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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

2 "dos epigramas venezianos" de Goethe


Gosto de rapazes, mas muito mais de moças:
Satisfaço a moça, e ela me serve de rapaz.
***
Não te queres deitar nua ao meu lado, bem-amada;
Por vergonha te escondes de mim em tuas vestes.
Diz-me, o que cobiço? A tua roupa ou o teu corpo?
Vergonha: uma roupa que os amantes jogam fora.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Goethe – Aos Jovens Poetas


Abaixo um trecho de Aos Jovens Poetas de Goethe:
...
(...) Felizmente a nossa poesia encontra-se tão elevada no aspecto técnico, e o mérito de um conteúdo valoroso é tão claro à luz do dia, que vemos surgir manifestações admiravelmente satisfatórias. A situação pode ficar cada vez melhor, e ninguém sabe aonde vai parar. Apenas é preciso que cada um conheça a si mesmo, que saiba julgar a si mesmo, porque aqui não há nenhum parâmetro alheio que possa ajudar.
Digamos em poucas palavras de que isso depende. O jovem poeta deve expressar agora o que está vivo, o que está em ação, numa forma ou noutra. Ele deve eliminar com rigor todo espírito adverso, todo o antagonismo, tudo o que fala contra, e tudo que possa ser negativo: pois disso não se produz nada.
Não sou capaz de aconselhar com seriedade suficiente a meus jovens amigos que eles devem observar a si mesmos. Eles ganham sempre mais em substância poética graças a uma certa facilidade da própria vida. Ninguém pode dá-la para nós; talvez possam obscurecê-la, mas não estragá-la. Toda vaidade, ou seja, toda presunção sem fundamento, torna-se pior se for tomada como tema.
Declarar-se livre é uma grande arrogância; pois se revela ao mesmo tempo o desejo de mandar em si mesmo e quem permite isso? Aos meus amigos, os jovens poetas, digo o seguinte sobre o assunto: agora vocês ainda não têm propriamente norma, e devem dá-la a si mesmos. Perguntem-se a cada poema se ele contém uma vivência, e se tal vivência os faz progredir.
Vocês não progrediram se continuam chorando uma amada perdida pela distância, infidelidade ou morte. Nada disso tem valor, ainda mais se sacrificam assim habilidade e talento.
Uma pessoa resiste atendo-se à vida que continua, e se testa nas ocasiões propícias, pois é então que provamos estar mesmo vivos, e, numa consideração posterior, se estávamos vivos em certo momento.



Tradução de Pedro Süssekind



quarta-feira, 22 de abril de 2009

A BALADA DO CONDE PROSCRITO QUE REGRESSA- GOETHE

Não há apenas um tipo de balada. Há as baladas de forma fixa e as de aspecto narrativo. As de forma fixa se distinguem por serem compostas especialmente para a dança e o canto, tendo ritmo característico e refrão vocal. Caracterizam-se da seguinte maneira as formas francesas da balada: 3 oitavas e uma quadra (às vezes uma quintilha no lugar da quadra); versos octossílabos; 3 rimas cruzadas, ou ainda, variáveis e a repetição de um mesmo conceito ou idéia ao fim de cada estrofe (paralelismo).
As baladas, sob o aspecto narrativo, são antigos poemas medievais, cujo assunto se prende à vida cavaleiresca. São narrações versificadas de lendas populares, de pequena extensão e anônimas. Modernamente, passaram a designar poemas narrativos em verso de acontecimentos fantasiosos ou lendários. Atualmente, os modernos lançam mão dessa forma com grande liberdade formal.

Abaixo A Balada do Conde proscrito que regressa do poeta alemão Wolfgang von Goethe:

“ – Vem cá, bom velho, nesta sala entraremos!
Com meu irmão aqui nos fecharemos,
E ninguém mais nos ficará ouvindo,
A mãe está a rezar, e o pai sabemos
Que anda no mato os lobos perseguindo.
Diz-nos um conto e di-lo muitas vezes,
P’ra que depois possamos repeti-lo.
Aguardamos um bardo há muitos meses,
Há muito já que ansiamos por ouvi-lo”

- “P’la noite horrível, pelo horror da guerra,
Assim que as joias e o dinheiro enterra,
O Conde abala de seus altos paços,
P’la porta falsa, que a fugir descerra.
Mas o que é que ele oculta nos seus braços;
O que esconde no manto, de fugidia?
Leva uma donzela adormecida...”
Para as crianças é um gosto ouvi-lo.


“ – Como a terra é grande! Eis que alvorece:
Em toda a parte, abrigo se lhe oferece,
E nas aldeias dão-lhe de beber...
Caminhando e pedindo, em anos cresce,
Suas barbas não cessam de crescer;
E nos seus braços a menina bela,
No manto envolta, agasalhando asilo,
Cresce também, sob propícia estrela.”
Para as crianças é um gosto ouvi-lo.

“ – O tempo foi correndo alvoroçado...
Já desbotava o manto esfarrapado,
Que envolver a donzela não podia.
O pai contempla-a; pai afortunado,
Que em si não cabe, doido de alegria!
Que formosura tem! Aquele ar tão nobre,
Da sua geração quebra sigilo:
Com ela torna rico o pai tão pobre!”
Para as crianças é um gosto ouvi-lo.

- “Passa a cavalo um príncipe brilhante:
Ela estende a mãozinha suplicante
Que ele, sem dar a esmola requerida,
Logo aperta, clamando em voz de amante:
Esta mão será minha vida toda!
E o pai diz: Desta joia o rosto amado,
Principesco diadema há de cobri-lo,
Aqui t’a entrego neste verde prado.”
Para as crianças é um gosto ouvi-lo.

Na igreja logo um padre os abençoa,
Parte a noiva feliz; só a mágoa
De abandonar seu pai, a triste ideia;
E o velho põe-se a vaguear à-toa.
Com ais pagando a f’licidade alheia.
Ah! Que desejo imenso eu não sentia
De ver a filha e os netos, e, ao senti-lo,
Abençoava-os de longe, noite e dia!
Para as crianças é um gosto ouvi-lo.
E o velho bardo abençoou os netos.

Batem à porta. É o pai! Eles, inquietos,
Tentam ‘sconder o velho, desvairados.
- “ Cala, doido, esses contos indiscretos!
Prendei-os os arqueiros meus, de ferro armados!
Na enxovia metei esse atrevido!
A mãe que estava longe, ouvindo aquilo,
Corre a seu esposo faz terno pedido,
Para as crianças é um gosto ouvi-lo.

O velho, com seus olhos sobranceiros,
Fica de pé. Retiram-se os arqueiros.
Ruge e aumenta do príncipe o furor:
- “D’amor malditos sonhos traiçoeiros,
Vede que frutos deu a baixa flor!
Sangue nobre diziam os antigos,
Quem o não tem não pode consegui-lo:
A mendiga gerou filhos mendigos!”
Para as crianças é um desgosto ouvi-lo.

- “Se o pai, se o esposo, agora destes paços
Vos expulsa, partindo santos laços,
A vosso avô e pai, vinde meus filhos!
Velho e pobre, arrastando os membros lassos,
Levar-vos posso a sendas d’áureos brilhos!
O meu castelo vieste tu roubá-lo,
E o pão, se o quis, bem longe fui pedi-lo!”
Para as crianças é um gosto ouvi-lo.

- “ O justo velho, e aos seus afeiçoados
breve há de restituir os bens roubados!
Meus tesouros, brilhai à luz do dia
(Tal diz o velho, d’olhos abrandados)!
A minha voz o amor vos anuncia!
Calma-te filho! Vê além, acesa,
Beningna estrela sobre o azul tranquilo:
Filhos príncipes tens, duma princesa!”
Para as crianças é um gosto ouvi-lo.”

(Balada do Conde proscrito que regressa, de Goethe. – Tradução de Eugênio de Castro.)