sábado, 2 de março de 2013
A Grândola
Não me revejo a 100 % na mensagem dos movimentos contestatários à presença da Troika em Portugal. Eles estão cá porque nós, em último recurso, os chamamos. O que eu quero mesmo que se lixe é o Cavaco, a Corrupção, o Compadrio, a Incompetência e essencialmente os governos que nos têm desgovernado...
Agora sou incapaz de ficar indiferente a esta revisitação maciça da mítica canção que ecoou de forma irreversível numa madrugada de Abril - os "soldados" da liberdade partiram precisamente da cidade onde eu tinha nascido três dias antes - e que me deixa sempre com aquele brilhozinho nos olhos...
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
O Neurónio
Jeremias viajava de epitáfio em epitáfio à procura da despedida perfeita para aquele filho que queria fazer desaparecer. Jeremias sempre achou piada a quem bloga de segunda a sexta, descansando aos fins de semana, como se o ato de blogar fosse uma obrigação. Estranhos são os caminhos da contemporaneidade, pensava Jeremias.
As palavras para Jeremias nunca tiveram sentido de oportunidade. Escrevia por absoluta necessidade. Porque era simplesmente humano e sempre era uma forma de estar bem com o mundo. Mas as suas palavras estavam a ficar cada vez mais afiadas, mais castradoras, mais venenosas para quem assumiu o desafio de lançar um filho de carne e osso - a sua única obra suprema - na roleta da vida.
Aproximava-se a altura de Jeremias enclausurar as palavras, que têm vida própria e que nunca deixarão de fervilhar na sua cabeça, numa sala fechada com acesso restrito a um único neurónio – o de Jeremias…
As palavras para Jeremias nunca tiveram sentido de oportunidade. Escrevia por absoluta necessidade. Porque era simplesmente humano e sempre era uma forma de estar bem com o mundo. Mas as suas palavras estavam a ficar cada vez mais afiadas, mais castradoras, mais venenosas para quem assumiu o desafio de lançar um filho de carne e osso - a sua única obra suprema - na roleta da vida.
Aproximava-se a altura de Jeremias enclausurar as palavras, que têm vida própria e que nunca deixarão de fervilhar na sua cabeça, numa sala fechada com acesso restrito a um único neurónio – o de Jeremias…
O Pensamento do Mês
Há coisas nas Árvores que sempre me fascinaram. Dava tudo para poder ser Árvore. Isto de ser humano, além de ser uma carga de trabalhos, tem os dias contados…
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
A Pergunta
Um dia perguntaram a
Jeremias porque desenhava com exatidão as correntes que desaguavam nos ondulantes
rios da Ironia? Jeremias, engoliu em seco, e respondeu que apesar de não ter
tanto Mundo como gostaria, sempre viveu num país chamado Hipocrisia…
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
A Beatice
Tive o cuidado de ouvir as debatidas declarações de Isabel Jonet duas ou três vezes para assegurar que não me escapou nada e, sinceramente, não vejo motivos para tanto alarido. Jonet é o protótipo da beata fina que prolifera em Portugal. Vive num mundo altamente desfocado, alicerçado em dogmas ultrapassados. Aposto que votou contra a despenalização do aborto e que educa os filhos com base em livros escritos pelos seus amigos pedopsiquiatras, o que me levanta sempre sérias dúvidas relativamente à sanidade mental desses pais autómatos.
As suas polémicas declarações misturam alguma realidade tangível (meio país viveu acima das suas possibilidades durante anos e anos - facto absolutamente indesmentível) com considerações um bocado imbecis resultantes daquela pose evangelista de amiga dos pobrezinhos.
Jonet tem feito um trabalho assinalável à frente do Banco Alimentar (provavelmente o mérito que lhe é frequentemente atribuído não será só dela) mas demonstra que apesar de conseguir angariar e oferecer o peixe a quem dele necessita, seria incapaz de ensinar alguém a pescar. E é disso que o País precisa com urgência, não de paladinas da moral caduca. Mas com isto não ponho em causa a sua continuidade à frente da organização. Também me parece que há muita hipocrisia, e até alguma fantasia, nas críticas que lhe tem sido feitas, mesmo da parte da esquerda mais militante. A mulher, aproveitando alguma notoriedade que lhe é dada pelos motivos certos, limitou-se a debitar uns dizeres intelectualmente pouco sustentados como se tivesse à mesa do café com outras beatas. Historicamente, a Beatice em Portugal, sempre foi valorizada em demasia...
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Yes, He Can...
"It moves forward because of you. It moves forward because you reaffirmed
the spirit that has triumphed over war and depression, the spirit that
has lifted this country from the depths of despair to the great heights
of hope, the belief that while each of us will pursue our own individual
dreams, we are an American family, and we rise or fall together as one
nation and as one people"...
Sempre gostei muito do Tipo que escreve os discursos do Obama...
terça-feira, 6 de novembro de 2012
A Refundação
Existe para aí grande
celeuma à volta da palavra utilizada pelo governo para definir os seus objetivos
para os próximos tempos. Logo Vasco Pulido Valente e o inefável prof. Marcelo, e bem, chamaram a atenção para a infelicidade
da expressão encontrada por aquelas brilhantes cabeças.
Refundar é começar de novo. Podem dar as voltas que quiserem, podem destruir tudo em que metem as mãos, mas a riqueza da nossa língua é indestrutível e a semântica inviolável. Por muito que se esforcem, e acredito que tenham talento para isso, não nos conseguem tirar também a excelência da gastronomia e a dádiva do clima.
Refundar é verbo que eventualmente poderia ser aplicado logo quando o Governo tomou posse dependendo do contexto, claro está, da sua utilização. Mas agora meu amigos, um ano e meio depois? O que o país precisa há muito é de reformar com cabeça, tronco e membros, apertando sem asfixiar, sendo que não existe a mínima hipótese de Tozé Seguro ser o veículo ideal para essa pretensão.
Este Governo sem alternativas e pressionado pelos nossos financiadores vai acabar por ter de fazer aquilo que qualquer atrasado mental (como este escriba, aliás) previa há meses atrás: despedir dezenas e dezenas de milhares de funcionários públicos. A questão central que devia começar a estar na ordem do dia é como proceder a uma necessária e premente revisão constitucional. O presidente da república mantém-se calado quando devia falar e declara vacuidades quando devia estar calado. Começa-me a parecer que a saída menos dolorosa para o país talvez fosse o ressurgimento do bloco central. Mas um governo liderado por Passos e Seguro – dois cachopos vazios de conteúdo de acordo com as sábias palavras do meu barbeiro de toda uma vida – tornaria Portugal (ainda mais) uma sucessão fascinante de episódios montypythonianos…
Refundar é começar de novo. Podem dar as voltas que quiserem, podem destruir tudo em que metem as mãos, mas a riqueza da nossa língua é indestrutível e a semântica inviolável. Por muito que se esforcem, e acredito que tenham talento para isso, não nos conseguem tirar também a excelência da gastronomia e a dádiva do clima.
Refundar é verbo que eventualmente poderia ser aplicado logo quando o Governo tomou posse dependendo do contexto, claro está, da sua utilização. Mas agora meu amigos, um ano e meio depois? O que o país precisa há muito é de reformar com cabeça, tronco e membros, apertando sem asfixiar, sendo que não existe a mínima hipótese de Tozé Seguro ser o veículo ideal para essa pretensão.
Este Governo sem alternativas e pressionado pelos nossos financiadores vai acabar por ter de fazer aquilo que qualquer atrasado mental (como este escriba, aliás) previa há meses atrás: despedir dezenas e dezenas de milhares de funcionários públicos. A questão central que devia começar a estar na ordem do dia é como proceder a uma necessária e premente revisão constitucional. O presidente da república mantém-se calado quando devia falar e declara vacuidades quando devia estar calado. Começa-me a parecer que a saída menos dolorosa para o país talvez fosse o ressurgimento do bloco central. Mas um governo liderado por Passos e Seguro – dois cachopos vazios de conteúdo de acordo com as sábias palavras do meu barbeiro de toda uma vida – tornaria Portugal (ainda mais) uma sucessão fascinante de episódios montypythonianos…
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Os Erros de Godinho
O próximo Messias de
Alvalade está escolhido e tem nome: Vercauteren. Acontece que, para mal da minha
sanidade mental, o Sporting não necessita de mais um putativo salvador mas
sim de um tratamento de choque que mude radicalmente o Clube sem o revolucionar
a 100 %. Isto porque nem tudo está mal no Clube. Mas no essencial está quase
tudo mal, é bom que se perceba. Sem a aplicação desse tratamento de choque só
restará a hipótese de começar quase do zero. Não creio que haja mais
alternativas face ao que é a conjuntura económica atual. E o plano previsto e
anunciado de crescimento significativo do número de sócios, num clube que não
ganha literalmente a ninguém, só pode dar para rir e chorar ao mesmo tempo.
Curiosamente, tal
como no país, não sou a favor de um cenário imediato de eleições antecipadas no
Sporting, mesmo correndo sérios riscos de ver concretizar a pior época
desportiva de que tenho memória, e ainda estamos em outubro.
Os próprios pseudo-candidatos
(notáveis, é essa a palavra na suicida terminologia utilizada desde sempre em
alvalade) que se assumiram como alternativas nas últimas eleições e que vão vagueando
por aí, como é hábito no Sporting, não têm mostrado grande entusiamo com essa
ideia. Godinho teve o mérito de arriscar. Ao contrário do seu antecessor (bem me enganou, esse) que andou lá a gerir tesouraria. Godinho ao menos tem ambição de
ir longe mas a verdade é que, ao contrário de há ano e meio atrás, o Sporting já
não é um clube tão apetecível, mesmo para quem busque somente protagonismo. O
Clube está mais endividado, com menos estrada para andar, e mais perto do precipício.
Mas o maior problema do Sporting é quanto a mim outro: é que quem eventualmente
teria condições e perfil para poder mudar as coisas (alguém com ideias
próprias, fora dos círculos elitistas de alvalade, e que não tenha receios de
chamar as coisas pelos nomes) terá sempre o problema de não ter notoriedade
junto dos sócios, e quem tem a tal notoriedade elegível só a sabe utilizar para
denegrir o Clube, nunca beneficiar. E este dilema não é resolúvel porque o
Sporting vive numa permanente feira de vaidades. Esta é a questão central para
um clube que vive completamente na corda bamba porque dinheiro para investir no
Sporting mantendo o clube níveis mínimos de controlo, não vai surgir de lado
nenhum neste momento, a não ser que surja um novo Jorge Gonçalves com os
resultados que se conhecem.
Mas quais foram os
erros, e os inúmeros tiros no pé de Godinho Lopes, que fizeram com que atualmente
viva à deriva num estado permanente de fuga para a frente, com alguns laivos de autismo,
sem se deslumbrar um mero vestígio de algo semelhante a um rumo (é esta a
verdade que grassa aos olhos do adepto comum neste momento):
1) Despedir Domingos
uma semana depois de o técnico assegurar presença na final da taça de Portugal contra
a académica (que quem o sucedeu acabou por perder) aparentemente por falhas na
comunicação e por não se dar bem com o Paulinho. Foram estes os motivos
tornados públicos para a demissão. Bem, relativamente às falhas de comunicação
até parece que a comunicação do Sporting é exemplar. Desde recados para os
jornais vindos de dentro completamente inoportunos, despropositados e
destabilizadores, passando pela sistemática colocação de bons profissionais normalmente nos lugares errados, até à inexistência de uma mensagem uniforme a passar nos
media, culpar o Domingos de má comunicação é um bocado irónico. Os próximos
erros de casting na área da comunicação a serem cometidos terão como pano de
fundo a Sporting TV. No Sporting a incapacidade para se ser objetivo, arrojado
e criativo é gritante. É uma questão de ADN.
Quanto ao Paulinho
estamos perante sem sombras de dúvidas um símbolo inquestionável do Sporting. São
o Leão e o Paulinho os verdadeiros símbolos do Clube. É indiscutível e
intocável na estrutura mas se havia algum problema com o treinador, o que o
Sporting tinha de fazer era arranjar um outro enquadramento para o mítico Roupeiro,
nem que se tivesse de contratar um psicólogo para o acompanhar 24 horas por
dia. O Paulinho merece esse sacrifício. Agora despedir um treinador por não se
dar com o roupeiro é coisa que não lembra a ninguém.
2) Contratar e, mais
grave, renovar com Sá Pinto. No primeiro dia de Sá Pinto os adeptos mais
lúcidos logo anteviram o triste fim que lhe cairia em sorte. Por essas redes
sociais fora eu fui dos poucos a remar contra a maré, face ao grande entusiamo
que foi criado por esse golpe de marketing (não passou disso) da direção. Sá
Pinto tinha um bom discurso para dentro e fora do Clube, mas entre essa
evidência e reconhecidas capacidades para treinar uma equipa de futebol profissional
com as exigências do Sporting ia (vai) um oceano de diferenças.
3) Godinho deixou-se
cair num discurso coerente, é verdade, mas completamente contraproducente e contra precedente ao
afirmar repetidamente que este não ia ser ainda o ano da aposta desportiva. Isto
quanto a mim é a grande causa de o Sporting estar em décimo lugar no
campeonato. Ao assumir este discurso perante uma equipa que foi reforçada e em
que a maioria dos jogadores vinham de uma época em que andaram perto das conquistas,
sem contudo terem concretizado vitórias, o presidente semeou um sentimento de
desresponsabilização crescente que está agora à vista de todos com os casos de
indisciplina e do completo apagamento futebolístico de alguns dos melhores
jogadores do plantel.
4) Deixar cair em simultâneo
Luís Duque e Carlos Freitas. Pelo menos um dos dois devia ter continuado.
Godinho ao deixar cair os últimos trunfos eleitorais ficou sem qualquer margem
de manobra junto da massa associativa.
5) Liderar uma equipa
diretiva onde não existe a mais pequena solidariedade institucional com o
presidente. Para que serve um conselho diretivo se os seus membros, por amizade,
passam informação particularmente sensível para um comentador televisivo dum
clube adversário poder anunciar em primeira mão na televisão? Vão gozar com a
cara da tia deles.
6) Contratar um
treinador com um perfil predominantemente formador para liderar uma equipa de
jogadores feitos com proveniências, hábitos e culturas diferentes (40 milhões de
euros depois) exigindo ainda para mais resultados imediatos.
Posto tudo isto e
para que fique claro, Vercauteren é a partir de hoje o meu Treinador e merece
como todos os outros que o precederam o benefício da dúvida. Se eu dei o
benefício da dúvida (por muito pouco tempo, é verdade) ao pior treinador de
sempre da história – Paulo Sérgio – não hei-de dar a um tipo que tinha um magnífico
pé esquerdo.
Como sócio, e porque
continuo a acreditar que o Sporting no futuro poderá levantar-se (ainda que tenha
consciência que estamos a desaproveitar definitivamente o potencial de
crescimento que o Clube tem, porque a juventude com toda a naturalidade foge
para os rivais) vou continuar a receber disciplinadamente e com toda a paciência os emails promocionais
do Clube, a ler as cartas do presidente, a pagar religiosamente as quotas, a visitar o site, a
ler as notícias relacionadas com as visitas ao museu, com as vitórias no ténis
de mesa e com o grande êxito que são as corridas Sporting...
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
O Sandy
Gostava de ter oportunidade de conhecer o gajo que habitualmente dá nome aos furacões. É profissão interessante mas convém ter alguma sensibilidade para a coisa, note-se. O tipo deve ter um sentido de humor muito próprio, e um bocado estúpido, assinale-se. Dar um nome de gelado a um Furacão é no mínimo insólito. Katrina é nome de Furacão, agora Sandy meus amigos. Espero que tal personagem nunca tenha de pôr nome a um filho...
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
A Retirada
Francisco José Viegas abandona em boa hora por motivos de saúde - espero que nada de grave - este Governo de Passos Coelho. Acima de tudo, é uma boa notícia para ele. Ser Secretário de Estado da Cultura de um governo que não faz a mais pequena ideia do que significa em conceito lato a palavra Cultura é programa impossível de concretizar. O atual governo composto por orgulhosos Filisteus é um atentado à sustentabilidade e desenvolvimento de qualquer país em qualquer parte do mundo. Francisco José Viegas pode agora regressar - espero que com saúde - ao mundo dos livros de onde nunca devia ter saído como o próprio certamente reconhecerá...
terça-feira, 23 de outubro de 2012
As Crises
Jeremias olhava para a propagada crise do Sporting como olhava para o buraco onde Portugal estava enterrado. Ambas as tormentas lembravam-lhe a música do Palma. Tinha uma secreta esperança que ainda houvesse caminho para percorrer, porque enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar…
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Manuel António Pina (1943-2012)
«Hoje, já não me assustam as trovoadas, mas continuo a escrever porque tenho medo. Se calhar, medo de ter medo, como dizia o O’Neill.»
Escritor de exceção, Sportinguista dos 4 costados, lúcido como poucos. Continua o Anuus Horribilis...
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Retrato do Povo de Lisboa
É da torre mais alta do meu pranto
que eu canto este meu sangue este meu povo.
Dessa torre maior em que apenas sou grande
por me cantar de novo.
Cantar como quem despe a ganga da tristeza
e põe a nu a espádua da saudade
chama que nasce e cresce e morre acesa
em plena liberdade.
É da voz do meu povo uma criança
seminua nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.
Mas nunca se dói só quem a cantar magoa
dói-me o Tejo vazio dói-me a miséria
apunhalada na garganta.
Dói-me o sangue vencido a nódoa negra
punhada no meu canto.
José Carlos Ary dos Santos
que eu canto este meu sangue este meu povo.
Dessa torre maior em que apenas sou grande
por me cantar de novo.
Cantar como quem despe a ganga da tristeza
e põe a nu a espádua da saudade
chama que nasce e cresce e morre acesa
em plena liberdade.
É da voz do meu povo uma criança
seminua nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.
Mas nunca se dói só quem a cantar magoa
dói-me o Tejo vazio dói-me a miséria
apunhalada na garganta.
Dói-me o sangue vencido a nódoa negra
punhada no meu canto.
José Carlos Ary dos Santos
terça-feira, 16 de outubro de 2012
A Tragédia
Já era a segunda vez
que Jeremias ouvia o seu filhote de 3 anos proclamar a alto e bom som que
era do porto. Isto, logo quando entrava em casa e quando não existia nenhuma
ligação imediata ao nível familiar que tornasse provável essa simpatia pelo clube
da fruta. Ao que parece, uma tal de Salomé (coleguinha na escola) era a
responsável por estes devaneios existências do sócio 81 474 da maior potência
desportiva nacional - o melhor mesmo era olhar para a coisa somente neste
prisma e não pensar muito no resto. Dizia-lhe a pequena que o Sporting não
ganhava nada e que o porto é que era bom. Perante esta hecatombe emocional, Jeremias
contemplava o infinito de forma apreensiva e interrogava-se devastado: será que aos 3
anos o puto já terá clarividência suficiente para perceber que as mulheres de
olhos bonitos podem ser especialmente perigosas? É capaz de ser um pouco cedo
para isso, meditava Jeremias. Agora, não restavam dúvidas a Jeremias, que o pimpolho
começava cedo a apreender o conceito camiliano de amor de perdição…
sábado, 13 de outubro de 2012
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
O Napalm Fiscal
Bagão Félix tem jeito
para as metáforas – menos mal. Considera que a subida de impostos do amigo Gaspar é napalm fiscal com efeitos devastadores para a economia. Bem-vindo ao
mundo dos vivos, caro senhor félix. Mas olhe que deve a andar a aconselhar mal
o paulinho das feiras pois ele assinou tudo por baixo.
A questão central para
o buraco onde o país está metido é que o Governo, como não pode ir aos mercados, precisa
de dinheiro fresco, cash, e já não tem condições para fazer o que seria preciso
fazer. E quando teve esse tempo, desbaratou-o e deixou-se atolar em
insignificâncias sem sentido. O aumento leonino de impostos e o corte dos
funcionários públicos é o que está ali à mão de semear para quem não faz a mais
pequena ideia de como agir no amanhã.
Este Governo até pode
reunir 25 horas seguidas em conselhos de ministros que dali já não vai sair
algo de verdadeiramente construtivo para o futuro de Portugal. Apesar deste assustador
contexto, não sou favorável à queda do Governo, por mais estranho que isso
possa parecer. Não há alternativas válidas. Os partidos políticos afundam-se
nas suas querelas internas, no satisfazer das vontades das clientelas, das
suas bases programáticas (PS, Bloco). Se porventura algures no futuro conseguirmos
emergir à superfície será por contingências externas favoráveis, nunca por
mérito próprio – cada vez me convenço mais disso. As atuais gerações políticas são
ainda piores que as anteriores, mesmo que superficialmente pareçam mais bem
preparadas. E propor um governo de salvação nacional, como muitos lunáticos
teorizam, só agravaria ainda mais a situação atual. O país paralisaria mais uns
meses largos. E depois falta salientar o óbvio: ninguém, mesmo ninguém, pode
salvar o que não tem Salvação…
terça-feira, 9 de outubro de 2012
O Menino do Rio
Jeremias tinha uma
especial predileção por histórias de encantar. Contava, vá-se lá saber porquê,
poucas histórias de encantar ao seu rebento. A verdade é que o Pimpolho adorava
as lendárias histórias de encantar dos livros já escritas há muito tempo. O
facto de pedir com insistência a leitura da bela e o monstro não deveria ter
significado algum de relevo, refletia Jeremias. Provavelmente para um daqueles pedopsiquiatras
que inundam as televisões e afins, tal tendência transformar-se-á no futuro num
grave desequilíbrio mental. Loucos são quem ouve e dá importância a estes
médicos que leem muitos livros técnicos, mas não sabem usar a cabeça - pensava Jeremias.
Hoje, Jeremias,
lembrou-se da história do Menino do Rio para contar ao seu rebento:
O Menino do Rio foi
um rapaz oriundo de famílias humildes que fez fama e fortuna à conta do seu
talento para contar histórias de encantar a todos os outros meninos de origens
igualmente humildes. O Menino do Rio cresceu, fez-se homem e, em nome do Pai,
voltou um dia ao Bairro que o viu nascer para o mundo das Celebridades. O Menino do Rio tem hoje 5 netos, os quais embala harmoniosamente ao ritmo das suas famosas
histórias de encantar…
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
sábado, 6 de outubro de 2012
O País
«5 de Outubro: Não estou presente se o povo não está presente - Mário Soares»
Se os Portugueses não tivessem sido tão preconceituosos (como são com quase tudo, diga-se a verdade) com a provecta idade deste Senhor aquando da sua recandidatura à Presidência, e talvez o ar nesta latrina não se tivesse tornado tão irrespirável...
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Gasparadas
Queriam Flores, tomem Espinhos ou então, o não menos representativo, quem dá com uma mão tira com as duas...
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
A Ministra
Paula Teixeira da Cruz tem sido crucificada por declarar que a impunidade em Portugal acabou. Aceito que se discuta a pertinência, o momento das afirmações, e até a verdade da declaração. A própria separação constitucional entre o poder executivo e judicial talvez exigisse maior ponderação nas palavras. Mas pôr-se em causa a sua honorabilidade já é excessivo. É das poucas pessoas que ainda aprecio no PPD/PSD, debaixo daquele manto de hipocrisias reinantes em que o partido permanentemente vive. Sempre gostei da pinta dela porque fala curto e grosso. E quem diz o que ela disse, normalmente sabe o que anda a fazer. Remodelá-la será mais um erro grosseiro de Passos Coelho, no meio do mar de equívocos onde vive atualmente…
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
The Ecstasy of Gold - Ennio Morricone
Morricone, hoje com 83 anos, fez tanta banda sonora sublime para filmes de Sergio Leone que até me perco a ouvi-las. Este épico The Ecstasy of Gold foi feito para The Good, the Bad and the Ugly, filme de 1966 e é excelente para ocasiões festivas.
Lembro-me também com frequência do igualmente soberbo Deborah's Theme - concebido por Morricone para a grande obra-prima de Leone: Era uma vez na América - filme de 1984. Revi-o há aproximadamente 2/3 anos na Cinemateca e é de facto um filme memorável e duma sensibilidade extrema...
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
O Desnorte
Portugal é muito justamente gozado em alguns meios internacionais pelo recuo integral às anunciadas alterações à TSU. Passos Coelho já não faz a mais pequena ideia do que anda a fazer. Ligou o piloto automático da imbecilidade e, como o tempo tudo revela, hoje percebe-se claramente que por trás da retórica ultra-liberal reside o mais confrangedor vazio político.
Obviamente que a medida tomada isoladamente e apresentada da forma atabalhoada como foi, representava um roubo aos olhos dos trabalhadores portugueses e uma tremenda injustiça para o cidadão comum. Mas continuo a achar que a medida em si, desde que alicerçada numa verdadeira reforma laboral e não em operações de cosmética, poderia fazer sentido. Aliás, o momento ideal para a implementação das medidas estruturais que a economia do país necessitava era logo de início quando ocorreu a entrada da troika em Portugal, como os seus próprios técnicos competentemente diagnosticaram.
Se tivéssemos um Governo que explicasse logo quando toma posse para o que vem, e quais os objectivos a alcançar com o rumo a seguir, os portugueses com a sua habitual benevolência compreenderiam. Algo do género: vamos fazer reformas profundas a ocorrer em 2 anos com a implementação de medidas duríssimas a todos os níveis. Passado esse período começaremos a crescer paulatinamente. A questão é que estes palhaços, que se dizem políticos, quando tomam posse estão totalmente condicionados pelas promessas eleitorais que fizeram na ânsia de chegar ao inebriante - para eles - poder. No fim, acabam por não cumprir as promessas eleitorais e deixam o país ainda pior do que o encontraram, com as pessoas na rua em desespero porque não se deslumbra uma luz (pequena que seja) ao fundo do túnel.
Muito a propósito, ontem tive conhecimento de mais um exemplo perfeito de como não se deve governar um país. Evidentemente que face à trapalhada em que o governo se meteu, agora tem de arranjar soluções para substituir as alterações à TSU. Uma das alternativas que vai avançar é o corte substancial no financiamento a fundações e a extinção de muitas delas. Parece-me bem, estamos a atacar a despesa, sendo que mesmo aí é para mim absolutamente incompreensível acabar com os apoios à casa-museu da Paula Rego quando estamos perante, talvez, a maior artista portuguesa viva. Devia ser apoiada na perspectiva de dar a conhecer a sua obra à juventude de um país culturalmente ainda atrasado. Mas como Paula Rego é low profile, e não trabalha as relações públicas (e muitas vezes promiscuas) como Joana Vasconcelos (cuja obra também gosto, assinalo) é nitidamente alvo de ostracismo. Mas isso dava matéria para outro post.
Acontece que depois de mais um daqueles proeminentes estudos que os governos de Portugal passam o tempo a fazer, decidiram quais as fundações a extinguir. Uma delas, pasmem-se, tinha sido criada em 2011. Não interessa o nome da Fundação, nem o que fazia, não é relevante, mas o governo do nosso país custeou a implementação de uma nova fundação com todas as despesas inerentes (contratação de pessoal, obras no espaço, decoração, etc) porque tinha concluído há aproximadamente um ano (provavelmente depois de mais um estudo e já em período de grave crise) que a sua existência seria imprescindível...
O Desnorte tomou de forma definitiva conta de Portugal…
Se tivéssemos um Governo que explicasse logo quando toma posse para o que vem, e quais os objectivos a alcançar com o rumo a seguir, os portugueses com a sua habitual benevolência compreenderiam. Algo do género: vamos fazer reformas profundas a ocorrer em 2 anos com a implementação de medidas duríssimas a todos os níveis. Passado esse período começaremos a crescer paulatinamente. A questão é que estes palhaços, que se dizem políticos, quando tomam posse estão totalmente condicionados pelas promessas eleitorais que fizeram na ânsia de chegar ao inebriante - para eles - poder. No fim, acabam por não cumprir as promessas eleitorais e deixam o país ainda pior do que o encontraram, com as pessoas na rua em desespero porque não se deslumbra uma luz (pequena que seja) ao fundo do túnel.
Muito a propósito, ontem tive conhecimento de mais um exemplo perfeito de como não se deve governar um país. Evidentemente que face à trapalhada em que o governo se meteu, agora tem de arranjar soluções para substituir as alterações à TSU. Uma das alternativas que vai avançar é o corte substancial no financiamento a fundações e a extinção de muitas delas. Parece-me bem, estamos a atacar a despesa, sendo que mesmo aí é para mim absolutamente incompreensível acabar com os apoios à casa-museu da Paula Rego quando estamos perante, talvez, a maior artista portuguesa viva. Devia ser apoiada na perspectiva de dar a conhecer a sua obra à juventude de um país culturalmente ainda atrasado. Mas como Paula Rego é low profile, e não trabalha as relações públicas (e muitas vezes promiscuas) como Joana Vasconcelos (cuja obra também gosto, assinalo) é nitidamente alvo de ostracismo. Mas isso dava matéria para outro post.
Acontece que depois de mais um daqueles proeminentes estudos que os governos de Portugal passam o tempo a fazer, decidiram quais as fundações a extinguir. Uma delas, pasmem-se, tinha sido criada em 2011. Não interessa o nome da Fundação, nem o que fazia, não é relevante, mas o governo do nosso país custeou a implementação de uma nova fundação com todas as despesas inerentes (contratação de pessoal, obras no espaço, decoração, etc) porque tinha concluído há aproximadamente um ano (provavelmente depois de mais um estudo e já em período de grave crise) que a sua existência seria imprescindível...
O Desnorte tomou de forma definitiva conta de Portugal…
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
O Cálice
Jeremias gostava de sentir aquele prazer interior
de voltar a locais onde viveu anteriormente dezenas de momentos de grande
partilha. Um simples cálice de licor de nozes de produção caseira na aconchegadora
adega de sempre, entre dois dedos de conversa, era motivo mais que suficiente para
que a alma de Jeremias se comovesse discretamente com o simbolismo do reencontro.
Para Jeremias e seus comparsas, o tempo já não voltava para trás. Restava-lhes
o conforto do espírito para a coisa não se ter perdido na poeira da vida…
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
A Genialidade
Jeremias achava - tal como Salvador Dalí disse um dia praticamente do leito da morte num daqueles seus famosos acessos de humildade que o caracterizavam - que os Génios nunca deveriam morrer.
Jeremias sentia a falta de João César. Para matar saudades, nada melhor que rever o olhar derradeiro que João César Monteiro fez questão de legar à eternidade. Os Génios não se abatem assim. Continuarão para todo o sempre a resgatar almas da neblina.
Avé João César!…
Jeremias sentia a falta de João César. Para matar saudades, nada melhor que rever o olhar derradeiro que João César Monteiro fez questão de legar à eternidade. Os Génios não se abatem assim. Continuarão para todo o sempre a resgatar almas da neblina.
Avé João César!…
Não, não é o fim do Hipocrisias Indígenas, para já. Mas que seria o epílogo perfeito para este Blogue, agora que penso nisso, seria...
Bebido o luar
Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver
Sophia de Mello Breyner Andresen
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver
Sophia de Mello Breyner Andresen
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Ainda Há Esperança
Maria Teresa Horta recusa receber prémio literário das mãos de Passos Coelho.
É com gente assim que se constrói um novo Portugal mas o processo, temo, seria demasiado doloroso para o cidadão comum.
Entretanto, hoje, uma Senhora de sensivelmente 80 anos que mora no meu prédio deu-me uma nova visão de toda a problemática que assola a sociedade portuguesa:
"então aquele estafermo (que é palavra que por acaso gosto e que está um pouco caída no esquecimento) anuncia cortes daquela dimensão ao país e a seguir vai para o teatro bailar e cantar com a mulher em vez de ficar em casa recatado a pensar no mal que estava a fazer às pessoas (Passos coelho foi ver, ao que consta, um concerto de Paulo de Carvalho, popular autor do emblemático - e Depois do Adeus...)
E ainda dizem que este País não é para Velhos...
Subscrever:
Comentários (Atom)





