Neste momento, o director do Serviço do Parque Natural da Madeira, não tem dúvidas que as Ilhas Selvagens atingiram um «patamar de excelência que deve ser mantido». Em declarações ao JM, Paulo Oliveira revelou que foram ali feitas «todas as acções prioritárias que tinham de ser feitas», adiantando, no entanto, que «o processo de conservação da Natureza é sempre um processo dinâmico, pois há sempre coisas novas a fazer, novas maneiras de ver a conservação da Natureza e sempre novos desafios». Contudo, e apesar do nível já atingido, o director confessa que tem o sonho de conseguir, um dia, «dinamizar as Selvagens até ao ponto de aumentarmos os números de visitantes que nós temos». «Sei que isto é uma coisa muito difícil de acontecer mas era aquilo que eu gostava muito de ver acontecer», admitiu. A este respeito, Paulo Oliveira explicou que «as Selvagens são muito divulgadas lá fora, por imagens, por apaixonados pelas ilhas e por pessoas que as valorizam mas que depois não têm possibilidade de lá ir. Claro que isto não compete à estrutura que gere a Reserva, pois o que nos compete é criar as condições no local para que estas visitas se tornem uma realidade», ressalvou. Por ser, «infelizmente», um local ainda muito desconhecido, tendo em causa a distância que fica da Madeira, o responsável apontou também o dedo ao factor preço. «Admito que, para além de ser um lugar difícil de se lá chegar, é também muito caro», disse, lembrando que, actualmente, já existem operadoras marítimo-turísticas que lá vão mas com preços que «só estão ao alcance de alguns». «Por exemplo, as viagens de “bird-watching” (observação de aves) que começam nas Canárias, passam pelas Selvagens, Desertas e Madeira, como também há empresas madeirenses que já começaram a realizar este tipo de viagens, são muito boas, mas, como já referi, continuam a ser muito caras e só estão ao alcance de alguns». Sobre os projectos de conservação quer para as Desertas, quer para as Selvagens, Paulo Oliveira referiu que um dos projectos basilares para a preservação dos “habitats” foi a erradicação dos coelhos e dos ratos. Esta nova etapa marcará, no seu entender, «um antes e um depois da conservação do Bugio que é, como se sabe, a zona de nidificação de uma espécie endémica que é a Freira do Bugio. Ao ser feita a erradicação dos coelhos e dos morganhos, vamos criar as condições para que essa espécie deixe de ser tão ameaçada quanto está», frisou, acrescentando que este trabalho foi iniciado há três anos e que só agora é que pôde ser anunciado. «Tivemos de fazer muita pesquisa no campo para termos a certeza que o trabalho estava concluído», justificou o director. Relativamente às Desertas, Paulo Oliveira adiantou que, de uma forma em geral, «estas ilhas já atingiram um patamar de excelência em termos de conservação. Aliás, as Desertas, ao contrário das Selvagens, já têm uma dinâmica de actividade turística muito interessante. Por ser mais perto, nós temos lá turistas todos os dias, criámos um pequeno percurso interpretativo, uma pequena sala de exposições que está a ser melhorada porque era muito “básica” e vamos colocar uns quiosques multimédia com informação um pouco mais interactiva», informou. Embora tivesse havido uma altura em que foi preciso « fechar as portas e transmitir uma mensagem que ali não se podia fazer nada e que as Reservas eram espaços intocáveis», Paulo Oliveira entende que hoje em dia isso já não é necessário porque «chegamos a um patamar de desenvolvimento sócio-económico na Região em que de facto já se pode dar o passo seguinte e que é: agora venham ver o que é vosso». Considerando as viagens marítimo-turísticas «uma mais-valia que a Região tem», o responsável adiantou que «num pacote em que as Desertas serão provavelmente a cereja no topo do bolo, isto mostra que há procura e acredito que há uma tendência disto continuar a aumentar, sobretudo se se mantiverem os níveis de retoma de turismo na Região. Acredito que vamos continuar a aumentar o número de empresas a trabalhar nesta área», considerou.
Únicas no País. As Selvagens são a única área de Portugal que tem atribuído o Diploma Europeu do Conselho da Europa para as Áreas Protegidas, que não é mais do que o certificado de qualidade mais alto que pode ser atribuído a uma área protegida pelo Conselho da Europa. Recorde-se que, em 2003 as ilhas foram seleccionadas para serem candidatas nacionais para Património Mundial da UNESCO.
250 km de distância. As Ilhas Selvagens estão situadas a 250 quilómetros a Sul da Madeira. Estão classificadas como Reserva Integral desde 1971, estando a sua gestão a cargo do Serviço do Parque Natural da Madeira desde 1989.
Breve historial. As Ilhas Selvagens foram assim baptizadas, em 1438, por Diogo Gomes de Sintra e terão sido descobertas pelos irmãos Pizzigani em 1364. No século XVI, as Selvagens pertenciam aos Caiados, importante família madeirense, sendo herdadas em 1560 por João Cabral de Noronha. Em 1904, as ilhas foram vendidas à família do banqueiro Rocha Machado. Em 1971, o Estado Português interveio e adquiriu as Ilhas Selvagens.
Vigilância contínua. De acordo com Paulo Oliveira, director do Serviço do Parque Natural da Madeira, as Desertas têm três vigilantes que ficam em períodos de 15 dias. Quando são precisos trabalhos extra, essas equipas são reforçadas. Nas Selvagens, estão dois vigilantes na Selvagem Grande, durante todo o ano, e dois na Selvagem Pequena só no período de Verão.
Mais Turismo. As Desertas são visitadas cada vez mais por turistas. Paulo Oliveira diz que «aquele que é mais informado fica muito impressionado e aprecia o trabalho que ali é feito. Valoriza esse mesmo trabalho e sai dali com uma perspectiva muito positiva». Contudo, adianta, «há sempre uma pequena franja de turistas que pensam que vão para uma instância balnear. Eu diria que 80 por cento dos turistas que vão às Desertas já vão informados e sabem ao que vão. Depois, a viagem não culmina nas Desertas, isto é, durante o trajecto Madeira-Desertas, os turistas vão vendo os golfinhos, as baleias, as aves marinhas».
Manter o trabalho. A nível da conservação da Natureza, Paulo Oliveira é da opinião de que se deve «manter o trabalho que está a ser feito, estarmos sempre atentos e a continuar a melhorar as condições que lá existem».
Perito do Conselho Europeu está a “avaliar” estado das Selvagens
Em 1992 as Selvagens foram distinguidas com o Diploma Europeu do Conselho da Europa para Áreas Protegidas, um galardão que reconhece o património natural destas ilhas, bem como o trabalho de conservação que é ali desenvolvido. Contudo, algumas das “condições” impostas por este diploma é que, para além da reavaliação anual baseada em relatórios feitos pelo Parque Natural da Madeira, Este ano, ficou incumbido dessa missão Joe Sultana, um ornitólogo de formação, que partiu na passada terça-feira para as Selvagens. No final desta visita de dois dias, o perito fará uma avaliação que será colocada posteriormente num relatório que culminará na revalidação do diploma europeu (o que deverá acontecer em Fevereiro de 2012). Em entrevista ao JM, o especialista contou que a primeira e última vez que esteve na Madeira foi em 2001, ano que veio fazer a avaliação às Selvagens no âmbito do já referido Diploma Europeu do Conselho da Europa para Áreas Protegidas. Como aproveitou para esclarecer, o diploma vem com “obrigações” e “recomendações” que devem ser seguidas pelas autoridades locais. Por exemplo, como lembrou ao JM, «uma dessas obrigações era a erradicação das espécies invasoras, como os coelhos e os ratos. E, pelo que já pude constatar através dos relatórios enviados, o Parque Natural já fez um trabalho fantástico ao erradicar essas espécies». Aliás, Joe Sultana fez questão de lembrar que o rigor dos relatórios enviados pelo Parque Natural já fizeram com que o Conselho Europeu não tivesse sentido necessidade de ter enviado, em 2006, um perito para avaliar a situação das Selvagens. «Só agora, dez anos depois, é que decidiram enviar um perito, e esse alguém sou eu», explicou o responsável que acrescentou também que, nesta visita à Região, já se encontrou com pessoas que não trabalham directamente com as autoridades mas que são especialistas nas Selvagens, de modo a que a sua avaliação seja o mais abrangente possível. Como a conservação de um espaço é um trabalho que nunca está acabado, Joe Sultana alertou ainda para o facto de ilhas como as Selvagens, serem «ilhas que acabam por ser vulneráveis», sobretudo pela «quantidade de espécies a proteger». Além disso, sugeriu, «é preciso fazer que seja garantida a monitorização desse mesmo trabalho».
Festa nas “Vespas” será ponto alto destes 40 anos
As comemorações dos 40 anos da Reserva Natural das Ilhas Selvagens terão o seu ponto final no próximo mês de Novembro com uma festa que se realizará na discoteca Vespas. Assim sendo, no dia 4 de Novembro, aquele espaço de diversão nocturna oferecerá um espectáculo que começará com a actuação da cantora lírica madeirense Carla Moniz (acompanhada pelo guitarrista Pedro Gouveia que é, curiosamente, um vigilante do Parque Natural da Madeira), seguindo-se a apresentação de um vídeo sobre a travessia do velejador olímpico João Rodrigues (realizada em Junho último entre a Madeira e as Selvagens), terminando com a projecção de imagens das exposições que foram feitas, neste âmbito, ao longo de todo o ano. Além disso, e como se trata de uma discoteca, o resto da noite será “preenchido” com as actuações dos dj's residentes. A notícia foi avançada pelo director do Serviço do Parque Natural da Madeira que aproveitou a oportunidade para lembrar que escolheu João Rodrigues para ser a “imagem” desta efeméride porque «ele personifica aquilo que de melhor existe nas Selvagens» e também porque o velejador madeirense completa este ano 40 anos de idade.
Melhoria nas comunicações e “olho” no lixo
O perito enviado à Região pelo Conselho Europeu alertou, nesta entrevista, para o cuidado que as autoridades devem ter em relação aos navios que passam naquela zona e aos desperdícios por eles deitados ao mar e ainda para o facto dos vigilantes do Parque Natural passarem muito tempo longe das suas famílias. «Três semanas numa ilha é muito tempo. Embora os vigilantes tenham boas condições de trabalho, acho que deveriam ser melhoradas as comunicações», sugeriu o perito, argumentando que «vivemos hoje em dia na era da tecnologia e não faz sentido privá-los de contactar com as suas famílias».
Visita do CE nos 40 anos da Reserva
Por coincidência, a “visita” do Conselho Europeu (CE) acontece no ano em que as Selvagens estão a comemorar 40 anos enquanto Reserva Natural. Para Joe Sultana, natural de Malta, esta será uma oportunidade de visitar «uma belíssima reserva».
Joe Sultana afirma que foi feito na Madeira um «trabalho fantástico» de recuperação
Em relação à fauna e flora madeirense, Joe Sultana elogiou o «verde da ilha», salientando que é «impressionante como, em pleno Verão, tudo está tão verde». «Já fui levado a ver a Laurissilva e as espécies endémicas da Madeira e lamentei apenas ter visto a área ardida e de ter percebido que houve espécies ameaçadas que foram afectadas directamente pelo fogo. Contudo, fiquei muito satisfeito com o trabalho que já foi ali desenvolvido pelo Parque Ecológico da Madeira e que foi a colocação de ninhos artificiais em zonas muito perigosas e difíceis. Não tenho dúvidas que eles fizeram um trabalho fantástico», afirmou o perito do Conselho Europeu. |
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