segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

impasse


quando

o silêncio

assombra

a palavra

que pensei

não sei

se insisto

em dizer

o perdido

ou se hesito

ante o risco

de me perder

outra vez





poema: maria esther maciel
foto: isaias

PRODÍGIO - poema de charles simic


Cresci dobrado sobre
um tabuleiro de xadrez.

Adorava a palavra check-mate.

Todos os meus primos pareciam preocupados.

Era uma pequena casa
perto de um cemitério romano.
Aviões e tanques
sacudiam o vidro das janelas.

Um professor de astronomia reformado
ensinou-me a jogar.

Isto deve ter sido em 1944.

No tabuleiro que usávamos,
a tinta estava quase lascado
nas partes pretas.

O Rei branco estava em falta
e teve que ser substituído por.

Disseram-me, mas eu não acredito
que nesse verão testemunhei
homens pendurados em postes telefónicos.

Lembro-me da minha mãe
vendar-me muito os olhos.
Ela tinha um modo de enfiar a minha cabeça
de repente sob o seu casaco.

Disse-me um professor que no xadrez,
os mestres também jogam de olhos vendados,
os maiores deles em vários tabuleiros
ao mesmo tempo.

(1980)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Umas das minhas reflexões sobre o niilismo e o ateísmo.

Historicamente, o ser humano não está preparado para ignorar suas religiões e dogmas místicos. Mas quando estará?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Moacyr Laterza


Sentindo-a sempre junto e ausente.

Jamais completar o enleio de seus braços.

E nem das fontes invioláveis de seus olhos,

sofrer o travo mais fundo.



Ter o pórtico e a perspectiva do mundo,

o perfil de seus erros,

os descaminhos do sonho.

Nunca porém de seus ermos medonhos,

O desamor de seu saibro mais fundo.



Caminhar como se não caminhara,

a revolver no desolado lanço dos passos

a incerteza derradeira que nem sonhara.



poema:Moacyr Laterza

o filósofo e poeta Moacyr Laterza. Ex-professor da UFMG, onde também se licenciou em filosofia, Laterza foi um intelectual de larga influência nos meios acadêmicos e culturais de Minas Gerais.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

PAISAGEM COM FRUTAS


poema de MARIA ESTHER MACIEL

***************

Duas peras sobre a mesa

esperam a tua fome.

O dia é verde

e o vento tem cores provisórias.


Sobre o muro

um pássaro mudo

de olhar escuro

perscruta a tua sombra


Ele sabe

que ninguém sabe

em que azul

ocultas

teu absurdo.





MARIA ESTHER MACIEL é poeta e professora de teoria da literatura na UFMG
É autora dos livros: Dos Haveres do Corpo (poesia, Ed. Terra, 1985), As vertigens da lucidez: poesia e crítica em Octavio Paz (ensaio, Ed. Experimento, 1995); A dupla chama: amor e erotismo em Octavio Paz (ensaio, Ed. Memorial da América Latina, 1998); Triz (poesia, Ed. Orobó, 1999); Vôo Transverso: poesia, modernidade e fim do século XX (ensaios, Ed. Sette Letras, 1999); A memória das coisas (ensaios, Ed. Lamparina, 2004), e O livro de Zenóbia (ficção, Ed. Lamparina, 2004).

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Composição fotográfica 2 / poema


a poesia
é um
ato solitário
(mesmo com suas múltiplas matérias-primas)

é verbo errante

destino numa bacia com
lágrimas e sorrisos

sumindo, vazando

entre as mãos





foto e poema : isaias

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Composição fotográfica 1



... Composição fotográfica é a ordem dos elementos, do primeiro plano e dos motivos secundários, é também a qualidade estética...


foto : isaias

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011





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haicai : cássio amaral
foto : isaias (da peça : contracapa - balet jovem do palácio das artes)