Que 2012 traga Pão, Saúde e que se respeitem as Liberdades individuais. O resto também interessa, mas não é essencial. Bom 2012….
sábado, 31 de dezembro de 2011
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
O Parque Automóvel
Jeremias andava com um carro de 10 anos que se puxasse muito por ele começava a fazer barulhos esquisitos. No entanto, na presente quadra o Pai Natal tinha sido amigo. Jeremias, viu-se de repente rodeado das mais potentes bombas, inclusive um Ferrari topo de gama.
Das mais variadas marcas e cores, Jeremias possuía agora um parque automóvel de fazer inveja a muitos Ministérios….
Das mais variadas marcas e cores, Jeremias possuía agora um parque automóvel de fazer inveja a muitos Ministérios….
Dreams – The Cranberries
Grande Música este "Dreams" de 93 pela voz inconfundível de Dolores O'Riordan dos irlandeses Cranberries. Um ano depois Faye Wong grava uma não menos extraordinária versão chinesa do tema, que integrava então a banda sonora de Chungking Express, filme de culto dos anos 90 realizado por Wong Kar-Wai. Ficam as duas versões, qual delas a melhor?…
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
O Ano FMI
Apesar do sol continuar a brilhar para alguns (para cada vez menos), Troika deve ter sido das palavras mais escritas em Portugal no último ano. Esta foto sacada na Net funciona na perfeição como síntese de 2011, neste país à beira-mar plantado...
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
O Bigodes
A Passos Coelho fugiu a boca para a verdade, como se costuma dizer em bom português. Devo dizer que não me chocam grandemente as palavras do nosso Primeiro. Não devemos acusar os Políticos por serem hipócritas e pelo seu contrário. Concordo que é uma bela argumentação para ser utilizada em privado, mas que é matéria algo sensível para ser ouvida pela boca do responsável máximo pelo estaminé. Seria uma grande tirada para animar um jantar de amigos nesta quadra natalícia. Mas Passos Coelho mediu bem o que disse e sabia ao que ia. A cartilha liberal paulatinamente vai seguindo o seu rumo e ele continua em estado de graça porque tem gerido bem as suas declarações ao longo destes meses. Tem esse mérito e, quanto a mim, não tem sido tão mau Primeiro-Ministro como eu supunha inicialmente. Obviamente que as minhas expectativas eram abaixo de cão. Agora, apesar de algumas escolhas felizes para pastas-chave, está rodeado de cretinos que mais tarde ou mais cedo vão emergir à superfície. E nesta história dos professores há um dado incontornável: cada vez há menos jovens em idade escolar e cada vez há mais professores saídos das faculdades disto e daquilo, e essa realidade nenhum sindicalista de bigode pode contrapor com argumentos da idade da pedra. Eu que sou de uma Esquerda Indeterminada penso que a Esquerda de Combate precisa de novas ideias e de novos rostos. Com ou sem bigode....
Poema de Natal
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Inside Job - As Origens da Crise
Na senda do serviço público que caracteriza este blogue deixo um filme, infelizmente cada vez mais actual, do qual já falei aqui. Agora em versão integral com legendas em espanhol…
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
O Dilema
Portugal vive tempos de completo desnorte. A ficção reina. Num país que vive à beira do precipício sem qualquer fundo de tesouraria que permita aliviar as depuradas contas públicas e, por conseguinte, as carteiras dos contribuintes, perdeu-se imenso tempo a discutir o que se deveria fazer com um famigerado excedente que resulta dos fundos de pensões da banca que o estado vai receber ainda este ano. Aliás, é engraçado como um negócio ruinoso no médio/longo prazo para os cofres do estado dá azo a tanta fantasia. Eu diria que basta esperar pelo surgimento de novo buraco orçamental, o que, atendendo ao nosso histórico recente, não tardará a acontecer. Haverá sempre um BPN num qualquer Jardim do Atlântico para ajudar a resolver o Dilema…
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Filosofia de Mercearia
A inconsciência é o ópio dos audazes. A audácia é o refúgio dos inseguros. E a insegurança é a origem da determinação…
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
A Selva
Jeremias sabia que habitava uma selva onde os animais, devido à escassez de alimento, eram cada vez mais ferozes. Os princípios éticos, qualquer que seja a circunstância, andavam pelas ruas da amargura.
Jeremias, se fosse possível, qual Woody Allen da Bobadela, emigraria para o princípio do século XX. Jeremias era da opinião que ao Euro devia suceder o Cruzado e que Merkel como Rainha do Império devia usar aqueles vestidos faustosos. O problema é que chegando lá, Jeremias não poderia postar o que lhe viesse à cabeça, ver o cinema que o arrebata, presentear-se com os comodismos que devassam a contemporaneidade. O melhor que Jeremias tinha a fazer era adaptar-se ao reino animal e escudar-se com armas e armaduras porque a vida na Selva não é pra meninos….
Jeremias, se fosse possível, qual Woody Allen da Bobadela, emigraria para o princípio do século XX. Jeremias era da opinião que ao Euro devia suceder o Cruzado e que Merkel como Rainha do Império devia usar aqueles vestidos faustosos. O problema é que chegando lá, Jeremias não poderia postar o que lhe viesse à cabeça, ver o cinema que o arrebata, presentear-se com os comodismos que devassam a contemporaneidade. O melhor que Jeremias tinha a fazer era adaptar-se ao reino animal e escudar-se com armas e armaduras porque a vida na Selva não é pra meninos….
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
O Excedente
Passos Coelho descobriu debaixo do tapete um excedente de dois mil milhões para injectar na economia. Estamos a entrar numa quadra marcada pela fantasia e o nosso Primeiro gosta de brincar com os palhaços que vão no comboio ao circo. A leviandade neste governo vai subindo de tom e antevejo grandes concretizações em 2012 a esse nível. Portugal tem um grupo complicado. O Sorteio foi azarento. Mas temos jogadores de qualidade que nos podem trazer o caneco de campeões da europa da Demagogia….
POST-CARD (Os velhos, os pombos, os gatos)
Alguns habitantes queixam-se dos pombos. Do mal
que fazem às fachadas, às estátuas, à pintura
dos automóveis. Os pombos não voam a gasolina
e têm humaníssimos hábitos como a gula, as
rivalidades do cio, a sede e a urgência
de defecar. Detestam coleiras, gaiolas, amparos
de casota, ausência de jardins
e adornos de penas alheias. E por este divino
despojamento recebem, às vezes,
algum milho displicente dádiva
de crianças para a fotografia, ou de benígnos
velhos reformados. Algumas mulheres continuam
a socorrer os antiquíssimos (e terrestres) gatos
vadios. Gatos da minha infância. Dos muros,
das traseiras, dos quintais - o Sindbad, o Pardoca - com
restos de arroz em papéis engordurados. Carinhosas
velhas, atentas à famélica e materna condição
das ninhadas, enquanto os pombos e os velhos
debicam espaços de pedra onde levavam asas
e entre todos assoma, por instantes,
a decaída aliança entre o Céu e a Terra.
Inês Lourenço
que fazem às fachadas, às estátuas, à pintura
dos automóveis. Os pombos não voam a gasolina
e têm humaníssimos hábitos como a gula, as
rivalidades do cio, a sede e a urgência
de defecar. Detestam coleiras, gaiolas, amparos
de casota, ausência de jardins
e adornos de penas alheias. E por este divino
despojamento recebem, às vezes,
algum milho displicente dádiva
de crianças para a fotografia, ou de benígnos
velhos reformados. Algumas mulheres continuam
a socorrer os antiquíssimos (e terrestres) gatos
vadios. Gatos da minha infância. Dos muros,
das traseiras, dos quintais - o Sindbad, o Pardoca - com
restos de arroz em papéis engordurados. Carinhosas
velhas, atentas à famélica e materna condição
das ninhadas, enquanto os pombos e os velhos
debicam espaços de pedra onde levavam asas
e entre todos assoma, por instantes,
a decaída aliança entre o Céu e a Terra.
Inês Lourenço
sábado, 3 de dezembro de 2011
Ai "Jasus"
Pedro Martins, técnico do Marítimo, ontem ao despedir-se de Jorge Jesus no fim do jogo do Funchal: Obrigado pela taça e até Domingo para o Campeonato...
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Habemus Papam
No seu registo habitual, o Grande Nanni Moretti apresenta-nos uma comédia dramática centrada no interessante ritual inerente à eleição de um qualquer Papa. Ritual esse, que é a única coisa minimamente estimulante que a igreja católica tem para oferecer nos dias que correm.
Moretti continua em grande forma e inclusive já consegue fazer filmes com orçamentos consideráveis. Para filmar este Habemus Papam, por exemplo, criou uma réplica em tamanho real da capela sistina.
O Argumento guia-nos pela habitual clausura que os cardeais de todo o mundo cumprem, depois da morte do Papa, no sentido de eleger o seu sucessor. Enquanto isso, na Praça de São Pedro, milhares de fiéis aguardam ansiosamente a primeira aparição do novo Sumo Pontífice. Contudo, o Papa eleito (Michel Piccoli) esmagado com o peso da responsabilidade entra numa espécie de pânico, recusando-se a aparecer em público. Os seus conselheiros decidem chamar um dos mais reconhecidos psicanalista do país (Moretti, claro está) para o ajudar a ultrapassar a crise que pode muito bem passar por um recorrente défice paternal.
Em algumas cenas nota-se uma certa euforia no actor Moretti, certamente enfeitiçado com o facto de estar a afrontar a Santa Madre Igreja. No fim apesar de contrariar a vontade de Deus, fico com a sensação que Moretti podia ter trabalhado de forma diferente o epílogo face ao ritmo burlesco entretanto criado. Por exemplo, os cardeais para passar o tempo jogam empolgantes partidas de Voleibol…
Moretti continua em grande forma e inclusive já consegue fazer filmes com orçamentos consideráveis. Para filmar este Habemus Papam, por exemplo, criou uma réplica em tamanho real da capela sistina.
O Argumento guia-nos pela habitual clausura que os cardeais de todo o mundo cumprem, depois da morte do Papa, no sentido de eleger o seu sucessor. Enquanto isso, na Praça de São Pedro, milhares de fiéis aguardam ansiosamente a primeira aparição do novo Sumo Pontífice. Contudo, o Papa eleito (Michel Piccoli) esmagado com o peso da responsabilidade entra numa espécie de pânico, recusando-se a aparecer em público. Os seus conselheiros decidem chamar um dos mais reconhecidos psicanalista do país (Moretti, claro está) para o ajudar a ultrapassar a crise que pode muito bem passar por um recorrente défice paternal.
Em algumas cenas nota-se uma certa euforia no actor Moretti, certamente enfeitiçado com o facto de estar a afrontar a Santa Madre Igreja. No fim apesar de contrariar a vontade de Deus, fico com a sensação que Moretti podia ter trabalhado de forma diferente o epílogo face ao ritmo burlesco entretanto criado. Por exemplo, os cardeais para passar o tempo jogam empolgantes partidas de Voleibol…
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
O Contágio
Até a Alemanha começa a ser pressionada pelos mercados. Ao menos o raio da velha também há de ir ao fundo, pensam muitos. Por seu turno, a Espanha virou à direita numa tentativa de fugir ao inevitável.
Em Portugal discutem-se migalhas nos subsídios dos funcionários públicos com o objectivo único de ficar bem na fotografia final do Orçamento. Seguro politicamente não passa de um interlúdio pastoral. Otelo está senil e Soares tenta usar o que resta da sua legítima e merecida margem de influência democrática para tentar suavizar os danos. A Europa que Mário Soares ajudou a criar está decrépita e sem rumo. Ninguém o ouve porque, além de não apresentar alternativas válidas, é personagem que já não pertence a este filme…
sábado, 26 de novembro de 2011
O Derby do Povo
Hoje é dia de Benfica-Sporting. Hoje é dia do Derby dos Derbys. De há uns anos para cá, com a explosão futebolística do Porto, os duelos entre portistas e benfiquistas talvez se tenham tornado mais intensos. Mas o verdadeiro derby do futebol português, o que exacerba mais as emoções dos adeptos, nunca deixou de ser este. Clubes que vivem separados por apenas umas centenas de metros, partilham umas das mais belas cidades do mundo. De um lado vermelhos de ardor, do outro lado verdes de esperança. Hoje é dia de emoção, picardias várias e cafés a abarrotar com gritos efusivos por tudo o mundo português. Hoje é dia de casos de arbitragem e espectáculo garantido. Hoje não se fala de outra coisa. No fim, qualquer que seja o resultado, continuarão as rivalidades, as discussões e as provocações entre colegas, amigos e vizinhos. Hoje é dia de Paixão em Portugal. A Crise que se lixe. Os mercados que se danem. Hoje é dia do ópio do povo. Hoje é dia de Derby…
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
O Desconforto
Jeremias sempre sentiu admiração por quem chama as coisas pelos nomes. Talvez fosse uma questão de identificação pessoal. Inúmeras vezes se sentiu prejudicado por essa idiossincrasia que gostava de alimentar. Mas estranhamente, talvez porque vivia numa sociedade de pacotilha, havia verdades que lhe provocavam um inesperado desconforto...
terça-feira, 22 de novembro de 2011
A Banca
O capitalismo selvagem dos tempos modernos mergulhou a sociedade num ciclo vicioso que demorará anos a ser invertido. Portugal endividou-se à custa das campanhas dos principais bancos que ofereciam dinheiro a quem lhes entrasse pela porta, muitas vezes nem era preciso tanto, bastava um telefonema. Obviamente que os banqueiros enriqueceram imenso à conta disso e sobredimensionaram as instituições que lideram a um volume de negócios que não era sustentável a longo-prazo. Ao mesmo tempo, financiavam as famosas parcerias público-privadas, ficando credores em muitos milhões do próprio Estado. Com o sistema em declínio como resultado da deterioração dos tais “mercados” que os Banqueiros idolatravam, e com o avolumar da pressão internacional para que os rácios financeiros do sistema bancário apresentem valores razoáveis de solvabilidade, a Banca portuguesa está entre a espada e a parede. Convém também salientar que os principais bancos empregam milhares e milhares de pessoas para os quais pura e simplesmente vai deixar de haver trabalho. É impossível fugir a esta realidade, porque o crescimento dos bancos foi sendo construído debaixo de alicerces frágeis, frágeis como uma bola de neve. Semearam a ilusão de uma vida de sonho aos clientes e agora pagam o preço. O facilitismo acaba sempre mal.
A tendência, a começar pelo fundo de pensões dos bancários, é os recursos humanos da banca passarem gradualmente para a esfera pública, o que torna todo este jogo de interesses ainda mais surreal para o bolso do contribuinte.
Recapitalizar a banca sem contrapartidas, resolveria alguns problemas da Economia a curto-prazo, mas provavelmente o problema de fundo manter-se-ia e até se agravaria. Convém também esclarecer que nem todos os banqueiros são iguais a Oliveira e Costa e nem todos os bancos são o BPN. Existe ainda algum fundo de responsabilidade em alguns dos poderosos. Aliás em França e nos Estados Unidos alguns dos milionários até acham que devem pagar mais impostos.
Resumindo, os banqueiros beneficiaram de uma pervertida supervisão por parte do Estado para crescerem e multiplicarem dividendos. Em contrapartida, financiavam investimentos públicos que permitiram algumas realizações ao País. Com a explosão da crise, nem o Estado tem condições para amortizar os avultados financiamentos que a banca lhe concedeu, nem os bancos têm margem para libertar capital para revitalizar a economia.
O Mundo muda cada vez mais depressa...
A tendência, a começar pelo fundo de pensões dos bancários, é os recursos humanos da banca passarem gradualmente para a esfera pública, o que torna todo este jogo de interesses ainda mais surreal para o bolso do contribuinte.
Recapitalizar a banca sem contrapartidas, resolveria alguns problemas da Economia a curto-prazo, mas provavelmente o problema de fundo manter-se-ia e até se agravaria. Convém também esclarecer que nem todos os banqueiros são iguais a Oliveira e Costa e nem todos os bancos são o BPN. Existe ainda algum fundo de responsabilidade em alguns dos poderosos. Aliás em França e nos Estados Unidos alguns dos milionários até acham que devem pagar mais impostos.
Resumindo, os banqueiros beneficiaram de uma pervertida supervisão por parte do Estado para crescerem e multiplicarem dividendos. Em contrapartida, financiavam investimentos públicos que permitiram algumas realizações ao País. Com a explosão da crise, nem o Estado tem condições para amortizar os avultados financiamentos que a banca lhe concedeu, nem os bancos têm margem para libertar capital para revitalizar a economia.
O Mundo muda cada vez mais depressa...
Lisboa, Calçada de S. Francisco
Subindo pelas cinco horas a Calçada de S. Francisco,
em tarde de bruma e versos na Calçada de S. Francisco,
partindo do que não sei na Calçada de S. Francisco,
e sabendo onde não chego na Calçada de S. Francisco,
subindo na tarde deserta a Calçada de S. Francisco,
só eléctricos e pombas na Calçada de S. Francisco,
estranhando o que não estranho na Calçada de S. Francisco,
e pensando no que não penso na Calçada de S. Francisco,
subindo pelas cinco horas a Calçada de S. Francisco,
subindo e ninguém descendo a Calçada de S. Francisco,
sem eventos para as metáforas na Calçada de S. Francisco,
tiro do bolso a própria tarde.
Na Calçada de S. Francisco,
onde a realidade mudou e já nada acontece,
e já não é a Calçada de S. Francisco mas a Rua Ivens
ou outra rua do Chiado sem meditação ou moralidade.
Pedro Mexia
em tarde de bruma e versos na Calçada de S. Francisco,
partindo do que não sei na Calçada de S. Francisco,
e sabendo onde não chego na Calçada de S. Francisco,
subindo na tarde deserta a Calçada de S. Francisco,
só eléctricos e pombas na Calçada de S. Francisco,
estranhando o que não estranho na Calçada de S. Francisco,
e pensando no que não penso na Calçada de S. Francisco,
subindo pelas cinco horas a Calçada de S. Francisco,
subindo e ninguém descendo a Calçada de S. Francisco,
sem eventos para as metáforas na Calçada de S. Francisco,
tiro do bolso a própria tarde.
Na Calçada de S. Francisco,
onde a realidade mudou e já nada acontece,
e já não é a Calçada de S. Francisco mas a Rua Ivens
ou outra rua do Chiado sem meditação ou moralidade.
Pedro Mexia
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
O Lima
Duarte Lima foi detido por estar associado às negociatas do BPN que nos continuam a custar os olhos da cara. Depois de Oliveira e Costa e Dias Loureiro, a entourage do professor Cavaco continua a dar cartas no Europeu da trafulhice…
O Infante
Francisco José Viegas demitiu Diogo Infante da Direcção artística do D. Maria II. Pode-se discordar profundamente das prioridades políticas estabelecidas pelo Governo, e eu discordo, como já escrevi aqui mais que uma vez, mas não posso deixar de salientar pela positiva a prontidão da resposta do Secretário de Estado. Sem hipocrisias pelo meio, e perante uma figura a todos os níveis consensual como é Diogo Infante, Francisco José Viegas fez o que um Governante responsável tem que fazer…
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
War In Peace - Wim Wenders
Na continuação da apresentação das curtas que integraram “cada um o seu cinema”, filme comemorativo dos 60 anos do festival de Cannes, deixo a participação do dinossauro Wim Wenders através de uma apaixonada e desconcertante visão da vida em Kabalo, cidade situada na republica democrática do Congo, depois de terminada uma guerra que causou 5 milhões de mortes…
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
O Assador
Portugal joga amanhã com a Bósnia partida decisiva no apuramento para o próximo Europeu. O empate a zero em terras bósnias não é bom, como muita da imprensa insinua, nem é mau. Deixa tudo em aberto para decidir amanhã na luz contra uma equipa que também tem os seus trunfos, num jogo onde certamente haverá golos para ambos os lados.
Cristiano Ronaldo é um extraordinário futebolista, um grandíssimo profissional, um jogador do mais completo que vi jogar e que tem o azar de ser contemporâneo de Messi. Mas as suas intervenções deviam ficar única e exclusivamente restritas ao relvado porque já demonstrou várias vezes que tem dificuldades em lidar com situações de extrema pressão. É humano, é verdade, mas não pactuo com uma certa condescendência que existe face aos seus actos e palavras. Aliás, Gilberto Madaíl levou a selecção a patamares talvez impensáveis há décadas atrás, mas aquela postura tão pacóvia de actuar sempre de acordo com as conveniências do momento, fazem da sua despedida uma extraordinária notícia para o futebol português. A actual Federação Portuguesa de Futebol é desde há muito o reflexo do pior que existe na Sociedade Portuguesa.
Paulo Bento, um homem que me levou quase ao desespero em Alvalade, tem algumas boas características de liderança e de carácter. Ao nível táctico, continua limitado, mas tem de facto um discurso motivador para as tropas. Os afastamentos de Bosingwa e Ricardo Carvalho, em casos em que todos têm parte da razão e em que faltou bom senso e flexibilidade na gestão, provam que o facto de ser boa pessoa, um tipo integro, com coluna vertebral como manifestamente é, pode não resultar necessariamente num bom treinador de futebol. Tem a carne no assador, muito por culpa própria…
Cristiano Ronaldo é um extraordinário futebolista, um grandíssimo profissional, um jogador do mais completo que vi jogar e que tem o azar de ser contemporâneo de Messi. Mas as suas intervenções deviam ficar única e exclusivamente restritas ao relvado porque já demonstrou várias vezes que tem dificuldades em lidar com situações de extrema pressão. É humano, é verdade, mas não pactuo com uma certa condescendência que existe face aos seus actos e palavras. Aliás, Gilberto Madaíl levou a selecção a patamares talvez impensáveis há décadas atrás, mas aquela postura tão pacóvia de actuar sempre de acordo com as conveniências do momento, fazem da sua despedida uma extraordinária notícia para o futebol português. A actual Federação Portuguesa de Futebol é desde há muito o reflexo do pior que existe na Sociedade Portuguesa.
Paulo Bento, um homem que me levou quase ao desespero em Alvalade, tem algumas boas características de liderança e de carácter. Ao nível táctico, continua limitado, mas tem de facto um discurso motivador para as tropas. Os afastamentos de Bosingwa e Ricardo Carvalho, em casos em que todos têm parte da razão e em que faltou bom senso e flexibilidade na gestão, provam que o facto de ser boa pessoa, um tipo integro, com coluna vertebral como manifestamente é, pode não resultar necessariamente num bom treinador de futebol. Tem a carne no assador, muito por culpa própria…
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
O Lego
Jeremias comparava o declínio do estilo de vida ocidental com o desmoronar de um lego nas mãos de uma fascinada criança. Nação a Nação, peça a peça. Com uma pequeníssima diferença: até ver, a felicidade das crianças ainda não paga juros...
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
As Diferenças
Depois da renúncia de Papandreou na Grécia, segue-se a de Berlusconi em Itália. É uma boa notícia para a Humanidade mas má para a Europa porque significa que os mercados começam também a castigar os países mais poderosos, o que dificultará a recuperação global. Obviamente que a crise em Itália nunca assumirá as proporções da Portuguesa. Apesar de no carácter portugueses e italianos não serem tão diferentes quanto isso, em termos económicos as realidades são muitíssimo distintas. Itália possui uma Indústria visível e vigorosa bem como uma administração pública, no geral, eficaz. Para perceber isso, basta comparar a celeridade de decisão dos tribunais de ambos os países. Isaltino, Vara e outros que tais, escolheram muito bem o país onde viver…
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
A Décima Jornada
Ontem houve estrelinha de campeão em Alvalade e isso pode ser muito bom sinal. O resultado justo talvez fosse o empate neste encontro com a União de Leiria. Aliás, a interrupção para os jogos da selecção vem na melhor altura para recuperar a espinha dorsal da defesa. A estrela de Domingos que se mantenha por muito tempo. A entrada do puto Tiago Ilori a central foi uma decisão medonha. Jogamos com 10 a maior parte do tempo. É uma posição demasiado crucial para tão grande risco. Face às inúmeras indisponibilidades, a melhor opção para mim seria ter metido a central Evaldo que, apesar de todos as limitações técnicas é um jogador experiente e relativamente rápido, puxando o versátil Pereirinha (a sua melhor característica, talvez a única) para defesa-esquerdo. Mas o que interessa é a conquista dos 3 pontos, e o objectivo está alcançado num jogo onde era imperioso ganhar.
Em Janeiro na minha óptica de treinador de bancada devíamos contratar um central (essencial) e mais um desequilibrador lá para a frente. Isto, partindo do princípio que Rinaudo - lesionado recentemente - estará disponível em Janeiro. A época é longa e a propensão que este plantel tem para lesões obriga à existência de mais alternativas. A verdade é que houve jogadores que vieram a preço de saldo, tais como Jeffrén, Bojinov e Luís Aguiar (que já foi à sua vida) derivado ao facto dos próprios clubes vendedores duvidarem da sua consistência física.
Jeffrén e Izmailov, sejamos claros, só os veremos a espaços. Já me convenci disso. Mas esperemos que possam ainda ser importantes porque são belíssimos jogadores e bastante competitivos. Aliás, o que me preocupa mais é que temos contratos válidos por vários anos com ambos.
Relativamente a Bojinov, parece-me um jogador sabido e manhoso QB, mas algo lento. Faz-me lembrar o Acosta da primeira época. Mas como já não tem grande valor de mercado temos de tentar aproveitar ao máximo a sua experiência, até porque tem um bom espírito de equipa.
Acredito que André Carrillo e Diego Rubio ainda possam rebentar esta época. O primeiro tem deixado algumas boas indicações e o segundo não tem estado ao nível demonstrado na pré-epoca. Talvez o emprestado Wilson Eduardo que está a fazer uma boa época no Olhanense e na Selecção de Sub 21 possa também vir a ser mais uma solução disponível para a frente.
Elias começa-me, aos poucos, a convencer. Com a bola nos pés não é muito dotado, mas é inteligente na forma como aproveita os espaços concedidos pelas defesas contrárias.
A aposta em jogadores holandeses tinha tudo para dar certo. Schaars é patrão mais pela atitude. Tem que começar a brilhar nas bolas paradas, o que não tem acontecido. Mas a minha predilecção no actual plantel vai toda para o jovem de 22 anos, Rick Van Wolfswinkel. O Sporting que lhe melhore as condições salariais daqui a uns meses e suba a respectiva cláusula de rescisão. É jogador completo que tem todas as características que fazem um ponta de lança valer dinheiro a sério. É frio, letal, jogador de equipa, tem margem de progressão e joga sempre com o descomplicador (palavra que nem sequer existe, acabei de inventar) ligado.
Estarmos a um ponto da frente no fim do primeiro terço do campeonato é animador. Se vencermos ao Porto em casa, e empatarmos na Luz, começamos a ser encarados de outra forma. E a equipa deverá estar preparada para isso.
O Porto é líder sem derrotas e sem jogar absolutamente nada. No início teve os habituais empurrões amigos, e ultimamente vai sobrevivendo (até com goleadas) sem se perceber muito bem como. Nesta fase, pelo que não joga, seria normal já estar atrás do Sporting, mas é a classificação que temos e não podemos menosprezar a sua condição. Se ficarem fora das competições europeias cedo, como acho que irá acontecer, vão tentar a tudo o custo revalidar o título, com ou sem Vítor Pereira.
O Benfica tem um plantel recheado de bons jogadores, superior ao nosso. Não pondo em causa a competência técnico/táctica de Jorge Jesus, porque essa é inquestionável, possui um discurso de uma pobreza confrangedora que mistura arrogância com imbecilidade a rodos. Ao fim de 3 meses duvido que os próprios jogadores não estejam completamente saturados dele e das suas surreais palestras, mas que tem opções em catadupa, isso tem.
Domingos tem gerido bem o balneário. As saídas cirúrgicas de Postiga e Djaló facilitaram as opções. Aos 76 minutos de Paços de Ferreira já tinha a cabeça no prego, mas tem sabido através de uma serenidade inspiradora liderar o balneário, apoiado numa direcção que sabe o que quer e para onde caminha.
No fim da primeira volta depois de jogarmos com Benfica, Porto e Braga já deve dar para ter uma ideia mais precisa do que pode fazer este Sporting no campeonato, mas que eu acredito, acredito…
Em Janeiro na minha óptica de treinador de bancada devíamos contratar um central (essencial) e mais um desequilibrador lá para a frente. Isto, partindo do princípio que Rinaudo - lesionado recentemente - estará disponível em Janeiro. A época é longa e a propensão que este plantel tem para lesões obriga à existência de mais alternativas. A verdade é que houve jogadores que vieram a preço de saldo, tais como Jeffrén, Bojinov e Luís Aguiar (que já foi à sua vida) derivado ao facto dos próprios clubes vendedores duvidarem da sua consistência física.
Jeffrén e Izmailov, sejamos claros, só os veremos a espaços. Já me convenci disso. Mas esperemos que possam ainda ser importantes porque são belíssimos jogadores e bastante competitivos. Aliás, o que me preocupa mais é que temos contratos válidos por vários anos com ambos.
Relativamente a Bojinov, parece-me um jogador sabido e manhoso QB, mas algo lento. Faz-me lembrar o Acosta da primeira época. Mas como já não tem grande valor de mercado temos de tentar aproveitar ao máximo a sua experiência, até porque tem um bom espírito de equipa.
Acredito que André Carrillo e Diego Rubio ainda possam rebentar esta época. O primeiro tem deixado algumas boas indicações e o segundo não tem estado ao nível demonstrado na pré-epoca. Talvez o emprestado Wilson Eduardo que está a fazer uma boa época no Olhanense e na Selecção de Sub 21 possa também vir a ser mais uma solução disponível para a frente.
Elias começa-me, aos poucos, a convencer. Com a bola nos pés não é muito dotado, mas é inteligente na forma como aproveita os espaços concedidos pelas defesas contrárias.
A aposta em jogadores holandeses tinha tudo para dar certo. Schaars é patrão mais pela atitude. Tem que começar a brilhar nas bolas paradas, o que não tem acontecido. Mas a minha predilecção no actual plantel vai toda para o jovem de 22 anos, Rick Van Wolfswinkel. O Sporting que lhe melhore as condições salariais daqui a uns meses e suba a respectiva cláusula de rescisão. É jogador completo que tem todas as características que fazem um ponta de lança valer dinheiro a sério. É frio, letal, jogador de equipa, tem margem de progressão e joga sempre com o descomplicador (palavra que nem sequer existe, acabei de inventar) ligado.
Estarmos a um ponto da frente no fim do primeiro terço do campeonato é animador. Se vencermos ao Porto em casa, e empatarmos na Luz, começamos a ser encarados de outra forma. E a equipa deverá estar preparada para isso.
O Porto é líder sem derrotas e sem jogar absolutamente nada. No início teve os habituais empurrões amigos, e ultimamente vai sobrevivendo (até com goleadas) sem se perceber muito bem como. Nesta fase, pelo que não joga, seria normal já estar atrás do Sporting, mas é a classificação que temos e não podemos menosprezar a sua condição. Se ficarem fora das competições europeias cedo, como acho que irá acontecer, vão tentar a tudo o custo revalidar o título, com ou sem Vítor Pereira.
O Benfica tem um plantel recheado de bons jogadores, superior ao nosso. Não pondo em causa a competência técnico/táctica de Jorge Jesus, porque essa é inquestionável, possui um discurso de uma pobreza confrangedora que mistura arrogância com imbecilidade a rodos. Ao fim de 3 meses duvido que os próprios jogadores não estejam completamente saturados dele e das suas surreais palestras, mas que tem opções em catadupa, isso tem.
Domingos tem gerido bem o balneário. As saídas cirúrgicas de Postiga e Djaló facilitaram as opções. Aos 76 minutos de Paços de Ferreira já tinha a cabeça no prego, mas tem sabido através de uma serenidade inspiradora liderar o balneário, apoiado numa direcção que sabe o que quer e para onde caminha.
No fim da primeira volta depois de jogarmos com Benfica, Porto e Braga já deve dar para ter uma ideia mais precisa do que pode fazer este Sporting no campeonato, mas que eu acredito, acredito…
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
O Último Romântico
Georgios Papandreou teve na Grécia uma ascensão sinistra num país que vive dominado pela hegemonia de duas famílias. Durante a actual crise europeia, despoletada em grande parte em território grego, nunca negou as evidências e nunca fugiu às suas responsabilidades. Curiosamente, vai sair de cena como o último Governante de verdadeira dimensão na política europeia. A Democracia na actual europa é encarada como um Romantismo sem sentido…
Mas que sei eu
Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha
Ruy Belo
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha
Ruy Belo
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Linha de Passe
Linha de Passe é um filme de 2008 dos Realizadores Walter Salles e Daniela Thomas que somente agora visionei. O Argumento é de Bráulio Mantovani e George Moura. É um belíssimo filme. Altamente recomendável, e que mostra que existe fora dos circuitos comerciais das tropas de elite e afins, cinema de qualidade criado por Brasileiros com vista para o Mundo.
O filme narra a história de quatro meio-irmãos que habitam em Cidade Líder localizada na periferia de São Paulo. Vivem com a ausência de um pai e lutam pelos sonhos que perseguem insistentemente. São todos filhos de Mãe solteira que se encontra novamente grávida. Mulher que ama os seus filhos e que gosta de beber, não mantendo qualquer relacionamento com nenhum dos pais dos rapazes. Um deles, Dário, vê no seu talento como jogador de futebol a esperança de uma vida melhor, tal como acontece com milhares e milhares de jovens brasileiros. Um outro, o mais novo, adora conduzir autocarros e procura incessantemente o Pai. Um terceiro, vive entre as interrogações da fé, mergulhado na vida real. E um último que já é Pai, tende para uma vida criminosa, na ânsia de proporcionar meios de subsistência ao seu filho recém-nascido.
É uma história de vidas sobressaltadas, guiada por uma câmara competente que traz identidade e sustentabilidade ao drama. E é o retrato cruel de uma sociedade que vive no fio da navalha.
No fim tudo o que pode correr mal, acaba por correr mal. Numa cidade sufocante como São Paulo em que sobreviver é o único verbo a conjugar…
O filme narra a história de quatro meio-irmãos que habitam em Cidade Líder localizada na periferia de São Paulo. Vivem com a ausência de um pai e lutam pelos sonhos que perseguem insistentemente. São todos filhos de Mãe solteira que se encontra novamente grávida. Mulher que ama os seus filhos e que gosta de beber, não mantendo qualquer relacionamento com nenhum dos pais dos rapazes. Um deles, Dário, vê no seu talento como jogador de futebol a esperança de uma vida melhor, tal como acontece com milhares e milhares de jovens brasileiros. Um outro, o mais novo, adora conduzir autocarros e procura incessantemente o Pai. Um terceiro, vive entre as interrogações da fé, mergulhado na vida real. E um último que já é Pai, tende para uma vida criminosa, na ânsia de proporcionar meios de subsistência ao seu filho recém-nascido.
É uma história de vidas sobressaltadas, guiada por uma câmara competente que traz identidade e sustentabilidade ao drama. E é o retrato cruel de uma sociedade que vive no fio da navalha.
No fim tudo o que pode correr mal, acaba por correr mal. Numa cidade sufocante como São Paulo em que sobreviver é o único verbo a conjugar…
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
A Democracia
Percebo que face à encruzilhada em que a Grécia lançou a Europa, os principais lideres europeus se julguem traídos com a possível marcação de um referendo à ajuda europeia em terras helénicas. Provavelmente atendendo às suas peculiares características, a Grécia nunca devia ter entrado no Euro. O declínio Grego numa certa medida até era uma catástrofe anunciada. Mas a verdade é que na altura todos concordaram.
Agora, o que retenho, é que a hipotética marcação de um Referendo se trata de uma decisão acertadíssima. Num processo de perda progressiva de soberania os Povos devem ser ouvidos. Custe a quem custar. Ao contrário do que defendem economistas e a generalidade dos comentadores, a Democracia não pode ser uma prática cingida somente a cimeiras e jogos de gabinetes. As Pessoas estão Primeiro. Puta que pariu os mercados…
Agora, o que retenho, é que a hipotética marcação de um Referendo se trata de uma decisão acertadíssima. Num processo de perda progressiva de soberania os Povos devem ser ouvidos. Custe a quem custar. Ao contrário do que defendem economistas e a generalidade dos comentadores, a Democracia não pode ser uma prática cingida somente a cimeiras e jogos de gabinetes. As Pessoas estão Primeiro. Puta que pariu os mercados…
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Os 25 Mil Milhões
Passos Coelho já admite pedir mais dinheiro à troika. E reza para que as decisões da cimeira europeia suavizem o futuro. Acontece que as medidas anunciadas na passada semana não são mais que um bálsamo de curto-prazo e não alteram o essencial.
Os actuais políticos portugueses assemelham-se a fantoches ilusionistas que todos os dias lançam novos truques. A Sócrates sucedeu Passos, a Teixeira dos Santos sucedeu Vítor Gaspar. Relvas não se assemelha a coisa alguma. Serve somente para preencher a vaga de Idiota de serviço. Papel que cumpre com inegável talento.
Vivemos reféns dos mercados. O que é hoje uma necessidade premente, amanhã já está desajustado face à forma como a realidade avança. Vamos acabar de joelhos a soluçar aos pés de Angela Merkel…
Os actuais políticos portugueses assemelham-se a fantoches ilusionistas que todos os dias lançam novos truques. A Sócrates sucedeu Passos, a Teixeira dos Santos sucedeu Vítor Gaspar. Relvas não se assemelha a coisa alguma. Serve somente para preencher a vaga de Idiota de serviço. Papel que cumpre com inegável talento.
Vivemos reféns dos mercados. O que é hoje uma necessidade premente, amanhã já está desajustado face à forma como a realidade avança. Vamos acabar de joelhos a soluçar aos pés de Angela Merkel…
sábado, 29 de outubro de 2011
O Elogio Conveniente
Num episódio sem paralelo no Portugal democrático, parece que o ministro Relvas disse que Seguro é "equilibrado e muito sensato".
Efectivamente tem alguma razão. É uma oposição equilibrada porque inexiste sempre. E isso não tem nada a ver com o acordo da Troika. Na noite em que Seguro ganhou as eleições no PS, aposto que Passos e Relvas abriram uma garrafa do melhor espumante (importado, claro está)…
Efectivamente tem alguma razão. É uma oposição equilibrada porque inexiste sempre. E isso não tem nada a ver com o acordo da Troika. Na noite em que Seguro ganhou as eleições no PS, aposto que Passos e Relvas abriram uma garrafa do melhor espumante (importado, claro está)…
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Os Culpados
A Crise, como nunca antes vista por esta geração que está agora na flor da vida, veio levantar a questão que assombra o país. Quem são mesmo os culpados do triste estado a que chegamos? Existem tertúlias à volta do tema. Diferentes perspectivas que visam reflectir sobre as reais causas da problemática.
Relegando os fanatismos partidários para o lugar que merecem - a obscuridade – importa perceber os reais alcances da coisa: Portugal é um pequeno país periférico que funcionou sempre por reacção à conjuntura económica internacional. A crise na Europa rebentou, e face aos interesses fortemente instalados e à nossa histórica dependência, caímos que nem patinhos no lamaçal. Fomos incapazes de nos prepararmos para o que aí vinha, mergulhados na ilusão de uma vida a crédito, valorizando o hoje e esquecendo o amanhã. Começando pelo próprio Estado que se endividou como se fosse um país poderoso que manifestamente não é.
E quem contribuiu politicamente para isto, ou seja quem são os principais culpados?
Começando pelo “princípio”, Cavaco Silva, o nosso professor (não meu) beneficiou de invulgares e apelativas condições para reformar Portugal. Os seus principais defensores sempre se agarraram à ideia que as suas políticas seriam valorizadas e até endeusadas a longo-prazo. Pois bem, Cavaco em tudo o que era estratégia de relevo para a sustentabilidade do país errou. Desde a fraudulenta aplicação de fundos comunitários sem supervisão, à excessiva e deficitária política do betão e auto-estradas, passando por um modelo de educação entregue aos privados sem ligação às necessidades da economia, Cavaco foi quem mais cavou a sepultura. Por outro lado, a única estratégia que levou a bom porto com inegável sucesso e calculismo, foi a da sua carreira política.
Depois de Cavaco houve Guterres que viveu num prolongado estado de graça, nunca antes visto. Deixou algumas marcas positivas na Saúde, no Ambiente e até na Cultura. Aumentou, imagine-se, os funcionários públicos em quase 5 % só num ano e continuou o desbarato de dinheiros públicos em auto-estradas e afins. Nada me move contra as auto-estradas e a necessária mobilidade para os territórios localizados no interior. Agora, o investimento deveria ter sido mais comedido e repartido por outras áreas. Por exemplo, ao nível das linhas-férreas. Guterres alimentou também uma empregabilidade fictícia, meramente estatística, tão frágil que deu no que deu. Foi incapaz de valorizar políticas económicas que fomentassem mais indústria. Do que nos serve ter auto-estradas que ligam ao interior, se depois não há lá empregos, e há lá cada vez menos pessoas como demonstram os Censos de 2011? O mesmo se passa com outras infra-estruturas criadas que andam por aí ao abandono, não só na fantasiosa ilha de Jardim. O mais recente é o aeroporto de Beja, que só faz sentido para os autarcas locais e para os 2 ou 3 empresários que têm ali negócios. Por mais que nos custe admitir, é esta a realidade do Portugal que foi ganhando forma ao longo do tempo.
Durão Barroso foi o mais inteligente de todos, reconheça-se. No meio do pântano que começava a alargar-se, serviu-se do País para alcançar a sua cadeira de sonho. E de Santana Lopes, nem vale a pena falar, tal o absurdo da sua actuação. A sua inarrável ascensão ao poder simplesmente serviu para humilhar ainda mais o nosso amargurado ego.
De Sócrates, já tudo foi escrito. Conseguiu incrementar algumas boas práticas. Fez um bom diagnóstico dos problemas reais mas, asfixiado por uma sociedade mediática que com laivos de intolerância sempre pretendeu controlar, enterrou-se com o declínio definitivo das contas públicas e com a necessidade de o país clamar por um bode expiatório para o assalto vigente às suas carteiras.
Presentemente temos Passos Coelho. Este, na ânsia de chegar ao poder, pressionado pelas suas hostes, comprometeu-se com coisas que não devia. Essas incongruências vão inevitavelmente persegui-lo até ao fim da legislatura, até porque Paulo Portas, já percebeu, que vai acabar por ganhar com o pobre e subalterno papel que lhe foi determinado na coligação. Não tenho dúvidas que Passos hoje ganharia as eleições novamente. O seu discurso coberto de alguma autenticidade beneficia de um Seguro que inexiste (foi invenção não se sabe muito bem de quem, talvez do próprio) e de uma atávica resignação dos portugueses que Passos Coelho tenta eficazmente alimentar. A última cartada é a do fatal empobrecimento da população. Tem dado, até com alguma surpresa para mim, alguns sinais de liderança. Escolheu alguns bons ministros, errando contudo em algumas pastas fulcrais como a Economia. Com a apresentação do orçamento para 2012 cumpriu alguma da cartilha imposta pelo seu liberalismo ao privatizar em larga escala a Cultura, institucionalizando a estupidificação do Povo.
Em síntese, os culpados somos todos. Pactuamos em relativo silêncio com as políticas que nos desgovernaram. Pedir a criminalização dos governantes por terem tomado opções erradas, tem tanto de inverosímil, como de tacanho. Agora sem dúvida, que há uns que são mais culpados que outros. Quer ao nível da responsabilidade efectiva pela governação, quer pela legitimidade democrática que lhes foi proporcionada. Eu, dos acima referidos, só votei num, e uma só vez: Em Guterres, no primeiro mandato, porque era imprescindível ver-me livre do autoritarismo pacóvio do professor cavaco...
Relegando os fanatismos partidários para o lugar que merecem - a obscuridade – importa perceber os reais alcances da coisa: Portugal é um pequeno país periférico que funcionou sempre por reacção à conjuntura económica internacional. A crise na Europa rebentou, e face aos interesses fortemente instalados e à nossa histórica dependência, caímos que nem patinhos no lamaçal. Fomos incapazes de nos prepararmos para o que aí vinha, mergulhados na ilusão de uma vida a crédito, valorizando o hoje e esquecendo o amanhã. Começando pelo próprio Estado que se endividou como se fosse um país poderoso que manifestamente não é.
E quem contribuiu politicamente para isto, ou seja quem são os principais culpados?
Começando pelo “princípio”, Cavaco Silva, o nosso professor (não meu) beneficiou de invulgares e apelativas condições para reformar Portugal. Os seus principais defensores sempre se agarraram à ideia que as suas políticas seriam valorizadas e até endeusadas a longo-prazo. Pois bem, Cavaco em tudo o que era estratégia de relevo para a sustentabilidade do país errou. Desde a fraudulenta aplicação de fundos comunitários sem supervisão, à excessiva e deficitária política do betão e auto-estradas, passando por um modelo de educação entregue aos privados sem ligação às necessidades da economia, Cavaco foi quem mais cavou a sepultura. Por outro lado, a única estratégia que levou a bom porto com inegável sucesso e calculismo, foi a da sua carreira política.
Depois de Cavaco houve Guterres que viveu num prolongado estado de graça, nunca antes visto. Deixou algumas marcas positivas na Saúde, no Ambiente e até na Cultura. Aumentou, imagine-se, os funcionários públicos em quase 5 % só num ano e continuou o desbarato de dinheiros públicos em auto-estradas e afins. Nada me move contra as auto-estradas e a necessária mobilidade para os territórios localizados no interior. Agora, o investimento deveria ter sido mais comedido e repartido por outras áreas. Por exemplo, ao nível das linhas-férreas. Guterres alimentou também uma empregabilidade fictícia, meramente estatística, tão frágil que deu no que deu. Foi incapaz de valorizar políticas económicas que fomentassem mais indústria. Do que nos serve ter auto-estradas que ligam ao interior, se depois não há lá empregos, e há lá cada vez menos pessoas como demonstram os Censos de 2011? O mesmo se passa com outras infra-estruturas criadas que andam por aí ao abandono, não só na fantasiosa ilha de Jardim. O mais recente é o aeroporto de Beja, que só faz sentido para os autarcas locais e para os 2 ou 3 empresários que têm ali negócios. Por mais que nos custe admitir, é esta a realidade do Portugal que foi ganhando forma ao longo do tempo.
Durão Barroso foi o mais inteligente de todos, reconheça-se. No meio do pântano que começava a alargar-se, serviu-se do País para alcançar a sua cadeira de sonho. E de Santana Lopes, nem vale a pena falar, tal o absurdo da sua actuação. A sua inarrável ascensão ao poder simplesmente serviu para humilhar ainda mais o nosso amargurado ego.
De Sócrates, já tudo foi escrito. Conseguiu incrementar algumas boas práticas. Fez um bom diagnóstico dos problemas reais mas, asfixiado por uma sociedade mediática que com laivos de intolerância sempre pretendeu controlar, enterrou-se com o declínio definitivo das contas públicas e com a necessidade de o país clamar por um bode expiatório para o assalto vigente às suas carteiras.
Presentemente temos Passos Coelho. Este, na ânsia de chegar ao poder, pressionado pelas suas hostes, comprometeu-se com coisas que não devia. Essas incongruências vão inevitavelmente persegui-lo até ao fim da legislatura, até porque Paulo Portas, já percebeu, que vai acabar por ganhar com o pobre e subalterno papel que lhe foi determinado na coligação. Não tenho dúvidas que Passos hoje ganharia as eleições novamente. O seu discurso coberto de alguma autenticidade beneficia de um Seguro que inexiste (foi invenção não se sabe muito bem de quem, talvez do próprio) e de uma atávica resignação dos portugueses que Passos Coelho tenta eficazmente alimentar. A última cartada é a do fatal empobrecimento da população. Tem dado, até com alguma surpresa para mim, alguns sinais de liderança. Escolheu alguns bons ministros, errando contudo em algumas pastas fulcrais como a Economia. Com a apresentação do orçamento para 2012 cumpriu alguma da cartilha imposta pelo seu liberalismo ao privatizar em larga escala a Cultura, institucionalizando a estupidificação do Povo.
Em síntese, os culpados somos todos. Pactuamos em relativo silêncio com as políticas que nos desgovernaram. Pedir a criminalização dos governantes por terem tomado opções erradas, tem tanto de inverosímil, como de tacanho. Agora sem dúvida, que há uns que são mais culpados que outros. Quer ao nível da responsabilidade efectiva pela governação, quer pela legitimidade democrática que lhes foi proporcionada. Eu, dos acima referidos, só votei num, e uma só vez: Em Guterres, no primeiro mandato, porque era imprescindível ver-me livre do autoritarismo pacóvio do professor cavaco...
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
A Caça às Bruxas
A Caça às Bruxas ainda agora vai no adro, mas está a começar bem. Como é possível gente que ganhou prestígio e notoriedade ao serviço do país, e depois foi ganhar balúrdios para o privado, continuar a receber pensões vitalícias do Estado? É simples. Basta pedir-lhes a declaração de IRS e estabelecer níveis de rendimento para estipular se tem ou não esse direito. Atenção, que eu até concordo que possa haver quem, depois de terminadas as suas funções e em caso de serviços relevantes, possa ter direito a uma pensão estatal. Agora, o que é inconcebível é somar essa pensão a montantes exorbitantes que possam auferir no privado. Muitas vezes, como resultado de relações promíscuas estabelecidos quando eram servidores do Estado. Nesses casos, mais uma vez, prova-se que o crime neste país à beira-mar plantado tem compensado…
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
O Álvaro
O Amigo Álvaro da Economia deverá perceber assim, finalmente, onde se veio meter. Desde já registo que o seu suicídio não é para mim a melhor opção. Sugiro que emigre, de preferência para o Canadá, onde segundo o que consta era feliz...
Este Portugal, dos dias que correm, é só rir....
Uivo
Em 1956, Allen Ginsberg lança o livro de poesia "Howl and Other Poems" - um ano antes de Kerouac pôr cá pra fora o lendário “On the Road” - e estabelece os alicerces daquilo que ficaria para a história como a Geração Beat que antecedeu os loucos anos 60. A narrativa segue o decorrer do julgamento que a editora da obra (a célebre City Lights Books de San Francisco) foi sujeita acusada de promover a obscenidade.
James Franco interpreta de forma soberba o jovem Allen Ginsberg, neste filme realizado pela dupla Jeffrey Friedman e Rob Epstein. Na sua faceta mais estimulante, o filme assenta numa entrevista ficcionada ao escritor intercalada com a declamação da poesia pelo próprio numa muitíssimo bem interpretada sessão de apresentação do livro maldito.
Para muitos, este simples livro de Ginsberg, que morreu com 70 anos em 1997, foi o embrião para o movimento hippie e para todas as revoluções que se seguiram. Só por esse interesse histórico vale a pena ver, ler e ouvir as poderosas palavras deste “Uivo” de Ginsberg…
James Franco interpreta de forma soberba o jovem Allen Ginsberg, neste filme realizado pela dupla Jeffrey Friedman e Rob Epstein. Na sua faceta mais estimulante, o filme assenta numa entrevista ficcionada ao escritor intercalada com a declamação da poesia pelo próprio numa muitíssimo bem interpretada sessão de apresentação do livro maldito.
Para muitos, este simples livro de Ginsberg, que morreu com 70 anos em 1997, foi o embrião para o movimento hippie e para todas as revoluções que se seguiram. Só por esse interesse histórico vale a pena ver, ler e ouvir as poderosas palavras deste “Uivo” de Ginsberg…
Eu vi os expoentes da minha geração destruídos
pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de
madrugada em busca uma dose violenta de qualquer coisa
"hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo
antigo contacto celestial com o dínamo estrelado da
maquinaria da noite, que pobres, esfarrapados e
olheiras fundas, viajaram fumando sentados na
sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos
sem água quente, flutuando sobre os tectos das
cidades contemplando jazz, que desnudaram os seus
Cérebros ao céu sob o Elevador e viram anjos maometanos
cambaleando iluminados nos telhados das casas dos
cómodos que passaram por universidades com olhos frios
e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de
William Blake entre os estudiosos da guerra, que
foram expulsos das universidades por serem loucos
& publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de paredes de pintura
descascada em roupa de baixo queimando seu dinheiro
em cestas de papel, escutando o Terror
através da parede.
Allen Ginsberg (tradução brasileira)
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
O Iberismo
A unificação política entre Portugal e Espanha, profetizada por José Saramago e amplamente rejeitada e censurada por todos, mais tarde ou mais cedo vai voltar à ordem do dia. Numa nova e inevitável Europa talvez a própria delimitação de fronteiras venha a ser posta em causa. Desde que se preserve a identidade cultural e o idioma, que se respeite os costumes locais, como acontece aliás em muitas das actuais regiões espanholas, é solução que não me levanta especial pavor. Agora, seria efectivamente um grande choque para alguns sectores. Que todavia traria vantagens competitivas aos mais diversos níveis, disso não tenho dúvidas.
Neste momento a questão só não está já nas bocas do mundo porque a economia espanhola também atravessa uma intensa crise, com reflexos muito visíveis ao nível do desemprego…
Neste momento a questão só não está já nas bocas do mundo porque a economia espanhola também atravessa uma intensa crise, com reflexos muito visíveis ao nível do desemprego…
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Smells Like Teen Spirit - Nirvana
Havia coisas que Jeremias não conseguia ficar indiferente. E aquele cesto de basket ao fundo consumia-o. Não porque alguma vez tivesse jogado basquetebol, mas porque este vídeo representava uma certa manifestação de niilismo que desde aí nunca foi verdadeiramente abandonado. Algo semelhante a uma exuberante consumação de uma utopia.
A Jeremias, até lhe vinha a lágrima ao olho, o que não significava objectivamente que fosse de lágrima fácil.
Jeremias brinda à saúde do camarada Kurt, onde quer que ele esteja….
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
A Bicicleta
Jeremias assistia à desintegração social do País. Observava impávido a uma indignação que prometia florescer. Quem sabe, dar novos mundos ao mundo. Caso os senhores da Europa assim o permitam.
Agora, o Postiga marcar de bicicleta, isso é que era absolutamente inesperado e não lembrava nem ao Diabo…
Agora, o Postiga marcar de bicicleta, isso é que era absolutamente inesperado e não lembrava nem ao Diabo…
domingo, 16 de outubro de 2011
O Lunático
Era tão zeloso das suas obrigações contributivas que pedia recibo ao dealer do bairro quando comprava cocaína. O Dealer obviamente negava, utilizando uma fundamentação filosófica para o fazer. Entre outros argumentos, dizia que era um profissional da economia paralela. Só para lixar o lunático do Passos Coelho….
Esta Gente
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
A Ingovernabilidade
Alguém ainda acredita que este País tem solução e que é governável? Comecem a contar as semanas para o anúncio do segundo pacote de ajuda. A cova está cada vez mais funda e uma hipotética perda de parte da nossa soberania, poderá não ser tão irreal quanto isso a médio prazo. Acho piada aos iluminados que continuam a pedir a criminalização de Sócrates e dos seus pares. Então e as mentiras e as contínuas derrapagens de Passos Coelho? Nessa perspectiva, as cadeias não tinham espaço para tanto criminoso. Gerir mal o erário público é o desporto nacional de eleição. A Leviandade não tem limites...
Sangue do meu Sangue
Na sequência de uma já relevante obra anterior João Canijo traz-nos Sangue do meu Sangue. Reconheço “Ganhar a Vida” como ponto alto da carreira do realizador e numa segunda linha talvez “Sapatos Pretos” e “Noite Escura” como obras de referência. Canijo faz, sem pestanejar e com algum brilhantismo, verdadeiro cinema de autor. A sua obra segue um fio condutor interessantíssimo. Conta histórias de vida, com alma de marinheiro de águas profundas. Só não é um dos meus realizadores preferidos porque utiliza maioritariamente um realismo exacerbado onde a morte e o homicídio estão presentes em excesso, ao contrário do mago Mike Leigh, com quem muitas vezes é exageradamente comparado. Isto, apesar de utilizar um método de trabalho com os actores inspirado no enormíssimo Realizador inglês.
O filme é totalmente preenchido pela mãe-coragem, Rita Blanco que enche o ecrã com o seu talento e acutilância. A sua carreira tem sido pautada pelos mais diversos papéis e tem especial inclinação para figuras tutelares. A sua experiência televisiva, que Canijo faz menção de demonstrar no próprio filme com o surgimento da voz de Rita Blanco a representar numa novela, é factor decisivo para a composição da personagem.
O filme tem alguns desequilíbrios. Assisti à sua versão longa. Canijo foi demasiado ambicioso. Quis ir longe demais face aos recursos que tinha ao dispor. O argumento tem fragilidades e algumas das interpretações ficam, na minha óptica, aquém do desejado.
Do ponto de vista puramente cinematográfico o mais relevante são as conversas cruzadas que o realizador faz questão de apresentar durante todo o tempo, como se simultaneamente decorressem dois filmes independentes. O espectador, apanhado de surpresa, num exercício curioso, segue a conversa que mais valoriza.
É também cativante no filme a perspectiva crua e extraordinariamente bem datada da Lisboa retratada pelo Bairro Padre Cruz em meados de 2010 com o mundial de futebol em pano de fundo. Poucas vezes, a cidade foi filmada com tal intensidade e pureza.
É acima de todas as possíveis apreciações um filme sobre o amor incondicional (feliz e inteligente expressão escolhida para a promoção do mesmo) de uma mãe pela sua filha, e de uma tia pelo seu sobrinho. Márcia (Rita Blanco) é a mãe solteira de Cláudia (Cleia Almeida) e Joca (Rafael Morais) e irmã de Ivete (Anabela Moreira). E de como elas estão dispostas a sacrificar tudo para os salvar.
Canijo consegue agarrar o espectador, deixando-o colado ao ecrã do princípio ao fim. Com um som notabilíssimo, é um filme com algumas lacunas, mas merece sem duvida o destaque que tem tido nos media…
O filme é totalmente preenchido pela mãe-coragem, Rita Blanco que enche o ecrã com o seu talento e acutilância. A sua carreira tem sido pautada pelos mais diversos papéis e tem especial inclinação para figuras tutelares. A sua experiência televisiva, que Canijo faz menção de demonstrar no próprio filme com o surgimento da voz de Rita Blanco a representar numa novela, é factor decisivo para a composição da personagem.
O filme tem alguns desequilíbrios. Assisti à sua versão longa. Canijo foi demasiado ambicioso. Quis ir longe demais face aos recursos que tinha ao dispor. O argumento tem fragilidades e algumas das interpretações ficam, na minha óptica, aquém do desejado.
Do ponto de vista puramente cinematográfico o mais relevante são as conversas cruzadas que o realizador faz questão de apresentar durante todo o tempo, como se simultaneamente decorressem dois filmes independentes. O espectador, apanhado de surpresa, num exercício curioso, segue a conversa que mais valoriza.
É também cativante no filme a perspectiva crua e extraordinariamente bem datada da Lisboa retratada pelo Bairro Padre Cruz em meados de 2010 com o mundial de futebol em pano de fundo. Poucas vezes, a cidade foi filmada com tal intensidade e pureza.
É acima de todas as possíveis apreciações um filme sobre o amor incondicional (feliz e inteligente expressão escolhida para a promoção do mesmo) de uma mãe pela sua filha, e de uma tia pelo seu sobrinho. Márcia (Rita Blanco) é a mãe solteira de Cláudia (Cleia Almeida) e Joca (Rafael Morais) e irmã de Ivete (Anabela Moreira). E de como elas estão dispostas a sacrificar tudo para os salvar.
Canijo consegue agarrar o espectador, deixando-o colado ao ecrã do princípio ao fim. Com um som notabilíssimo, é um filme com algumas lacunas, mas merece sem duvida o destaque que tem tido nos media…
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
A TSU
Perderam-se horas e horas a dissertar sobre o assunto. Escreveram-se bíblias com diferentes teses sobre o tema. Havia inclusive correntes que, imagine-se, defendiam uma redução de 8 %. Passos Coelho fez dessa hipotética redução um dos seus mais marcantes compromissos eleitorais. Eu sempre estranhei tamanha generosidade. Agora, conclui-se o óbvio. Que não há margem nas contas do estado nem para diminuir uma migalha nos custos do trabalho. Nos impostos continuamos a ser incapazes de cortar. Pelos últimos desenvolvimentos, começa a ganhar forma a ideia de o País ser ingovernável. A derradeira esperança é acontecer algo semelhante ao que ocorreu com o Manchester City que foi comprado por um Árabe maluco cheio de pilim. O clube Inglês voltou a ser Grande…
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Não Há Nada P'ra Ninguém - Mário Mata
O Hino nacional dos tempos modernos. Assenta-nos que nem uma luva. Retrata a verdadeira essência do ser português nos tempos que correm…
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
A Maioria
Não percebo o nosso sistema eleitoral, os métodos que utiliza e a terminologia que lhe está associada. Em grande medida, serve para driblar os princípios inerentes à própria democracia que preconiza. Está obsoleto e carece também de reforma imediata.
Jardim ontem na Madeira, e Cavaco há meses na primeira volta das eleições presidenciais, foram eleitos com os votos expressos de menos de metade dos eleitores que compareceram nas urnas para exercer o seu direito. Utilizar em ambos os casos a expressão maioria absoluta é completamente estúpido. Utilizar a palavra maioria é deveras enganador. A Maioria não votou neles...
Jardim ontem na Madeira, e Cavaco há meses na primeira volta das eleições presidenciais, foram eleitos com os votos expressos de menos de metade dos eleitores que compareceram nas urnas para exercer o seu direito. Utilizar em ambos os casos a expressão maioria absoluta é completamente estúpido. Utilizar a palavra maioria é deveras enganador. A Maioria não votou neles...
sábado, 8 de outubro de 2011
O Francisco
Francisco José Viegas, vulgo secretário de estado da cultura com c pequeno, diz que actualmente somente 36 % das entradas em museus é que são pagas, sendo as restantes gratuitas. Eu até acredito que actualmente a realidade seja essa. O que é inconcebível é que FJV assuma como objectivo que a curto-prazo essa proporção passe para 80 % numa medida que visa claramente um regresso ao passado, e em claro sentido contrário ao que cada vez mais é prática generalizada no mundo civilizado.
O país regride e de que maneira na cultura. Depois, porque gosto de me rir, mostrem-me por favor a evolução do número de visitantes dos museus nacionais dos próximos anos. Portugal caminha para a uma política de perpetuação da ignorância e ainda querem aplausos. É altura, antes de cairmos em definitivo no abismo, de chamarmos as coisas pelos nomes. Pactuar com isto é criminoso...
O país regride e de que maneira na cultura. Depois, porque gosto de me rir, mostrem-me por favor a evolução do número de visitantes dos museus nacionais dos próximos anos. Portugal caminha para a uma política de perpetuação da ignorância e ainda querem aplausos. É altura, antes de cairmos em definitivo no abismo, de chamarmos as coisas pelos nomes. Pactuar com isto é criminoso...
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
O Epitáfio
Aqui jaz um homem simples que viveu num mundo complexo...
Explicação detalhada que virá na brochura alusiva ao evento a ser entregue aos (às) alegres convidados (as):
Homem esse que também complicou muitas vezes o mundo onde viveu. Que quebrou promessas, fruto de circunstâncias várias. Que pecou muito desde cedo. Que foi muitas vezes injusto nos julgamentos que efectuou. Que levou sempre a ironia ao limite do aceitável. Que magoou pessoas que não mereciam ser magoadas. Que se colocou em situações completamente absurdas por culpa própria. Que meteu os outros em situações absurdas. Mas que foi sempre, sempre fiel ao lugar-comum da sinceridade, mesmo que para isso tenha de faltar à palavra que prometeu antes. E foi Humano, sempre!...
Explicação detalhada que virá na brochura alusiva ao evento a ser entregue aos (às) alegres convidados (as):
Homem esse que também complicou muitas vezes o mundo onde viveu. Que quebrou promessas, fruto de circunstâncias várias. Que pecou muito desde cedo. Que foi muitas vezes injusto nos julgamentos que efectuou. Que levou sempre a ironia ao limite do aceitável. Que magoou pessoas que não mereciam ser magoadas. Que se colocou em situações completamente absurdas por culpa própria. Que meteu os outros em situações absurdas. Mas que foi sempre, sempre fiel ao lugar-comum da sinceridade, mesmo que para isso tenha de faltar à palavra que prometeu antes. E foi Humano, sempre!...
terça-feira, 4 de outubro de 2011
O Contabilista Melancólico
O título deste post foi usurpado a uma das últimas crónicas de Vasco Pulido Valente com quem partilho algumas opiniões, não muitas. Isto, porque o Mundo segue para um lado e VPV segue orgulhosa e solitariamente para o outro. No entanto, sempre que possível, não dispenso as suas cirúrgicas palavras.
Com o Contabilista Melancólico, Pulido Valente refere-se obviamente ao nosso Ministro das Finanças. E até nos vem a vontade de rever Vítor Gaspar a mastigar lentamente as palavras, a pesar meticulosamente a substância dos seus dizeres, a dissecar o alcance das suas preposições financeiras. É uma melancolia épica a do nosso Ministro. Um desencanto, sempre em crescendo, proporcional ao afundamento das nossas contas públicas. O Homem é o perfeito espelho do que representa. Este Gaspar é um Senhor….
Com o Contabilista Melancólico, Pulido Valente refere-se obviamente ao nosso Ministro das Finanças. E até nos vem a vontade de rever Vítor Gaspar a mastigar lentamente as palavras, a pesar meticulosamente a substância dos seus dizeres, a dissecar o alcance das suas preposições financeiras. É uma melancolia épica a do nosso Ministro. Um desencanto, sempre em crescendo, proporcional ao afundamento das nossas contas públicas. O Homem é o perfeito espelho do que representa. Este Gaspar é um Senhor….
Senhora de Londres escolhendo Limões
Não, nem todo o limão é amarelo quando
A mão de alguém o toca e humaniza, pequeno deus
Aos tombos do céu de um pensamento manual e
Exigente. Às vezes, quando a sede não é muita,
Um do fundo é erguido à altura do olhar e então,
Por mágica rotação da sorte que nos astros se reflecte,
Encontra uma outra luz na mão que o recebe e deposita
Em morada assaz prosaica e de plástico. Na vida,
A caminho do futuro que ele nunca saberá onde fica,
O limão continuará a ser inteiro
E o seu sumo continuará a ser sumo,
Pela mesma sábia razão por que a história dos homens
É sempre muito maior do que eles.
Rui Costa
A mão de alguém o toca e humaniza, pequeno deus
Aos tombos do céu de um pensamento manual e
Exigente. Às vezes, quando a sede não é muita,
Um do fundo é erguido à altura do olhar e então,
Por mágica rotação da sorte que nos astros se reflecte,
Encontra uma outra luz na mão que o recebe e deposita
Em morada assaz prosaica e de plástico. Na vida,
A caminho do futuro que ele nunca saberá onde fica,
O limão continuará a ser inteiro
E o seu sumo continuará a ser sumo,
Pela mesma sábia razão por que a história dos homens
É sempre muito maior do que eles.
Rui Costa
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
O Acordo Ortográfico
Não é discussão que me entusiasme por aí além, ou que me faça perder o sono. Mas em determinadas circunstâncias sou assaltado por uma dúvida metafísica: Porque é que um povo que no geral sempre escreveu mal (apesar de sermos um país de poetas, essencialmente frustrados) tem agora de seguir os trâmites do novo acordo como se fosse uma coisa absolutamente imprescindível e dela dependesse o futuro da humanidade?
Faz sentido numa determinada perspectiva? Aceito. Diminui gradualmente as assimetrias linguísticas existentes entre quem, para todos os efeitos, fala a mesma língua? É capaz de ser verdade. Agora obrigarem o Povinho, onde orgulhosamente me incluo, a escrever de certa forma a partir de determinada data é conversa de proxenetas insípidos. Preocupem-se em resolver os reais problemas das pessoas que falam a tal língua que tanto enaltecem…
Faz sentido numa determinada perspectiva? Aceito. Diminui gradualmente as assimetrias linguísticas existentes entre quem, para todos os efeitos, fala a mesma língua? É capaz de ser verdade. Agora obrigarem o Povinho, onde orgulhosamente me incluo, a escrever de certa forma a partir de determinada data é conversa de proxenetas insípidos. Preocupem-se em resolver os reais problemas das pessoas que falam a tal língua que tanto enaltecem…
domingo, 2 de outubro de 2011
A Nossa Vida
Um filme italiano com a realização de Daniele Luchetti que me agradou vivamente e cujo argumento reflecte na perfeição este conturbado mundo em que vivemos. É um filme com pessoas dentro, que permite recuperar algum do fulgor inerente ao bom cinema italiano.
Claudio e Elena vivem num bairro periférico de Roma com dois filhos e esperam um terceiro. Ele trabalha na construção civil e ela é mãe a tempo inteiro. Uma inesperada tragédia vem alterar tudo.
O que mais me parece de destacar é a crítica social subjacente. Uma caricatura daquela Itália que vive ostensivamente com base na imagem e valoriza o parecer em detrimento do ser. Com alguma xenofobia implícita, também. É curioso como Italianos e Portugueses, apesar de viverem em realidades muito distintas, passeiam tranquilamente pelos mesmos trilhos de hipocrisia.
Este drama esteve em competição pela Palma de Ouro na edição de 2010 do Festival de Cannes, onde Elio Germano arrebatou o prémio de melhor actor. Independentemente disso, não acho que estejamos perante um filme de grandes actores e de grandes interpretações. Aliás, apesar da evitável redenção final, não consigo simpatizar com Claudio...
Claudio e Elena vivem num bairro periférico de Roma com dois filhos e esperam um terceiro. Ele trabalha na construção civil e ela é mãe a tempo inteiro. Uma inesperada tragédia vem alterar tudo.
O que mais me parece de destacar é a crítica social subjacente. Uma caricatura daquela Itália que vive ostensivamente com base na imagem e valoriza o parecer em detrimento do ser. Com alguma xenofobia implícita, também. É curioso como Italianos e Portugueses, apesar de viverem em realidades muito distintas, passeiam tranquilamente pelos mesmos trilhos de hipocrisia.
Este drama esteve em competição pela Palma de Ouro na edição de 2010 do Festival de Cannes, onde Elio Germano arrebatou o prémio de melhor actor. Independentemente disso, não acho que estejamos perante um filme de grandes actores e de grandes interpretações. Aliás, apesar da evitável redenção final, não consigo simpatizar com Claudio...
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
O Isaltino
Querem prender o bom do Isaltino? Livrem-se disso, seus ingratos. De Oeiras à Suíça, passando pelas belas terras do Mindelo, todos conhecem a sua abnegada generosidade. Mas porquê agora? Pergunto eu.
Porque os Juízes neste país à beira-mar plantado decidem de jornal na mão e de olho no ecrã. Quando a indignação geral cresce, decidem finalmente agir. A grosso modo reina a impunidade mas convém ir ludibriando a pobre ralé. Lembrem-se de Vale e Azevedo, lembrem-se do processo Casa Pia? Isaltino é a primeira vítima das diabruras de Jardim na Madeira. Num sistema onde imperasse a mais banal justiça, Isaltino já estava dentro há pelo menos 5 anos, mas em Portugal a justiça funciona a reboque dos media.
Que o destino nos salve de cair nas mãos desta justiça de mercearia...
Porque os Juízes neste país à beira-mar plantado decidem de jornal na mão e de olho no ecrã. Quando a indignação geral cresce, decidem finalmente agir. A grosso modo reina a impunidade mas convém ir ludibriando a pobre ralé. Lembrem-se de Vale e Azevedo, lembrem-se do processo Casa Pia? Isaltino é a primeira vítima das diabruras de Jardim na Madeira. Num sistema onde imperasse a mais banal justiça, Isaltino já estava dentro há pelo menos 5 anos, mas em Portugal a justiça funciona a reboque dos media.
Que o destino nos salve de cair nas mãos desta justiça de mercearia...
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
O Homem que Adicionava Amigos
Acordava na esperança de mais um dia risonho. Era um optimista por natureza. A riqueza dos seus momentos era proporcional ao número de likes somados. Cada like funcionava como um novo alento. Fortalecia-lhe a ambição. Alimentava-se da curiosidade alheia porque percebeu que a vida dos outros é sempre mais interessante que a nossa. Adicionava amigos com a superficialidade com que cumprimentava a porteira do prédio. Um dia já envelhecido, depois de uma vida cheia de sumptuosidades, adicionou a palavra morte.
Nunca chegou a perceber o verdadeiro significado da palavra amizade...
Nunca chegou a perceber o verdadeiro significado da palavra amizade...
Just Girls - Amarguinhas
As Amarguinhas é uma cena que me assiste. Tenho pena que estas moças não tenham dado o devido seguimento às suas carreiras. Este just girls fazia sentido. Reconheço no entanto que esta predilecção está imensamente condicionada pelo meu gosto por amêndoa amarga com gelo e limão….
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Promessas de Leão
Apesar de continuar a ser cedo para tirar conclusões definitivas relativamente à equipa e aos craques que a compõe (vou aguardar pela décima jornada para fazer uma avaliação mais precisa) é já claro que, ao contrário do passado mais recente, temos matéria-prima de qualidade. Contudo é necessário dar tempo a estes miúdos para se integrarem. E depois, tudo é muito imprevisível. Por exemplo o Diego Rubio, que já todos pensávamos na pré-época que seria o próximo Cristiano Ronaldo, agora nem dá para perceber muito bem o que vale na realidade, pois não tem jogado tempo algum.
André Carrilho aparentemente tem muito potencial e um futebol que entusiasma, mas tem ainda muito que aprender ao nível táctico. É um jogador parecido com Matias, a meu ver, mesmo jogando em posições diferentes.
Wolf é avançado com escola e tem mesmo o tal instinto de Lobo na área. Espero que não se deslumbre com tanto mediatismo, pois tem somente 22 anos. Desejo é que nenhum deles tenha lesões graves que atrapalhe o seu desenvolvimento. Jeffren e o Aguiar já estão no estaleiro há meses. Aí, é que continuamos com galo.
Aqueles inolvidáveis 8 minutos de Paços de Ferreira em que se virou um resultado de 2-0 para 2-3 podem ter sido o início de uma época extraordinária. O Futebol é cheio destes fantásticos episódios que perduram na história. Até a Prometer, somos Grandes e Únicos.
Adenda: Luís Aguiar já era...
André Carrilho aparentemente tem muito potencial e um futebol que entusiasma, mas tem ainda muito que aprender ao nível táctico. É um jogador parecido com Matias, a meu ver, mesmo jogando em posições diferentes.
Wolf é avançado com escola e tem mesmo o tal instinto de Lobo na área. Espero que não se deslumbre com tanto mediatismo, pois tem somente 22 anos. Desejo é que nenhum deles tenha lesões graves que atrapalhe o seu desenvolvimento. Jeffren e o Aguiar já estão no estaleiro há meses. Aí, é que continuamos com galo.
Aqueles inolvidáveis 8 minutos de Paços de Ferreira em que se virou um resultado de 2-0 para 2-3 podem ter sido o início de uma época extraordinária. O Futebol é cheio destes fantásticos episódios que perduram na história. Até a Prometer, somos Grandes e Únicos.
Adenda: Luís Aguiar já era...
domingo, 25 de setembro de 2011
O Umbiguismo
A vontade de punir criminalmente Jardim é tão absurda como absurdo é a dimensão do buraco escondido pelo líder Madeirense. Concordo com a sua punição ao nível penal, se e só se, ficar provado que beneficiou pessoalmente das suas políticas de esbanjamento de fundos públicos.
Nessa perspectiva justiceira, defendida por exemplo também pelo grande Medina Carreira, por uma questão de lucidez todos os governantes deviam ser culpados. Devendo começar a Purga pelo actual Presidente da República que foi quem teve lá mais tempo, e por esse motivo, o que mais tempo pactuou com as escavadoras Jardim.
Nessa perspectiva justiceira, defendida por exemplo também pelo grande Medina Carreira, por uma questão de lucidez todos os governantes deviam ser culpados. Devendo começar a Purga pelo actual Presidente da República que foi quem teve lá mais tempo, e por esse motivo, o que mais tempo pactuou com as escavadoras Jardim.
O ponto crucial desta discussão é perceber como foi possível - num país que viveu debaixo de uma ditadura de 48 anos com os resultados que se conhecem - o sistema político ter permitido que um qualquer individuo se perpetuasse no poder durante 33 anos?
E o mais engraçado é que numa sociedade de fachada, microscópica, onde todos devem favores a todos, demorou-se cerca de 30 e tal anos a perceber que a limitação de mandatos era uma medida essencial para o desenvolvimento do País.
E o mais engraçado é que numa sociedade de fachada, microscópica, onde todos devem favores a todos, demorou-se cerca de 30 e tal anos a perceber que a limitação de mandatos era uma medida essencial para o desenvolvimento do País.
Outros que se deviam também sentar no banco dos réus são os próprios órgãos de comunicação social. Como foi possível, ninguém ter investigado a fundo as contas de Jardim na Madeira? Até porque as televisões e principais jornais têm meios e recursos para isso. Bastava que os Senhores Directores lessem Blogues, por sinal. Era tão óbvio. E nem sequer vou falar de alguma insensatez e até leviandade que existe hoje na comunicação social a abordar o tema. Parece que em cada Madeirense há um perigoso caloteiro. Como se todos os Madeirenses se chamassem Alberto João. Aposto que muitos destes iluminados da justiça a quem de repente se fez luz, votavam sem hesitar em Jardim caso fossem Madeirenses. Estariam-se marimbando para a solidariedade nacional e para as ilegalidades conhecidas. E faziam-no pelos mesmos motivos que levam Isaltino Morais a continuar a ganhar eleições no concelho mais instruído do País - Oeiras. O nosso umbigo (o desses cidadãos) é tão bonito…
Uma bala perdida
Um soldado perdeu uma bala
E
Que nem um tiro
O cabo disparou
A levar a notícia ao furriel
Que
De imediato
A transmitiu ao sargento
e estava na latrina a latrinar
mas puxou as calças correu a informar
o oficial de dia
embora fosse de noite
o capitão
ciente da má nova
foi acordar o major
que estava a sonhar
com as mamas da Sofia Loren
e praguejou
porra
o que é que se passa
que horas são
já um gajo não
foi ele quem alertou o tenente-coronel
que via rádio comunicou
meu coronel
há uma bala perdida não se sabe
exactamente onde nem porquê
nem por quem nem quando
eu até penso que
chega
o que é preciso é avisar o nosso brigadeiro
disse o coronel em pijama de flanela
às riscas
vai ser o bom e o bonito
quando o nosso general souber
uma ba-la per-di-da
uma ba-la per-di-da
gritou o general
procurem-na imediatamente
mensagem urgente
a todos os comandos
encontrem-me essa bala
viva ou morta
está em causa a honra do nosso batalhão
a minha carreira
a minha condecoração
quem perde uma bala
também perde uma guerra
faça-se um inquérito
levante-se um auto
vírgula
palavras do general
convoque-se o conselho de guerra
cancelem-se todas as saídas
as licenças as guias de marcha
apaguem-se as luzes das casernas
constitua-se o tribunal militar
decrete-se o alerta geral
e o estado de sítio
em que sítio meu general
perguntou o alferes
aqui minha besta onde é que havia de ser
quero sentinelas reforçadas
até ordem em contrário está tudo proibido
excepto o que não está
que a filha da puta dessa bala
há-de aparecer
a senha é
cherchez la balle
e a contra-senha é
a contra-senha é sei lá
que se lixe
agora não há tempo para essas merdas
dias depois
a bala
foi finalmente encontrada
dentro da cabeça do soldado.
José Niza
E
Que nem um tiro
O cabo disparou
A levar a notícia ao furriel
Que
De imediato
A transmitiu ao sargento
e estava na latrina a latrinar
mas puxou as calças correu a informar
o oficial de dia
embora fosse de noite
o capitão
ciente da má nova
foi acordar o major
que estava a sonhar
com as mamas da Sofia Loren
e praguejou
porra
o que é que se passa
que horas são
já um gajo não
foi ele quem alertou o tenente-coronel
que via rádio comunicou
meu coronel
há uma bala perdida não se sabe
exactamente onde nem porquê
nem por quem nem quando
eu até penso que
chega
o que é preciso é avisar o nosso brigadeiro
disse o coronel em pijama de flanela
às riscas
vai ser o bom e o bonito
quando o nosso general souber
uma ba-la per-di-da
uma ba-la per-di-da
gritou o general
procurem-na imediatamente
mensagem urgente
a todos os comandos
encontrem-me essa bala
viva ou morta
está em causa a honra do nosso batalhão
a minha carreira
a minha condecoração
quem perde uma bala
também perde uma guerra
faça-se um inquérito
levante-se um auto
vírgula
palavras do general
convoque-se o conselho de guerra
cancelem-se todas as saídas
as licenças as guias de marcha
apaguem-se as luzes das casernas
constitua-se o tribunal militar
decrete-se o alerta geral
e o estado de sítio
em que sítio meu general
perguntou o alferes
aqui minha besta onde é que havia de ser
quero sentinelas reforçadas
até ordem em contrário está tudo proibido
excepto o que não está
que a filha da puta dessa bala
há-de aparecer
a senha é
cherchez la balle
e a contra-senha é
a contra-senha é sei lá
que se lixe
agora não há tempo para essas merdas
dias depois
a bala
foi finalmente encontrada
dentro da cabeça do soldado.
José Niza
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Meia-Noite Em Paris
Um qualquer frágil apreciador de cinema já viu pelo menos uma dezena de filmes de Woody Allen e eu não fujo à regra. Falamos de uma figura incontornável. Quando se escrever a história do cinema dos finais do século XX, inícios do século XXI, o seu nome será muito justamente referência obrigatória. Pessoalmente, gosto mais da sua faceta de argumentista e actor do que propriamente a de realizador, sendo que nele essas componentes são difíceis de dissociar. Mas habituei-me a vê-lo acima de tudo como um extraordinário contador de histórias.
Dos últimos filmes, reti o assombroso Match Point como ponto alto desta última fase da sua carreira. Curiosamente, filme passado em Londres. Nestas suas deambulações por grandes cidades europeias fixou-se desta vez na capital francesa. E este Meia-Noite em Paris, sem ser tão brilhante como o referido Match Point é filme de relevo que fica bem na cinematografia de Allen.
A estonteante ideia de grande parte da acção se passar nos loucos e prósperos anos 20 retira alguma carga da convencionalidade para que o filme podia facilmente caminhar. Até porque não se pode afirmar que o Realizador tenha inovado por aí além ao longo dos últimos anos. Como exemplo mais lapidar dessa feliz reconstrução histórica destaco as orientações deixadas a Luis Buñuel para aquilo que viria a ser o fio condutor do Anjo Exterminador que o realizador espanhol faria anos depois.
Com boas interpretações de Owen Wilson e Marion Cotillard – o primeiro sempre confortável num registo mais de comédia - Meia-Noite Em Paris é mais um filme bem conseguido (sem ser genial) na interminável lista de Woody Allen que conta ainda com as participações de Léa Seydoux, Carla Bruni, Michael Sheen, Kurt Fuller, Kathy Bates e Adrien Brody, o que vem provar que toda a gente quer trabalhar com ele.
Num certo sentido, ocorre-me que todos temos um pouco daquela nostalgia rebelde e daquela insatisfação permanente que Gil (o protagonista) tem. E o que sempre me agradou mais no Cinema do americano é precisamente essa visão desencantada do mundo…
Dos últimos filmes, reti o assombroso Match Point como ponto alto desta última fase da sua carreira. Curiosamente, filme passado em Londres. Nestas suas deambulações por grandes cidades europeias fixou-se desta vez na capital francesa. E este Meia-Noite em Paris, sem ser tão brilhante como o referido Match Point é filme de relevo que fica bem na cinematografia de Allen.
A estonteante ideia de grande parte da acção se passar nos loucos e prósperos anos 20 retira alguma carga da convencionalidade para que o filme podia facilmente caminhar. Até porque não se pode afirmar que o Realizador tenha inovado por aí além ao longo dos últimos anos. Como exemplo mais lapidar dessa feliz reconstrução histórica destaco as orientações deixadas a Luis Buñuel para aquilo que viria a ser o fio condutor do Anjo Exterminador que o realizador espanhol faria anos depois.
Com boas interpretações de Owen Wilson e Marion Cotillard – o primeiro sempre confortável num registo mais de comédia - Meia-Noite Em Paris é mais um filme bem conseguido (sem ser genial) na interminável lista de Woody Allen que conta ainda com as participações de Léa Seydoux, Carla Bruni, Michael Sheen, Kurt Fuller, Kathy Bates e Adrien Brody, o que vem provar que toda a gente quer trabalhar com ele.
Num certo sentido, ocorre-me que todos temos um pouco daquela nostalgia rebelde e daquela insatisfação permanente que Gil (o protagonista) tem. E o que sempre me agradou mais no Cinema do americano é precisamente essa visão desencantada do mundo…
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
O Primeiro
O nosso Primeiro falou ao povo e o povo vai apertando o cinto até não haver mais furos.
Independentemente de tudo o resto, temos que admitir que Passos Coelho está confiante na forma como representa o papel. Para essa constatação contribuem sobremaneira dois factores:
- Passos sucede a alguém que, além de ter a imagem totalmente desgastada por anos difíceis de governação, tinha como característica mais relevante uma espécie de artificialidade mecânica. Sócrates assumia muitas vezes uma robotização quase doentia. Em contraste, a aparente humanidade de Passos valerá pontos enquanto as pessoas se lembrarem que existiu Sócrates;
- O facto de Seguro ter ganho as eleições no PS permite a Passos Coelho continuar sem grande oposição dentro do país. Esta ascensão do inenarrável António José Seguro no interior do partido socialista vem provar que é mesmo tudo possível em política. Talvez o parceiro Paulo Portas, a espaços e sorrateiramente, porque está nitidamente enfraquecido, possa cumprir com eficiência essa função.
Depois, falando do conteúdo da entrevista propriamente dito, o Primeiro-Ministro pouco tem a transmitir aos portugueses que justificasse ser ouvido. Diz que a Grécia é bem capaz de ir ao fundo. Admite pedir mais ajuda e privatizar por dá cá aquela palha. Diz que Jardim é um malandro, mas só agora há pouco tempo é que percebeu. Diz que a austeridade é inevitável e que se prolongará por mais tempo que previsto.
Mas o que eu gostava mesmo era que alguém lhe perguntasse porque corta a eito na Cultura, mantendo generais, coronéis, tanques e submarinos? E até aceito que haja mais investimento na Administração Interna. Estranho face à tendência geral, mas aceito, porque os Polícias trabalham em condições difíceis, mal pagos, e muitas vezes sem equipamento apropriado. Agora, a defesa? Para que serve mesmo um submarino ou um general no activo, senhor Primeiro-Ministro?...
Independentemente de tudo o resto, temos que admitir que Passos Coelho está confiante na forma como representa o papel. Para essa constatação contribuem sobremaneira dois factores:
- Passos sucede a alguém que, além de ter a imagem totalmente desgastada por anos difíceis de governação, tinha como característica mais relevante uma espécie de artificialidade mecânica. Sócrates assumia muitas vezes uma robotização quase doentia. Em contraste, a aparente humanidade de Passos valerá pontos enquanto as pessoas se lembrarem que existiu Sócrates;
- O facto de Seguro ter ganho as eleições no PS permite a Passos Coelho continuar sem grande oposição dentro do país. Esta ascensão do inenarrável António José Seguro no interior do partido socialista vem provar que é mesmo tudo possível em política. Talvez o parceiro Paulo Portas, a espaços e sorrateiramente, porque está nitidamente enfraquecido, possa cumprir com eficiência essa função.
Depois, falando do conteúdo da entrevista propriamente dito, o Primeiro-Ministro pouco tem a transmitir aos portugueses que justificasse ser ouvido. Diz que a Grécia é bem capaz de ir ao fundo. Admite pedir mais ajuda e privatizar por dá cá aquela palha. Diz que Jardim é um malandro, mas só agora há pouco tempo é que percebeu. Diz que a austeridade é inevitável e que se prolongará por mais tempo que previsto.
Mas o que eu gostava mesmo era que alguém lhe perguntasse porque corta a eito na Cultura, mantendo generais, coronéis, tanques e submarinos? E até aceito que haja mais investimento na Administração Interna. Estranho face à tendência geral, mas aceito, porque os Polícias trabalham em condições difíceis, mal pagos, e muitas vezes sem equipamento apropriado. Agora, a defesa? Para que serve mesmo um submarino ou um general no activo, senhor Primeiro-Ministro?...
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
O Paraíso da Trafulhice
Debaixo da asa do Professor Cavaco repousam os escombros do regime. Quanto do défice da república (e já agora das actuais agruras do Povo) resulta das tropelias dos Oliveiras e Costas e Dias Loureiros no BPN e das aventuras de Jardim na Madeira?
Portugal é um paraíso para os difusores do Crime. Em vez de os castigar, dá-lhes prémios. Estão à espera de quê para promover turisticamente o reino da inimputabilidade? Sejam bem-vindos ao Éden das Vigarices….
Portugal é um paraíso para os difusores do Crime. Em vez de os castigar, dá-lhes prémios. Estão à espera de quê para promover turisticamente o reino da inimputabilidade? Sejam bem-vindos ao Éden das Vigarices….
domingo, 18 de setembro de 2011
O Paradoxo
A Política que Jardim preconiza para a Madeira assemelha-se muito à trajectória seguida pelos países do ex-bloco comunista. Assenta precisamente nos mesmos fundamentos, por estranho que isto possa parecer.....
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
O PREMAC
Depois do PRACE I e II, com resultados praticamente inexistentes aos olhos da opinião pública (parece que houve meia dúzia de funcionários da agricultura que foram considerados excedentários) chega agora o PREMAC, pomposamente designado com o Plano de Redução e Melhoria da Administração Central do Estado, que implica (dizem eles) uma redução de 38% de estruturas da administração central directa e indirecta. Sendo eliminados 1712 cargos (dizem eles) contribuindo todos os ministérios para esta razia.
Estava capaz de apostar que parte considerável das extinções de organismos públicos agora anunciadas, bem como parte considerável das chefias a reduzir, já estavam na prática extintas e esvaziadas de funções pelo anterior governo. Outra figura que os nossos Governantes gostam de evocar por tudo e por nada nos tempos que correm é a Fusão de Entidades. Sistema que funciona mais ou menos nos seguintes termos: de duas entidades, uma perde o nome e a respectiva personalidade jurídica, mas ambas continuam a funcionar nas mesmas instalações diferenciadas mantendo os mesmíssimos recursos podendo até, recorrendo a adjudicações externas, aumentar o custo com subcontratações diversas. É o emagrecimento à Portuguesa.
Independentemente destes jogos florais, existe alguém que continua a empreender porque o País precisa de investimento sensato, como aliás sempre foi seu apanágio:
Estava capaz de apostar que parte considerável das extinções de organismos públicos agora anunciadas, bem como parte considerável das chefias a reduzir, já estavam na prática extintas e esvaziadas de funções pelo anterior governo. Outra figura que os nossos Governantes gostam de evocar por tudo e por nada nos tempos que correm é a Fusão de Entidades. Sistema que funciona mais ou menos nos seguintes termos: de duas entidades, uma perde o nome e a respectiva personalidade jurídica, mas ambas continuam a funcionar nas mesmas instalações diferenciadas mantendo os mesmíssimos recursos podendo até, recorrendo a adjudicações externas, aumentar o custo com subcontratações diversas. É o emagrecimento à Portuguesa.
Independentemente destes jogos florais, existe alguém que continua a empreender porque o País precisa de investimento sensato, como aliás sempre foi seu apanágio:
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
A Consciência
Jeremias consultava amiúde o calendário das revoluções. Depois da Líbia e das convulsões na Grécia, Jeremias suspirava pela maior revolução de todas: a da sua consciência...
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
A Palermice
O Tozé subiu as escadas rodeado de assessores (para a comunicação, presumo) com o objectivo de, segundo ele, perceber como a comunicação social trabalhava, mostrando-se espantado com a parafernália de meios utilizado por jornalistas e técnicos num dos mais rocambolescos momentos televisivos dos últimos tempos.
Nunca podemos afirmar que já vimos de tudo, mas esta original operação de charme do novo líder socialista deixou-me espantado. Quer dizer, um tipo que chegou onde chegou através de uma mera estratégia de marketing mediático não sabe como se processa e operacionaliza a informação? Este Seguro é a prova viva que há sempre alguém ainda mais idiota que o maior dos idiotas. Ainda hei de ver este Tozé perplexo ao perceber que existem telepontos e gajos que até sabem escrever discursos….
Nunca podemos afirmar que já vimos de tudo, mas esta original operação de charme do novo líder socialista deixou-me espantado. Quer dizer, um tipo que chegou onde chegou através de uma mera estratégia de marketing mediático não sabe como se processa e operacionaliza a informação? Este Seguro é a prova viva que há sempre alguém ainda mais idiota que o maior dos idiotas. Ainda hei de ver este Tozé perplexo ao perceber que existem telepontos e gajos que até sabem escrever discursos….
VOZ NUMA PEDRA
Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento
Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal
Mário Cesariny
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento
Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal
Mário Cesariny
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
A Saúde
Este Governo prepara-se a Passos largos para dar um valente safanão no Serviço Nacional de Saúde, que como se depreende facilmente, tem os dias contados. É hipócrita afirmar que é o seu fim, mas é também irrealista refutar a actual tendência para a degradação que, aliás, encobre uma gritante incongruência inconstitucional. Pode-se não gostar da mistura explosiva de um gestor rigoroso com provas dadas como Paulo Macedo e um ministério essencial para a sobrevivência e dignidade humana como a Saúde. A mim provoca-me especial pavor. Mas reconheço que num tempo de vacas esqueléticas foi das poucas cartadas inteligentes de Passos Coelho. O low profile de Macedo e os seus antecedentes na obtenção de resultados nos impostos permitem ir justificando, paulatinamente, perante o país algo que à partida seria injustificável. É o princípio do fim do Estado Social. A social-democracia deve ser isto….
With A Little Help From My Friends - Joe Cocker
Um original dos Beatles interpretado pelo eterno Joe Cocker...
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Os Modelos
Veraneantes estendidos nas toalhas de praia com os corpos ao sol. As únicas palavras trocadas servem para articular idas ao banho. Ou então saídas ao café para enganar o estômago. Têm corpos bonitos e vigorosos mas o cérebro permanece vazio...
domingo, 4 de setembro de 2011
Os Mal-Amados
Hélder Postiga é por todos os motivos e mais algum um jogador fora do comum. Muito curiosamente, ou talvez não, tem sido também ao longo da carreira um autêntico agregador de ódios. O Sporting vendeu-o definitivamente ao Saragoça recebendo uns míseros 500 000 € quando o tinha comprado por 2 milhões e meio. É o negócio possível. Muito fraquito na perspectiva de estarmos perante um titular de uma prestigiada selecção nacional. Mas a verdade é que Postiga só muito ocasionalmente marca, e isso não é atractivo como cartão de visita de um qualquer ponta de lança.
Quanto a Djaló, ou à Floribela, como carinhosamente...é tratado em Alvalade é produto da casa mas tirando alguns fogachos ocasionais nunca soube ser consistente. Atendendo aos 25 anos de idade e aos custos inerentes à formação do jogador, os hipotéticos 4 milhões e meio por 75% do passe (valores ainda não confirmados) não se pode dizer que seja um negócio por ai além. O Nice vai pagar-lhe de ordenado uma exorbitância face ao que recebia em Alvalade. E esta mudança é boa para ele. E sempre foi um jogador com uma postura correcta, apesar de tudo. Boa sorte para ele, sendo que não acredito que singre de forma categórica.
Percebe-se agora claramente a insistência de Domingos, instruído pela direcção, na titularidade de Postiga e Djaló. Numa primeira fase pensei que a pressão para que tal acontecesse era evidente com o objectivo legítimo de valorizar os jogadores. Ultimamente, face a exibições tão confrangedoras dos jogadores, a sua repetida utilização já me parecia pura teimosia de Domingos. Conclusão que agora se percebe errada.
No entanto face aos resultados (perda de 7 pontos no campeonato em apenas 3 jogos) e às parcas quantias resultantes dos negócios a estratégia utilizada não foi a mais acertada. Obviamente que podemos sempre especular que caso não fossem actualmente titulares, o seu valor de mercado ainda seria menor. Mas atendendo às pobres exibições que rubricaram o que fica para a história é a irritação geral que foram provocando aos adeptos, e claro, os pontos perdidos para o Campeonato. Duque e Freitas parece saber o que estão a fazer, mas é natural que comece a haver uma desconfiança acerca da real capacidade da equipa...
Quanto a Djaló, ou à Floribela, como carinhosamente...é tratado em Alvalade é produto da casa mas tirando alguns fogachos ocasionais nunca soube ser consistente. Atendendo aos 25 anos de idade e aos custos inerentes à formação do jogador, os hipotéticos 4 milhões e meio por 75% do passe (valores ainda não confirmados) não se pode dizer que seja um negócio por ai além. O Nice vai pagar-lhe de ordenado uma exorbitância face ao que recebia em Alvalade. E esta mudança é boa para ele. E sempre foi um jogador com uma postura correcta, apesar de tudo. Boa sorte para ele, sendo que não acredito que singre de forma categórica.
Percebe-se agora claramente a insistência de Domingos, instruído pela direcção, na titularidade de Postiga e Djaló. Numa primeira fase pensei que a pressão para que tal acontecesse era evidente com o objectivo legítimo de valorizar os jogadores. Ultimamente, face a exibições tão confrangedoras dos jogadores, a sua repetida utilização já me parecia pura teimosia de Domingos. Conclusão que agora se percebe errada.
No entanto face aos resultados (perda de 7 pontos no campeonato em apenas 3 jogos) e às parcas quantias resultantes dos negócios a estratégia utilizada não foi a mais acertada. Obviamente que podemos sempre especular que caso não fossem actualmente titulares, o seu valor de mercado ainda seria menor. Mas atendendo às pobres exibições que rubricaram o que fica para a história é a irritação geral que foram provocando aos adeptos, e claro, os pontos perdidos para o Campeonato. Duque e Freitas parece saber o que estão a fazer, mas é natural que comece a haver uma desconfiança acerca da real capacidade da equipa...
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
O Tempo
O Tuga queixa-se pelas esquinas. Reclama que este Agosto foi fraquito. Que não houve bom tempo três dias seguidos. Que mesmo o Sol já não é o que era. Que a chuva estragou os planos.
A verdade, meus amigos, é que também devemos dinheiro ao São Pedro....
A verdade, meus amigos, é que também devemos dinheiro ao São Pedro....
AURORA
A poesia não é voz – é uma inflexão.
Dizer, diz tudo a prosa. No verso
nada se acrescenta a nada, somente
um jeito impalpável dá figura
ao sonho da cada um, a expectativa
das formas por achar. No verso nasce
à palavra uma verdade que não acha
entre os escombros da prosa o seu caminho.
E aos homens um sentido que não há
nos gestos nem nas coisas:
voo sem pássaro dentro.
Adolfo Casais Monteiro
Dizer, diz tudo a prosa. No verso
nada se acrescenta a nada, somente
um jeito impalpável dá figura
ao sonho da cada um, a expectativa
das formas por achar. No verso nasce
à palavra uma verdade que não acha
entre os escombros da prosa o seu caminho.
E aos homens um sentido que não há
nos gestos nem nas coisas:
voo sem pássaro dentro.
Adolfo Casais Monteiro
domingo, 28 de agosto de 2011
Relvas de Ouro
Com tantos jornalistas e bloggers ainda disponíveis para serem devidamente amordaçados, é coisa para não ficar por aqui…
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Autobiografia de Nicolae Ceausescu
Andrei Ujica arriscou na realização de um projecto que exigiu pela certa uma exaustiva dedicação: a biografia do líder Romeno Nicolae Ceausescu. É um filme com uma abordagem totalmente inesperada, quer na forma de apresentação, quer no conteúdo. E logo por aí, é merecedor de amplos elogios.
O filme que dura 3 horas é completamente produzido através de imagens reais, recorrendo somente a material de arquivo. Entre outros momentos históricos registados destacam-se: os sui generis congressos do partido comunista romeno, as visitas de estado de Ceauscescu à China de Mao, à América de Carter, à Inglaterra onde é recebido com grandes honras pela Rainha e a uma muito curiosa recepção ao ortodoxo republicano Richard Nixon na Roménia.
Provavelmente a tendência mais óbvia seria demonizar a figura do ditador assassino que, além de tudo o mais, exibia um extravagante culto de personalidade. Mas o realizador, inteligentemente, não entrou por aí. Apresenta a biografia de forma cronológica, escalpelizando com rigor os 24 anos de poder de Ceauşescu. O espectador que tire as suas próprias conclusões. Começa com a ascensão ao poder e termina com o insólito julgamento sumário que resultou na execução imediata do casal Ceauşescu.
Apesar de nos meios políticos internacionais da altura ser considerado um líder de grande envergadura, a ideia que retiro do filme que tinha grande curiosidade em ver (ainda para mais concebido por um realizador romeno) é que Ceauşescu não possuía o tal carisma que se falava. Foi um funcionário carreirista que serviu com abnegação os dogmas do partido comunista romeno. Se não fosse ele, era outro qualquer. O próprio culto da personalidade era reflexo dos tempos, e as visitas à China de Mao e Coreia agudizaram-lhe ainda mais essa faceta. Conseguiu incrementar períodos de algum desenvolvimento no País, mas como todos os ditadores perpetuou-se no poder e esse apego obsessivo tornou-o intolerante. É a história da Humanidade.
Nos anos 80, com a pressão da divida externa acumulada, ordenou a exportação de grande parte da produção agrícola e industrial da Roménia. O resultado foi a escassez de comida, energia e cuidados médicos, tornando a vida das pessoas numa infernal luta pela sobrevivência. Ao mesmo tempo, as relações com Gorbatchov – o ideólogo da dissolução soviética - estavam algo tensas (nota-se no filme) ainda que aparentemente parecessem normais. A queda do muro de Berlim foi outro catalisador natural para generalizar o descontentamento. Daí à revolta popular, foi um pequeno passo….
O filme que dura 3 horas é completamente produzido através de imagens reais, recorrendo somente a material de arquivo. Entre outros momentos históricos registados destacam-se: os sui generis congressos do partido comunista romeno, as visitas de estado de Ceauscescu à China de Mao, à América de Carter, à Inglaterra onde é recebido com grandes honras pela Rainha e a uma muito curiosa recepção ao ortodoxo republicano Richard Nixon na Roménia.
Provavelmente a tendência mais óbvia seria demonizar a figura do ditador assassino que, além de tudo o mais, exibia um extravagante culto de personalidade. Mas o realizador, inteligentemente, não entrou por aí. Apresenta a biografia de forma cronológica, escalpelizando com rigor os 24 anos de poder de Ceauşescu. O espectador que tire as suas próprias conclusões. Começa com a ascensão ao poder e termina com o insólito julgamento sumário que resultou na execução imediata do casal Ceauşescu.
Apesar de nos meios políticos internacionais da altura ser considerado um líder de grande envergadura, a ideia que retiro do filme que tinha grande curiosidade em ver (ainda para mais concebido por um realizador romeno) é que Ceauşescu não possuía o tal carisma que se falava. Foi um funcionário carreirista que serviu com abnegação os dogmas do partido comunista romeno. Se não fosse ele, era outro qualquer. O próprio culto da personalidade era reflexo dos tempos, e as visitas à China de Mao e Coreia agudizaram-lhe ainda mais essa faceta. Conseguiu incrementar períodos de algum desenvolvimento no País, mas como todos os ditadores perpetuou-se no poder e esse apego obsessivo tornou-o intolerante. É a história da Humanidade.
Nos anos 80, com a pressão da divida externa acumulada, ordenou a exportação de grande parte da produção agrícola e industrial da Roménia. O resultado foi a escassez de comida, energia e cuidados médicos, tornando a vida das pessoas numa infernal luta pela sobrevivência. Ao mesmo tempo, as relações com Gorbatchov – o ideólogo da dissolução soviética - estavam algo tensas (nota-se no filme) ainda que aparentemente parecessem normais. A queda do muro de Berlim foi outro catalisador natural para generalizar o descontentamento. Daí à revolta popular, foi um pequeno passo….
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