Muito espaço entre sectores e muito desposicionamento, de um lado. Muita qualidade técnica e capacidade de circulação, do outro. O resultado foi o sentenciar da eliminatória em menos de 45 minutos.

Sobre o Leverkusen, dizer que há, de facto, uma grande diferença entre as 2 principais equipas do futebol alemão - Bayern e Dortmund - e as restantes. Não só no potencial técnico dos seus jogadores, mas também em termos de maturidade táctica na abordagem aos jogos. O Schalke, se repetir esta tipo de receita frente ao Real, poderá seguir o mesmo destino.
Sobre o PSG, reforçar que se trata mesmo de uma das mais fortes equipas do futebol europeu da actualidade. Estará um degrau abaixo de Barça, Real e Bayern, mas esta não é uma equipa do actual "pelotão" do futebol europeu. Convém perceber a diferença (e estou a lembrar-me de algumas coisas que por cá se disseram nos recentes confrontos com o Benfica).

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18.2.14

Varela, o extremo mais produtivo da "era Quaresma"

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Não foi a mais interessante das jornadas, no que aos jogos dos "3 grandes" diz respeito. Entre o insosso aperitivo para uma semana onde regressam as competições europeias - com alguns pratos fortes, já nesta fase - houve, no entanto, um jogador que se destacou em termos individuais: Silvestre Varela.

Na realidade, Varela tem conseguido aumentar a sua produtividade nos últimos jogos, num período onde o grande destaque foi o regresso de outro extremo, Ricardo Quaresma. Se olharmos ao rendimento dos extremos portistas desde o jogo na Luz - em que Quaresma se estreou - fica em evidência o bom desempenho das duas unidades que já estavam presentes no plantel, Varela e Licá. Varela, conseguiu 4 golos neste período, sendo que anteriormente tinha apontado apenas 1, juntando a este registo uma assinalável presença nos principais desequilíbrios da equipa, nomeadamente como finalizador. O caso de Licá é menos relevante, devido ao pouco tempo de utilização, mas também o ex-Estoril pareceu mais inspirado neste período, nomeadamente aproveitando bem as ocasiões em que entrou a partir do banco. Quanto a Quaresma, sobre quem estão depositadas maiores expectativas para a segunda metada de época, não se pode dizer que esteja a desiludir no que respeita à participação directa nos golos da equipa, tendo já apontado 2 e assistido mais 1. Ainda assim, o registo do camisola 7 está longe de ser diferenciador em relação às restantes soluções do plantel - particularmente Varela - sendo que esse é precisamente o objectivo deste seu regresso.

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14.2.14

Benfica - Sporting (III): principais desequilíbrios

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Termino a análise ao derbi com a revisão de algumas das principais jogadas. Aqui ficam algumas notas dos 5 lances seleccionados no vídeo:

1- O lance do primeiro golo até começa com um bom condicionamento defensivo do Sporting sobre a construção do Benfica (ou, pelo menos melhor do que aconteceu na maior parte do jogo), criando boas condições para controlar o lance, coisa que efectivamente acontece. Sucede que, para além do que se passou na fase de construção de ambos os lados, houve também uma grande diferença relativamente à resposta das equipas no momento de transição. Esse é o primeiro ponto a focar neste lance, com Adrien a ceder perante a pressão de Fejsa. Depois, nota para a infelicidade de Piris, que escorrega, e para alguma passividade de Heldon, contrastante com a intensidade de Maxi, muito mais agressivo e reactivo neste tipo de acções. No centro da área, o foco final está em Cedric. É verdade que poderia ter sido mais prudente na fase em que o lance ainda está algo indefinido, mas em defesa do jogador pode também argumentar-se que o rápido desdobramento dos laterais é uma das características mais marcantes do futebol do Sporting, e que isso implica sempre algum risco. Seja como for, é o facto de estar demasiado aberto que determina a impossibilidade de ganhar o espaço interior, sobre Gaitan, e não a ausência de reacção ou de noção sobre o espaço a ocupar. Aliás, e de novo em defesa do jogador, é de registar que com alguma frequência foi protagonista de intercepções interiores em lances semelhantes a este, mas que aconteceram sem a mesma velocidade.

2 - O desequilíbrio provocado pelo passe de Garay para Gaitan encontra explicação, sobretudo, no mérito dos dois protagonistas. Excelente o passe, não menos notável a recepção. Ainda assim, a jogada põe em evidência um dos problemas da dificuldade do condicionamento pressionante do Sporting, que permitiu quase sempre a liberdade de um jogador na frente da sua linha média, frequentemente com condições para expor as costas da linha defensiva. É verdade que, à excepção deste lance, há pouco a registar em termos de perigo proveniente desse problema, mas o risco esteve presente em várias ocasiões. Nota ainda para Piris que, perante a eminência do passe e ausência de pressão sobre o portador da bola (Garay), deveria ter cortado mais rapidamente a profundidade, abdicando de manter a coerência posicional com a última linha. Ou, pelo menos, esse é o comportamento que me parece mais lógico nesta situação, sendo que é uma situação obviamente discutível e cada equipa/treinador tem a liberdade de definir o que pretende, de acordo com as suas ideias.

3 - O terceiro lance, que culmina com o brilhante passe de Markovic a isolar Rodrigo, inicia-se numa decisão questionável de Adrien, próximo da área do Benfica e na sequência de um ataque rápido do Sporting. A solução evidente seria o passe para Montero, o que potenciaria muito o perigo da jogada, parecendo possível que o médio do Sporting o tivesse tentado fazer, apesar do bom condicionamento de Gaitan, que faz a pressão no sentido correcto, precisamente condicionando o passe interior (nota, de novo, para o sentido táctico e capacidade de trabalho de Gaitan, o tal aspecto que durante muito tempo não foi devidamente reconhecido ao jogador). Num segundo momento, e mais uma vez, alguma dúvida quanto à agressividade dos jogadores do Sporting na reacção à perda, nomeadamente Montero - se há situação em que faz sentido arriscar a falta é esta. Mais à frente, o crédito do desequilíbrio volta a ser justificado, quase que por inteiro, pelos intervenientes do Benfica, agora Markovic e Rodrigo. Rodrigo, porque depois de abrir a linha de passe volta a procurar o corredor central, o que em princípio oferece maior potencial à jogada, sendo depois muito rápido a perceber e atacar o espaço nas costas da linha defensiva. Markovic, pela qualidade evidente do passe. Do ponto de vista do Sporting, não era trivial fazer melhor, mas pode questionar-se tanto a reacção de Piris, que perde o posicionamento interior, como a pressão de Dier, que apesar de se aproximar de Markovic, acaba por não evitar o que pretendia, precisamente o passe de rotura.

4 - Na minha opinião, o principal sublinhado do lance, que termina com a finalização de Rodrigo após o drible interior sobre Piris, vai para a forma como o Benfica se desdobra rapidamente, tanto defensivamente, como ofensivamente. Primeiro, tem uma boa presença na sua área, após um ataque rápido do Sporting. Depois, faz a bola transitar a toda profundidade do campo, acabando por ter, igualmente, boa presença numérica na área do Sporting. Pelo meio, claro, um aspecto decisivo no jogo e que fugiu, durante 90 minutos, ao controlo dos médios do Sporting: o transporte de bola de Enzo Perez. Quanto ao desequilíbrio final da jogada, novamente mérito para Rodrigo, que aproveita a ausência de cobertura no espaço inteiror. Do ponto de vista do Sporting, exigia-se maior proximidade de um médio naquela zona, mas a velocidade do lance atrasa a recuperação de Adrien, e a densidade de jogadores do Benfica na área, atrai Dier para uma zona mais central.

5 - A primeira nota sobre o lance final - que contempla duas situações sucessivas e termina com o segundo golo - vai para a organização defensiva do Sporting nesta fase do jogo. Foi uma situação que durou pouco tempo, entre a entrada de Magrão e o segundo golo do Benfica, tendo havido uma rectificação após esse momento, numa conversa entre Jardim e Dier focada pela transmissão televisiva (e que teve até, aparentemente, alguma discórdia entre os dois). O facto é que neste período, o Sporting pareceu jogar com 3 centrais, baixando Dier e colocando Magrão sobre o corredor esquerdo. Fica a dúvida, até pela tal conversa entre o treinador e central, sobre qual a intenção para esta fase do jogo, mas talvez a ideia fosse jogar com 3 defesas, projectando ofensivamente os laterais. Seja como for, claramente a equipa não estava devidamente preparada para o fazer, tal como revela o primeiro desequilíbrio na jogada. Havendo maior presença na última linha, parece existir também maior liberdade para os centrais saírem da sua zona, resultando no paradoxo de ser precisamente quando tem mais unidade nesse sector que o Sporting mais se expõe na zona central da sua última linha. A explicação está no facto de Dier e Rojo se permitirem abandonar, em simultâneo a sua posição.
Posteriormente, a nota principal vai, de novo, para aquilo que acontece no momento de transição defesa-ataque do Sporting, com a bola a ser perdida para a reacção à perda do Benfica. A meu ver, mais censurável a decisão de Magrão, que fecha o jogo na linha, uma zona onde o Benfica estava perfeitamente preparado para reagir. Na sequência, o passe interior de Rojo também parece uma decisão questionável, culminando numa perda de bola que determina o desequilíbrio que a seguir se gera, nomeadamente pela desorganização da defensiva do Sporting, criando uma situação de 1x1 que Dier teria muitas dificuldades em controlar (em parte devido ao contraste entre as suas características e as de Enzo Perez). Note-se que os dois golos surgem em situações em que a defesa do Sporting está momentaneamente desorganizada, após a equipa ter perdido a bola na transição defesa-ataque.

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13.2.14

Benfica - Sporting (II): Estatística e análise individual

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Benfica
Oblak - Sem erros nem reparos, mas também praticamente sem trabalho relevante, o que faz desta uma exibição positiva, mas igualmente sem grande relevância. Para já, porém, e mesmo com o erro cometido em Barcelos, a prestação de Oblak tem sido muito mais positiva do que a de Artur, sofrendo 1 golo em 4 ocasiões enquadradas com a baliza (25%), em cerca de 650 minutos, o que contrasta com os 22 golos em 29 ocasiões enquadradas com a baliza (76%), de Artur. Note-se, porém, que o péssimo registo de Artur não faz de Oblak um óptimo guarda-redes, e que só com mais tempo se poderá fazer uma análise verdadeiramente justa ao rendimento do jovem esloveno. Agora, parece-me factual que o Benfica tem contado com um contributo muito mais útil do seu guarda-redes, desde que a sua baliza trocou de dono.

Maxi - Sem dúvida, um dos principais destaques da partida, pela positiva. É verdade que Heldon lhe causou alguns problemas na segunda parte mas, no cômputo geral, foi Maxi quem dominou claramente os duelos no seu corredor. Em especial destaque, a sua agressividade e presença pressionante após a perda da bola, o que valeu várias recuperações valiosas, e, claro, o contributo ofensivo, estando presente na assistência para o primeiro golo e na jogada que antecede o segundo.

Siqueira - Beneficiou claramente da presença de um extremo menos agressivo no seu corredor, acabando por ser das unidades mais discretas da equipa, também porque não participou em qualquer lance de maior relevo, em termos ofensivos. Ainda assim, isso não quer dizer que tenha tido uma má prestação, muito pelo contrário. Apesar da discrição, travou e venceu vários duelos, sendo igualmente uma presença positiva na fase de construção.

Luisão - Muito em foco, numa série de intercepções vistosas e importantes em cruzamentos a partir do corredor esquerdo do Sporting. Este é o principal destaque de um jogo que foi, globalmente, positivo e praticamente sem reparos a fazer.

Garay - Em termos defensivos foi mais discreto do que Luisão, mas isso não quer dizer que tenha estado menos bem. Pelo contrário, Garay venceu até mais duelos do que o seu companheiro de sector, protagonizando mais uma exibição muito positiva neste plano. Com bola, aí sim, houve uma grande diferença de protagonismo em relação a Luisão, com a equipa a procurar muito mais a boa capacidade de passe do argentino. Garay respondeu à altura, com eficácia, segurança e ainda um grande passe que isolou Gaitan, na primeira parte.

Fejsa - A competência da sua exibição não pode constituir surpresa ou novidade, porque já havia dado o mesmo tipo de sinais em alguns jogos importantes. Tem uma grande capacidade de trabalho, o que ofereceu à equipa várias recuperações de bola importantes, com destaque para o momento de transição ataque-defesa, onde conseguiu 10 intercepções/desarmes. Com bola, assumiu o seu papel na primeira linha de construção, o que lhe oferece grande protagonismo e lhe valeu o estatuto de jogador com mais passes completados no jogo, com realce para a elevada % de acerto. O maior reparo, vai para uma perda de bola, na primeira parte, sendo que a segurança em posse será sempre a maior ameaça à qualidade do seu contributo.

Enzo Perez - A unidade chave do jogo, pelo golo que marcou, claro, mas também pelos problemas que causou à linha média do Sporting, que nunca lidou bem com a sua presença - ainda que isolada - à frente da primeira linha de construção. É, provavelmente, dos jogadores mais difíceis de substituir no modelo de Jesus, porque jogando tão isolado (pelo "baixar" de Fejsa), é necessário não só qualidade de passe, mas sobretudo uma notável capacidade de envolvência e transporte de bola. Ora, estas são, precisamente, as principais virtudes de Enzo, para além da entrega que tanto galvaniza os adeptos.

Gaitan - Novamente com um jogo muito competente e onde, até, nem foi especialmente bem sucedido em termos criativos. Para compensar, apareceu muito bem na área, marcando um golo e estando perto de fazer outro. Defensivamente, ofereceu a capacidade de trabalho/sentido táctico que lhe é habitual - um aspecto onde foi durante muito tempo subvalorizado, mas que vem conseguindo maior justiça no reconhecimento que lhe é dado externamente. Diria, mais vale tarde do que nunca!

Markovic - É verdade que defensivamente tem evoluído bastante, mas haverá ainda muito para evoluir em Markovic, para que este consiga potenciar verdadeiramente as suas características. Particularmente, continua a não perceber bem o que fazer com as suas acelerações interiores, perdendo algumas oportunidades de criar maior dano apenas e só pelo critério decisional. Tem tempo e talento, mas para já ainda não a unidade chave que um dia poderá ser. Em maior destaque na sua exibição, claro, o passe que isolou Rodrigo.

 Rodrigo - Fez, desta vez, um jogo mais oscilante do que lhe vem sendo habitual, no seu envolvimento colectivo, em particular com maior inconstância ao nível da eficácia e decisão. Ainda assim, foi outra vez o jogador que mais ocasiões de golo conseguiu chamar a si. No inicio da época também foi assim, com muitas ocasiões e poucos golos, e por isso foi criticado e afastado do onze. Hoje, e à luz daquilo que foi a época do jogador, terei menos dificuldade em explicar que o facto de Rodrigo ter muitas ocasiões de golo é, em si mesmo, um bom indicador para o futuro.

Lima - Em sentido contrário de Rodrigo, Lima vem dando alguns sinais a meu ver preocupantes. Num jogo com este volume de ocasiões, não pode deixar de se notar que Lima não tenha sido protagonista em nenhum desse lances de maior potencial ofensivo. E, isto sim, parece-me justificar alguma apreensão. Como nota positiva, o seu envolvimento do lado direito do ataque, em especial na primeira parte.

Sporting
Rui Patrício - Não foi um herói, nem fez sequer uma exibição excepcional, mas foi provavelmente o melhor da sua equipa, nomeadamente com 2 intervenções decisivas. Como nota negativa, a precipitação da primeira parte, com um pontapé que bateu em Lima e que podia ter custado mais caro.

Cedric - Começou o jogo com um erro, mas esse foi o seu pior momento no jogo. Chamará a si algumas criticas no lance do primeiro golo, mas foi a velocidade do lance que o impossibilitou de se reposicionar a tempo. Aliás, Cedric conseguiu até algumas intercepções interiores de grande valor. Foi, de resto, dos jogadores mais accionados da equipa, quer defensivamente, quer ofensivamente, estando melhor a defender do que a atacar. Neste último ponto, nota para o número elevado de passes errados ao longo do seu corredor, sendo que sentiu, claramente, a ausência das habituais diagonais de André Martins.

Piris - Muitas dificuldades no jogo. Defensivamente, cometeu alguns erros importantes e teve também algum azar (como foi o caso do lance do primeiro golo). Ofensivamente, não conseguiu dar profundidade ao corredor, nem tão pouco ligar o jogo pelo seu flanco. Problemas que eram previsíveis no inicio do jogo. Depois de alguns jogos bem conseguidos, repete uma exibição com muitas dificuldades, tal como acontecera em Arouca.

Maurício - Não há muito a apontar-lhe, tendo sido novamente das unidades mais regulares da equipa. Aliás, em termos defensivos foi até bastante dominador nos duelos que travou - foi o jogador com mais acções defensivas no jogo. Em posse, foi igualmente a unidade de maior acerto percentual, contrastando com os restantes elementos da fase de construção. Principal reparo para uma perda de risco - rara nele - na segunda parte.

Rojo - Vinha conseguindo jogos muito bons, mas desta vez não repetiu a nota positiva. Em particular, sentiu muitas dificuldades sempre que teve de sair da sua zona. Com bola, também não esteve muito regular, acabando por perder a bola no lance do segundo golo.

Dier - As virtudes e os defeitos da sua exibição decorrem daquilo que vem mostrando desde o inicio da época - com excepção para alguns aspectos posicionais, compreensíveis pela inadaptação à posição. Ou seja, boa presença em situações de maior contacto físico, com destaque para o jogo aéreo. Por outro lado, dificuldades perante acções a exigir mais agilidade (como o caso do segundo golo) e critério questionável com bola. Este último ponto é, a meu ver, o mais grave em Dier, porque o problema repete-se praticamente em todos jogos em que actua, perdendo bolas em zonas de elevado risco e com uma frequência superior a qualquer outro jogador da equipa.

Adrien - Voltou a oferecer muito pouco em termos de presença em posse à equipa, desta vez num jogo em que claramente era preciso alguém que o fizesse. É verdade que a equipa pede-lhe que não se envolva tanto na fase de construção, em particular para que esteja mais disponível para um segundo momento ofensivo. Mas também é um facto que, para uma equipa como o Sporting, o contributo de Adrien é pouco mais do que medíocre em termos de envolvimento em posse - e não apenas por este jogo. Em destaque, as dificuldades no momento de transição defesa-ataque, onde perdeu 8 das 10 bolas que teve ao seu dispor, uma das quais acabaria por resultar no primeiro golo. Em termos defensivos, o outro lado da sua temporada, não há nada a apontar-lhe.

André Martins - A meu ver não tem características para jogar na ala, embora o possa fazer pontualmente, claro. Lutou e conseguiu até várias acções bem sucedidas, mas isso acabou por valer muito pouco à equipa, em particular porque se perdeu profundidade no seu corredor, e porque poderá também ter feito alguma falta em termos de acção pressionante na primeira linha.

Heldon - Objectivamente, as suas acções conseguiram muito pouca eficácia, completando apenas um dos vários cruzamentos que tirou e finalizando ele próprio uma outra jogada. Ainda assim, foi o jogador que mais agitação conseguiu provocar, sempre através de iniciativas individuais, o que vem trazer alguma água na boca aos adeptos. É bem possível, como já escrevi, que seja um bom reforço a este nível. Em termos defensivos, foi muito pouco intenso perante Maxi e provavelmente Jardim terá de trabalhar com ele a este nível.

Montero - O maior destaque positivo da sua exibição, são os 4 cortes em situações de bola parada defensiva, e isso diz praticamente tudo relativamente ao que não conseguiu fazer nos restantes capítulos do jogo. Pessoalmente, parece-me que tem pouca intensidade para jogar noutra posição que não seja como principal avançado.

Slimani - Completamente gorada a aposta que nele foi feita. Porque a equipa não chegou à zona de finalização, e porque ele próprio não conseguiu ser tão eficaz como se esperava nas primeiras bolas aéreas.

Capel - Se faltou um extremo de raiz ao Sporting, durante muito tempo no corredor direito, Capel teve oportunidade de provar, durante 30 minutos, que talvez esse não tenha sido um aspecto assim tão decisivo. Isto, apesar da entrega que sempre leva com ele.

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12.2.14

Benfica - Sporting (I): notas colectivas

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Conto, nos próximos dias, apresentar novas análises ao jogo, nomeadamente com os dados estatísticos, opiniões sobre exibições individuais e uma revisão de alguns aspectos tácticos do jogo (vídeo). Não me sendo possível apresentar já essas análises mais detalhadas, deixo umas primeiras notas de opinião sobre as duas equipas.

Benfica - Foi mais um bom jogo do Benfica, provavelmente dos mais bem conseguidos desta temporada, e com um resultado que, sendo bom, peca por escasso. Muito do que se passou no derby, e da enorme diferença de rendimento entre as equipas, será abordado a partir do demérito do Sporting, porque é normalmente assim que acontece e porque neste caso foi Jardim quem mais mexeu. Na minha leitura, porém, a incapacidade do Sporting deve-se, em primeira instância, à qualidade do Benfica. Distingo, aqui, alguns pontos a este respeito: 1) a fase de construção, decisiva na definição do enorme domínio que o Benfica teve, com evidência para o papel dos centrais e para a capacidade de transporte e envolvimento de Enzo Perez. 2) a intensidade e agressividade nos duelos, muito em especial na reacção à perda, várias vezes o ponto de partida para acções de ataque-rápido de grande potencial. 3) a mobilidade ofensiva, porque mesmo garantido o domínio pelos dois pontos anteriores, só é possível aproximar-se com tanta frequência do golo se essa qualidade existir. Invariavelmente, o foco das discussões vai para as opções tácticas, mas é quase sempre na eficácia da interpretação das ideias que se define a validade das mesmas. Por isso é que é mais fácil ter melhores ideias com melhores jogadores, e por isso também é que as opções tácticas de Jesus prevaleceram neste derbi.
Havia escrito aqui, após o final do ciclo-Champions, que previsivelmente o Benfica melhoraria neste período. Não era um dado adquirido, claro, mas antes uma probabilidade que deriva do que se viu nas épocas anteriores do Benfica de Jesus. O Benfica melhorou e chegou à liderança, sempre com o 4-4-2, por quase todos diabolizado. A meu ver - e como fui escrevendo - foi a melhor opção, e se muitas vezes vejo treinadores a ceder a análises pouco consistentes que se generalizam externamente, este é um episódio que reforça o meu apreço por Jesus. Enfim, o Benfica partirá, em breve, para um novo ciclo da temporada, numa posição muito favorável - novamente! - para ser campeão. O problema não é tanto a sobrecarga de jogos, até porque não tenho dúvidas de que a Liga Europa será relegada para segundo-plano. O problema são os 3 jogos com o Porto, onde a tentação de queimar energias é maior e onde se poderá perder o foco relativamente à competição principal. Foi sempre quando as prioridades entre competições ficaram menos definidas que o Benfica de Jesus perdeu pontos decisivos na corrida ao título. Veremos o que sucede desta vez...

Sporting - A leitura que fiz sobre a estratégia de Jardim confirmou-se em pleno, com Martins à direita e Montero ao meio, e isso poupa-me algum texto para explicar o porquê de ser expectável que fosse assim que o treinador iria dispor as suas peças, e o que poderia ganhar e perder com essa opção. A má notícia para o Sporting é que, na prática, pouco ganhou, acabando praticamente por só perder com a estratégia escolhida. Porque, mesmo com Slimani como referência, teve pouca eficácia na construção longa. Porque raramente conseguiu potenciar o 2x2 com os centrais do Benfica (através da colocação de uma unidade mais central, Montero, e próxima do avançado). Porque o seu jogo exterior ficou completamente descaracterizado, sendo que tal como havia escrito na antevisão, sentiu-se muito impacto que tiveram na fase de construção, a perda de um o pé canhoto para a habitual ligação do jogo ao longo do corredor esquerdo (uma solução que, recorde-se, causou muitos problemas ao Benfica no jogo da primeira volta), e também a perda da mobilidade de André Martins sobre o corredor direito, nomeadamente nos movimentos em profundidade, nas costas do extremo. Por fim, e como se não bastasse, também porque não teve William, com Dier a confirmar outro ponto abordado na antevisão: o péssimo critério que vem mantendo com a bola nos pés.
Num outro capítulo, que eu não abordei na antevisão mas que teve forte impacto no jogo e que foi referido pelo próprio Jardim após a partida, o Sporting poderá também ter perdido qualidade na presença pressionante da sua primeira linha, nomeadamente por ter retirado André Martins dessa zona. Não é certo que tenha sido decisivo, porque o Benfica esteve realmente muito bem em construção, mas parece-me - e aqui sim, à posteriori - que poderá ter feito falta um elemento de maior intensidade/agressividade nessa zona, como é André Martins. 

Jardim deu-se mal, é certo, e muitas das suas opções são questionáveis porque muitos dos problemas da sua estratégia eram previsíveis. No entanto, devo fazer duas ressalvas em favor do treinador do Sporting - ou, melhor, em desfavor de muitos dos seus críticos!: 1) o onze era conhecido desde domingo, mas poucos foram aqueles que anteciparam os problemas desta aposta. Aliás, foram bem mais os elogios ao arrojo do treinador, por este incluir 2 avançados de inicio neste jogo. 2) Como esclareceu o próprio treinador, não houve mudança de sistema com estas alterações. Falar de uma mudança de 4-4-2 para 4-3-3 só é possível para quem não conheça a forma de jogar do Sporting. Jardim mudou características individuais, e forçosamente algumas intenções colectivas, mas não mudou o sistema!

Esta é uma derrota, por todos os motivos, muito penalizadora para o estado de ânimo do Sporting. Num dérbi, numa exibição que deixa a ideia de impotência e numa situação em que a possibilidade da liderança se transforma, de repente, num terceiro lugar. Mas, não faço qualquer "lapalissada" com o calendário quando digo que a época do Sporting não acaba aqui. Faltam jogos e pontos suficientes para que o título, estando obviamente muito mais complicado, esteja longe de ser uma mera hipótese matemática. É claro que me parece que o Sporting tem entrado em alguns equívocos, que não vêm apenas deste jogo, mas de toda uma ideia em torno dos planos A e B, que foi marcando os últimos jogos. Na minha opinião, o Sporting deverá partir sempre da sua identidade e dos seus pontos fortes, que foram afinal o alicerce do sucesso vivido durante grande parte da época. O sucesso do plano B, aplicado sempre em períodos curtos e específicos dos jogos, trouxe pontos importantes, é certo, mas trouxe também aquilo que na minha leitura é a ilusão de um caminho que, sendo possível, será sempre mais longo e de menor probabilidade de sucesso. O Sporting tem deixado de apostar numa evolução a partir dos pontos fortes, em favor de uma ideia de jogo que se encontra num ponto necessariamente bem menos avançado, tendo por isso muito menos qualidade. Essa parece ser a tentação de Jardim, com a aprovação de grande parte dos adeptos e comunicação social, mas pessoalmente tenho muitas dúvidas de que seja por aí o melhor caminho...

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10.2.14

O "onze" de Leonardo Jardim

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O adiamento do derby terá poucos pontos positivos, mas oferece-nos pelo menos a possibilidade de comentar as opções iniciais dos treinadores antes do apito inicial, o que é sempre um exercício mais interessante do que fazê-lo depois do jogo. Aqui, obviamente, há uma enorme diferença entre as duas equipas, contrastando a previsibilidade das opções de Jesus com a pequena revolução que Leonardo Jardim encetou no seu onze. A primeira ideia passa por uma aposta num jogo mais directo, por parte do treinador madeirense, com Slimani como referência aérea. Mas há, na minha opinião, outras questões a levantar em torno das implicações de algumas opções, nomeadamente no que respeita ao jogo exterior. Aqui ficam algumas notas sobre as opções de Jardim, salvaguardando que este cenário poderá, agora, ser alterado antes do inicio do jogo.

Onde vão jogar Montero e Martins? - A primeira ideia sugere que a única alteração no meio-campo de Jardim é a substituição directa de William por Dier. Mas será mesmo assim? Na minha leitura, não. Olhando para o passado, sempre que Jardim utilizou, em simultâneo, Slimani, Montero e Martins, foi sempre o médio português a derivar para uma posição mais lateral. No mesmo sentido, não é a primeira vez que Jardim recorre a um ala de características mais interiores (aliás, foi essa a sua primeira opção na pré-época, com Magrão ou o próprio Martins), nem tão pouco a primeira vez que encosta André Martins a uma das linhas. Mas seria, isso sim, a primeira vez que utilizaria Montero numa posição mais exterior...

Construção mais directa, com Slimani 
Este tipo de jogos apresentam problemas obviamente diferentes para o Sporting, em relação à generalidade dos outros opositores internos. Em particular, ao nível da fase de construção, sendo muito mais difícil (e arriscado) ter bola. A opção passa, recorrentemente, por construir de forma mais directa, usando uma referência frontal que faça o jogo "saltar" o risco da primeira fase de construção. No jogo para a Taça, foi o Benfica quem melhor proveito tirou desta alternativa, com Cardozo a ter um desempenho muito forte nesse plano, em contraste com as maiores dificuldades de Montero. Desta vez, os papeis podem-se inverter, com Jardim a apostar em Slimani e, a meu ver, a pensar muito naquilo que o argelino pode oferecer em termos de soluções para uma construção mais longa.

Desvirtuar das dinâmicas dos corredores laterais?
A grande interrogação, na minha leitura, sobre aquilo que implicam as opções de Jardim tem a ver com a capacidade do jogo exterior, habitualmente o ponto mais forte do futebol leonino. Ora vejamos, assumindo que Martins joga sobre a direita e Montero ao meio, o Sporting colocará mais foco no corredor central, com Martins a oferecer mais capacidade no jogo interior do que a generalidade dos extremos da equipa, e com Montero a permitir uma presença mais constante no espaço entrelinhas e, sobretudo, a potenciar mais duelos directos, 2x2, com os centrais (provavelmente jogando muito a partir da segunda-bola). Esta parece-me ser a intenção de Jardim, mas há um outro lado para esta opção. Desde logo, o Sporting perderá um dos movimentos mais eficazes da sua fase de construção, que contempla o baixar do extremo-direito e a entrada de Martins, em diagonal, no espaço aberto nas suas costas. Para além disso, perderá profundidade com Martins como extremo, e perderá também o apoio que o próprio Martins oferece habitualmente ao extremo quando joga como médio, sendo expectável que Montero se fixe mais sobre o corredor central.
Do outro lado, à esquerda, também há muitas limitações em relação à dinâmica habitual. Mesmo que Piris protagonize bem os movimentos de profundidade - habitualmente muito fortes, com Jefferson - dificilmente conseguirá os mesmos timings de execução, uma vez que o seu pé preferencial é o direito. Aliás, com Piris e Heldon, o Sporting não tem nenhum canhoto no seu corredor esquerdo. Finalmente, e tal como acontece à direita, a utilização da dupla Slimani-Montero, sugere menor presença em apoio sobre os corredores laterais, sendo possivelmente Adrien o maior suporte a vir do corredor central, não se esperando porém que possa surgir daí grande alternativa em termos de profundidade, ja que Adrien tem uma missão de bastantes exigências em termos posicionais.

Dier - Não surpreende a opção por Dier - embora talvez surpreenda que Vitor tivesse sido relegado para a bancada. Jardim manterá uma boa presença no jogo aéreo, o que será provavelmente importante neste jogo, já que o Benfica facilmente recorrerá a uma construção mais longa. Em termos defensivos, também creio que a equipa passar sem se ressentir muito, sendo um jogador fisicamente com virtudes e defeitos semelhantes às de William. O risco, neste capítulo, estará mais no posicionamento, tendo em conta a pouca habituação do jogador à posição. A grande diferença surgirá, claro, quando a equipa tiver a bola. A vantagem para Dier reside no facto de, previsivelmente, Jardim não lhe exigir muito neste plano, com a entrada de Slimani a sugerir uma aposta mais declarada na construção longa. Ainda assim, é importante que o inglês conserve grande lucidez no seu critério com bola, um capítulo em que revelou alguma irregularidade quando foi utilizado como central e que num jogo desta natureza poderá ser um factor decisivo, sabendo-se do condicionamento que o Benfica habitualmente faz no seu pressing mais alto e, claro, na capacidade que os seus jogadores terão para "punir" eventuais perdas em zonas de risco. Em suma, diria que é perfeitamente possível que o Sporting não se ressinta da ausência de William, mas que para tal aconteça é preciso que exista uma resposta colectiva, e não apenas individual, à ausência do médio.

Heldon - Estive para escrever sobre ele na semana que passou, mas acabei por não o fazer. Não é um jogador que tenha alguma vez observado com grande detalhe, e por isso tenho ainda algumas dúvidas sobre alguns aspectos. Ainda assim, sei o suficiente para afirmar que o Sporting contratou aquele que é, fora dos "grandes", a individualidade de maior destaque em termos ofensivos da primeira metade da época. Não apenas pelos golos que marcou - onde se incluem penáltis - mas também pela capacidade de, em jogo corrido, desequilibrar e aproximar a sua equipa do golo. É verdade que foi apenas meia época e que nos outros anos não conseguira o mesmo protagonismo, mas é incontornável que o seu rendimento foi extraordinário. Em particular, destaca-se o seu sentido de baliza, tanto na capacidade de aparecer em zonas de finalização como na qualidade de execução (é provável, inclusivamente, que seja protagonista nas bolas paradas). A minha maior dúvida reside na sua capacidade de envolvimento em fases mais precoces do jogo, nomeadamente ao nível da decisão/percepção em zonas mais distantes da área adversária.

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5.2.14

Man City - Chelsea: o duplo-pivot de Mourinho

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É uma semana rica em jogos de elevado interesse e, provavelmente, voltarei mais tarde com a opinião sobre algumas dessas partidas. Para já, a semana começou com o muito aguardado Man City-Chelsea, que redundou numa importante vitória da equipa de Mourinho. Não é a primeira vez que destaco a qualidade da organização defensiva da equipa de Mourinho, comparativamente com as restantes formações da Premier League, sendo interessante perceber os motivos que, do ponto de vista táctico, podem explicar essas diferenças. Neste caso, foco-me no papel do duplo-pivot, que me parece ter sido decisivo no sucesso da estratégia para este jogo em concreto. Em particular, o controlo que o Chelsea conseguiu fazer dos corredores laterais, onde habitualmente o City consegue causar muitos estragos pela velocidade de desdobramento da sua equipa. Mais do que tudo, sublinharia a forma como Mourinho conseguiu atenuar essa ameaça sem que, com isso, tivesse "perdido" Hazard, desgastando-o com o foco no acompanhamento defensivo. Aliás, com o ajuste lateral de Matic, o belga passou a estar até mais liberto para aproveitar o espaço oferecido pela projecção ofensiva de Zabaleta. Do outro lado, a inclusão de Ramires como extremo teve, a meu ver, o objectivo inverso. Ou seja, fazendo um acompanhamento defensivo até zonas mais baixas, Ramires possibilitou que David Luiz pudesse permanecer em zonas mais centrais.

É claro que o comportamento do duplo-pivot, por muito competente que tenha sido, não pode ser isolado do mérito global da equipa, mas creio que se justifica elogiar o desempenho de Matic (especialmente!) e David Luiz. Matic, mais forte no equilíbrio e ajuste posicional, David Luiz actuando mais em antecipação e sobre o corredor central. De todo o modo, este foi um jogo específico, de pouca exigência em termos de construção com bola, não me parecendo uma solução replicável para a maioria dos jogos da equipa. Seja como for, e se houvesse dúvidas, o Chelsea mostrou como deve ser muito seriamente introduzido nas contas de todas as competições onde está envolvido. Especialmente, acrescento, nas competições a eliminar.

Relativamente ao Man City, a derrota não foi uma fatalidade - como próprio Mourinho, aliás, reconheceu - e este mesmo jogo poderia ter dado outro desfecho. Também me parece incontornável que não ter Fernandinho e Aguero é uma perda muito grande e que, com estes dois jogadores, a equipa ganha muito mais qualidade (em especial no jogo interior). Não terá passado este relevante teste, é verdade, mas continuo a ver aqui o mais forte candidato ao título inglês.

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4.2.14

Carlos Eduardo e o espaço entrelinhas

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É um tema sobre o qual já venho escrevendo há algum tempo, e que na minha opinião tem prejudicado muito a ligação de jogo portista nos últimos tempos (particularmente, nos jogos de Alvalade e da Luz). Fica também a nota para referir que não pretendo centrar a critica no jogador em si, mas antes focar aquilo que me parece ser o desajuste do perfil dos seus movimentos com aquilo que a equipa pede, havendo uma enorme diferença em relação ao que oferecia Lucho Gonzalez nos movimentos sem bola e no espaço entrelinhas. O caminho, a meu ver, terá forçosamente de passar por uma adaptação colectiva a esta nova realidade. Nomeadamente, deverá potenciar o aparecimento de Carlos Eduardo de outra forma e, por outro lado, criar movimentos de outros jogadores no espaço entrelinhas, sob pena de perder completamente a utilidade do seu jogo interior. Palavra, de novo, a Paulo Fonseca...

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3.2.14

Marítimo - Porto: Estatística e análise

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Regressão qualitativa e eclipse do jogo interior - Já o escrevi noutras ocasiões, e a ideia vem-se solidificando: o Porto de hoje, é consideravelmente mais fraco do que aquele que iniciou a temporada. Em parte, esta opinião resulta da perda de qualidade no jogo interior e na ligação entre as fases ofensivas do seu futebol. Antes, a equipa tinha Lucho, que oferecia sempre muitas soluções nas costas da linha média contrária. Hoje, tem Carlos Eduardo, que apesar do potencial técnico raramente recebe uma bola entrelinhas, oferecendo muito poucas soluções de passe verticais no corredor central. Uma opção própria, do treinador e do clube, que a meu ver e do ponto de vista estritamente técnico-táctico, se constituiu num erro importante e nesta altura já irreversível. O que faz agora o jogo do Porto? Procura sistematicamente os extremos - sobretudo Quaresma - não para promover dinâmicas colectivas, mas na esperança de que dali possam sair rasgos individuais que resolvam o que colectivamente a equipa não é capaz resolver. Não é difícil de antever o pior, caso as coisas não mudem. Não que o jogo exterior não possa ser até uma solução, tendo o Porto até, individualmente, soluções que permitem pensar que por aí pode estar o caminho. Mas, porque para tal acontcer, é preciso criar uma intenção colectiva que vá nesse sentido, coisa que até agora ainda não se viu no trabalho de Paulo Fonseca. Não digo que não o tenha tentado no treino, mas nos jogos o que parece é que tem tentado mais acertar num "onze" do que desenvolver uma equipa.

Individualidades (Porto)
Helton - Pouco trabalho e sem reparos, com destaque para uma defesa vistosa num remate exterior, já na segunda parte.

Danilo - Esteve muito activo no jogo, tanto ofensivamente como defensivamente. Pela negativa, claro,o lance do penálti. Não só pela forma como abordou de forma displicente um corte dentro da área, mas porque deveria estar mais perto da jogada, o que lhe permitiria fazer a cobertura sem problemas. À margem desse lance, o seu contributo foi até dos mais positivos da equipa, com muito trabalho no seu corredor e algumas (poucas) incursões ofensivas a destacar - quase sempre pelo corredor central, o que é uma característica invulgar num lateral.

Alex Sandro - Não foi um jogo especialmente conseguido, note-se, mas terá sido dos menos maus da equipa, sem grandes reparos a fazer-lhe em qualquer plano, e estando inclusivamente em algumas das jogadas mais perigosas da equipa, entre as quais o cruzamento para a finalização de Varela. De todo o modo, foi interessante vê-lo com Quaresma pela frente, percebendo-se que o entendimento entre os dois não é propriamente algo que esteja muito desenvolvido.  

Maicon - Muito activo defensivamente, ganhando vários duelos, mas sentindo também muitas dificuldades perante Derley (que fez um grande jogo). Em especial, deixou-se bater, em duas ocasiões, pela forma como o avançado do Marítimo usou o corpo para rodar e ficar à frente do central.

Mangala - Globalmente, menos interventivo do que Maicon, mas não foi igualmente por ele que o Porto saiu da Madeira com uma derrota.

Defour - É o patinho feio da equipa, mas continuo a não ver sentido em apontar-se-lhe o dedo quando os problemas não passam, seguramente, pelo desempenho da sua função. Estava a realizar um jogo regular, sem grandes destaques nem reparos.

Josué - Havia a dúvida sobre onde jogaria, mas voltou a ser colocado no duplo-pivot, atrás de Carlos Eduardo. Inclusivamente, na fase final, actuou como primeiro médio, o que é um pouco mais estranho. Posso concordar que o duplo-pivot não seja o papel que melhor potencia as suas características, mas isso não quer dizer que não possa jogar numa missão de maior ênfase na primeira fase de construção. Pode, e voltou a fazê-lo sem problemas de maior.

Carlos Eduardo - Um jogo bastante fraco e onde voltou a demonstrar que não se lhe pode pedir grande capacidade de movimentação no espaço entrelinhas. Tem qualidade de definição, em especial no último terço, e até boa capacidade de trabalho, mas para ser potenciado de forma útil para a equipa tem de haver um enquadramento diferente para as suas acções. Nos 3 últimos jogos mal sucedidos da equipa revelou sempre o mesmo problema, sendo na minha leitura um dos factores-chave para o insucesso colectivo. Uma situação que, pela recorrência, não pode fazer dele o principal culpado.

Quaresma - Parece ser o novo farol da equipa e, já se sabe, tem uma qualidade técnica muito acima da média. A questão é saber se isso basta só por si, porque as suas acções são quase sempre estritamente individuais e, por outro lado, oferece muito pouco à equipa para além do tempo em que a bola está nos seus pés. É verdade que foi protagonista de um dos lances de maior perigo da equipa, mas isso não pode chegar para 90 minutos de tanto ênfase numa equipa com aspirações do Porto.

Varela - Bem menos accionado do que Quaresma, mas nem por isso com um rendimento inferior (o que não quer dizer que tenha tido uma boa prestação). Esteve perto de marcar, no instante imediatamente anterior à sua saída.

Jackson - Não foi a solução nem teve o protagonismo ofensivo que lhe é habitual, mas também é difícil ser muito contundente na crítica quando a equipa passa tanto tempo com tantas dificuldades em chegar à sua zona de forma a perspectivar, minimamente, o sucesso.

Quintero - Uma nota apenas para voltar a sublinhar que o seu talento é raro e que um dos grandes falhanços de Paulo Fonseca até agora foi não ter sido capaz de potenciar a sua integração colectiva de forma a que pudesse ser mais do que uma opção individual para as fases de desespero.

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