segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Arte da Solidão








Estamos no mês de agosto e, como é característico desta época, o calor aperta no mais repousante mês do ano, onde os portugueses se refugiam, muitos deles, nas praias, nas viagens e nos convívios familiares. Para trabalhar eu necessito de um rigor temporal, não condizente com as alterações que o clima traz consigo: preciso da solidão para me deixar levar no fantasioso mundo da criatividade. Sempre assim foi. Ainda no tempo de estudante nas Belas-Artes de Lisboa, mesmo com as salas cheias reinava o silêncio, apenas cortado com as observações do professor nas aulas. Nos dias de hoje, pessoas por perto e os imprevistos não me deixam executar nada. Não consigo. Sou assim. Crio hábitos, rotinas e, quando os horários mudam a tela branca continua branca,  os muitos projetos – anteriormente julgados fáceis de concretizar - esfumam-se na incapacidade de os iniciar. Dito de um outro modo e em suma: sou exigente para pintar...




Quero realizar tantas coisas e conviver também. Preciso das pessoas para dar sentido ao meu caminhar, cheio de momentos bons. O que me apraz, depois de tanto sonhar, é querer consumir os prazeres simples e encantadores que a vida tem e que muitas vezes nem queremos pensar neles. Tenho agora uma vida cheia e a arte da solidão é a minha companhia de todos os dias, quer trabalhe quer não, porque há em mim este gostar tanto de consumir a simplicidade do estar, com muita música clássica e desejos sem fim, longe, muito longe...até de mim.






E, vos deixo com as palavras do cronista e escritor Joel Neto que, um dia escreveu, in “A Vida no Campo”:



“Ainda é a rotina que buscamos, como um ideal. Não conheço melhor instrumento. Permite-nos ir chegando para o lado tudo o que é mecânico, ou burocrático, ou aborrecido – e, entretanto, viver. A rotina é o inimigo número um do tédio.”

Sem comentários:

Enviar um comentário