segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Crepúsculo







Imagem retirada do Facebook





Ontem o dia estava lindo, com sol e temperatura amena convidativa ao passeio, à visita. Era domingo. Em criança lembro com alguma saudade este dia da semana. Hoje, no crepúsculo do caminhar, há um recordar de um tempo e de um modo. Fui ao Museu Ferroviário, aqui tão perto de mim. Fiquei encantado. Gostei de tudo: famílias, crianças, vida, alegria, vozes, olhares felizes e muito para ver no domínio do caminho de ferro.




O que me entristece, muitas vezes, é o vazio de pessoas e do que elas transportam. Ontem foi, durante algum tempo, diferente. Por questões de gestão e de trabalho, preciso de cada segundo no meu viver. Tudo é contado. Não tenho mais tempo. Esgota-se o bem mais precioso: a vida. E, porque necessito de ser parco na gestão do tempo, resta-me quase sempre tanta solidão, porque só nela consigo conceber este caminho pictórico, cheio de propósitos que alguns entendem e muitos outros não.


E mal começou está já a acabar a minha exposição de pintura que intitulei “Tatuagens”. Era, inicialmente, para ser comungada com uma tatuadora, mas outros andares deixaram-me só nesta exposição, que é, como tantas vezes repito, um hino à mulher e aos seus encantos. De um domingo cheio de gente no museu dos comboios, acabei o dia na galeria que acolhe as minhas obras por mais uns dias, num mar de muitos silêncios e olhares raros.



E dos julgamentos de valor há uns que são mais especiais que outros, ou fosse  tudo uma questão de interesse e de gosto. As pessoas que retrato, porque as retrato, gostam particularmente de ver como o outro ( que sou eu) as vê, sendo a visão obtida através de um processo de limitados recursos, que valem pela singularidade da unicidade da criação, da peça única, do objecto raro, da obra que alguns chamam prima e outros adjectivam pela negação. Eu, apesar dos muitos nãos, sou de continuar até ao crepúsculo.




E vos deixo com as palavras do dramaturgo, poeta e actor  francês do século XX, Antonin Artaud, que um dia disse:





“ Ninguém alguma vez escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu ou inventou senão para sair do inferno.”

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Tatuagens para sempre











João Alfaro

"Tatuagens", 2016
Galeria Municipal do Entroncamento
de 22 de outubro a 3 de novembro






Confesso que não sou apreciador de modas. Compreendo da necessidade de mudar atitudes, hábitos e comportamentos, para que alguma coisa fique diferente, no passar dos dias. Agora é muito vulgar ver pessoas tatuadas. Os velhos porque são velhos não querem que o seu corpo fique diferente, depois de uma aparência física com as características usuais, no entanto, a geração mais nova – agora – tem um fascínio pela tatuagem. Eu não. Mas a minha exposição é sobre tatuagens no corpo feminino. Um pintor é um cidadão do mundo, um observador do meio, dos desejos, ambições e, por isso mesmo, não resisti e pintei corpos nus com tatuagens vulgarizadas nos dias de hoje.



A moda é efémera, mas um corte na pele e a impregnação de tintas é para sempre, por isso a tatuagem – fenómeno de moda – irá ser um conflito de gostos com o passar do tempo, naqueles que se deixaram tatuar na abundância. Desde sempre o corpo foi tatuado como identificação de um grupo, de uma tribo, de um conjunto com um propósito único. Agora, penso que muito inconscientemente, demasiados se deixam tatuar sem saberem bem o porquê e para quê.



Eu procurei, todavia, mostrar corpos tatuados na essência mínima para que os mesmos sejam ainda um vislumbre de encantos, e por isso, quase invisíveis as tatuagens nos corpos por mim pintados. Foi mais um tema no meu caminhar pictórico, onde a mulher é a referência, e como sempre em poses de grande sobriedade. 







E vos deixo com as palavras de Jean Cocteau, autor e realizador francês do século XX, que um dia disse



“A moda morre nova. É isso que torna grave a sua leviandade”.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Tatuagens













Hoje é a moda disto ou daquilo. Muitos, porque é moda deixam-se ir na “onda”do gosto do momento. Mas há modas e modas. Umas das características do conceito de moda é a brevidade e o instante do evento, do fenómeno social, da identificação com o meio nos usos e costumes. Agora a grande moda identificativa da postura e do estar (sobretudo ) no contexto urbano é, junto de um público jovem e referenciado, o uso de tatuagens. É uma moda colada no corpo que o tempo - feitor de muitas mudanças e opinativos opostos numa mesma pessoa – não acaba num instante e continua colada à pele, mesmo que o sujeito seja outro com o correr do tempo e da aprendizagem da vida. Mas isso não importa, o que interessa é a comunhão com o presente, porque o futuro vem ou não.




Como observador e registador através da pintura do meio que me cerca, não poderia deixar de incorporar na minha temática pictórica a tatuagem nos corpos de quem me serve de modelo. Sábado, 22 de outubro, no Entroncamento, na Galeria Municipal, e durante onze dias vos mostro telas com gente dentro, mergulhados na simbologia identitária de uma caligrafia e de um desenho cromático da moda, que encanta uns e desgosta outros.







E vos deixo com as palavras de Ernesto Sábato, ensaísta e romancista argentino, que um dia disse:




“As modas são legítimas nas coisas menores, como o vestuário. No pensamento e na arte são abomináveis.”

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Tempo contado





















O tempo foge-me. Não consigo estar com quem gosto e dar a atenção devida; não faço tanto do que gostaria de fazer, porque muito se escoa; não consigo edificar um projecto artístico como sonho desde sempre, mesmo com o tempo contado. Sou assim, sendo o quase tudo um pouco de nada. E fugi em busca de outras paisagens, numa viagem pelas memórias de um tempo, onde o Índico encantava com as marés juntamente com o por do sol, numa simbiose de  cores e infinitos desejos. Passados os dias com gente jovem que o  tempo levou, é, agora, preciso recomeçar mais uma vez, com a entrega de sempre e aquele prazer de edificar ideias e tornar palpável o idealizado. E foi pelo não fazer que o desejo de realizar aumentou. Preciso de fazer compassos de espera para avançar. A ver vamos.




E tenho, agora, já dois outros projectos em mãos e várias exposições para fazer, cada uma com um tema próprio. Preciso de uma agenda de eventos para me guiar no desejo de conceber. Depois é a luta do costume e o caminhar segundo um sentido único, em que o importante é ir desvendando imaginários que se tornam realidade pelo acreditar que vale a pena.








E vos deixo com as palavras do escritor, poeta, dramaturgo e ensaísta irlandês que viveu no século XIX, Oscar Wilde, que um dia disse:




“Há duas tragédias na vida: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, a outra a de os satisfazermos.”