Escuto o estrondo da luz
rompendo pelo corpo acima
deflagra o poema
na carne viva
um relâmpago ao fechar dos olhos
todo o silêncio canta
como uma rosa imperecível
algodão na boca
nuvens inteiras á disposição do vento
aeronaves que sobrevoam o peito
eu piloto o espirito
transporto as matérias primordiais
à cidade que só tu podes habitar
abro a janela à intempérie
deixo entrar o naufrágio
sonho
salvo-me
do silencio completo
da fermentação das sombras
e das casas onde as lâmpadas ardem negras
em esperança inútil
é pior o terror dos lugares intermédios
onde a possibilidade subitamente desfaz
o rosto esperado
no espelho quebrado