Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Delírios / Delusions

Imagem da web
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# I

Ignoramos o que não é dito, como se tivesse menos importância do que o que é.
Espanta-me que não me ouça, a pessoa que se senta ao meu lado. Tantos são os pensamentos que me invadem, que começam a sair-me pelos poros.

# II

Ruído. Gritos. Há quem não saiba falar de outra forma. Por tudo, por coisa nenhuma. Como se tudo isso fosse igual. Indiferente. E se for mesmo?
Não é, não pode ser.

#... III

Uma recta liga dois pontos? Quais pontos? Indistinta a linha, impossível, talvez!
A realidade parece ficção, e a ficção? Já não a sei escrever…

# IV

Porque é que insisto, se desisto tem apenas duas letras de diferença?

# 5

Lá, de onde nada tem significado, me chamaste. De bom grado, fui.
Por vezes precisamos mergulhar no Vazio, para abraçar plenamente o Todo.

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# I
We ignore what is said, as if it was less important that what is.
I’m surprised that the person seating next to me doesn’t listen. So many thoughts invade me, they started coming out of my pours.

# II

Noise. Screams. Some people don’t know how to speak otherwise. About everything, about nothing. As if all is the same. Indifferent. What if it is? No, it can’t be.

#... III

A straight line connects two dots? Which dots? The line is indistinct, impossible, perhaps!
Reality feels like fiction, and fiction? I can’t write it any more…

# IV

Why do I insist, if I give up has only two diffences? (*)


# 5

There, from where nothing has meaning, you called me. Gladly, I went to you.
Sometimes, we need to dive into the Emptiness, in order to fully embrace the All.

(*) In Portuguese: I insist=insisto / I give up=desisto

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Paragem de autocarro / Bus stop

Fiz as malas e fui para a paragem de autocarro. Fiquei à espera até à hora da partida, mas continuo aqui, sem saber se o autocarro não passou, ou se fui eu quem o deixou passar, ou se passou adiantado.

Começou a chover, os meus pés aninham-se entre as malas já com marcas da chuva. Quando vier o sol, as marcas desaparecem, o frio também. E eu não sei a que horas passa o último autocarro, ou se foi o último do dia.

As malas estão feitas, mas com as gotas da chuva já não parecem as mesmas...

Retirado do baú, escrito em 03.03.2008

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I packed my bags and went to the bus stop. Stood there waiting up to the departure time, but I'm still here, not knowing if the bus didn't stop, or if I left it go, or if it was ahead of time.

It started to rain, my feet are hidden between the bags, the bags already marked by rain. When the sun comes, the marks will disapear, so will the cold. And I don't know what time the last bus comes, or if that one was the last of the day.

My bags are ready, but with the raindrops, they don't look the same anymore....

Writen in 03.03.2008

sábado, 16 de junho de 2012

Diamante em bruto / Diamond in the rough

Um dia, por acaso, encontrou o Amor. Não percebeu bem o que segurava na palma da mão, era como que um diamante em bruto, meio tosco, mas com um brilho intrigante, reflectia uma luz que não sabia de onde vinha.

Não ponderou sequer deixá-lo ali, protegeu-o entre os seus dedos fortes e seguiu.
O Amor começou a dar sinais de inquietude, sentia-o a mover-se na sua mão fechada. Abriu-a e o Amor cresceu, tinha agora que o transportar ao colo, melhor assim, mais perto do coração, aonde deve estar.
O Amor acompanhava-o, estava lá quando adormecia e quando acordava, sentia-o aconchegante nas noites de frio.
E mais espaço o Amor conquistou, hoje transporta-o às costas. “Estás a ficar corcunda”, dizem-lhe. Mas ele não se importa, tem um diamante em bruto, meio tosco sim, mas com um brilho intrigante, reflecte uma luz que não sabe de onde vem…
Continua ali, como quando o segurou pela primeira vez nas suas mãos, parecia frágil… Cresceu…
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One day, by chance, he found Love. At first, he didn’t quite realise what he was holding in the palm of it’s hand, it was like a diamond in the rough, a bit rugged, but with an intriguing glow, it reflected a light he didn’t know were it came from.
He didn’t even consider leaving it there, protected it between his strong fingers and he went on.
Love started getting restless; he would feel it moving within its closed hand. He opened it and Love grew, now he needed to carry it on it’s lap, better that way, closer to the heart, where it must be.
Love accompanied him, was there when he felled asleep and when he waked up, he would feel it in cold nights, cosy.
And more room Love conquered, today he carries it on it’s back. “You’re getting a hunchback”, they tell him. But he doesn’t mind, he has a diamond in the rough, a bit rugged, yes, but with an intriguing glow, it reflected a light he doesn’t know it comes from…
It’s still there, like when he hold it for the first time in his hands, looked frail… Has grown up…

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sonhos loucos / Crazy dreams


Sabes que não existo, não sabes?
Sou um reflexo dos teus sonhos, loucos.
Pensas que me vês, que me tocas,
que a minha pele é real,
que é real o fogo debaixo dos teus dedos,
fogo apagado pelos meus lábios,
ávidos de mais fogo,
de água que o apague,
de combustível que o atice.
Ouves a minha voz,
o grito que se afoga em busca de respirar
que se afoga no mar que nos chama ao precipício,
sedutor…
Sou um reflexo dos teus sonhos,
loucos todos,
talvez até sãos, não sei.
Já não sei.
Louco, louca sou eu, por existir para ti…


Imagem da web


You know I don’t exist, don’t you?
I’m a reflexion of your dreams, crazy dreams.
You think you see me, think you touch me,
that my skin is real,
that the fire beneath your fingers is real,
the fire my lips put off,
avid for more fire,
from water to extinguish it,
fuel to stir it.
You ear my voice,
The cry that drowns in the search to breath
That drowns in the sea which calls to the abyss,
alluring…
I’m a reflexion of your dreams,
All mad,
Maybe not, I don’t know.
I don’t know any more.
Mad, I’m the mad one, for existing to you…

sábado, 2 de junho de 2012

talvez / maybe




Tentei entender o teu olhar.

Tentei entender o reflexo dos teus olhos nos meus.

Mas há dias em que não sabemos ler.

Procurei-te nas linhas da mão, mas o Destino não falou comigo.

Talvez o Tempo fale.

::::::::::

I’ve tried to understand your eyes.

I’ve tried to understand the reflexion of your eyes in mine.

But some days we can’t read.

I’ve looked for you in the lines of the hand, but Faith didn’t speak to me.

Maybe Time will.
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