segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Excesso








“Discutir gostos é tempo perdido; não é belo o que é belo, mas aquilo que agrada.”

Carlo Goldoni


Vivemos um tempo de exageros. De excessos: na produção, no consumo, nas atitudes. Nas artes também. Há obras a mais. Obras de qualidade muito duvidosa e, no entanto, com grande impacto social, mercê, talvez, da cultura do marketing que promove tudo, independentemente da qualidade do produto. E há gente para tudo. Para todos os gostos. Nunca como hoje tantos tiveram acesso ao saber, contudo, o mau gosto predomina em todo o lado. É o mundo Kitsch. O nosso mundo.

Estas imagens retratam trabalhos de 2003 já esquecidos nesta maré de obras e que surgiram tendo por base o brinquedo. Aqui procurei criar um espaço definidor de um tempo e de um modo. Para mim a pintura é a expressão de um momento vivido e sentido e, é isso que me faz continuar a trabalhar nesta imensidão de fenómenos artísticos com e sem orientação. História da Minha Pintura.

E termino com as palavras de Gillo Dorfles extraída do seu livro “Oscilações do Gosto”:


“…moda: é uma preferência efémera por qualquer coisa não apoiada em parâmetros tão sólidos como os que estão na base de um estilo, de uma diretriz epocal.”

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

8, 9 e 10





Dez dias para pintar uma tela é muito tempo...para alguns. Pintar é só lançar cores numa superfície; tocar um instrumento é apenas uns gestos roçando nas cordas, ou nas teclas; escrever é juntar palavras. Tudo é fácil quando não interessa a qualidade. Difícil é fazer bem ou tentar construir - segundo os critérios da estética contemporânea - uma obra que tenha os ingredientes suscetíveis do agrado de um grande grupo. E porque é mesmo complicado edificar algo que faça a diferença, o tempo da sua elaboração é sempre lato, exceto para os superdotados. A arte tem, contudo, uma norma basilar: exige muito trabalho e nada aparece senão após uma luta enorme e constante, porque não há inspiração sem um árduo e contínuo labor. Todos, mas mesmo todos - os grandes mestres - foram escravos da sua dedicação, numa entrega em que o importante foi o amor e a eterna paixão pelos valores mais sublimes da natureza humana. Felizmente há gente que gosta do que faz. A maioria não!

Estas fotografias mostram os três últimos dias da feitura desta pintura em tela: “Amor de Estudante”. Aqui se vê como é difícil pintar, porque é preciso sempre construir e destruir formas; acumular tonalidades; procurar as harmonias julgadas mais acertadas. É assim a pintura. É assim que eu trabalho. História da Minha Pintura.

E vos deixo as palavras de Lev Tolstoi que escreveu:

“Há pessoas que, ainda que pretendam ocultá-lo, perseguem um fim distinto das outras. A sua atitude perante a vida denuncia-os.”

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Marketing




Passado, Presente, Futuro


"Eu fui. Mas o que fui já não me lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim."


José Saramago, in “Poemas Possíveis”


Vivemos tempos difíceis. De desencanto. De incerteza. De mágoa. O futuro é um mar de muitas dúvidas e nenhumas certezas. A mim resta-me continuar a fazer o que gosto: pintar. Com a verdade e só com a verdade neste mundo de marketing, onde o que conta é o estudo de mercado, a promoção e a publicidade para que haja vendas. Sucessos mediáticos e, no entanto, de conteúdo duvidoso. Tanto se tem feito por esse mundo fora de fraca qualidade, embora muito badalado nos quatro cantos. É assim o nosso tempo. Um tempo de enganos. De falsidades. Até na arte. Grandes retrospectivas, eventos enormes de um vazio (pagos com o dinheiro do contribuinte) numa rede de interesses ao serviço de alguns em nome de todos. É o presente. O futuro é já amanhã.

E vos deixo com as palavras de Anatole France:

“O futuro permanece escondido até dos homens que o fazem.”

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Um, dois, três








Um dia, mais outro e ainda outro e muitos outros serão precisos para realizar tarefas, sonhos, projetos. Uns tornam-se realidade com ou sem sucesso. Outros apenas foram ideias lançadas ao vento, ou iniciadas e nunca terminadas com as expectativas inicialmente criadas. Há, contudo, um acalentar e um ideal de edificar algo de novo, de diferente, de substantivo, de importante. Tudo em nome de uma vaidade pessoal, de um desígnio, de uma afirmação, de uma postura de vida, de uma necessidade de afirmação para dar significado à própria existência. É por isso que tantos, todos os dias começam qualquer coisa que acaba sempre do mesmo modo: bem ou mal.


Estas imagens retratam dias diferentes de uma obra que começou e que talvez um dia seja terminada. Se, porventura, a pintura tiver os ingredientes estéticos adequados e consentâneos com o ideal contemporâneo será uma mais-valia; se, todavia, apenas for mais uma pintura das muitas que todos os dias se fazem sem referências entre os pares e afins, então, apenas resta a consolação dos prazeres da execução que pertencem ao criador. Felizmente, que assim é, pois no mundo da arte o que é verdadeiramente importante - para quem faz – é o prazer do momento da feitura e da contemplação, longe dos olhares dos entendidos e ... dos outros. História da Minha Pintura.


E vos deixo com as palavras extraídas de textos judaicos:

“Todos os dias a nossa vida recomeça de novo.”

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Projetos




Idealizar é um bem que ultrapassa a realidade e que nos faz viver outros mundos e outras vidas. É muito mau quando se perde a noção dos limites e da verdade. É péssimo quando a mentira passa a ser a própria existência. É catastrófico quando tudo se desmorona num mar de calamidade e de destruição. É excelente quando se abrem portas para construir e alcançar outros patamares de felicidade e bem-estar. A fronteira entre projetar bem ou mal depende de nós e só de nós. Sempre.

Esta imagem é representativa do meu modo de trabalhar. Tenho uma ideia pictórica e depressa passo para a tela desenhando. Depois surgem outros projectos e o interesse inicial em realizar a pintura previamente concebida fica na lista de espera. Umas vezes por pouco tempo. Outras não. Demoram anos. E, como acontece muitas vezes, apenas passou de um desejo que outros interesses mais relevantes definitivamente impediram que se tornasse realidade… e as telas, por pintar, continuam a aumentar. A aumentar. A aumentar História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Roger Nimier que disse:

“Um homem sem projetos é o inimigo do género humano.”

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Acabar




Acabar é sempre sinónimo de um fim. De uma conclusão. De qualquer coisa que chegou ao seu termo. Acabar é finalizar um percurso, uma actividade, um acontecimento, um momento, um destino. E há dois lados a analisar: um é o princípio elementar de que o que começa tem de acabar. O outro é o significado desse termo. Para uns é um final feliz. Se é só para uns significa que há sempre alguém que não fica feliz com o fim de qualquer coisa. Acabar é, grosso modo, o desfecho final de tudo que forma a nossa vida. Com alegrias. E tragédias também.


Esta tela de 81x100cm predominantemente com cores frias, onde os azuis e verdes dominam a composição, tem na horizontalidade a expressão maior em termos formais.”Espelho de água” (nome deste trabalho pictórico) faz parte da série, onde a representação da natureza se mistura com a figura humana, numa procura simbiótica de harmonia e beleza. História da Minha Pintura.


E termino com as palavras de Maquiavel, in “Histórias Florentinas”:

“O que tem começo, tem fim.”

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Começar




Começar é, em muitos casos, uma incógnita sobre o que virá depois. Por muito que se calcule; por muitas conjecturas; por muitos exames prévios; por muitas previsões e estudos; por muito que se faça para imaginar o futuro – ele – é, eternamente, uma incerteza. Há sempre imponderáveis a surgir no percurso de uma obra, de uma vida, de um caminho por mais simples que ele seja. Felizmente que é assim, embora gostássemos de saber antecipadamente. A incógnita, a dúvida, a incerteza, o mistério acabam por ser, afinal, o fruto desejado, porque verdadeiramente o que nos atrai é o desconhecido e, por essa razão, iniciamos tantos projectos com a incerteza crendo, contudo, que chegaremos lá, só porque começamos..

É sempre assim que começo a pintar. Gosto de escolher uma cor para a base da pintura; dividir o espaço em quadrículas para que as proporções e a utilização da régua e do esquadro funcionem melhor; desenho com formas simples apenas para colocar os elementos na composição. Depois é que começa o nascimento das cores. E a incerteza também. História da Minha Pintura.

E vos deixo com as palavras de Jean Paul Sartre:
“Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo.”