Estamos no mês de agosto e, como
é característico desta época, o calor aperta no mais repousante mês do ano,
onde os portugueses se refugiam, muitos deles, nas praias, nas viagens e nos
convívios familiares. Para trabalhar eu necessito de um rigor temporal, não
condizente com as alterações que o clima traz consigo: preciso da solidão para
me deixar levar no fantasioso mundo da criatividade. Sempre assim foi. Ainda no
tempo de estudante nas Belas-Artes de Lisboa, mesmo com as salas cheias reinava
o silêncio, apenas cortado com as observações do professor nas aulas. Nos dias
de hoje, pessoas por perto e os imprevistos não me deixam executar nada. Não
consigo. Sou assim. Crio hábitos, rotinas e, quando os horários mudam a tela
branca continua branca, os muitos
projetos – anteriormente julgados fáceis de concretizar - esfumam-se na
incapacidade de os iniciar. Dito de um outro modo e em suma: sou exigente para
pintar...
Quero realizar tantas coisas e
conviver também. Preciso das pessoas para dar sentido ao meu caminhar, cheio de
momentos bons. O que me apraz, depois de tanto sonhar, é querer consumir os
prazeres simples e encantadores que a vida tem e que muitas vezes nem queremos
pensar neles. Tenho agora uma vida cheia e a arte da solidão é a minha
companhia de todos os dias, quer trabalhe quer não, porque há em mim este
gostar tanto de consumir a simplicidade do estar, com muita música clássica e
desejos sem fim, longe, muito longe...até de mim.
E, vos deixo com as palavras do
cronista e escritor Joel Neto que, um dia escreveu, in “A Vida no Campo”:
“Ainda é a rotina que buscamos, como um ideal. Não conheço melhor
instrumento. Permite-nos ir chegando para o lado tudo o que é mecânico, ou
burocrático, ou aborrecido – e, entretanto, viver. A rotina é o inimigo número
um do tédio.”
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