Ginjal e Lisboa

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28 novembro, 2010

Eu cantarei de amor tão docemente, aqui enquanto te espero, meu amor

Tu sabes que os meus lábios tremiam de amor puro e que a nossa pele se erguia contra as leis acumuladas contra nós.

Se eu pudesse entrar na tua vida … mas eu sei que é perigoso a gente ser feliz.

Mas, olha, meu amor, nada foi em vão.

Agora que está este tempo tão frio, eu cantarei de amor tão docemente.

(Num dia frio, com o Tejo correndo cinzento e triste, duas cadeiras esperam por nós, neste cais do Ginjal, de frente para Lisboa)

Eu cantarei de amor tão docemente
que, ainda extinta a voz, dela perdure
o veio breve donde transpirou
outrora o canto aceso e os seus silêncios.
Serão então do exílio as horas frouxas
derramadas qual ácido no rosto
do amante. Mas nada foi em vão.
Que os lábios tremerão de puro amor
e a pele – como a serpente à melodia
rende sua homenagem, cativada –
contra o dia se indisciplinará
erguida sobre si, ao arrepio
de leis acumuladas contra nós,
seus ecos contrapondo ao tempo frio.

(Eu cantarei de amor tão docemente, de António Manuel Pires Cabral)