quinta-feira, 31 de julho de 2008

De rouxinol a passaroco do inferno

‘O Rouxinol e a Rosa’, de Oscar Wilde, é um conto delicioso. Lembro-me de o ter lido pela primeira vez sentada no parapeito da janela da casa onde a minha mãe e os meus tios nasceram, no coração da Serra da Estrela, com as pernas a balouçar no vazio e a serra verdejante em redor. Lembro-me de ler as últimas linhas com as lágrimas já a correr, pois se hoje sou muito maricas, na altura, ainda cheia dos romantismos e ilusões dos verdes anos, era dez vezes pior. Refinei-me. A minha sensibilidade agora é diferente. Tive a prova disso há pouco...
Apeteceu-me – misteriosos são os desígnios da falta de pachorra para análises de tesouraria– reler o conto. Fui à net...

É certo que o ambiente de leitura foi outro, que a concentração foi diferente, e que a tradução que encontrei não é das melhores e não tem nada a ver com a pungência do original em inglês, mas, seja como for, não chorei. Fiquei contemplativa, mas não chorei. Nem uma lagriminha se assomou aos meus massacrados olhinhos castanhos. E no entanto, o crescendo dramático, não se alterou. A triste ironia do final também não. Pensei...pensei...pensei....o que mudou?

Mudou a minha simpatia pelo Rouxinol. Ora vejam:

"Se queres uma rosa vermelha", disse a Roseira, "tens de criá-la com tua música ao luar, e tingi-Ia com o sangue de teu coração. Tens de cantar para mim apertando o peito contra um espinho. A noite inteira tens de cantar para mim, até que o espinho perfure teu coração e teu sangue penetre em minhas veias, e se torne meu.""A Morte é um preço alto a pagar por uma rosa vermelha", exclamou o Rouxinol, "e todos dão muito valor à Vida. É agradável, no bosque verdejante, ver o Sol em sua carruagem de ouro, e a Lua em sua carruagem de madrepérola. Doce é o perfume do pilriteiro, e as belas são as campânulas que se escondem no vale, e as urzes que florescem no morro. Porém o Amor é melhor que a Vida, e o que é o coração de um pássaro comparado com o coração de um homem?"

Quando li pela primeira vez, achei o sacrifício do Rouxinol o sublime acto de abnegação. Não se podia ser melhor do que isto. Morrer para conseguir obter uma rosa vermelha para o rapaz levar a sua prometida ao baile. O Rouxinol era um valente, que se sacrificou por um objectivo maior, que nem sequer era seu. ‘Meu Deus!’, pensei, - ‘como o Rouxinol é maravilhoso. Quando for grande quero ser nobre como este Rouxinol’. Isto num exagero lírico da adolescência, como é evidente. Mas também num triste prognóstico de dias menos bons que se avizinhariam. Dias em que já não pensava há muito. Flashbacks descompassados, que nos tomam de assalto o espírito num despropositado imprevisto.

Hoje reli o conto e achei o Rouxinol... um atrasado mental. Na verdade, apeteceu-me espancá-lo. Como se atreveu a considerar-se menos importante do que um estúpido rapaz que acabou por deitar fora a rosa de sangue, sem um pensamento para o pássaro sem vida a seus pés? Como se atreveu a privar a floresta do seu canto e alegria por tão miserável paga? Porque foste tão parvo, pobre infeliz?!

Isto deixou-me, primeiro, triste. O desperdício complica-me com os nervos. Depois, fiquei zangada, pois realizei que ainda existem demasiados rouxinóis neste mundo, a deixarem o seu trinado morrer, por um punhado de migalhas ou menos. E isso, enfureceu-me!

Rouxinol, no more! Sacrificaria o suave trinado pelo grito rouco da hárpia, e o delicado esvoaçar por um par de asas potentes com que espanejaria com fúria todas criaturas oportunistas deste mundo. Usaria as minhas garras afiadas para lhes deixar o peito indelevelmente marcado, em sinal de respeito pelos espinhos cravados no coração de todos os rouxinóis do mundo!

Oportunistas, egoistas, parasitas e demais corja mundana, passai ao largo!... E se ouvirdes um espanejar repentino, abrigai-vos. Que o passaroco do inferno (já) não faz prisioneiros!

(perdoem o desabafo, ando um bocado agastada por estes dias...)

quarta-feira, 30 de julho de 2008

A Irmandade da 'Sonsice'...



'Ainda bem que chegaste, dona! Estavamos sossegaditos e, de repente, o caixote ganhou vida e o lixo espalhou-se na tua cozinha...a sério, foi horrível! Não sabemos de todo o que aconteceu...'

Ainda bem que eu disse que eles se andavam a portar bem...reparem no ar crápula de Sasha Margarida, a fingir que esteve sempre debaixo da mesa. E no ar de reprovação de Gato Gil, a observar a cena do alto do fogão 'epá, estes gajos são sempre a mesma coisa'.

E na tampa do filtro da máquina de lavar, que fizeram o favor de voltar a arrancar. Muito bom...


Mas que grande cabra eu devo ter sido na minha vida anterior!...

terça-feira, 29 de julho de 2008

Estava tão bem aqui...

Voltei do almoço no japonês com uma moleza indescritível. Nem as toneladas de wasabi que distraídamente dissolvi no molho de soja me despertaram do torpor mental em que me encontro há uns dias. Contas feitas, por alto, há prá uns 2.190, tantos quantos os de trabalho efectivo aqui.
...E estou frustradíssima: nenhuma das minhas ‘anoréticas’ amigas quis sobremesa...Ficou-me o brownie com gelado de gengibre atravessado.
Resisti (à força, ok...) ao pecado mortal da gula, o que significa que posso indulgentemente dedicar-me ao pecado mortal da preguiça. Ao da luxúria, acreditem, é fácil resistir por estas bandas!

E, declaradamente, não me apetece fazer nenhum...
Uma rede macia (nada daqueles hammacks horríveis que nos deixam o rabo aos losangos), uma sombra, um livro e uma brisa suave. Eis a minha definição de paraíso, neste preciso momento. Bom, um escravo para me trazer um batido de manga também não calhava mal...E uma banhoca num mar turquesa...com peixinhos coloridos a mordiscarem-me os pés...e depois, assistir ao por do sol a beberricar um ‘Kir Royal’, com um nocturno de Chopin em fundo...

Mas também ficava contente se fosse só para casa.
Em suma: TIREM-ME DAQUI!!!!!!

Foto sacada daqui

segunda-feira, 28 de julho de 2008

E o primeiro já cá canta!!!


Dado que a minha bicheza se anda a portar extremamente bem, e não me tem dado material para post, vejo-me obrigada a falar de futebol.

Eu não queria, até porque tenho recebido várias ameaças à minha integridade física, mas tenho de deixar aqui a referência a mais um estrondoso triunfo do Sporting no Torneio do Guadiana.


Sei que não vou chatear os amigos benfiquistas até porque, provavelmente, o Luís Filipe Vieira também não queria mesmo este troféu... ;)

domingo, 27 de julho de 2008

Momento...


Ela desceu as escadas que ligam o El Corte Inglês ao Metro. Caminhando apressada, do alto do seu sapato fuschia, só deu pela presença dele quando o homem se pôs a seu lado.
- 'Posso fazer-lhe uma pergunta?' - disse, com voz suave.
Ela, acreditando que ele quereria um esclarecimento, parou em expectativa, estabelecendo contacto visual pela primeira vez. Não lhe desagradou. Impecavelmente vestido, de fato escuro, cabelo castanho claro, onde se adivinhavam ondas revoltas no corte não muito curto, e olhos claros.
- 'Pode...'
- 'Seria muita ousadia convidá-la para jantar comigo esta noite?'
O choque...
A incredulidade...'what the hell is this?'
A prudência...essa cabra!
- 'Seria de facto ousadia...agradeço, mas não vai ser possível'
Sorri, abanando a cabeça, e passa a cancela.
Do outro lado, o homem não desarma.
- 'Fique com o meu número de telefone, pelo menos...'
Ela volta-se, mas recusa...
- 'Fica para a próxima', diz desajeitadamente.
Vê-o afastar-se, pelo canto do olho.
Desce as escadas que conduzem até à plataforma vazia. Uma composição acabara de passar. Senta-se, resignada. Ouve passos apressados que se aproximam, mas não liga. Toda a gente caminha depressa no metro. Olha para a linha, ainda incrédula pela cena vivida. 'Isto só comigo!', pensa divertida.
Os passos estacam à sua frente. Quando dá por isso, o desconhecido está sentado a seu lado. Ela fica mais nervosa.
- 'Você é muito bonita', diz ele
- 'Obrigada', diz ela, visivelmente pouco à vontade, e absolutamente convicta de estar numa cena para apanhados, ou no meio de uma aposta de machos.
- 'Vi-a passar no ECI e tive de segui-la...'
- 'hum, hum...pois claro', balbucia, sem graça nenhuma
- 'Fique com o meu número...', insiste o homem
Ela finge irritar-se, desconfortável com os olhos verde água pousados nos seus.
- 'Costuma abordar muitas pessoas desta maneira?', lança ela, em deslavado contra-ataque.
- 'Não. É a primeira vez. Mas não podia deixar passar a oportunidade. ´Tive medo de não a voltar a ver...'
- 'Ora, esta cidade é ridiculamente pequena...', lança desdenhosa, num crescendo de confiança.
- 'Porque é que não fica com o meu número? Só lhe peço isso...'
- 'Obrigada, mas não', diz ela, teimosa
Os olhos verdes contraem-se.
- 'É comprometida?'
- 'Sou.', mente ela, com todos os dentes
- 'Ah...há muito tempo? é sério?'
Ela olha-o, com uma indignação que não sente.
-'Sim'.
-'Não há qualquer hipótese de ficar com o meu número?'
-'Não.'
A palavra de não retorno. Mas já a proferiu. O metro aproxima-se. Ela levanta-se.
Ele imita-a. Ficam de novo frente a frente.
Aqueles olhos verdes...
- 'Lamento tê-la incomodado.', diz ele
- 'Não me incomodou', diz ela, menos segura de si, quase apologética.
Caminha, sem vontade, para a carruagem de boca escancarada que aguarda os passageiros. Entra. Não se volta. Mantém os olhos fixos no chão sujo, pejado de papéis e jornais já lidos.Treme, e não sabe porquê. Quase deixa passar a estação...
Sai. Caminha devagar, a convencer-se de que o misterioso desconhecido subiu numa carruagem e a seguiu. 'Desta vez, aceito o número', pensa ela.
Sobe para a rua. Uma brisa de Maio fustiga-lhe o rosto. Aconchega o fato verde garrafa. Aperta a mala fuschia, onde acaba de guardar o passe. Aproveita para fazer uma pausa na marcha. Vira-se, certa de encontrar os olhos verdes. Mas do desconhecido, nem sinal. Ele não a seguiu...
Anos depois, ela recorda-se de tudo. Da roupa que tinha, dos brincos e do fio, do anel, do perfume que pusera nessa manhã. Recorda-se da cor do tubo de óleo que comprara no Corte Inglês. Recorda a voz. E os olhos verdes. Sorri, sempre que passa a cancela no metro do Corte Inglês. E quase ouve a pergunta que ninguém lhe fará dessa vez.
Conformou-se, mas não esquece.
Mas prefere pensar que era um doidinho, ou um infeliz apostado em conseguir mais um troféu de caça. Prefere imaginar que era um louco assassino, e que aceitar o número a teria levado a uma espiral de torturas inomináveis em que o futuro mais risonho seria acabar esquartejada, como comida para os nojentos peixes que pululam nas saídas de esgotos do Tejo.
Prefere tecer mil cenários absurdos e macabros.
A ideia de ter dado um pontapé no destino ser-lhe-ia insuportável.
Nota do autor: Esta é uma história real. Terão decerto reconhecido a incrivelmente imbecil protagonista...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sê-lo ou parecê-lo?

Foto
Dias antes de partir para a Tunísia, uma das minhas colegas da pintura - senhora bem posta e de consideráveis recursos - recomendou-me que fosse ao Souk 'deitar o olho' às imitações de carteiras de griffe, porque conseguiria arranjar uma Louis Vuitton por 50€. Sorri, agradeci, e esqueci!
Já na Tunísia, e estranhando com certeza a minha serena contemplação de turistas histéricas a arengar com os nativos para obter tão cobiçado artigo, um outro colega viajante questionou-me: 'então, não levas uma malinha?' 'Não'. 'Não????'. 'Não'. Tive de explicar-lhe porquê para ele tirar aquele ar de espanto do semblante asenino. Disse-lhe mais ou menos isto:
a) não preciso
b) sou contra as contrafacções
c) não gosto de parecer o que não sou e fazer figuras tristes com malinha Louis Vuitton e 'xanatas' da Seaside.
Isto arrumou o assunto na altura. Mas agora que uma conversa de almoço me fez pensar nisto, apetece-me acrescentar mais qualquer coisa.
Que fique bem claro que não tenho nada contra quem compra griffe fora do circuito normal. São opções e não pretendo fazer julgamentos de valor. Aliás, em tempos (muito) idos, eu também comprei alguns relógios Cartier e Hermès a preço de amigo e mais pela originalidade dos modelos, do que propriamente pelo logotipo apenso nos mesmos. Mas hoje em dia, evito. Não é por nada, só que não tem a ver comigo. E acho que não faz sentido uma pessoa ostentar um artigo que é, manifestamente, de luxo, quando não se tem sustentação para tal. Ou se tem argumentos (também designado por valente guito) para ostentar artigos de luxo, ou não faz sentido. Numa vida absolutamente banal e, fisicamente exigente, nem desculpa tenho para a ostentação . Vejo-me mal, por exemplo, num vestido DKNY branco, ensanduichada no metro. Ou a passear Sasha Margarida do alto de uns Manolo Blahnik. Ou encorajar os gatinhos a virem receber-me com turrinhas de encontro às calças do meu tailleur Prada. Não mixa, lá está.
Portanto, não gasto (montanhas de) dinheiro em marcas. Nem em contrafacções, senão a hipocrisia seria imensa. Não é que não goste de andar arranjada, ou que não seja vaidosa, mas sempre acreditei que não é a roupa que se tem, mas sim como se veste a roupa que se tem que determina a elegância. Anda por aí muita 'peruada' Chanel que não chega aos calcanhares de uma comum mortal da Zara. É uma questão de atitude também, mas sobretudo uma questão de prioridades. Há quem tenha crescido no meio do luxo e das marcas e ache normal dar 3.000€ por uma mala. Nada a opor, é a realidade dessas pessoas. Respeito e não invejo; ainda bem que o podem fazer. Há quem tenha uma sede de protagonismo, geralmente aliada a parcos recursos intelectuais, e invista na ostentação para conseguir uns jantares à borla e uns amigos coloridos com cartões de crédito dourados. É lá com elas. Há quem genuinamente goste de moda e retire real prazer de um closet cheio de roupa design . Essas aplaudo, porque pretendem agradar apenas a si mesmas, e assumem-no. E, ainda que esta sua prioridade para mim não faça grande sentido - porque tenho outras, e não porque seja a dona da verdade - respeito-a. Mas a mim, pessoalmente, um closet de griffe não me diz absolutamente nada. Não ligo nenhuma. Tenho uns padrões mínimos de qualidade, mas tirando isso, não sofro de 'etiquetofobia'. Se eu poderia comprar uma malinha Louis Vuitton ali em frente na Fashion Clinic? Claro que sim. Mas prefiro ir ao Perú para o ano...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Interlúdio para evolução cultural

Já domino a parte de receber os comentários dos postes da malta no email. Mas ouvi dizer que há forma de saber quando os meus 'habituais' têm poste novo (por favor, poupem-me os previsíveis comentários que a minha infeliz escolha de palavras poderia propiciar. Sim, Rafeiro, é contigo mesmo... ;)). Alguém me poderia fazer o obséquio de explicar como? É que me poupava o percorrer da lista...
Eu sei que deve ser extraordinariamente fácil mas, como é do conhecimento geral, o meu QI está a reduzir-se a olhos vistos por exposição permanente a níveis de imbecilidade elevada. Já me tinha acontecido quando namorei com um dos débeis mentais mas, e como esse durou só cinco meses, o estrago foi pequeno. Isto no trabalho já se arrasta há anos...temo o pior!
Qualquer dia passo de 'génio' a apenas 'acima da média'. Safa, que a decadência é uma coisa muito triste....

Interlúdio estéril

Estou aborrecida como um coelho morto há três meses...

Somebody shoot me, please!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Prazer culpado...


Boris, exploring...

A Ka desafiou-me a indicar dez coisas que faço com grande prazer mas que me deixam com um sentimento de culpa... Era mais simples se fossem coisas que me dariam extremo prazer e que me sinto culpada por não fazer, mas andaria tudo à volta de espancar pessoas cuja existência me irrita pelo que seria um pouco repetitivo. Assim sendo, deixo-vos com os meus pecadinhos inocentes...o 'dark side' fica para outro dia, sim?

1) Bloggar, enviar emails, fazer desenhos ou estar no mundo da lua durante o expediente. Não trago o ponto de cruz porque dava mais nas vistas...Sinto-me muito culpada, mas é um balão de oxigénio ao qual tenho de recorrer diariamente. Senão não se aguenta... é que aqui não se passa nada. Eu gosto de trabalhar quando vejo um propósito na coisa...tem sido difícil motivar-me por estes dias. Devia ter ido para veterinária, é o que é!


2) Viajar e deixar os bébés gordos em casa. Mata-me. Mas não posso viajar com três gatos e dois cães...e está fora de questão deixar de viajar...mas dou-lhes muitos beijinhos quando volto!

3) Comer bolachas de chocolate como se não houvesse amanhã. Sinto-me mal pelas minhas coxas e rabo...mas como eles não falam...azar! Ka, hesitei entre as bolachas e a cerveja, mas é verdade que como mais bolachas do que bebo cerveja. Ainda bem, quando não era lindo, era! Mas às vezes marcham as duas ao mesmo tempo ;)

4) Não fazer absolutamente nada. A espaços, sabe muito bem. Mas depois é uma chatice passar três máquinas de roupa em vez de só uma!

5) Assistir a uma vitória do Sporting sobre o Benfica e depois passar em frente ao café com a minha camisola verde e branca e o meu cachecol maravilhoso e saudar os benfiquistas que por ali estão com um ‘boa noite’ e um sorriso muito inocente. Não se faz...mas que me dá um gozo brutal, lá isso...

6) Escrever. Dêem-me uma caneta (permanente, ou pelo menos de ponta de feltro, que os bolígrafos irritam-me) ou um teclado e fico feliz. Mas sinto-me culpada porque escrevo demais e os inocentes que lêem um recado meu levam com três kgs de informação inútil antes de perceberem a finalidade da coisa.


7) Gozar com a minha irmã, relembrando episódios infelizes da sua infância, como quando o papagaio lhe bicou a cabeça, ou quando foi atacada por um bando de gansos em fúria. Ela e a passarada não mixam... Ela afina, e eu mato-me a rir. Mas, de facto, não se faz. É feio gozar com as pessoas... então e como é que era a canção do ‘Gato Gil’, irmãzinha? Ha ha aahah ah ha aha a

8) Isolar-me no meu cantinho e não convidar ninguém a juntar-se a mim. Não sei se me devo sentir culpada, porque é uma necessidade vital, mas acabo sempre por sentir que se calhar aquela pessoa que queria ir beber café precisava de mim ou que a chamada que não atendi era de alguém que precisava desabafar ao telefone. Epá, mas há dias em que não consigo chegar para tudo... e se eu vou abaixo, depois não posso confortar ninguém. Às vezes temos de saber dizer 'não' e ser egoistas. Custa, mas a longo prazo é melhor para todos.



9) Ouvir música alto e cantar mais alto ainda. Sinto-me culpada porque o Boris não gosta de barulho e passa-se com a gritaria do ‘Perdere L’amore’ da Lara Fabian. Deveria sentir-me culpada por poder incomodar os vizinhos, mas na verdade...não. Que caiam mortos no chão, a ver se eu me ralo. Sim, sim, gosto muito deles.



10) Responder a desafios. Acho um piadão, mas tenho tanta pena de quem tem de levar com as minhas respostas em dias de grotesco nível de debilidade mental, como têm sido os últimos... ;)

Anúncio(s) Importante(s)

Tenho vários hoje:
1) É dia de São Atrasado Mental ao volante. Com a minha sorte, os santinhos estavam todos na minha paróquia esta manhã! Que nervos!!!! Epá, amigo motard com a loura pendurada, as motas ou ultrapassam ou vão para a direita. Não estão ali de passeio no meio da estrada a obrigar-me a travar a cada 10 m. Estúpido do caraças!
2) Estou com a monumental rabuja (não, a sério?!). O ponto alto da minha manhã foi tentar marcar uma consulta médica que apanhasse o meu horário laboral. Consegui, mas só amanhã e só para o fim da tarde. E só vou sair hora e vinte mais cedo. Estúpido médico! Estou a ver outras especialidades que tenham consultas por volta das 15h, para ver se vou almoçar e não volto. Cheguei à conclusão que não suporto oito horas disto...Não dá... Enchi, pronto!
3) Este é mais sério: a minha irmã tem 2 bilhetes para vender para o Festival do Sudoeste porque afinal n pode ir. Custaram €75, para os 4 dias, mas ela faz um desconto e vende por €60. Os interessados podem chegar-se à frente, estou oficialmente nomeada dealer da coisa. Isto porque, enquanto eu estou aqui fechada, a reduzir dramaticamente o QI com a exposição constante à imbecilidade, a monstra está na praia e põe-me a trabalhar para ela.
Pronto, não tenho mais anúncios por ora...Voltarei à linha se decidir implodir o escritório. ARGHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

domingo, 20 de julho de 2008

Combatendo ferozmente a vontade de me enroscar com os gatos no sofá e passar um serão sossegado a ver um filme, decidi ir buscar D. Mummy e rumar ao Castelo de Sesimbra, para assistir a um recital de música medieval inserido nas III Jornadas Medievais. Confesso não ter dado pelas duas primeiras, seguramente por minha culpa. Devo dizer que sou muito critíca de Sesimbra, onde acho sempre que nada se passa, mas devo fazer um mea culpa, porque eu é que ando desatenta (e demasiado agarrada ao sofá) a maior parte das vezes.
Anyway...
A noite não estava convidativa. Estava fresco, com uma neblina irritante a envolver-nos no seu manto húmido (O meu cabelo amou!), e enquanto aguardávamos a actuação da animação de rua, antes do concerto, pensei diversas vezes na minha mantinha e na tablete de chocolate com arroz tufado, que planeava sacrificar nessa noite. Mas, assim que surgiram os Goliardos com as suas vestes medievais (cuja conjugação de cores um bocado infeliz, denota que alguém precisa de um estilista com urgência), fiquei mais satisfeita por estar de vestidinho de alças a rapar um frio descomunal. Os rapazes eram divertidos, e por aquilo que os meus parcos conhecimentos de percussão e gaita de foles puderam discernir, tocavam razoalvelmente. Pelo menos o ritmo era animado, e conseguiram fazer-me acompanhar o compasso a bater o pézinho, o que é sempre sinal de que estou a gostar.
Mas o melhor estava para vir. Às 22h, recebidos por uma aia e um pagem trajados a rigor, entrámos para a Igreja de Nossa Senhora da Consolação do Castelo, para assistir à actuação do agrupamento 'Mediterranea'. De origem espanhola, este grupo, composto por cinco elementos que dão vida a cerca de vinte instrumentos medievais diferentes, trouxe-nos temas das três culturas monoteístas do Mediterraneo (para info: cristã, muçulmana e judaica) e actuou cerca de hora e meia, com direito a 'encore', como numa sala de espectáculos consagrada. Já antes tinha assistido, na mesma igreja, a um recital de cravo, mas após a primeira meia hora estava francamente farta. Fosse pelo repertório monótono, fosse pela falta de entusiasmo que o moço colocava no martelar das teclas, o certo é que me aborreci de morte. Mas ontem...ontem, foi fabuloso! Acredito que há ali alguma fusão nos arranjos, pois custa-me a crer que na idade média os ritmos e a voz estivessem assim magicamente entrelaçados. A ideia que tinha da música medieval alimentava-se muito do pachorrento 'Greensleeves', que toquei vezes sem conta nas aulas de guitarra e ainda arranho quando as unhas mo permitem. Adoro o 'Greensleeves'. A duas vozes, é magnífico. No órgão, só consigo a uma voz com a mão direita, fazendo os acordes com a esquerda. Não fica tão bem. Ainda não desisti de aprender a tocar piano em condições, mas por ora, entretenho-me a dedilhar o Casio de vez em quando. Já nem sei se consigo ler uma pauta. Tenho ouvido, mas nunca dominei a arte do solfejo. Por enquanto. Mas um dia hei-de ter um Steinbeck... Me aguardem! Bom, lá estou eu a perder-me em considerações acessórias...isto vinha a propósito de qualquer coisa...hum...ah, já sei, do 'Greensleeves'. Pensava eu, que fosse um dos temas obrigatórios de um recital medieval. Pois não foi. Nem deveria, porque, correndo o risco de dizer uma alarvidade, penso que este tema é anglosaxónico. E, também não interessa nada que, para dizer a verdade, a partir do primeiro tema dos Mediterranea nunca mais pensei no Greensleeves! Foi mesmo muito bom o que eles nos trouxeram. A voz da vocalista era impressionante, mais em projecção e controlo do que propriamente em timbre, que me pareceu banal, ainda que bonito. Mas enchia a igreja de uma forma muito segura, e 'casava' muito bem com o instrumental dos colegas. A sua presença, muito graciosa, - e ela própria era muito bonita - e muito expressiva ao cantar, tornava o quadro só por si quase perfeito. Depois o ambiente dramático, com um único foco de luz quente sobre os músicos e o resto da igreja mergulhada em suava penumbra, dava um ar místico e quase irreal ao que se ia desenrolando. Gostei tanto deles que trouxe o CD, que aliás me está a impedir de avançar ao ritmo habitual neste post porque em vez de massacrar o teclado à velocidade da luz estou para aqui placidamente a acariciar cada tecla, embalada pelo ritmo lento dos aláudes e pandeiros que enchem a sala de sons de tempos já passados.
Só uma nota negativa a ensombrar a actuação: o público. Algum público. O público imbecil, basicamente. Sendo que temos de ser magnânimes para os seres boçais que não dominam a arte da convivência social e do respeito, aqui ficam umas dicas para o público imbecil se educar em matérias de espectáculos:
a) não, falar baixinho não é o mesmo que estar em silêncio!
b) sim, é deselegante abandonar a sala antes da saída dos músicos, especialmente se eles ainda estão a tocar e se a saída envolve o arrastar ruidoso de quatro cadeiras!
c) As crianças têm baixa tolerância a espectáculos que impliquem silêncio e imobilidade. A culpa não é delas, são crianças. Aquilo é muito chato para elas, e às dez da noite, a maior parte das crianças estão cheias de sono, impacientes e birrentas. Os pais deviam saber disso melhor que ninguém e, não sei, evitar expor os miudos, e consequentemente, os demais espectadores. Não tenho nada contra as crianças (só mesmo contra os pais que não lhes dão rudimentos básicos de educação) mas há coisas que deviam ser só para adultos. Se não se consegue controlar o nosso filho, ficamos em casa. Parece-me lógico. Mas, como é só uma questão de respeito básico pelo próximo, percebo que passe ao lado a muita gente. É o que temos. (Honra seja feita à excepção da noite, em que reparei: uma menina linda, que esteve muito compenetrada ao colo do pai, a ouvir. Não mais de 5 anos. Um doce. Quero uma destas quando for grande!)
Para terminar: ainda podem participar no 'Festim Medieval', na próxima sexta feira, dia 25. A Exposição de Instrumentos de Música Árabe é que foi só até ontem, sorry. Estava muito giro, by the way. A inauguração do Torreão Novo, prevista para dia 26 foi adiada, por motivos de 'força maior'. Alguém não deve ter pago qualquer coisa, presumo...
Mas, quem quiser visitar o Castelo de Sesimbra fora do âmbito dos programas temáticos, pode fazê-lo GRATUITAMENTE, todos os dias. (o bold é um protesto contra os 5€ que agora se pagam para entrar no Castelo de São Jorge! Surreal!!!) É dos meus locais favoritos por estas bandas. Está sempre pouca gente e respira-se. É dos poucos sítios onde se pode ler tranquilamente e passear os cães sem trela (cuidado com a mascote, Ice, um Husky meio passado que tem a mania de nos perseguir. Vai-se embora se o ignorarmos.). Tem uma vista fabulosa, e foi recentemente restaurado, pelo que podemos sentarmo-nos nos banquinhos e ficar por ali a comungar com a natureza e os nossos pensamentos, em paz e sossego. Há um café, mas é escandalosamente caro, como o são todas as estruturas de apoio a locais de interesse público, que é outra coisa que me irrita solenemente, sempre que a qualidade do serviço não está à altura do preço. E este é, manifestamente, o caso. Não acho nada pitoresco ser eu a levantar a mesa do cliente precedente, e a ter de levar as minhas bebidas para a esplanada. Há quem ache o conceito giro, eu não acho muita graça... chamem-me snob, se quiserem, sabendo que no entanto, se fosse preciso reconstruir uma fachada do castelo, eu era a primeira a sujar-me de argamassa, e não queria nem um tostão. Há coisas e coisas. Eu pago um serviço, sou servida. As simple as that. Eis o mau feitio em acção... !
Há também um acesso pedestre 'radical' para os mais aventureiros. O declive é...hum...interessante, mas vale a pena caminhar pela vereda empedrada e entrar pela porta secundária. Tem-se uma vista muito bonita das colinas e dos velhor moinhos que ainda subsistem. Pena é que sejam propriedade privada e não se possam visitar. Adoro moinhos...
Podem esticar até Palmela, a escassos 25 km, mais coisa menos coisa, e visitar GRATUITAMENTE o Castelo de Palmela, que é culturalmente mais interessante, porquanto possui mais vestígios arqueológicos. A vista é que não é tão gira. E não há banquinhos... eu cá gosto mais do 'meu'...
E não, nem a Camâra Municipal de Sesimbra nem o IPPAR me pagam comissão para estar a louvar o Castelo de Sesimbra e demais património ...É pena, mas não. É mesmo divulgação desinteressada de quem está a fazer horas para ir almoçar.
Bom domingo!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

'comé que é?'

Então o Luís Filipe Vieira agora vem dizer que afinal não queria ir à Champions, ainda que o FC Porto tivesse sido castigado? Diz ele que o Benfica não quer ganhar fora do campo...
Right...a gente acredita.
Aliás, qualquer pessoa que tenha assistido ao acérrimo apresentar de requerimentos à UEFA e debate presencial dos mesmos, percebeu logo que não havia qualquer intenção de 'lucro'. Claro que não. Agora só falta o Guimarães vir dizer o mesmo para o circo ficar completo.
Esta malta não tem noção...
Amigos benfiquistas, o meu abraço solidário, que com uma Direcção destas a vossa dor deve ser imensa. Força, pá!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O luar na moleirinha nunca deu grande resultado...


Fiquei a pensar numa conversa que tive hoje, e num post que li. Os dois juntos tiveram o pernicioso efeito de me por a pensar nas coisas do coração. Dá sempre mau resultado, e o facto de ter trazido o PC para a varanda, e estar a escrever enquanto a lua banha o mar de prata, e uma suave brisa me refresca, não vai ajudar...


Já aqui falei algumas vezes da paixão como elemento vital ao funcionamento em pleno do ser humano. Uma criatura que viva sem paixão é, manifestamente, uma pessoa menos feliz do que poderia ser. Parece-me lógico e indiscutível. Na altura não falava apenas da paixão amorosa, lasciva, insidiosa, que nos absorve todos os sentidos e nos leva a um estado próximo do Nirvana (dizem, não sei nada dessas coisas ;)), em que o mundo à volta não interessa nada, e probleminhas do quotidiano, que habitualmente nos levariam aos arames e nos fariam arrancar os cabelos em furiosos puxões, nos parecem coisas de somenos importância. (Por isso, amigo R, para responder à tua pergunta retórica: sim, deixar bater o coração ajuda ( e muito ) a tornar mais fáceis as coisas do dia a dia. Inspira-nos, ficamos mais criativos, mais cheios de 'ganas de viver'. Por isso, se o sentes bater, homem, deixa-o ir. É o meu conselho avisado). Nessa altura falava de outras paixões mais terrenas como o trabalho (quando se tem a sorte de fazer o que verdadeiramente se ama), um hobby, uma causa...porque são paixões mais fáceis de descrever, mais fáceis de assumir e muito mais fáceis de encontrar. A sua reciprocidade é dispensável, porquanto não lhes exigimos demonstrações. Geralmente não mudam com o vento, sem dizer água vai, e tendem a acompanhar-nos para a vida. São paixões mais práticas porque nos alimentamos delas sozinhos. Os alvos da nossa paixão não têm forçosamente de corresponder. Basta existirem para nos dar prazer. Os animais, os livros, a música, os selos, whatever!... Mas hoje, é mesmo da outra Paixão de que me apetece falar. Da que envolve reciprocidade. Ou do Amor, termo que prefiro, por ser menos louco e mais sereno e de alguma forma mais imutável e autêntico. E muito pouca gente fala disso, talvez por ter medo de tocar na 'grande ferida'. Eu, que sou emocionalmente masoquista, não tenho. Estou-me nas tintas para a ferida. Hoje, estou-me nas tintas. As feridas não desaparecem por não se tocar nelas, certo? Até podem fazer menos comichão, mas é só passar de raspão e sem querer tocar na crosta, que logo uma pontinha de sangue reaparece. Certo? Certo. Pelo menos comigo. Assumo, com naturalidade. Mas tenho vários amores. Um deles está ao meu colo, os outros deitados a meus pés, as tintas e os pinceis no estúdio, os livros na estante, a natureza à minha volta, a música está na cabeça, que a esta hora já não dá para ouvir...and so on and so on. Tudo isto me ajuda a viver o dia a dia - e bem, pois estou alegre e feliz a maior parte do tempo - enquanto espero por algo verdadeiramente extraordinário. Extraordinário à minha escala, entenda-se. Nada de fantasiosos príncipes a cavalo num puro sangue árabe, nem de Brad Pitts, lindos de morrer. Não cuspiria na sopa, entenda-se! mas o verdadeiramente extraordinário é, apenas e só, o extraordinariamente simples. A básica, descomplicada, não interrogativa e extremamente sincera simplicidade. Alcançar isso, e não termos de questionar motivações, ou se somos suficientemente giras, ou suficientemente espertas ou suficientemente whatever it takes e se quem está do outro lado é suficientemente honesto ou não. Isso seria o verdadeiramente extraordinário. Mas, e isto é para ti, A., se não existir o verdadeiramente extraordinário também está tudo bem. Se nunca vier... epá, temos pena, pois temos ( e muita) mas estamos cá a sorrir na mesma. Por mais injusto que achemos o facto da nossa relva não ser tão verde quanto poderia ou deveria ser, não vale a pena deixarmo-nos secar por dentro. Porque, afinal, nós também somos extraordinários. Mesmo a solo. Ok? Para provar isso mesmo, quando acabar de escrever estas coisitas, vou recostar-me na cadeira e gozar o momento. Porque é para isso que cá estamos. Independentemente de quem nos possa acompanhar num banho de estrelas, ou que deite duas ou três lágrimazitas connosco a ver um filme lamechento. Carpe Diem, moça. Que o dia é nosso, em primeiro lugar!

Beijos para todos quantos esperam algo de extraordinário. E, para quem já o alcançou, beijos a dobrar, por nos inspirarem para continuar a sorrir enquanto esperamos por dias melhores.

Mais um desafio...

A Carracinha propôs-me este...

1) Preferes manhã, tarde ou noite?
O crepúsculo de verão, quando regresso a casa a conduzir com os vidros abertos e a música em decibeis proibitivos...ou quando estou de férias. O fim da tarde é sempre o período de acalmia e relaxamento...
2) Uma pessoa do mundo dos famosos que gostes?
Há muitas que admiro. Para gostar só conhecendo a fundo. Admiro imenso o Al Pacino, que é um senhor actor. O Viggo Mortensen, que é um artista completo e também pinta, canta, e escreve poesia (e é lindo de morrer, claro). O Michel Platini, que idolatrava em miúda em França e que partilha da minha opinião de que o FCP devia ser castigado e não participar na Champions este ano. Amigos portistas, digo isto com todo o respeito. Não quero chatear ninguém...
Bom, e muitos outros que agora não me ocorrem...
Desenvolvi recentemente um carinho grande pelo Seal, desde que ele chorou na Oprah. Gajo que chore ao pé de mim dá-me a volta num instantinho...
3) Da tua roupa toda, qual a peça preferida?
Um vestido de verão branco, sem costas, que já está a dever anos à reforma mas que não consigo deixar de vestir...enquanto couber lá dentro, claro. Não posso é trazer para o trabalho que a população masculina não aguentava o choque.
4) Do ano 2008 qual foi a prenda que mais gostaste de receber?
Até agora a prenda que dei a mim mesma: a minha viagem à Tunísia. A outra deixo ao critério do simpático(a) leitor(a) que ma quiser oferecer. Ainda têm seis meses... e tenho uma lista, se quiserem... ;)
5) Se tiveres um filho qual é o nome que lhe vais dar?
Bom...respondamos no campo absolutamente teórico, que pelo andar da carruagem é melhor não suster a respiração. Dependeria também do acordo do pai (era simpático, certo?) mas Miguel se fosse um rapaz. Acho que é o único nome de que gosto mesmo para menino. Eventualmente David, mas ia chamá-lo à inglesa 'Deivid'. E gosto de John. Não João, John, mesmo. E Luka. Esquece lá isso em Portugal!
Para as meninas, também me limita um bocado o arcaico sistema de registo dos serviços de identificação, porquanto eu gostava de ter uma menina de cabelo preto e olho azul (preciosismo), chamada Anaïs, e obviamente que isso cá derivaria para Ana Luisa ou Ana Cristina ou outra adaptação parva qualquer (acredita, que eu e a minha irmã sofremos isso na pele até hoje). Senão, na eventualidade de procriar, e por terras lusas, gosto de Catarina e Beatriz. Mas são nomes muito normais. Gosto mais de nomes mais exóticos, mais rebuscados... geralmente, estrangeiros. E gosto da liberdade que existe nos Estados Unidos e Reino Unido e França, etc etc, de darmos o nome que entendermos, seja ele estrangeirismo ou não, e não termos de nos cingir a uma estúpida lista de nomes formalmente aceites pelos serviços centrais. ARGH! E se eu quisesse chamar Sunday Rose à minha filha, como fez a Nicole Kidman? Em que é que isso é pior do que Albina da Purificação, por exemplo?
Não se percebem certas coisas...
6) Que vestes neste momento?
(esta pergunta é um bocado estranha, não? Quem inventou o desafio teve de acabar à pressa, foi? chiça...;)) à data da resposta do desafio, ou seja, há mais ou menos uma semana, farpela de trabalho...um casual mais elaborado. Corsário de linho e blusinha pipi com acessórios discretos e os meus saltos de 10 cm. Hoje acordei rebelde e vim trabalhar de vestido, para grande contentamento de alguns. Estou de verde tília, com riscas castanhas e beiges. Ou o vestido é beige e tem riscas castanhas e verde tília. Bom, é por aí. Sapato de cunha verde seco com mala da mesma cor. Brincos verde lima e anel verde seco. Unhas pintadas de uma cor infeliz (nota mental: não beber antes de pintar as unhas). Detalhes sobre a lingerie...só sob consulta. Chega?
Pronto...prova superada! ;)

terça-feira, 15 de julho de 2008

O quinto elemento...

Não, não, não é a Mila Jojovich e a sua boquinha melosa que aí vem...

É mesmo o Yurie Manuel, o cão do Inferno que me acompanha há 14 anos (9 deles à distância, com a Graça do Senhor. Mãezinha querida, desculpa...).

A Carracinha estava particularmente curiosa por conhecê-lo e aqui está, numa pose altamente inspiradora, devidamente adereçado, no tempo em que ainda conseguíamos brincar com ele sem ficar com três dedos furados. Esses tempos acabaram, e Yurie Manuel tornou-se num cão patológico. A patologia dele é essencialmente a nível cerebral e não apresenta sinais de melhoras. O cão é louco. Não sei como melhor explicar a questão. Por outras palavras, passa-se. Quando isso acontece, inevitavelmente uma de nós vai buscar o estojo de primeiros socorros. Em situações mais graves, uma de nós conduz a outra ao hospital. Já me aconteceu a mim, à minha mãe e a mana tem-se safado porque não se mete com ele quando o caldo entorna. Rapariga esperta.
Este cão já nos manteve reféns na cozinha, por exemplo. Foi há anos... ficámos 'presas' entre ele o seu saco de compras, e não havia maneira de o acalmar. A solução, e isto é real, foi criar uma manobra de diversão: a minha irmã teve de sair do banho para fingir que estava a tocar à campainha e assim o fazer virar só o tempo de se pegar no maldito saco. Só que não resultou. E a mana, como na altura era jóve e não pensava, saiu mesmo, e fechou a porta. Ficou presa no patamar, em toalha de banho, e nós continuávamos na cozinha. Para além do chinfrim do cão a rosnar como um condenado, tinha a mana a tocar desenfreadamente à campainha com medo que alguém a apanhasse na escada naqueles preparos. Este circo durou uns 20 minutos, até que eu, a parva de serviço permanente, tive de tomar uma atitude. Peguei numa toalha de mesa, que coloquei entre mim e ele (uma protecção e peras!) e fui passando devagarinho, devagarinho, contornando o saco de compras...estava quase a conseguir, até que ele percebeu e me ferrou o pé. 11 Kgs de fúria cega a morder-me o pé repetidamente. Mas pronto, pelo menos assim a minha mãe conseguiu sacar o saco na confusão, e a coisa resolveu-se. Fui abrir a porta à mana ao pé coxinho, ainda tive de ouvir porque tinha demorado muito tempo (!), puseram-me betadine e um penso, coxeei durante uma semana, e nunca mais pousei um saco de compras perto do Yurie.
Agora está velho e ceguinho, coitado. E deve ter mais não sei quantas doenças, mas já não o posso levar ao veterinário porque se passa assim que cheira o hall do consultório. E desata a morder tudo á volta. Da última vez que lá fui, por causa da sua oclusão intestinal (provavelmente o pior serão da minha vida, tirando alguns que passei com algum dos meus 'ex's débeis mentais), estivemos quatro envolvidos no processo de lhe colocar um açaime. Não foi bonito. A vet diz que não vale a pena expo-lo aquele stress, e agora consulta-o à distância quando é preciso. Ainda assim, não conseguimos tomar uma atitude definitiva. É daquele 'amor' bizarro, que não se explica. O cão é uma praga, mas a gente gosta dele na mesma... Até se tornar demasiado penoso para ele, nós aguentamos. They call it love...

domingo, 13 de julho de 2008

Porque não te mudas para Lisboa?...

É a pergunta que me faz toda a gente com quem comento o meu périplo diário de 40km para chegar ao emprego e toda a logística subjacente.
Como já faço o trajecto desde os tempos de faculdade, ou seja, há 18 anos ( caramba, até engoli em seco...) já me parece absolutamente banal. Cansativo, mas banal. Nada de especial. E, apesar de ser obviamente mais prático morar em Lisboa, também é muito mais caro. Ainda fui ver uns apartamentos, mas fiquei traumatizada com o que me descreveram como sendo um duplex na Avenida da Igreja e que não era mais do que T1 horroroso, escuro como breu, velho, feio, com umas escadas para uma casa de banho de azulejos indescritíveis, e que nem banheira tinha. E por aquela coisa pediram-me na altura 15 mil contos. 15 mil contos por um pardeeiro, só porque ficava na Av. da Igreja. Só para informação adicional, não ficava. Era perto, mas não era lá! Uns brincalhões os senhores da imobiliária.
Além disso eu sou mocinha que precisa de espaço. E, como não era rica na altura (e continuo a não ser, lamento desapontar todos os interessados no meu hipotético dote), era (e continua a ser) manifestamente impossível comprar um mínimo de 100m2 em Lisboa. Esqueçam, não se consegue, e nem vale a pena pensar nisso! E além disso, e o que é ainda mais importante: não gosto de Lisboa. Não é que ache feia, mas não tenho afinidade nenhuma com o raio da cidade. É muita gente, muito carro, muito barulho...epá, não tenho paciência. Não gosto, pronto. Seria capaz de lá viver, mas teria de ter o meu refúgio de fim de semana no campo. Ou dava em doida. Portanto, para viver em Lisboa, teria de ter duas casas. Right...

Assim, preferi investir onde o mar encontra a serra, e os passarinhos cantam pela manhã. E, por muito pouco mais do que que me pediram pelo pardeeiro em Lisboa, tenho um T3 solarengo, com uma varanda a ceú aberto, onde acabei de inaugurar a época balnear (sim, sim, estou atrasada mas tenho pouco tempo livre e não dá para tudo), com a implantação do meu tapete de relva artificial e chapéu de sol (é favor não gozar com o meu chapéu de sol que tem a respeitável idade de 28 anos!) (sim, está a cair de podre, mas serve o propósito basilar que é fornecer sombra. Como tal, gosto muito de o ter por cá!).
E, pergunto eu, porque diabo mudaria eu para Lisboa se tenho uma varanda assim, para tomar o meu chá de jasmim ao domingo de manhã, antes de jardinar...



...onde posso estar estiraçada a contemplar isto durante o dia...


...e tomar banhos de luar e de estrelas pela noite fora?

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Uma questão de ponto de vista…

Deparei-me esta manhã com uma crónica intitulada ‘feminismo’ do respeitado psiquiatra e professor universitário, Dr. J.L.Pio Abreu, que escreve para o jornal Destak.



Diz ele: «confesso que gosto de mulheres, especialmente das que gostam dos homens. Muitas outras estão ressentidas com os homens, e com essas tenho frequentes mal entendidos. Um deles tem a ver com a defesa do feminismo contraposto ao machismo» e segue numa defesa da inutilidade das comparações entre homens e mulheres, até porque, segundo o próprio « as mulheres são biologicamente mais resistentes, mais independentes e duram mais que os homens. Se tiverem o mesmo acesso à cultura (hoje são mesmo mais cultas) facilmente os dominarão» (nota pessoal: mas isso é novidade?).

E continua: « a guerra dos sexos parece-me ridícula. Machos e fêmeas não têm de competir porque são diferentes. Ou antes, são complementares: cada sexo completa-se com o outro e precisa dele...». «Acontece porém que anda muito ressentimento à solta, e isso nada ajuda».

Ora muito bem. Nada a opor sobre a inutilidade da guerra dos sexos. Nada a opor sobre a complementaridade dos sexos e as suas diferenças, ainda que as ‘diferenças’ das mulheres ainda sejam consideradas ‘defeito’ e as dos homens ‘feitio’. E não me venham com histórias, que isto é mesmo assim. Que se defenda que o ‘ressentimento’ é mais do sector feminino, ainda passa, que eu acho, mesmo contra mim falando, que as mulheres levam as coisas mais a peito (também acho que ainda bem, mas não quero ir por aí). Agora que se parta do princípio que o ressentimento não devia existir...Porque é que uma mulher não pode ter um ressentimento contra um determinado homem, se este atentou contra a sua integridade (física, emocional, whatever)? Porque é que, tendo sofrido por causa de determinado homem, não pode, manifestar o seu desencanto, ou expressar a sua opinião sem automaticamente ser considerada uma histérica ou desequilibrada emocional a vitimizar-se?. Chateiam-me estes rótulos e estas ‘culpas’ que se põe sobre as pessoas, e parece que é sempre mais fácil colá-las sobre as mulheres. Não sei exactamente a que ‘ressentimento’ se refere o autor, mas quero acreditar que, se tem força suficiente para se fazer notar, não é gratuito. E, se se justificam os actos de um serial killer - porque, compreendam, os pais lhe batiam, coitado, ou passava muito tempo sozinho, e não se pode por isso imputar o indivíduo e os seus desequilíbrios causados pela inaptação às leis sociais – não percebo porque é que se fica chocado quando uma mulher diz que um homem é um pulha. Se calhar é mesmo. Já alguém, isentamente, pensou nisso? Também vale para mulheres. Eu também digo muitas vezes que fulana de tal é uma cabra. Porque é. Porque me fez desfeita e porque, declaradamente, é uma pessoa que eu considero ‘nociva’. Estou ressentida com ela? Não necessariamente. Mas continuo a achá-la uma cabra e pronto. E afasto-me, como o diabo da cruz, de cabras semelhantes. Sou ressabiada? Não. Se calhar sou esperta. E se calhar é isso que não dá jeito ao senhor Doutor enquanto digníssimo representante do sexo masculino. Porque se calhar dá mais jeito que se continue a achar que as ‘desfeitas’ não são defeito, são feitio, e se encolha os ombros em gracioso conformismo, sorrindo, como uma linda menina, e desculpando tudo uma e outra vez. Comigo, não! Temos pena.

E, para os leitores masculinos que possam pensar que fui vítima de hediondos crimes de honra, dos quais nunca recuperarei, e que me possam porventura achar uma histérica ressabiada a defender o género, fiquem-se com a noção de que estão redondamente enganados. Gosto imenso dos homens. Tenho grandes amigos homens, divirto-me imenso com eles, e muitas vezes de uma forma que não se consegue com as amigas (não, não tem nada a ver com isso!!!). É com os amigos homens que falo sobre a bola, é com os amigos homens que tenho conversas transcendentais sobre a mente dos homens, é com os amigos homens que mais deixo transparecer a minha muy bem camuflada fragilidade e é com os amigos homens (ou pelo menos com um, em particular( grande beijo, Zé)) que bebo dois dedos de Jameson a olhar para as estrelas e a quem solicito um abraço apertado quando as coisas estão menos bem. Portanto, que não se confundam as coisas. Gosto muito dos homens e da sua companhia. Passaria muito pior sem eles, de certeza absoluta. E como eu, a larga maioria das mulheres. Ninguém está ressentido contra os Homens, em geral. Só contra os pulhas. Que os há entre vós, meus amigos. E grandes!...

É tão simples quanto isto, senhor Professor...guarde lá as etiquetas do feminismo, se faz favor. Tem nada a ver...

terça-feira, 8 de julho de 2008

Dr. Jeckyl and Mrs. Hyde...



Sasha Margarida, no seu melhor. Sim, uma e a mesmíssima cadela, numa foto improvável que ainda hoje estou para saber como consegui apanhar. Estava escondida no baú da vergonha, mas teve de ver a luz do dia. Já irão perceber porquê...
Sasha Margarida:
Tínhamos um acordo de 'cavalheiras' quanto à publicação desta foto... não queria expor-te ao ridículo na blogosfera, mas foste longe demais, Sasha Margareth! Aceito todas as tuas tropelias com paciência, e até acho graça à maior parte das asneiras que (ainda) fazes, ó infernal monstro amarelo. Que roubes a comida dos gatinhos, ainda vá. Que pegues no cachaço do Gato Gil e o andes a esfregar pelo chão, é lá com ele. Que abras o armário e comas o pão todo da D. Micas, bom...azar o dela, que não fechou a porta como devia ser... mas comer as minhas gomas de amoras, traidora?! Achas bem? O pacote todo, e logo quando estava a começar o House!! Achas bem cuspir na sopa da que te carrega com as sacas de 15Kgs de ração light às costas escada acima, para que não te tornes num barril? Ingrata criatura... Agora toma, para que todos vejam que cachorra feia consegues ser. Mázona!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Desafio

A Clitie tinha-me deixado um desafio e só agora reparei. Como o achei engraçado, aqui fica, mas, de acordo com a minha norma internacional dos desafios, não passo a ninguém; mas quem quiser pode aproveitar a boleia e fazer o exercício.

O princípio da coisa é simples: atribuir um adjectivo (defeito ou qualidade) que nos caracterize, usando as iniciais do nome. Eu fiz batota, claro, e estou a usar o pseudónimo. Mas, como só as consoantes é que mudam, acaba por não fugir muito ao original :)
S - Sonhadora. (Ia por sedutora, mas achei melhor não abusar que quem ajoelha depois tem de rezar)
A - Apressada (já fui mais paciente. Agora nem tanto...)
F - Febril (sempre que embarco nos meus delírios)
I - Irritável (ah, pois, lamento, mas tenho pavio curto)
R - Respondona (sempre...)
A - Adorável (às vezes descuido-me e lá calha)

Ocorre-me que se a Grafonola fizer o desafio vai penar com os dois 'o's'. Ó linda, olha que valia a pena! ;)

Falta de chá(rme)

Ouvido hoje no comboio, a três bancos de distância:
Fulana: ah, e tal, porque estranhei não me vir o período. É que já há ano e dois meses. Já viste? é muito tempo. É que eu tenho o implante e acho que é normal. Mas olha, veio ontem.
Outra fulana: mas não te doeu a por o implante?
Fulana (mostrando o braço): não, não, não doeu nada. O aparelho é que me doeu quando mo enfiaram (sic!), isto não, nem se nota nada, estás a ver (mostra o braço reboludo e passa a mão por cima, orgulhosamente)...
Felizmente a minha paragem estava próxima e deixei de ter a poluição sonora no meu campo auditivo.
Há coisas que se calhar não me deviam chocar. Mas chocam-me. Chocam-me estas pessoas que se expressam para uma audiência de largas dezenas de desconhecidos sobre assuntos que só a elas dizem respeito e que, se dois palminhos de testa tivessem, guardariam para uma conversa mais intíma, em local mais apropriado. Uma coisa é ouvir falar mal do colega a ou b, criticar o treinador do benfica, debitar todas as marcas de fraldas de bébés e respectivos preços em cada hipermercado, ou dar detalhes sobre a consistência das fezes da criancinha doente; é um facto universalmente aceite que quando estamos num transporte público, e não temos mp3 (no meu caso porque não consigo não cantar e as pessoas também não têm de levar com a minha cantoria, especialmente se nem sequer me pagam), temos de gramar com as conversas dos outros. Há conversas parvas, mas que até são engraçadas. Muitas vezes dou por mim a ter de puxar o meu livro mais para cima para poder abrir o sorriso sem dar nas vistas. O pior é quando as conversas não são em surdina e são, manifestamente, inconvenientes. Detesto a vulgaridade deste tipo de diálogos. Bem como a vulgaridade de quem diz três palavrões a despropósito em cada frase, alto e bom som. Detesto a vulgaridade. Não sou pudica, mas detesto a vulgaridade. Pronto.
Também detesto as tardes televisivas da RTP1. É uma mudança radical de assunto, mas acaba por ter a ver com a falta de escolha, e o ter de gramar com o que nos dão.
Estava eu placidamente a zappar no sofá da mummy, depois de um sábado e domingo de manhã extenuantes de limpezas profundas e jardinagem , quando me deparo com o directo 'Barrigas de Amor'... A Tânia Ribas conversava com o Francisco Mendes, que explicava que era muito importante para uma mulher que o pai da criança assistisse ao parto. A sério??? Nunca teria imaginado! Percebi depois que havia um meeting de grávidas algures num parque em Oeiras. Vislumbrei depois umas quantas, com as barrigas proeminentes pintalgadas com uns arabescos que não consegui perceber, e ostentando o nome do futuro rebento. Até aí, tudo bem. Cada qual faz o que quer. A mim não me apanhavam numa destas, porque, como disse lá em cima, há coisas que são minhas. Por muito orgulho que tivesse na minha proeminente barriga, suspeito que não a exibiria assim. Suspeito. Acho lindamente que façam estas confraternizações e tudo mais, e até deve ser divertido vermo-nos no meio de tantas outras pessoas que partilham o mesmo anseio, a mesma espera, até deve ser interessante trocar experiências com absolutos estranhos... mas têm de fazer um directo sobre isso ao domingo à tarde? O que é que as gravidezes alheias interessam às pessoas que estão em casa e não estão de esperanças? Ainda é pior do que as quatro horas dedicadas à viagem da selecção. E de uma insensibilidade extrema, atrevo-me a dizer. Há temas que não se deveriam colocar em espectáculo. Há pessoas que desejariam estar no estado de graça dos participantes naquela confraternização e não podem, por diversos motivos. Como fica o humor dessas pessoas, que estão a tentar ter um bébé e não conseguem, com um directo sobre barrigas alheias? é impressão minha, ou agora é o vale tudo, e estamo-nos nas tintas se ferimos susceptibilidades dos contribuintes que até pagam as emissões? Desculpem lá, sou eu que sou chata e exigente, ou andamos a levar com lixo televisivo e inconsciência a mais? De uma estação privada, seria normal. De um canal público é, quanto a mim, inaceitável.
Obviamente, tive a escolha de não continuar a ver e exerci-a com grato prazer. Acabei, por falta de paciência e manifesta dor nos dedos, a ver outro lixo televisivo, na M6. Um casal que ganhou uma viagem no Queen Mary II e nos ia debitando as suas impressões de viagem. Pobres, como o espírito deles. Eles eram do mais boçal que se possa imaginar, completamente deslocados naquele ambiente selecto, perdidos no inglês obrigatório a bordo. Especialmente ela, cuja única ambição era ser fotografada com a sua farda de carteiro em frente ao paquete. Apesar do triste espectáculo a que aquelas pobres almas se prestaram para a M6, que também sabe explorar, e de que maneira, a fragilidade dos participantes nos programas, continuei a ver o programa pelo lado cultural da coisa. Como não tenho os 3600 euros mínimos para embarcar naquele paquete, pelo menos aproveitei para conhecer o barco, as funções dos tripulantes e as diversas actividades que lá existem, dos bailes aos leilões de obras de arte. Parco programa cultural, dirão. Não contesto; ainda assim foi melhor do que ouvir o Emanuel a cantar para uma plateia de grávidas.
(Nota mental: mãe, vou comprar-te um leitor de DVD!)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ainda sobre a Tunísia… ( Que é como quem diz: ‘vamos mesmo levar com a gaja e o seu estúpido deserto até ao final dos tempos’)

Não temam, vou escrever em parágrafos curtos. Vão ser mais ou menos dez, divididos por temas de interesse. Do meu interesse, claro. Já do vosso, não garanto. Temos pena…;) E vai haver fotos. Já estão a babar de anticipação? Suspeito que não, mas não faz mal, que eu agora vou sempre em frente, contra ventos e marés!
Cá vai:

1) O grupo: Éramos 12. Quatro casais, um pai e um filho, e duas mocitas a viajar a solo (eu incluída). Deste universo rifava dois logo à chegada, no aeroporto. Passados dois dias pagava a um berbere para me levar outros dois e atá-los a um cacto no meio do nada. No entretanto amordaçava outra, para ver se a conversa variava dos cozinhados e das 473 formas de cozinhar bacalhau. O resto, tudo bem, incluindo o marido desta última que se portou bem até ao momento em que na despedida, já em Lisboa, não encontrou nada melhor para dizer do que ‘então muito gosto e que Deus lhe dê um princípe encantado que a faça muito feliz’. Gosto sempre que me digam isto. Especialmente quando vem a propósito de…absolutamente nada! Enfim...
E como gente boa atrai gente boa, tive a sorte de ser ‘adoptada’ por um simpático casal de Viana do Castelo, castiços como poucos, e criar uma empatia imediata com a Paulinha, companheira de regateios e gargalhadas. Nunca mais nos largámos. Tivessemos um cão e seríamos os famosos Cinco, sempre juntos! Na verdade, criámos um subgrupo, sempre a fazer pandilha com o guia Amen e o motorista Ali, uns queridos.

2) A comida: Condimentada, claro. Não é para estômagos delicados. Gostei muito da variedade das saladas, alegradas por inesperadas alcaparras, e de um guisado de lentilhas, cujo nome se me varreu. Os doces também são algo inesperados para o nosso paladar habituado a cremes de ovos e merengues. Nada disso: tudo muito sóbrio e mais para o seco, com recheio de tâmaras, ou frutos secos. E uma tarte maravilhosa, com creme pasteleiro com aroma de jasmim. Delicioso! Deixo-vos uma foto do incontornável cuscuz, a que tivemos direito na noite tradicional berbere.



3) A bebida: O álcool é parco e estupidamente caro. Compreende-se, o Corão proibe o seu consumo. Mas, ainda assim, têm produção de cerveja, apesar de só existir uma marca. O vinho que provei também era fraquinho, e os sumos do pequeno almoço…xarope colorido. Blargh! Bom mesmo é o chá de menta. E o chá verde com pinhões? Uma delícia.

4) A língua: o árabe é incompreensível. Safa-nos o facto de ainda estar muito patente a influência francesa (o francês é aliás, a segunda língua oficial e de aprendizagem obrigatória), e de misturarem algumas palavras. Ainda assim aprendi algumas 'arabices', nomeadamente a palavra ‘cinco’ (o fonético é ‘ramsa’), e achei que isto me ia permitir regatear com mais facilidade…eu disse ‘aslam’ (olá) e ‘ramsa?’ para comprar um boné. E o miudo começa-me a falar em árabe. Fiquei a olhar e voltei a dizer, mas com menos convicção, ‘ramsa?’. E o puto toca de continuar…e eu sem perceber nada, claro. Tive de lhe dizer em francês ‘amigo, eu não falo árabe’. E diz-me ele: então porque é que me disseste ‘ramsa?’. Opá, porque só sei dizer isso!! E debitei-lhe a rir a minha pobre lista de palavras em árabe. O puto riu-se à brava da minha figura miserável, e lá me deu o boné pelos ‘ramsa’ dinares. Dá jeito saber aceitar com graciosidade a nossa profunda parvoice e rirmos das nossas figuras tristes.

5) A religião: é levada muito a sério. O Corão manda rezar cinco vezes por dia. Começa-se às 4:30 da manhã. Eu sei porque acordei quase todos os dias com o altifalante da mesquita mais próxima a chamar os fieis para a primeira oração. Tem o seu encanto a litania incompreensivel, quando ainda há estrelas no céu. Não sei porque força movida, o certo é que por duas ou três vezes me levantei e pespeguei à janela só a ouvir. E rezar implica também o ritual da purificação, as chamadas abluções. Perdi a conta à explicação do guia, mas o certo é que há preceito para cada zona do corpo: três vezes os braços, primeiro um e depois o outro (n me recordo da ordem), os pés, as mãos, a cara, os olhos, o cabelo…Se não houver água, pode ser com areia. Ou com pedra, que é areia cristalizada. Têm é de estar ‘puros’ e rezar num lugar limpo. São um bocado castradores estes rituais e chateia-me o facto de não permitirem que não-muçulmanos entrem nas mesquitas. A Igreja Católica nisso é mais generosa: toda a gente pode entrar numa igreja, mesmo os não crentes.

6) O ‘direito de foto’: Queres fotografar a mesquita ou o museu do Bardo? Pagas. Queres fotografar as ruinas de Cartago? Pagas. Queres tirar uma foto a pegar num falcão? Pagas. Um dinar, por tudo e por nada. Chatos, pá! Mas no final, ficamos com recordações assim:
Termas de Antonino Pio - Cartago

7) Os nativos
: mais giros do que eu estava à espera. Mas um bocado melgas. E teimosos. Todos os dias me perguntavam, nas diversas cidades, se eu tinha ascendência marroquina. (Nota mental: Tenho de ter uma conversa com a minha mãe!). Uma vez, se eu era polaca (é que tá-se mesmo a ver pelo meu tom alvissimo, cabelo louro e olhos azuis!!!). Outra vez, onde é que eu tinha tatuado os olhos. «Não tenho os olhos tatuados, amigo». Tens, tens. «Não tenho, não». Hum…tens…«Não, pá, é um lápis, vês. Da Avon, dos baratinhos» Ah…mas tens ascendência marroquina, não tens? ARGH!!!!
E atiradiços! Recebi uma ou duas propostas de casamento, uma oferta de 15 dias no deserto, no dorso de um camelo e a dormir numa tenda, de borla.. (De borla, isto é, sem envolver trocas monetárias, mas achei prudente não avançar mais na conversa. Mas o tipo espera-me em Outubro. Espero que sentado…:), mais um convite do meu cavaleiro berbere, com quem galopei nas dunas, no dorso de um belo alazão, para jantar o cuscuz berbere à luz das estrelas e last but not least, uma sessão de massagens anti stress no spa do acampamento no deserto. Este tive pena - apesar de ele também me perguntar se eu era marroquina, o que convenhamos, me começou a irritar depois das primeiras 20 vezes - que o homem tinha os olhos castanhos mais bonitos que já vi. Deixei a tenda aberta e tudo*, mas o imbecil não apareceu…
(* não consegui atar aquilo do lado de dentro…a malta não está acostumada a acampar… E é preciso um curso para dominar a arte das cordas!…)

8) A bicheza: ‘Espectáculo com escorpiões e cobras’, apregoava o programa. E foi. O verdadeiro espectáculo. Um escorpião em estado comatoso e uma cobrinha de nada. Era isto o 'espectáculo'. Nem tirei foto, de tão miserável display…Ao invés disso, no dia a seguir fui a um oásis e pimba, peguei nesta belezura de lagarto do deserto:
E depois, vi o dono deste falcão e dei-lhe o dinar da praxe para tirar mais esta foto:

E com o meu ‘charme marroquino’ ainda conquistei um jovem nativo que me ajudou a empoleirar-me numa viga do tecto para fotografar este ninho de falcão, e respectivos ovos (ah, pois é!!! A malta não brinca em serviço!)


E depois, claro, os incontornáveis dromedários. Pobres bichos. Tenho pena deles, apesar de ter consciência da minha hipocrisia igual à de todo o turista histérico que os obriga a carregar hordas de pessoas do nascer ao por do sol. E por muito que eu ache que para mim é diferente porque eu ADORO a bicheza, no final no dia, fui apenas e só mais 50kgs e poucos kgs em cima do desgraçado. Apanhei este assim, esgotado e abatido, no fim de um dia de trabalho…

9) A paisagem: Deixo-vos apreciar, sem demais comentários...

Ksar Ghilane - Portas do Sahara

Sidi Bou Said - vista sobre a Baia de Tunis


Parque Arqueológico de Sbeitla - Kessarine


Port El Kantaoui - perto de Sousse

10) As impressões finais: De bom: ficam-me as recordações, os amigos que fiz, a paz e a comunhão com a natureza agreste. De mau, apenas a frustração de não ter visto um escorpião ao vivo e a cores e de a minha foto a cavalo com o berbere ter ficado tremida. Não se pode contar com homens para nada. Digam-me lá qual é a dificuldade de tirar uma foto a um cavalo ainda parado? ARGH!

Ainda assim, balanço positivíssimo. Aconselho vivamente a experiência dos mil cambiantes tunisianos!

'Shokram' (obrigada) a todos os resistentes que leram até ao fim!