terça-feira, 4 de março de 2025

Abraça-me

 


Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.

Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.

Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.

Uma vez que nem sei se tu existes.


Joaquim Pessoa
in 'Ano Comum'



Credito da Imagem; Gravura via Etsy




Tempestades na boca

 


Chove muito, muito, dir-se-ia que estão a lavar o mundo. O meu vizinho do lado vê a chuva e pensa em escrever uma carta de amor - uma carta à mulher com quem vive e lhe faz a comida e lava a roupa e faz amor com ele e se parece com a sua sombra. O meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher. Entra em casa pela janela e não pela porta. Por uma porta entra-se em muitos sítios: no trabalho, no quartel, na prisão, em todos os edifícios do mundo mas não no mundo, nem numa mulher, nem na alma. Quer dizer, nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos. Assim como hoje que chove muito e me custa escrever a palavra amor, porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa... e só a alma sabe onde as duas se encontram e quando e como, mas que pode a alma explicar? Por isso o meu vizinho tem tempestades na boca. Palavras que naufragam, palavras que não sabem que há sol porque nascem e morrem na mesma noite em que ele amou. E deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá como o silêncio que existe entre duas rosas ou como eu que escrevo palavras para regressar ao meu vizinho que vê a chuva e à chuva ao meu coração desterrado.

Juan Gelman





Crédito da Imagem: arte de William Ashford




sábado, 1 de março de 2025

A prisão invisível: normas sociais e o coração silenciado

 


Há uma barreira intransponível entre mim e o mundo - não feita de tijolos ou aço, mas de olhares, sussurros e convenções não escritas. Aos meus mais de sessenta e cinco, carrego o peso não apenas das minhas costas já curvadas pelo tempo, mas de um sentimento que, aos olhos da sociedade, não deveria existir.

Somos prisioneiros das expectativas alheias. Desde cedo aprendemos a nos moldar, encaixar, adaptar. "Aja conforme sua idade", dizem. Como se os anos pudessem limitar não apenas nossos corpos, mas também nossos corações. A sociedade desenhou uma linha invisível, mas inegavelmente presente, que separa o aceitável do impróprio. E eu, que nunca fui de transgredir regras, me vejo condenado por um tribunal que sequer conhece minha defesa.

Quando jovem, acreditava que o envelhecimento traria uma espécie de liberdade - de fazer, de falar, de ser sem tantas amarras. Que ironia perceber que, quanto mais perto da morte, mais estreito se torna o caminho do que me é permitido sentir. Para um homem da minha idade, a admiração por uma jovem é automaticamente interpretada como algo depravado, perverso, quase criminoso. Nunca a palavra "platônica" foi tão essencial e, ainda assim, tão insuficiente para desarmar julgamentos.

Tento me convencer de que são apenas protocolos sociais, criados para proteger os vulneráveis. E, nesse sentido, respeito-os profundamente. Jamais ultrapassaria a linha do silêncio, jamais transformaria meu sentimento em ação ou palavras dirigidas a ela. Mas a distância entre compreender uma regra e aceitar que ela defina a legitimidade do que sinto é quilométrica.

Por vezes me pergunto: se este mesmo sentimento florescesse no peito de um rapaz de vinte e poucos anos, seria ele considerado um romântico esperançoso? Se meus cabelos ainda fossem escuros e minha pele ainda não contasse as histórias dos anos através de suas rugas, seria eu visto apenas como um homem apaixonado?

A crueldade das normas sociais está justamente em sua seletividade. O mesmo ato, o mesmo sentimento, a mesma intenção - tudo se transmuta conforme a idade do portador. E nisso reside o paradoxo que me atormenta: sinto-me julgado não pelo conteúdo do meu caráter ou pela natureza das minhas ações, mas por estar "fora de época", como se houvesse uma data de validade para sentir, para se encantar, para ver beleza.

É curioso como essas mesmas normas que me silenciam também me protegem. Resguardo-me atrás delas para não enfrentar o que talvez seja a maior verdade: que mesmo em um mundo sem julgamentos, ela nunca olharia para mim como mais do que um senhor de idade avançada. A sociedade me oferece uma saída conveniente para a rejeição inevitável.

Então, resigno-me. Aceito meu papel de observador silencioso, de admirador à distância, de guardião de um sentimento que nunca verá a luz do dia. Transformo meu amor proibido em palavras escritas em folhas que ninguém lerá, em desabafos disfarçados de contos, em metáforas que só eu compreendo plenamente.

E a vida segue, dentro dos limites previstos para alguém da minha idade. Frequento a academia nos mesmos horários, encontro os mesmos amigos no mesmo bar, repito as mesmas histórias. Por fora sou o reflexo distorcido do que um dia fui - um homem capaz de se apaixonar sem pedir permissão ao tempo.

Talvez o maior erro da sociedade seja crer que envelhecer significa deixar de sentir com intensidade. Que os anos, ao nos concederem sabedoria, nos retiram a capacidade de nos maravilharmos, de nos encantarmos, de nos apaixonarmos. Como se, ao cruzar determinada idade, devêssemos nos contentar apenas com a nostalgia dos sentimentos passados, nunca mais com a perspectiva dos presentes ou futuros.

Não peço que compreendam ou aceitem o que sinto. Peço apenas que não neguem meu direito de sentir. Que não confundam o respeito às convenções sociais - que mantenho rigorosamente - com a ausência de uma vida emocional rica e complexa. Afinal, será mesmo transgressão apenas existir, com todas as contradições e sentimentos que isso implica? Ou a verdadeira prisão está em permitir que o olhar alheio defina não apenas o que posso fazer, mas também o que posso ser?

Enquanto não tenho respostas, sigo minha rotina.

Amanhã novamente estarei lá, observando-a de longe, guardando para mim o segredo que todos parecem já saber: que meu coração, velho e cansado como possa parecer, ainda bate no ritmo descompassado da paixão não correspondida, não realizada e, segundo os padrões do mundo, não permitida.


@sesentaemuitos



Crédito da imagem: fotografia de Rene Böhmer



quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

O peito esvaziou-se

 



Fomos tudo. Tivemos a vida na palma da mão. Aquecemo-nos nas brasas molhadas apagadas por lágrimas doces. Soubemos o que era tudo e agora não sabemos o que é nada. O peito encheu-se e agora esvaziou-se. Pronto voltará a encher-se, não sei se será de um ar tão puro como o de antes. Resta-nos apenas continuar a viagem. Inspirar e expirar até que um dia o coração decida parar para sempre.

in Microccontos



Imagem via Pinterest




quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Não gosto de cortar árvores

 


Tinha duas coisas. A primeira é que algumas arvores estavam bem perto de cair aqui em casa numa ventania forte. A outra coisa é que as duas cerejeiras ainda não deram flores este ano. São duas, e floridas de um rosa quase vermelho, lindas. Tive que chamar o Lima, que corta arvore há 46 anos. Ele tem 66, é de Ribeiro do Junqueira pertinho de Leopoldina e não usa cinto. Cinto de segurança, quero dizer. Já cortamos 3, uma na frente de casa, que ameaçava cair na rede elétrica, um guapuruvu que cresce feito eucalipto e só serve pra fazer tamanco, e uma que não serve pra nada exceto lenha e por aqui é uma praga. Faltam cinco árvores.

Não gosto de cortar árvores. Sempre falo que se tiver ninho não quero que corte. E tem os esquilos que vem de galho em galho pega bananas e abacates que a Cris deixa pra eles. O fato é que precisei cortar, e o dia todo foi aquele barulho de motosserra e de galho caindo pesado no chão. Faltam cinco, todos jacarés. Numa pausa do corte, eu estava conversando com o Lima, o que não usa cinto de segurança e se pendura numa arvore a 20 metros de altura, conversando fiado ao lado da cerejeira, uma das duas que não deram flores este ano; ainda hoje de manhã estava seca, parecendo morta. Quando vejo estava toda florida, floriu no meio das motosserras cortando as outras árvores... acho que a gente quando fica velho se emociona fácil, e então os meus olhos se encheram de lágrimas.

Fred Coutinho



Fotografia de Rachel Prado

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

A hora de ficar só

 


Enxergo-me  só  e,  talvez,  eu  precise  ficar  assim.   Encontrar-me para, quem sabe um dia, encontrar alguém.  Alguém que, em louca consciência, me aceitará por completo.

Preciso explorar a minha vida para, depois, dividi-la com alguém. Preciso planar nos conhecimentos do mundo e me perder em sonhos pouco palpáveis. Traçar horizontes e abraçar o sol do meio-dia. ]Esbarrar em mim todos os dias e refletir sobre a minha sina. Conquistar a praça e o grupo de senhores lá sentados. Subir cumes de sentimentos e montanhas em vários países distintos. Apaixonar-me por pessoas de todos os tons.

Claro que, nas inesperadas vicissitudes da vida, eu posso sentir falta de ter alguém, mas preciso aprender  domar as minhas carências cotidianas e reconhecer essa fase como necessária.. Fase que me valoriza e enaltece o meu brio para um futuro mais notável e seguro. Adoro me conhecer, me descobrir e, por consequência, descobrir o mundo. Ele, que me oferece muito mais do que trabalhos rotineiros, beijos repetidos e conversas triviais nos mesmos lugares de sempre.

Nesse meio-tempo não quero esquecer ninguém - mesmo porque não tenho problema de memória-, só quero levar lembranças empacotadas e recheadas para os meus momentos gozosos. E que eu sinta saudade, mas que também me sinta livre para criar novas saudades sempre que possível.

Não nasci para devaneios pequenos e confesso não trocar nenhuma segurança passageira pela minha satisfação de ter vivido tudo o que me é de direito viver. E, talvez, este seja o meu maior medo: terminar uma vida sem terminar de sonhar.


Frederico Elboni



terça-feira, 19 de novembro de 2024

Orgulho

 


Vivemos numa constante batalha para provar quem é o "mais forte" quando se trata de sentimentos: quem se entregar primeiro perde, essas são as regras, nenhum dos dois pode demonstrar  se importar com o outro, se mandar mensagem perde ponto, se sumir ganha ponto, se disser que gosta perde ponto. Em meio a esse duelo, deixamos subentendido que gostamos um do outro, mas nunca vamos admitir isso.

Isso é o que eu chamo de suprassumo da inteligência. Ninguém quer ferir o próprio ego, e assim criamos uma linha imaginária de submissão totalmente desnecessária. Por que me sinto submisso por falar contigo antes de você vir falar comigo? Não dá pra ser recíproco?

O veneno desse sentimento vai se esparramando, e cada pequena desavença se torna o maior motivo do mundo para não responder uma mensagem, para deixar o telefone tocar seis vezes antes de atender dizendo que estava de "bobeira" e não assumir que sentia saudade nem por um milhão de reais em barras de ouro.

Nisso você deita na sua cama, fica rente à parede gelada para amenizar o calor, coloca a perna esticada para fora do cobertor e fica ensaiando alguns diálogos que nunca serão ditos. Inquieta e encarando o celular, você decide t4entar remediar a situação, liga e fica ouvindo o telefone tocar com o coração na mão, enquanto cada toque não atendido só faz o arrependimento aumentar. Você se expõe e acaba sendo mais rejeitada do que um operador de telemarketing. E, só para manter a tradição, atrasamos mais uma vez o inevitável. Realmente somos geniais.

Às vezes o orgulho os torna idiotas, mas às vezes ele nos faz não passar por idiotas. Sei quão geniosa você pode ser e como é difícil fazer um simples e sincero pedido de desculpa, mas tudo isso necessita de equilíbrio e bom senso. Ninguém quer sair rebaixado, e saber ceder é o segredo para um relacionamento emocionalmente estável. Se o teu orgulho for maior que o teu sentimento, fica realmente difícil dar certo.


Fred Elboni







sábado, 9 de novembro de 2024

Manhãzinha silente

 


Café com pão e queijo esquentadinho na chapa, e sol da manhã na pele: pode ter aquecimento melhor depois de uma longa noite de sono? Dormi, dormi e dormi, Penso que descansei uns anos. E acordei inteiraço. Com aquela vontade de visitar primos na roça, pegar bergamota, biribá, pêssego e goiaba. Ver os primos alimentando as vacas, cheirinho bom de merda de vaca, quem não gosta?

E aspirar o ar do campo, aspirar os sons do campo, ver o pinhé gritar pinhé, aquele grito quadriculado, carijó garroso, bico semiluado. Lustroso de alaranjado. Ouvir histórias, o conversê dos porcos e galinhas, a formosura miúda dos garnisés, bichinho que parece sapato emplumado, danado de orgulhoso. Sei lá, dia que eu não puder ver garnisé, acho que a vida não acontecerá. Gosto de tudo que é bicho, mas tem uns que me enfeitiçam mais depressa. 

Por fim, além dos carinhos dos primos, lá, escondido atrás da moita, que ninguém vê, depois da curva vermelha de barranco calvo, espreita o lago, taboal de segredos. De súspito, de dentro dos esconderijos das canas emergem os marrecos selvagens, pequenos barcos chineses, soprados por ventarolas. 

Singrando a aguinha silente, desenhando caligrafias na pele fluida e licorosa de  líquens desnomeados, como o surgimento do universo. Que o mundo nasceu assim, daquele escuro-esverdeado do meio do lago, e veio vindo, veio vindo, de repente era um marrequinho bicando as asas.


José Antonio Abreu de Oliveira













terça-feira, 29 de outubro de 2024

Pequenos prazeres

 



Madalena cresceu tendo tudo entre as mãos. Andou nos melhores colégios, com os brinquedos mais caros, cavalos árabes, festas de um turbilhão de cores, empregadas para cada momento, as pérolas e as amigas de conveniência.

Agora, mulher elegante, bonita, bem cuidada e interessante, passa os dias entre o ginásio, as excursões à Avenida da Liberdade com as amigas, os palmiers da Pastelaria Restelo às cinco, os vestidos de marca, os sapatos JimmyChoo, o pecado dos croissants da Bénard nos dias de chuva.

Sente-se bem e esta vida traz-lhe um sorriso aberto a todo o instante. Apesar de às vezes lhe parecer que alguma coisa se perdeu.

No almoço de sushi na Bica, a amiga de sempre sentencia com uma gargalhada cantada: "Isto é que é viver bem.. A vida é feita destes pequenos prazeres!"

E Madalena sorri um sorriso triste, se é que isso existe.

Lembrou-se do avô. O avô que é hoje um resto do que foi, uma ínfima parte do que era.

O verão a sério só chegava com as duas semanas que passava com os avós paternos na Costa. O avô sempre cheio de força e energia, que a ensinava a fazer torres infinitas com a areia molhada, levava-a até às ondas mais rebeldes, ensinava-a a comer conquilhas* cruas que encontravam arrastando os pés na maré-vazia. Apanhavam uma dúzia, ia tudo para o balde azul e depois sentavam-se a comê-las. Sushi à antiga.. "Sabe mesmo a mar... A isto eu chamo pequenos prazeres" e ria, coisa que era rara nele. E Madalena sorria sem perceber, mas feliz por estar ali.

Tem saudades do avô, do verão na Costa, das marés-vazias. Muitas, imensas. Se calhar devia dizer-lhe isso na próxima visita. Ainda que ele nem perceba, perdido que está no espaço e no tempo, perdido de si e dos seus. Tem saudades do seu sorriso à beira-mar.

Acaba de decidir: na próxima vez leva-lhe um balde azul cheio, carregadinho de pequenos prazeres. Pode ser que o faça lembrar quem é a menina-mulher que ali está à sua frente. E talvez até sorrir.

historiasdenos.blogspot.com


*conquilhas:
designação comum, extensiva a diferentes espécies de moluscos bivalves do género Donax, da família dos Donacídeos, comestíveis e bastante comuns nas costas meridionais portuguesas, sobretudo em zonas de rebentação marítima, enterrados no areal a pouca profundidade



 

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Banquete de luz

 


Ao contrário dos outros quadros, que pareciam ter sido levados com lama e borra de café, este -  este banquete de amor - consistia na cor. Uma mesa iluminada pelo sol - sobre a qual tinham sido colocados pratos, chávenas e copos - parecia transbordar de luz. A mesa e o banquete tinham sido colocados no plano mais próximo e, de todos os lados, o fundo parecia relegado para uma espécie de escuridão visível. O olhar regressou à mesa. Nos copos havia não vinho, mas luz, e as bandejas tinham pratos de tons extremamente coloridos, como se o convidado tivesse trazido para aquele banquete um apetite, não de comida, mas do espectro inteiro da cor, iluminado por candeeiros de arcos celestiais. A comida não tinha forma. Tinha apenas cor, pastéis ardentes, clarinhos mas intensos. Uma magia de visionário fluía de uma ponta à outra da mesa, todos os pratos tendo sido transformados em abstrações de formas demasiado brilhantes, como se uma pessoa tivesse saído de um cinema e se deparado com uma radiosa tarde de verão no coração da cidade, onde todos os objetos estavam tão carregados de luz que os olhos não conseguiam processá-los. O quadro era como um flash, uma arte que cegava como uma catarata. Aquela comida disposta diante de nós era exatamente assim. Depois, reparei que a parte da frente da mesa parecia inclinada na direção do observador, como se toda aquela luz, estivesse prestes a tornar-se nossa.

Charles Baxter
In: Banquete de amor



Credito da imagem: elegante banquete, com mesa iluminada por luz de velas e vinho, gerada por IA, via Vecteezy













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