Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

sábado, 31 de outubro de 2009

"Velha Chácara"

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By nospheratt
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A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
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Ah quanto tempo passou!
(foram mais de cinquenta anos.)
tantos que a morte levou!
(E a vida...nos desenganos...)
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A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
- Mas o menino ainda existe.
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Manuel Bandeira
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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

"Espera"

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Sabia que você não viria
E usei o tempo para me enfeitar
Preguei flores no cabelo
Dancei em frente ao espelho
Apenas pra te esperar
Rósea, linda e sorridente
Com estrelas no olhar
Me embrulhei toda pra presente
E me pus toda contente
Contar as horas pra você voltar
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Victtoria Rossini
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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"Voraz Fugacidade"

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Esvai-se a vida, o tempo não dá trégua.
Fazer o que do sonho mais querido,
se de repente ele se vê vencido,
como se andasse ao fio de uma régua?
Vão-se os projetos, ais, gemidos, beijos;
entrega-se o ideário ao véu da morte.
Infeliz quem se diga ao pé da sorte,
sob a esperança de eternais desejos.
O que existe, isto sim, é o fim sem volta,
concretizando na alma uma revolta
que envenena a existência sem piedade.
Contemplativa, a mente então se solta;
divagando, ela aponta a ambiguidade
entre a vida e a voraz fugacidade!
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Antonio Kleber
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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

"Poeminha Bobo"

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Quer me agradar?
Me dá uma bata indiana
um chinelo Havaiana
um pastel com caldo de cana
uma foto de Havana
e uma penca de banana!
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Luna

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terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Primavera é a estação
em que deitas na relva
e ficas a me perguntar
os nomes das flores.
Eu olho para o céu embusca de inspiração
e recito todos os nomes
que já ouvi, misturando
flores e passarinhos.
E você sorri encantada
e diz que sou sedutor
como sol de primavera.
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Álvaro Bastos
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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"Exausto"

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Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
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Adélia Prado

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domingo, 25 de outubro de 2009

"Convite"

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Não sou a areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou
mistério
A quatro mãos escrevemos este roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados
,nem sempre nos levamos
a sério.
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Lya Luft

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sábado, 24 de outubro de 2009

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Guarda-me em ti
como se eu fosse teu segredo.
Pousa em mim
sem pudor e sem medo,
e mostra-me o que virá amanhã.
Cria-me naquilo que desconheço.
Adivinha-me desde o fim até o começo.
Toma-me, sabes bem o endereço,
ai sim, te reconheço.
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Carlos Alberto Baltazar

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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

"Receita de Olhar"

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Nas primeiras horas da manhã
desamarre o olhar
deixe que se derrame
sôbre todas as coisas belas.
O mundo é sempre novo
e a terra dança e acorda
em acordes de sol.
Faça do seu olhar, imensa caravela...
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Roseana Murray

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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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Podes vender-me a chuva?
A água que forma tuas lágrimas molha tua língua?
Podes vender-me um dólar de água da fonte?
Um nuvem crespa, me venderias?
Ou, quem sabe, água chovida das montanhas?
Ou água dos charcos, abandonada aos cães?
Ou uma légua de mar, talvez um lago?
A água cai e corre. A água corre. Passa.
Ninguém a possui. Ninguém.
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Podes vender-me terra?
A profunda noite das raízes, dentes de dinossauros,
A cauda espersa de longínquos esqueletos?
Podes vender-me selvas já sepultadas, aves mortas,
Peixes de pedra, enxofre dos vulcões,
Milhões e milhões de anos em espiral crescendo?
Podes vender-me terra?
Podes vender-me?
Podes?
A tua terra é terra minha,
todos os pés se apóiam nela.
Ninguém a possui.
Ninguém.
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Nicolas

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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

"Poema Natural"

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Abro os olhos, não vi nada
Fecho os olhos, já vi tudo.
O meu mundo é muito grande
E tudo que penso acontece.
Aquela nuvem lá em cima?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
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Ontem com aquele calor
Eu subi, me condensei
E, se o calor aumentar,
choverá e cairei.
Abro os olhos, vejo um mar,
Fecho os olhos e já sei.
Aquela alga boiando,
à procura de uma pedra?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
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Cansei do fundo do mar,
subi, me desamparei.
Quando a maré baixar, na areia secarei,
Mais tarde em pó tomarei.
Abro os olhos novamente
E vejo a grande montanha,
Fecho os olhos e comento:
Aquela pedra dormindo,
parada dentro do tempo,
Recebendo sol e chuva,
desmanchando-se ao vento?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
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Adalgisa Nery

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terça-feira, 20 de outubro de 2009

"Pudor"

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Quando fores sentindo que o fulgor
Do teu ser se corrompe e a adolescência
Do teu gênio desmaia e perde a cor,
Entre penumbras e deliquescência,
Faze a tua sagrada penitência,
Fecha-te num silêncio superior,
Mas não mostres a tua decadência
Ao mundo que assistiu teu esplendor!
Foge de tudo para o teu nadir!
Poupa ao prazer dos homens o teu drama!
Que é mesmo triste para os olhos ver
E assistir, sobre o mesmo panorama,
A alegoria matinal subir
E a ronda dos crepúsculos descer...
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Raul de Leoni

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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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É quando um espelho, no quarto, se enfastia;
Quando a noite se destaca da cortina;
Quando a carne tem o travo da saliva,
e a saliva sabe a carne dissolvida;
Quando a força de vontade ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato se equilibra...
E quando às sete da tarde morre o dia -
que dentro de nossas almas se ilumina,
com luz lívida, a palavra despedida.
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David Mourão-Ferreira

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domingo, 18 de outubro de 2009

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A noite baixou silente,
e, então, cantei tristemente
as mágoas... para esquecê-las...
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E a noite, ouvindo o meu canto,
que era a música de um pranto,
encheu-se toda de estrelas...
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Adelmar Tavares

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sábado, 17 de outubro de 2009

"Dedução"

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Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas, nem a distância.
Está provado, pensado, verificado.
Aqui levanto solene minha estrofe
de mil dedos e
faço o juramento:
Amo firme, fiel e verdadeiramente.
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Vladimir Maiakovski

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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

"Evolução"

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Caem as folhas de repente
brotam outras pelos ramos,
murcham as flores, surgem pomos
e a planta volta à semente.
Assim somos. Sutilmente
diferimos do que fomos.
Impossível transmitir
por secreto e singular,
o acrescentar e perder
desse crescer que é mudar.
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Helena Kolody

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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

"Poema Desenhado"

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No meio da página escrevo ao acaso a palavra "menina"
e à sua magia, um caminho abre-se
para ela andar.
E como houvesse brotado aos seus pés um arroio espiador
uma ponte estendeu-se
para ela atravessar.
Mas a menina
agora parou
e do meio da ponte namora
encantadamente nas águas
a graça inacabada de seu pequenino rosto
feito às pressas.
Às pressas...
(nem tive tempo de lhe dar um nome)
A vida é assim,meninazinha sem nome...
A vida nem dá tempo para a vida!
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Mário Quintana
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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"À Carmen - remetendo-lhe um jasmim do Cabo"

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Menos bela que tu, Carmela minha
vai essa flor a ornar tua cabeleira;
eu mesma a colhi na planície
e carinhosa minha alma t'a envia
Quando seca e murcha caia um dia
não a jogues, por Deus, na ribeira:
guarda-a qual memória lisonjeira
da doce amizade que nos unia.
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Dolores Veintimilla
trad. Maria Teresa Almeida Pina

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terça-feira, 13 de outubro de 2009

"A Boa Dieta"

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Carlota dissera ao seu doutor
Que lhe agradava, de manhã,
fazer amor,
Embora à noite
a coisa fosse mais sadia.
Sendo ela prudente, resolveu
Fazê-lo duas vezes ao dia:
De manhã, por prazer
De noite, por dever.
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Friederich von Logau
in "A Boa Dieta"

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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"O Vestido de Laura"

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O vestido de Laura
É de três babados,
Todos bordados.
O primeiro, todinho,
Todinho de flores
De muitas cores.
No segundo, apenas
Borboletas voando,
Num fino bando.
O terceiro, estrelas,
Estrelas de renda
- talvez de lenda...
O vestido de Laura
Vamos ver agora,
Sem mais demora!
Que as estrelas passam,
Borboletas, flores
Perdem suas cores.
Se não formos depressa,
Acabou-se o vestido
Todo bordado e florido!
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Cecília Meireles

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domingo, 11 de outubro de 2009

"Quando Tornar a Vir a Primavera"

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Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.
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Alberto Caeiro

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sábado, 10 de outubro de 2009

"Ilha de Cós"

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Eu sabia que tinha de haver um sítio
Onde o humano e o divino se tocassem
Não propriamente a terra do sagrado
Mas uma terra para o homem e para os deuses
Feitos à sua imagem e semelhança
Um lugar de harmonia
Com sua tragédia é certo
Mas onde a luz incita à busca da verdade
E onde o homem não tem outros limites
Senão os da sua própria liberdade
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Manuel Alegre

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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Sim, Sei Bem"

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Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me me crer
O que nunca poderei ser.
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Fernando Pessoa

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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"Invitation au Voyage"

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Se cada um de vós, ó vós outros da televisão
- vós que viajais inertes
como defuntos num caixão
-se cada um de vós abrisse um livro de poemas...
faria uma verdadeira viagem...
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo mesmo!
- Inclusive o amor e outras novidades.
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Mario Quintana
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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"Expectativas"

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.imagem daqui .
O vento anda ficando mentiroso.
Prometeu trazer você, não trouxe.
Ficou de dizer o porquê, não disse.
Esperou que eu me distraísse,
passou depressa, rumo ao horizonte.
Já não tem importância
que cometa outra vez,
um ato de inconstância.
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Aprendi a esperar...
Se ventos são capazes de levar embora,
a qualquer hora, também,
são capazes de fazer voltar.
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Flora Figueiredo

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terça-feira, 6 de outubro de 2009

"O Dom De Ouvir"

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foto daqui
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Ouvir
Como quem abraça e beija
a alma solitária
dos que ninguém escuta.
Ouvir com o coração
a confidência,
a queixa,
a longa história
dos isolados
pela indiferença alheia.
Ouvir com os olhos e afirmar:
eu compreendo.
Nem é preciso dizer nada.
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Helena Kolody

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"Regulamento"

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Eu não juro nada
por coisa alguma,
pois que todo caminho é de incerteza.
A ordem se desarruma,
a história se desajeita,
o arranjo troca e vira a mesa.
Tampouco prometo.
Nesse jogo de regras e tratos,
rolam os dados,
mudam os fatos,
num ciclone célere, inclemente.
Só o que posso fazer é me entregar completamente
a toda causa que eu me dedicar,
a cada tempo que eu puder viver,
a cada amor que me fizer amar.
.
Flora Figueiredo

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domingo, 4 de outubro de 2009

"Louca"

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Súbito
Em meio àquele escuro quarteirão fabril
Das minhas mãos se escapou um pássaro maravilhoso
E eu te amei como quem solta um grito,
Ó Lua enorme
Incompreensível...
Por que sempre me espantas e me assustas, Louca,
Como se eu te visse sempre pela primeira vez?!

. Mario Quintana
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sábado, 3 de outubro de 2009

"Aos Leitores"

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Aqui é minha casa. Ali ficam o sol e o jardim com colméias.
Vocês vêm pela trilha, olham da porta por entre as grades
e esperam que eu fale.
...
Por onde começar?
Creiam em mim, creiam em mim,
sobre seja o que for pode-se falar quanto se queira:
sobre o destino e sobre a serpente do bem,
sobre os arcanjos que lavram com o arado
os jardins do homem,
sobre o céu para onde crescemos,
sobre o ódio e a queda, tristezas e crucifixões
e acima de tudo sobre a grande travessia.
Mas as palavras são as lágrimas de quem teria desejado
tanto chorar e não pôde.
São tão amargas as palavras todas,
por isso... deixem-me
passar mudo por entre vocês,
sair à rua de olhos fechados.
.
Lucian Blaga

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

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Os anos me ensinaram
a ver possibilidades
em cada verso
e em cada esquina.
Eles somente não
me ensinaram a arte
do encontro.
Fica esse vazio
de caverna nunca
explorada dentro
do peito enfartado
de poesia...
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Nathan de Castro
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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"Quase"

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Uma mulher quase nova
com um vestido quase branco
numa tarde quase clara
com os olhos quase secos
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vem e quase estende os dedos
ao sonho quase possível
quase fresca se liberta
do desespero quase morto
.
quase harmônica corrida
enche o espaço quase alegre
de cabelos quase soltos
transparente quase solta
.
o riso quase bastante
quase músculo florido
deste instante quase novo
quase vivo quase agora
.
Mário Dionísio
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Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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