Em silêncio espero a tua visita. Há tanto tempo. Não peço, tão pouco mostro que sinto a tua falta. Sou assim. Posso até parecer despegada. E sou. Mas não de ti, de ti custa-me a despegar-me. Sinto a tua falta.
Vem. Esquece o que lá vai.
Podes aparecer-me aqui vindo do escuro rio que corre ali em baixo, podes aparecer-me ainda escorrendo, coberto de limos, trazendo o cheiro da maresia colado à pele, ou podes enviar antes uma longa carta, longa, em que me contes lembranças de ti, pensamentos soltos, os teus medos ou sonhos, e se ainda te lembras de mim, ou podes fazer-te anunciar através de música, ou podes bater à porta e vir devagar, sentar-te à minha beira e desenrolar livros, apontamentos, palavras tuas ou não, podes falar-me do que gostarias de me ensinar na secreta esperança que eu aprenda mais do que confesso, ou poderias com os teus dedos nervosos fechar os meus olhos e, para que oiça apenas com o coração, dizer-me poemas até que a noite dê lugar ao dia.
Tudo estará bem para mim. Quero apenas ter notícias de ti, saber que, para ti, ainda existo, saber que, mesmo que apenas em pensamento, eu ainda sou a tua amada, a tua eterna e secreta amada.
É que, sabes, temo que, se não o fizeres, um dia me esqueça de ti, não consiga mais recordar-me do teu rosto, não consiga já que o meu corpo se acenda com a memória das tuas mãos e do que fazias com elas para me fazer vibrar, nem consiga sentir como a minha pele estremecia ao som ciciado da tua voz convidando-me a pecar.
Não te quero esquecer. Vem. Sinto tanto a tua falta.
a morte mata um pouco a memória dos vivos
é todavia claro e fotográfico o teu rosto
caído não na terra mas no fogo
e se houver dia em que não pense em ti
estarei contigo dentro do vazio.
[in Fogo, Gastão Cruz]
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Fotografias feitas no Ginjal
Katica Illényi, no teremim, interpreta Once upon a time in the West de Ennio Morricone sob condução de István Silló com a Győr Philharmonic Orchestra
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