Legenda da foto: "Temos gratas surpresas com livros de escritores sergipanos maravilhosos", diz Fátima Escariz
Publicado originalmente no site SÓ SERGIPE, em 24 de abril de 2022
Fátima Escariz: “O sergipano está lendo muito, graças a Deus”
Por Antônio Carlos Garcia - Entrevista
Todos os dias, há 37 anos, ela se encontra com as obras de Gabriel Garcia Márquez, Miguel Cervantes, William Shakespeare, Monteiro Lobato, Graciliano Ramos, Déborah Pimentel – que lançou, esta semana, o livro “João Alves Filho – A Saga de Um Político Nordestino” –, dentre outros. Essa pessoa é a empresária Maria de Fátima Dória Campos Escariz, 61 anos, que, junto com o marido Paulo Escariz, fundou a Livraria Escariz, a mais importante de Sergipe e que já levou sua marca para o Shopping Barra, em Salvador. Através do e-commerce (www.escariz.com.br), a Escariz vende para todo o Brasil, atendendo, inclusive, a Amazon, Lojas Americanas e Magazine Luiza.
Atenta ao que se passa nas sete lojas e no e-commerce, que geram 140 empregos diretos, Fátima Escariz está sempre conversando com os seus funcionários – todos jovens – para cuidarem com carinho dos clientes. “O maior plano da gente é manter a excelência em atendimento, que é um desafio para a gente”, avisa a empresária ao acrescentar que a preocupação – de manter a excelência – é o principal foco. “O cliente é um parceiro da gente, que está em busca de um produto diferenciado, de um atendimento carinhoso, de um retorno para ele”.
Mas há outras preocupações que tomam conta do dia a dia de Fátima Escariz: “a compra de livros online é uma ameaça grande”, reconhece. “É uma ameaça porque pega um livro – que compra até de nós mesmos, pois somos um dos grandes fornecedores da Amazon – e ‘queima preço’, diz. Ou seja, vende bem mais barato que a loja, que tem uma série de custos para manter aberto os estabelecimentos. “Temos custo com a loja física, energia, funcionário, aluguel de ponto comercial, custo com estoque”, destacou.
Recentemente, a Escariz abriu mais uma loja, que fica na avenida Hermes Fontes, onde funcionava o Shopping do Estudante. Com isso, vai aumentando as possibilidades para o cliente sergipano que, na sua análise, “está lendo muito, graças a Deus”. Entre as escolhas do público local estão romances e biografias. Os jovens também estão lendo bastante. “Você vai à lista da Veja dos 20 livros mais vendidos, 10 a 15 são livros infantojuvenis” destaca. A empresária também ressalta a literatura sergipana, que é muito bem aceita. “Temos gratas surpresas com livros de escritores sergipanos maravilhosos”, observa.
A propósito, o mês de abril é dedicado aos livros e tem duas datas especiais. No dia 18, se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil, para homenagear o escritor brasileiro Monteiro Lobato, nascido em 1882, autor de clássicos como o Sítio do Picapau Amarelo e o Presidente Negro, único romance adulto de sua autoria. Já o 23, é o Dia Mundial do Livro, justamente porque nesta data, em 1616, portanto há 406 anos, morreram o inglês, William Shakespeare, o espanhol, Miguel Cervantes, e o peruano, Inca Garcilaso de La Vega.
O Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor foi criado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para encorajar as pessoas, especialmente os jovens, a descobrirem os prazeres da leitura, e conhecerem a enorme contribuição dos escritores através dos séculos.
Uma tradição catalã, também ligada aos livros, já existia no dia 23 de abril, e parece ter influenciado a escolha da Unesco, pois no dia de São Jorge é costume dar uma rosa para quem comprar um livro. Trocar flores por livros já se tornou tradição em outros países.
Entre seus milhares de livros e sempre atenta no atendimento aos clientes, Fátima Escariz conversou com o Só Sergipe.
Boa leitura.
SÓ SERGIPE – O sergipano está lendo?
FÁTIMA ESCARIZ – Está lendo muito, graças a Deus. É uma surpresa muito grata para nós. Quando começamos, uma das coisas que nos levou a pensar em ter uma livraria era para todos terem acesso à leitura, e as pessoas diziam que o sergipano não liam. Eles não liam porque não tinham acesso. E demos oportunidade, colocamos as lojas com cadeiras, poltronas para que as pessoas tivessem acesso aos livros. O sergipano lê conteúdo.
SÓ SERGIPE – E o que o sergipano lê exatamente?
FÁTIMA ESCARIZ – Nós temos uma venda muito boa de ficção, de romance, biografia (sai bastante), autoajuda. E com todo respeito aos livros de autoajuda, pois acredito que eles ajudam mesmo. As pessoas têm preconceito com os livros de autoajuda, mas eu já vi salvar muitas pessoas em situações complicadas, depois de uma boa leitura. Uma coisa que surpreende bastante é que o pessoal lê muito. A literatura sergipana é muito bem aceita. Temos gratas surpresas com livros de escritores sergipanos maravilhosos.
SÓ SERGIPE – Quais os livros mais vendidos atualmente em suas lojas?
FÁTIMA ESCARIZ – Agora, por exemplo, estamos vendendo muito o romance “Os sete maridos de Evelyn”, um livro meio polêmico, interessante que trata da forma de amar, seja lá como for ou com quem for; outro que está vendendo bastante é “Véspera”, um livro muito profundo, da escritora mineira Carla Madeira, que está fazendo muito sucesso, e eu estou tentando trazê-la aqui para Aracaju.
SÓ SERGIPE – Esses livros citados remetem ao público jovem. Os jovens têm lido?
FÁTIMA ESCARIZ – Sim, e isso tem me surpreendido. Temos muita literatura juvenil.
“Você vai na lista da Veja dos 20 livros mais vendidos, 10 a 15 são livros infantojuvenis.”
A pandemia nos maltratou muito e ainda está. Nós não vamos recuperar isso tão cedo. Temos um buraco aí que não sabemos como vai ser para vencê-lo. Está muito longe da venda de 2019, há muito receio, resistência. Tem gente que se acostumou a comprar mais pela internet. Mas os jovens voltaram a ler, justamente porque eles ficaram presos. Foram dois anos sem acesso ao habitat natural deles, os jovens deixaram de ser jovens, como nós fomos. E achei que eles voltaram a ler muito. Você vai na lista da Veja dos 20 livros mais vendidos, 10 a 15 são livros infantojuvenis.
SÓ SERGIPE – Como a senhora observa o crescimento dos livros digitais (e-books)? Hoje se baixa muito livro de graça pela internet?
FÁTIMA ESCARIZ – O livro digital realmente não ameaçou. No início, as pessoas falavam que o livro digital ia tirar o livro físico. Não tirou e nem vai tirar. É muito pequeno o percentual de venda do livro digital. Tem até uma matéria interessantíssima, acho que na Folha de São Paulo, sobre uma rede americana que está voltando com toda força depois da pandemia. E você não aguenta ficar mais 100% online.
“A compra online é uma ameaça grande. Como ele não tem esse custo que temos com a loja física – energia, funcionário, aluguel de ponto comercial, de estoque – é uma ameaça…”
O livro físico voltou a ser aquela coisa gostosa de você pegar, cheirar. Temos clientes que pegam o último livro de uma prateleira, que ninguém tocou, para ser o primeiro a manuseá-lo. Existe um carinho muito grande pelo livro físico. O livro físico não foi ameaçado.
SÓ SERGIPE – E a compra online?
FÁTIMA ESCARIZ – A compra online é uma ameaça grande. Como ele não tem esse custo que temos com loja física – energia, funcionário, aluguel de ponto comercial, de estoque – é uma ameaça; porque pega um livro – que compra até de nós mesmos, pois somos um dos grandes fornecedores da Amazon – e ‘queima preço’. É um processo bem mais difícil, porque nós temos todo um custo e a venda online não. Ela é realmente mais agressiva e mais complicada para concorrermos. Mas, estamos sendo recompensados pelo público sergipano, que respeita muito a livraria, sabe que somos daqui, nos apoiam. Temos muitos lançamentos de livros na Escariz por ser uma livraria da cidade. Enfim, temos uma gratidão gigante com o público sergipano.
SÓ SERGIPE – Tem um dado da Câmara Brasileira do Livro dizendo que, de 6 de dezembro de 2021 a 2 de janeiro de 2022, foram vendidos 5,4 milhões de livros, 5% a mais do que no mesmo período de 2020. Esse dado é nacional, mas trazendo para sua realidade, a senhoria diria que esse crescimento também aconteceu por aqui?
FÁTIMA ESCARIZ – Com certeza. Cresceu sim, pois há a necessidade de leitura. Essa vontade de ler está muito latente no público. A pandemia judiou muito financeiramente, não teve classe profissional que não tivesse padecido. Até os médicos foram afetados, porque muita gente deixou de ir aos consultórios por causa da Covid-19. O que eles chamam de supérfluos não é supérfluo, pois sustentam várias famílias. Nós mesmos sustentamos 140 famílias, é muita coisa, muito jovem, muito sonho dependendo da gente. A pandemia levou todos ao sacrifício, mas fez as pessoas voltarem a ler. Isso não tem como tirar. Talvez esse aumento seja muito pela oportunidade de sair da frente da tela, o que não é brincadeira não! Trabalhamos o tempo todo conectados, na tela do celular, do computador, é reunião, é tudo. Então chega o momento em que você pega um livro e vai ler.
“Como já disse, atendemos a Amazon, Magazine Luiza, Americanas.”
SÓ SERGIPE – Houve essa semana, o lançamento o E-Comex, por parte da Fecomércio, para capacitar e estimular os empresários sergipanos para o mercado internacional. Vocês já pensaram em internacionalizar a Livraria Escariz?
FÁTIMA ESCARIZ – Vendas para o exterior, não. Mas nós fazemos o nosso e-commerce que está funcionando bem, atende bastantes cidades do Brasil. Como já disse, atendemos a Amazon, Magazine Luiza, Americanas.
SÓ SERGIPE – Hoje as empresas não podem deixar de ter a plataforma digital.
FÁTIMA ESCARIZ – Sim. Nós já estávamos antes da pandemia, mas timidamente. Com a pandemia, tivemos que correr para botar para funcionar.
“A gente tem muita coisa mesmo. São várias editoras, vários públicos”, diz Fátima Escariz
SÓ SERGIPE – Qual o seu acervo hoje?
FÁTIMA ESCARIZ – Olha, é muita coisa. Só uma editora nos pediu para fazermos a devolução de 5 mil títulos, porque há títulos que não rodam mais. Mas a gente tem muita coisa mesmo. São várias editoras, vários públicos.
SÓ SERGIPE – A Livraria Escariz promove feiras de livros, não é?
FÁTIMA ESCARIZ – Agora mesmo estamos fazendo uma feira permanente na loja da Hermes Fontes. Qual foi a ideia? Como fazemos essas feiras dentro do shopping, a gente percebe uma boa aceitação do público. E resolvemos manter uma feira permanente na loja da Hermes Fontes, fora daquele período didático, que é muito típica em papelaria e material didático, como uniforme, tênis etc. Ela fica um período sem pique. Nós entramos com a feira de livros e tem sido muito gratificante, muita gente frequentando, indo buscar livros. Começou com feira de livro infantil e agora vamos fazer para adultos.
“…tenho uma relação muito boa tanto com Ângela, que era da PapelArte, quanto com Luciana, do Shopping do Estudante. Quando elas resolveram fechar, me procuraram para que não deixasse morrer o empreendimento delas
SÓ SERGIPE – A sua visão empresarial junto com a de Paulo Escariz, seu marido, não deixou escapar o Shopping do Estudante.
FÁTIMA ESCARIZ – Na realidade, o Shopping do Estudante foi interessante. Sempre me dei muito bem com o pessoal do shopping. Nós não somos concorrentes, somos parceiros. É concorrente quando é agressivo, como era o caso da Livraria Saraiva, que queimava preço e não sabíamos o que estava acontecendo. Como é que compravam o livro do mesmo preço e depois queimava preço? Depois vimos tudo o que aconteceu com a Saraiva. Mas voltando ao Shopping do Estudante e à PapelArte… tenho uma relação muito boa tanto com Ângela, que era da PapelArte, quanto com Luciana, do Shopping do Estudante. Quando elas resolveram fechar, me procuraram para que não deixasse morrer o empreendimento delas. Nós compramos muito estoque de Ângela. E Luciana não queria que todo o trabalho que ela fez, durante 25 anos, acabasse. Ela me chamou e queria que o shopping ficasse com a gente. Então caiu assim no colo. Mas também queríamos dar uma cara de livraria, e não ficar só a parte de papelaria.
SÓ SERGIPE – Tem planos para o futuro no seu empreendimento?
FÁTIMA ESCARIZ – Olhe, os planos que temos é que consigamos continuar atendendo bem os clientes. Esse é o nosso maior desafio e nossa principal preocupação. Temos um foco, um carinho muito grande ao cliente. O cliente é um parceiro da gente, que está em busca de um produto diferenciado, de um atendimento carinhoso, de um retorno para ele. Numa conquista de um livro que ele não acha em canto nenhum e a gente manda buscar. O maior plano da gente é manter a excelência em atendimento, que é um desafio. Como trabalhamos muito com jovens e eles mudam muito – um dia está aqui, no outro quer mudar; um dia está num curso, no outro dia quer fazer outro – temos uma alta rotatividade de funcionários. Mas é porque fizemos a opção pelos jovens, porque eles são mais dinâmicos. E como quero manter a qualidade no atendimento, o trabalho é intenso e eterno. Toda hora tenho que lembrar sobre o atendimento, ensinar sempre.
SÓ SERGIPE – Os funcionários ajudam o cliente que quer comprar um livro? Dão sugestões de leitura?
FÁTIMA ESCARIZ – Sim, ajudam muito. Optamos por alunos de letras, história, filosofia e que amem ler! É uma das nossas maiores buscas, pessoas que amem livros e leiam!
SÓ SERGIPE – A dona da livraria é uma leitora contumaz?
FÁTIMA ESCARIZ – Adoro ler. Eu venho de uma família que minha mãe era professora de francês, uma tia que morava em Brasília lia bastante e era muito influente. Como eu perdi meu pai muito cedo, a preocupação da minha tia, numa casa cheia de mulheres, é que a gente não fosse dona de casa, de fazer bolo, essas coisas. Então, todas as vezes que vinha de Brasília trazia uma coleção de livros, a exemplo de toda a obra de Aghata Chirstie. Ela ajudou a mim e a minha irmã mais próxima em idade a sermos leitoras. Venho de uma família que gostava de ler. Além da família de Paulo, pois a mãe dele teve a vida ligada à cultura, ela era regente de coral. O berço cultural está nos dois.
SÓ SERGIPE – Hoje a Escariz tem quantas lojas?
FÁTIMA ESCARIZ – São sete lojas. Uma no Shopping Barra, em Salvador, que está muito direitinha, pois a Bahia tem uma raiz cultural muito forte e o pessoal lê bastante; temos aqui em Aracaju nos dois shoppings – RioMar e Jardins -; essa daqui da Jorge Amado; a da avenida Hermes Fontes, que é nova; na Unit prestando um serviço à comunidade estudantil; e a do GBarbosa. E temos os dois Franz (cafeteria).
Texto e iagem reproduzidos do site: sosergipe.com.br