«A sua situação era imprecisa, indefinida, sem um vislumbre do que pudesse vir a suceder na semana seguinte, no mês imediato, nos anos vindouros. Ansiava por ficar, mas sabia que não seria fácil. Tudo o que o prendia – e não era pouco – se baseava nos afetos, no amor, na vida que tanto idealizara e que acabar por materializar-se. Sentia-se um privilegiado. E, no entanto, tinha noção plena de que o Homem nunca está completo, falta-lhe sempre qualquer coisa, mesmo que também ela seja indefinida, pois «a vida é o resultado das escolhas que fazemos» ou, como escrevia Ortega Y Gasset, «o homem é o ser e a sua circunstância», e sabemos, desde muito cedo na vida, que para termos algo temos de optar por não ter outra ou outras coisas - o chamado «custo de oportunidade».
Talvez, neste caso, fosse apenas a necessidade de demonstrar que ainda era cedo para mandar sossegar as ambições de carreira – como se as ambições, quaisquer que fossem, pudessem ser controladas. Mas não, as ambições são como sonhos em forma de quisto, que crescem e ocupam o seu espaço no nosso corpo, na nossa mente.
Tinha de
arriscar e propor-se a algo mais, a cumprir mais uma etapa na sua vida, a poder
preencher mais alguns espaços no baú das memórias com aquelas que ainda não
tinha conseguido realizar e que um dia estariam ao lado das outras, umas mais
gloriosas, outras mais tenebrosas, umas mais serenas, outras mais selvagens.
Nada que colidisse com as suas escolhas de coração, de vida, de companhia para
a vida. Nada disso. Mas perante a situação imprecisa sentia que tinha de fazer
algo e que esse poder era seu, só seu, inalienável, insofismável e, numa certa
medida, indomesticável. Como predador de desafios que era, sentiu que tinha
chegado o momento de ser ele o dono da precisão e definição do seu futuro, pelo
menos no lado profissional.
E se bem o
pensou, melhor o fez.»