No ano de 1981, quando, com 16 de idade, morava na cidade de Mogi das Cruzes (o certo é Moji mas todo mundo escreve com "g"), eu, que lá tinha o apelido de "Zueira"(o certo é com "o" mas meu apelido era assim, tanto que, para muitos, "Zu"), despretensiosamente compus uma música para um festival que proximamente haveria no qual eu pretendia me inscrever. Tratava-se de um rock bastante simples, de três acordes, meio com um quê de punk, cuja letra, com suas paupérrimas rimas de apenas verbos da primeira conjugação no infinitivo, conta um pequena história tão inusitada quanto impossível e absurda, surreal até, mas cujo refrão, a repetir o título, talvez sobretudo pelo já então duplo sentido da palavra principal, parecia ter uma estranha magia, capaz de levar todos os que a ouviam a entusiasticamente cantar junto as suas quatro palavras, que, àquela altura, no ambiente ainda meio provinciano da Moji daqueles dias, soavam como um grito a um só tempo transgressor e debochado, modestamente anunciando toda a maravilhosa loucura que seriam aqueles, às vezes por tantos ainda tão mal compreendidos, anos 80. Minha música, muitos se lembrarão, se chamava "Tem Piranha no Bidê".
Cheguei a tocá-la em vários festivais, já que na cidade, na época, o que era muito bacana, vários houve. E, ao mesmo tempo em que nunca nem cheguei perto de ganhar nenhum, a minha música era sempre a mais cantada, a mais repetida, a mais festejada, a ponto de, num deles, desclassificado para a final, eu ser convidado para nela me apresentar como convidado especial por ter sido a minha "Piranha" a mais aclamada pelo público nas eliminatórias.
Bem... Eu me mudei de Mogi para São Paulo em 1985, ou seja, trinta anos já se vão, e é incrível como, até hoje, sempre que lá vou ou que com alguém de lá me encontro, a "Piranha" de algum modo volta à baila. Como se tivesse se tornado uma espécie de trilha sonora para quem viveu naquele lugar aquele momento, a canção parece ter de fato algo meio mágico, que faz com que, mesmo que não haja nenhuma gravação dela correndo por aí, ela jamais seja esquecida. Ademais, o tão irreverente título parece infalivelmente instigar a curiosidade de quem nunca a ouviu. Tanto que, muito comumente, ainda hoje, 2015, pessoas me perguntam pela letra e me por ela indagam aqui no blog.
É que como eu, ao menos assim acredito, amadureci um pouco como compositor, tendo já composto muitas músicas, digamos, mais sérias, com letras mais elaboradas, desde então, passei a pensar na "Piranha" mais como um brincadeira, uma maravilhosa aventura daqueles empolgantes e inesquecíveis tempos de colégio. Sim. Até que ontem, sábado, 08/08, conversando com o Luís, meu grande amigo de desde aqueles tempos, que inclusive surpreendeu-me por saber toda a primeira estrofe, fui convencido de que, de fato, muita gente anda atrás desta letra, e que eu tinha de postá-la aqui...
Assim, dando então um saudoso salto no tempo para já trinta e tantos anos atrás, aqui vai, com muita honra e alegria, dedicada a todos os meus grandes e inesquecíveis amigos da cidade de Mogi das Cruzes, tanto os que a ouviram quanto os que não, a letra da famigerada "Tem Piranha no Bidê"...
TEM PIRANHA NO BIDÊ
Eu ia a uma festa
Mas tinha que me arrumar
Tinha que lavar o traseiro
Pois com ele eu ia me sentar
Mas comecei e fui mordido
E o sangue começou a jorrar
Quando vi o que se passava
Tudo o que pude fazer foi gritar
Tem piranha no bidê (2X)
Mas eu vi que ninguém ia ouvir
Não adiantava me desesperar
Eu tinha que me livrar da piranha
Se na festa eu quisesse badalar
Então o jeito era capturá-la
Com o anzol que eu tinha pra pescar
Então eu sentei na privada
E fiquei esperando ela beliscar
Tem piranha no bidê (2X)
Mas ela me puxou pra dentro
E em bidê eu não sei nadar
Eu comecei a beber água
E ela a me devorar
Só porque quis ir a uma festa
Minha vida iam me tirar
O bidê ficou cheio de sangue
Ela acabou de me devorar
Tem piranha no bidê (4X)
... A letra é tão primária que só muito tempo depois eu observei que no quarto verso da terceira estrofe eu usei o verbo "devorar" e depois voltei a usá-lo já quatro versos adiante...! Ah, mas como eram fantásticos aqueles tempos! Quem viveu bem sabe!
Fortes abraços a todos!
Gugu Keller (Zu)