NOSSO DE CADA
No trigo do meu avô
estive na floresta do pão
se o fogo vier agora
morrerei como um ratinho.
Na rua do forno da terra
um homem esperava na cama
vai morrer já morreu
o tio Zé Benigno
minha mãe que é de fora
aos lenços perguntou
e já lhe deram uma sopa?
o forno não arrefece
e o homem viveu mais dez anos.
Na seara da colina
o espantalho de centeio
assustava as negras gralhas
vestirá as calças do meu tio
o que matou o cigano
que o ataca com a navalha.
O pão é o rei dos alimentos.
Mas em Chelas o meu homem
do talho atirou migalhas
de hambúrguer aos pardais
ainda hoje se espanta
o que eles gostam de carne.
AA. VV., Este é o meu corpo, Tea For One, Lisboa, 2013.
Há 6 horas