Levo-a a ver a World Press Photo, porque acabei por não ter oportunidade de lá passar antes. Ao entrar no primeiro corredor, ganho consciencia de que afinal, não é boa ideia ela ver aquelas imagens. Na brincadeira, abraço-a, tapo-lhe os olhos e digo "Ahhh que grande desgraceira que para aqui vai. não vejas isto" e vamos andando até alguma foto em que não haja corpos estropiados...
Paramos em frente a fotos de mulheres muçulmanas, vestidas com burkas. E pelo espanto dela, percebo que a Inês não faz a minima ideia da sorte que tem em viver em Portugal. De forma sucinta, tento-lhe explicar a razão daqueles retratos e seguimos em frente.
Esta edição da WPP está a dar luta. Passamos as prostitutas de rua a assobiar para o ar, volto a mergulhá-la nas minhas mãos com as mulheres queimadas pelo ácido. Não há necessidade de ficar a conhecer todas as realidades do mundo no mesmo dia. Respiro fundo na sequência de fotografias de homosexuais e paro a observar. Não temos ninguém das nossas relações diretas, portanto assumo que, mais uma vez, é matéria desconhecida para ela:
- Sabes, filha, às vezes os senhores gostam de senhores e as senhoras namoram com senhoras...
- Sim, mãe, são lésbicas!
- Isssso.
Safou-nos a seção da natureza, onde ficou algum tempo, enquanto eu espreitei as desgraças do mundo.