Os que se vão, vão depressa,
Ontem, ainda, sorria na espreguiçadeira.
Ontem, dizia adeus, ainda da janela,
Ontem vestia, ainda o vestido tão leve cor-de-rosa.
Os que se vão, vão depressa,
Seus olhos grandes e pretos há pouco brilhavam,
Sua voz doce e firme faz pouco ainda falava,
Suas mãos morenas tinham gestos de bênçãos.
No entanto hoje, na festa ela não estava,
Nem um vestígio dela, sequer.
Decerto, quase todos, indiferentes e desconhecidos.
Os que se vão, vão depressa,
Mais depressa que os pássaros que passam no céu,
Mais depressa que o próprio tempo,
Mais depressa que a bondade dos homens,
Mais depressa que os trens correndo nas noites escuras,
Mais depressa que a estrela fugitiva,
Que mal fez um traço no céu.
Os que se vão, vão depressa.
Só no coração do poeta, que é diferente dos outros corações,
Só no coração sempre ferido do poeta,
É que não vão depressa os que se vão,
Ontem sorria na espreguiçadeira,
E o seu coração era grande e infeliz,
Hoje, na festa ela não estava, nem a sua lembrança,
Vão depressa, tão depressa os que se vão ...