Publicado originalmente no site do JORNAL DA CIDADE, em
26/11/2020
João Alves: do chapéu de couro às obras memoráveis
Político levou água para o Sertão e deu a Aracaju ares de
cidade moderna e atrativa
A morte de João Alves Filho, ocorrida na noite de
terça-feira, 24, suscita o aguçamento da memória do sergipano em torno dos
grandes feitos realizados por ele, principalmente no sentido de modernização,
através de grandes obras, bem como da melhoria do modo de vida do povo
sertanejo.
João Alves Filho nasceu em Aracaju, mas viveu para todo o
Estado inteiro. Sem sombra de dúvidas, um homem à frente do seu tempo. Aliás,
um menino que desde muito pequeno sonhava em ser grande. E, de fato, foi muito
grande!
Filho do empresário e construtor civil João Alves e de Dona
Maria de Lourdes Gomes, ingressou em 1961 na Escola Politécnica da Universidade
da Bahia, graduando-se em engenharia civil em 1965. Foi nesse mesmo ano que
fundou a Habitacional Construção S.A, considerada por muito tempo uma das
maiores empresas da Construção Civil em Sergipe e no Nordeste.
Apesar da sua paixão pela construção, o seu coração pulsava
muito mais forte para outro segmento: a política. Iniciou sua vida pública em
1975, quando foi nomeado prefeito de Aracaju pelo governador da época, José
Rollemberg Leite, encerrando sua gestão em 1979.
Em 1982 com o retorno das eleições diretas no País, João
filiou-se ao Partido Democrático Social (PDS), a convite do então governador
Augusto Franco. Indicado por ele e apoiado por Albano Franco, obteve seu
primeiro mandato como governador de Sergipe, assumindo em março de 1983.
E foi nesse primeiro mandato, observando o sofrimento do
sertanejo em busca de água, que iniciou o seu projeto visionário, que
futuramente daria a ele o apelido que mais tinha orgulho: o João Chapéu de
Couro.
Com o apoio do Banco Mundial, ele criou o Projeto Chapéu de
Couro, que beneficiava a região do agreste e semiárido com a perfuração de
poços artesianos e a construção de cisternas, além de abertura de estradas
vicinais, redes de energia elétrica, escolas e postos de saúde, dando novas
formas aos municípios sergipanos.
Além disso, também deu início à construção do maior hospital
público de Sergipe, inaugurado em 1986, o Hospital Governador João Alves Filho,
que atualmente é chamado de Hospital de Urgência de Sergipe (Huse).
Ingressou no Partido da Frente Liberal em 1985 e em 1987,
após terminar o mandato de governador, assumiu o cargo de ministro do Interior
no governo do presidente José Sarney, onde ficou até 1990. Já em 1991 é
reconduzido ao cargo de governador, vencendo a eleição em 1º turno.
Foi nesse governo que João idealizou e inaugurou a Orla da
Atalaia, um dos principais cartões-postais de Aracaju e que levaria o título de
Orla mais bonita do Brasil.
Em 2002, foi eleito em segundo turno mais uma vez governador
de Sergipe, onde permaneceu até 31 de dezembro de 2006. Nesse mandato executou
um dos projetos mais desafiadores de toda a sua vida e um dos que o deixava
mais orgulho: a Ponte Construtor João Alves, que liga os municípios de Aracaju
e Barra dos Coqueiros, um projeto audacioso e que mudaria para sempre a
realidade da Ilha de Santa Luzia. Para se ter ideia, a execução durou pouco
mais de dois anos e custou cerca de R$ 100 milhões.
Outras grandes obras também levam a sua assinatura, a
exemplo do Platô de Neópolis; a construção do Bairro Coroa do Meio; construção
da Ponte Godofredo Diniz, que liga o bairro Coroa do Meio ao centro de Aracaju;
a implantação de 14 grandes avenidas que interligam os bairros de Aracaju;
construção do Parque da Cidade; implantação do segundo sistema de transporte
integrado do Brasil, além de viabilizar a construção do Porto de Sergipe.
O último cargo público a ocupar foi de prefeito de Aracaju,
no ano de 2012, encerrando o mandato em 2016 já debilitado pela doença de
Alzheimer.
A paixão pela escrita
Membro da Academia Sergipana de Letras, João Alves é autor
de diversos livros, o mais recente se chama “Toda a verdade sobre a
transposição rio São Francisco” lançado em 2008. Com a experiência adquirida na
vida pública, João Alves Filho agrupou todos os seus estudos e ideias e
tornou-se um autor engajado nas questões sócio ambientais e as suas causas e
consequências, além de versar perfeitamente sobre a questão hídrica.
Possui em seu currículo inúmeros títulos que dissertam sobre
temas, como as secas, as águas e a transposição das águas do Rio São Francisco.
Tendo um amor declarado pela Região Nordeste, dedica sua vida e obras e
encontrar soluções ou medidas que atendam as necessidades dos afligidos da
maneira mais íntegra e satisfatória que se possa fazê-lo.
Seus livros são: Nordeste, Região credora (1985); No outro
lado do mundo (1988); Amazonas & Nordeste – Estratégias de desenvolvimento
(1989); Conferências (1990); Pontos de Vista (1994); Nordeste – Estratégias
para o sucesso (1997); Transposição das Águas do São Francisco – Agressão à
Natureza x Solução Ecológica (2000); Matriz energética brasileira – Da crise à
grande esperança (2003); Toda a Verdade sobre a transposição do Rio São
Francisco (2008); Transposição do São Francisco – Uma Análise dos aspectos
positivos e negativos do projeto que pretende transformar a Região Nordeste.
Repórter: Diego Rios
Fotos: Arquivo JC
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