segunda-feira, fevereiro 28, 2005
Actualizações
Nelson de Matos, agora na Âmbar, actualizou o Blog. Textos de Contracapa passou a ter novo endereço.
posted by George Cassiel @ 4:13 da tarde   0 comments
A visitar, também
O Blog de Pierre Assouline, escritor e jornalista francês, colaborador da revista "Lire", cronista do "Monde 2" e crítico no "Le Nouvel Observateur".

La République des Livres.
posted by George Cassiel @ 3:52 da tarde   0 comments
Blog a visitar
Brétemas do editor Manuel Bragado, das Edicións Xerais de Galicia.
posted by George Cassiel @ 3:44 da tarde   1 comments
sexta-feira, fevereiro 25, 2005
Bom fim-de-semana!

"Man Reading", John Singer Sargent, c. 1910, Fogg Art Museum
posted by George Cassiel @ 4:52 da tarde   0 comments
quinta-feira, fevereiro 24, 2005
Henry Fusely

"Nightmare", 1781/82, Henry Fusely (1741-1825)
Alicerçado aqui.
posted by George Cassiel @ 1:38 da tarde   1 comments
Al Berto
"Sobre as tuas mãos a sombra de um corpo, ou de um navio. O silêncio das viagens cumpridas. E no meio deste silêncio uma ideia de voz, uma treva agarrada à memória."
Luminoso Afogado, 1996
posted by George Cassiel @ 1:36 da tarde   0 comments
Choveu mesmo!

"Rain In Glasgow", Basia Roszak
posted by George Cassiel @ 12:59 da tarde   0 comments
quarta-feira, fevereiro 23, 2005
Sentido Obrigatório
"O Universal? Diálogos com Senghor"
Culturgest, de 19 de Janeiro a 26 de Março.


© Droits réservés/AIF

Exposição de homenagem a Léopold Sédar Senghor, Presidente do Senegal. As obras foram realizadas na sequência de um encontrio artístico em Joal-Fadiouth, onde nasceu Senghor.

2ª a 6ª das 11h às 19h., sáb, dom. e fer. das 14h às 20h.
Encerra à 3ª feira.
2 euros.


Biografia de Senghor em "La Documentation Française":
"Né en 1906 à Joal, sur la côte sénégalaise de l'Afrique occidentale française (AOF), Léopold Sédar Senghor poursuit des études littéraires à Paris, en khâgne au lycée Louis-le-Grand et à la Sorbonne. Il rencontre notamment le poète martiniquais Aimé Césaire, avec lequel il se fera porte-parole de la "négritude". Agrégé de grammaire en 1935, il est le premier Africain agrégé de l'Université de Paris. Il enseigne en métropole les lettres, puis les langues et la civilisation négro-africaines.

Il s'engage dans la vie politique après la Libération, quand les colonies obtiennent une représentation à l'Assemblée nationale, et devient député du Sénégal à l'Assemblée nationale française (1945), secrétaire d'Etat dans le cabinet Edgar Faure (1955-56), ministre-conseiller au début de la Ve République (1959). Le 5 septembre 1960, Léopold Sédar Senghor devient le premier Président de la République du Sénégal indépendant. En 1980, il est un des rares chefs d'Etat africains à quitter volontairement le pouvoir.

Après son premier recueil, "Chants d'ombre", publié en 1945, le poète et homme d'Etat produit une œuvre abondante, avec notamment "Hosties noires", "Anthologie de la nouvelle poésie nègre et malgache de langue française", "Ethiopiques", "Elégies majeures" ou "Ce que je crois : négritude, francité et civilisation de l'universel".
Docteur honoris causa de nombreuses universités à travers le monde, il est le premier écrivain noir élu à l'Académie française le 2 juin 1983.

Militant infatigable de la Francophonie, il s'efforce, aux côtés de ses homologues nigérien Hamani Diori et tunisien Habib Bourguiba, de promouvoir l'idée d'une "communauté organique" francophone. Avec l'accession à l'indépendance des Etats africains, "il s'agissait de reprendre l'idée communautaire de la Constitution de 1958, en la repensant, comme nous l'avions fait en 1955 : d'en faire une relecture africaine ou, mieux, panhumaine". L'édification d'un "Commonwealth à la française" doit selon lui permettre d'éviter l'émiettement qui guette l'Afrique francophone nouvellement indépendante et de ménager des liens privilégiés avec l'ancienne métropole. Il expose son projet de "communauté francophone" aux chefs d'Etat africains réunis à Tananarive (Madagascar), lors du sommet de l'Organisation commune africaine et malgache (OCAM) en juin 1966."
posted by George Cassiel @ 12:20 da tarde   0 comments
Guillermo Cabrera Infante
Morreu o pastor das palavras
Por João Carlos Silva, in Público, 23/02/05

No exílio, criou uma Havana sua e recriou um mundo perdido. O Prémio Cervantes de 1997 era um feroz adversário de Fidel Castro

Emblema do exílio anticastrista, Guillermo Cabrera Infante, escritor, apaixonado pelas palavras, pelo cinema, pela sua Cuba, morreu ontem à noite no hospital londrino de Chelsea e Westminster, onde dera entrada uma semana antes depois de partir a bacia num acidente caseiro. Causa da morte aos 75 anos: septicemia.
Viveu mais tempo em Londres, onde se exilou há 40 anos, do que em Cuba, e não cumpriu o sonho-promessa de regressar à ilha depois da morte de Fidel Castro, o seu ódio de estimação. Aquele a quem alguém chamou "o primeiro dos dissidentes do castrismo" morreu, como ele diria, náufrago, a olhar de longe a sua ilha.
"Vivo em Inglaterra entre livros, pó e filmes", escreveu. "Saí de Cuba exilado para sempre ou para a eternidade - o que durar menos."
Cuba silenciou no imediato a notícia da morte, enquanto em Espanha e na América Latina se sucediam as palavras de homenagem ao "grande pastor das palavras", como disse o ensaísta Enrico Mario Santi. A extensa obra de Cabrera Infante valeu-lhe dezenas de prémios; na prateleira mais alta está o Prémio Cervantes, o "Nobel espanhol", que lhe foi entregue em 1997.
O escritor nasceu em 22 de Abril de 1929 em Gibara, no Leste de Cuba, filho de pais remediados e politicamente conscientes: estiveram associados aos primeiros tempos do Partido Comunista. Algo que não escapou ao seu humor ácido: "Creio que cresci sob a ditadura de Estaline, porque os meus pais eram comunistas."
Em 1941, a família mudou-se para Havana; em 1950, ele foi estudar jornalismo; em 1951, fundou a Cinemateca de Cuba, a que havia de presidir até 1956. Pelo meio, uma passagem pela prisão por causa de escritos politicamente inconvenientes (1952) e um primeiro casamento (1953). Em 1959, abraçou a revolução liderada por Fidel Castro, algo que, usando sempre os seus jogos de palavras, descreveu como "um barco, que [ajudou] a atirar ao mar, sem saber que era ao Mal".
Com Carlos Franqui, fundou nesse ano o diário "Revolución" e o seu suplemento literário "Lunes de Revolución", que ele próprio dirigiu até ao último número, em 1961. Foi um ano com um acontecimento feliz: o do casamento com Miriam Gómez, actriz, que ontem à noite estava ao seu lado no hospital londrino em que morreu.
Quando partiu para Bruxelas, em 1962, como adido cultural, agravaram-se as divergências com o regime; a distância, escreveu ele, tornou "a ditadura cristalina". Três anos depois bateu à porta da Espanha do ditador Franco a pedir exílio; foi recusado, adoptou Londres e fez a partir daí o seu combate ao castrismo. Fidel Castro respondeu tornando o seu nome proscrito na ilha, mas isso não impediu que ao longo de décadas ele e as suas obras se tornassem de culto em Cuba. Em meados da década de 90, os "Tigres" em fotocópias eram trocados por latas de leite condensado.
Jorge Edwards, o escritor chileno que foi um dos seus maiores amigos, ele próprio Prémio Cervantes em 1999, recordava ontem que ""Três Tristes Tigres" e "La Habana para un Infante Defunto" são duas obras-primas da literatura em espanhol de todos os tempos".
"Estilista do idioma", "inventor de palavras", diziam ontem escritores noutras reacções à morte. E "Três Tristes Tigres", que ele escreveu em 1964, era o mais citado dos seus livros. Outras obras maiores são "Vista do Amanhecer no Trópico" (1974), "La Habana para Un Infante Defunto" (1979). "Ela Cantava Boleros" (1996) foi a sua última ficção, mas mais recentemente saíram "O Livro das Cidades" (1999, crónicas de viagem), "É Tudo Um Jogo de Espelhos" (2000, crónicas) e "Fumo Puro" (2000, sobre "charutos, filmes, actores e músicas com fumo"). Quase tudo à volta de um mundo perdido (a Cuba dos anos 40 e 50, a noite, as mulheres, a música, o sexo).
Noutro plano ficou essa obra-prima do testamento político chamada "Mea Cuba" (1993), amálgama de avulsos produzidos entre 1968 e 1992 unida pela argamassa do combate à ditadura numa ilha aprisionada por "um sonho que correu mal".
Em Cuba, o escritor António José Ponte afirmava ontem ao "Miami Herald", que nesta altura nem os seus maiores inimigos na ilha poderão negar a importância da sua obra. "Cumpriu - disse - um dos maiores sonhos que pode ter um escritor exilado ou simplesmente um escritor: fundou para os seus leitores uma cidade própria, uma Havana sua. Ele era, desaparecidos Carpentier, Lezama Lima, Piñeiro e Arenas, o mais importante dos romancistas cubanos. Agora, com a sua morte, não vejo a quem atribuir esse lugar."
"Saí de Cuba a 3 de Outubro de 1965; sou muito cuidadoso com as minhas datas, por isso as conservo. Assim, posso dizer: "No próximo ano em Havana."" Não pôde ser.
posted by George Cassiel @ 12:18 da tarde   0 comments
Chove

"Rain", DRAGAN SEKARIC, Bosnia.
posted by George Cassiel @ 12:03 da tarde   0 comments
terça-feira, fevereiro 22, 2005
Novos links
... adicionados.
posted by George Cassiel @ 7:46 da tarde   0 comments
Guillermo Cabrera Infante (1929 - 2005)

"O escritor cubano Gullermo Cabrera Infante morreu na segunda-feira em Londres, onde vivia há mais de 40 anos no exílio, uma vez que se assumiu como crítico do regime de Fidel Castro.

O intelectual e crítico de cinema nem sempre foi adversário de Fidel, já que o apoiou no derrube da ditadura de direita de Fulgencio Baptista, em 1959. Contudo, a viragem do regime a caminho do comunismo não agradou ao escritor.

Cabrera Infante ainda chegou a ser adido cultural de Cuba em Bruxelas mas em 1965 abandonou o cargo a caminho do exílio em Inglaterra, onde viria a morrer aos 75 anos.

O escritor cubano notabilizou-se com o livro «Três Tristes Tigres», de 1967, onde recreou a cultura, a música e a vida nocturna da capital cubana Havana antes da Revolução, quando os clubes nocturnos eram geridos por gangsters.

O livro, que foi adaptado no filme «A Cidade Perdida», realizado em 2004 e dirigido por Andy Garcia - também ele nascido em Cuba -, foi mesmo considerado como tendo sido uma revolução na literatura de língua espanhola.

Cabrera Infante, que se notabilizou ainda por outras obras como «Havana para um príncipe defunto», de 1979, nasceu em 1929 e recebeu o prémio Cervantes, o galardão máximo da literatura de língua espanhola, em 1997."
in Tsf Online
posted by George Cassiel @ 12:51 da tarde   0 comments
segunda-feira, fevereiro 21, 2005
Noam Chomsky
Turning the Tide o Blog "oficial" de Noam Chomsky.

Sem posts recentes, mas, ainda assim, vale a pena a visita.
posted by George Cassiel @ 11:47 da manhã   0 comments
Carta branca... provisória!
As condições estão todas reunidas.
Não há qualquer margem para desculpas.
Há uma maioria absoluta e com conforto à esquerda.
Estaremos todos extremamente atentos: queremos um governo de qualidade em todas as pastas, queremos uma governação séria, queremos voltar a acreditar... mas nunca perderemos a capacidade e o dever de avaliar.

Curiosamente terminou uma das considerações mais inabaláveis sobre o equilíbrio das forças partidárias no espectro parlamentar: os acordos do Bloco Central! Veja-se, a título de exemplo, que não serão necessários os deputados do PSD para fazer uma revisão constitucional!

A grande vencedora destas eleições é a esquerda portuguesa. Veremos se as políticas de esquerda também o serão!
posted by George Cassiel @ 11:38 da manhã   0 comments
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
O mundo far-se-á no Domingo!

"Esforzados del mundo, disuélvanse. Los libros antiguos están errados. El mundo fue hecho un domingo."

Vladimir Nabokov, Habla, memoria, Anagrama, 1994

(Nota: este post foi descoberto aqui. Reprodução assumida, porque faz sentido!)
posted by George Cassiel @ 9:57 da tarde   0 comments
Bom fim-de-semana!
Leia muito, mas não se esqueça de votar!

Christina Anderson, 1999
posted by George Cassiel @ 5:50 da tarde   0 comments
quinta-feira, fevereiro 17, 2005
António Franco Alexandre já passou por aqui.
posted by George Cassiel @ 3:14 da tarde   0 comments
quarta-feira, fevereiro 16, 2005
SEBALD
Acabava de sair no Reino Unido:

Acabou de chegar lá a casa! Prioridade à leitura.
posted by George Cassiel @ 3:04 da tarde   0 comments

Prémio para António Franco Alexandre
A obra "Duende", de António Franco Alexandre, editada pela Assírio & Alvim venceu o prémio Correntes d`Escritas/Casino da Póvoa, no valor de 10 mil euros.

O júri foi composto por Isabel Pires de Lima e Rosa Maria Martelo, ambas professoras da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pelos poetas Luís Carlos Patraquim e Vergílio Alberto Vieira e pela escritora Patrícia Reis.

Os dez finalistas eram: Duende" de António Franco Alexandre, "Lições de Trevas", de Fernando Guimarães, "Nenhum Nome Depois" de Maria do Rosário Pedreira, "O Estado dos Campos" de Nuno Júdice, "O Tabaco de Deus" de Paulo José Miranda, "Os Livros" de Manuel António Pina, "Paraíso Apagado por um Trovão" de José Luís Tavares, "Repercussão" e "Rua de Portugal" ambos de Gastão da Cruz, e "Zona de Caça" de Jaime Rocha.

De "Duende":
"É mais fácil de longe imaginar
o que seria ter-te aqui presente
do que seria ter-te e não saber
com que forma de corpo receber-te.
Talvez um amplo véu oriental
ou o brilho mental de uma armadura
me deixassem arder sem ser molesto
no lume horizontal de uma figura.
Se te vejo, já está o meu desejo,
enquanto estavas longe, satisfeito,
no teu olhar encontro tudo quanto
à altura de amor é mais perfeito.
E no entanto, perto, fico incerto
se não é melhor bem o que imagino."


"Tal como és, assim te quero, e sempre
diverso cada dia do que foste;
cada imperfeito gesto que inventares
me fará desejar-te em outro verso.
Da arte do soneto feito mestre
no concurso sem regra da floresta,
na mais pequena folha te descubro
e no caule do vento é que te perco.
Da turva luz já retirei o emblema
que me sirva de rosto permanente
e venha o cabeçalho do poema;
e pedirei á noite que me empreste
um farrapo do manto incandescente
de que se veste, agora, para ter-te."
posted by George Cassiel @ 2:59 da tarde   0 comments
António Franco Alexandre já recebeu Grande Prémio APE de Poesia 1999
O poeta que experimenta por Alexandra Lucas Coelho, Público, 14 de Setembro de 2000.

Para António Franco Alexandre, a poesia e improvisação e cada livro ama experiência. O júri do Grande Prémio de Poesia, APE 1999 quis distinguira força dessa invenção e foi unânime ao escolher o seu último livro "Quatro Caprichos". Que venham mais leitores para versos assim: "Como quem/ quer dizer-te: não morres nunca mais."

Se os prémios ajudam a ganhar leitores, festejemos a atribuição ontem do Grande Prémio de Poesia APE 1999 a "Quatro Caprichos", de António Franco Alexandre. Há mais de 30 anos que este poeta, esquivo a manifestações públicas e avesso a toda a repetição, constrói uma obra singular, renovada a cada livro. Editado em Abril do ano passado pela Assírio & Alvim, "Quatro Caprichos" é uma das criações mais intensas e surpreendentes da poesia portuguesa contemporânea.

Foi precisamente essa novidade e essa força que o júri quis distinguir, ao escolher por unanimidade o livro de Franco Alexandre num ano em que foram publicados "Baldios", de José Tolentino Mendonça, "Bellis Azorica", de João Miguel Fernandes Jorge, "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança", de Manuel António Pina ou "Teoria Geral do Sentimento", de Nuno Júdice.

"Houve um grande consenso", resume Fernando Pinto do Amaral, membro de um júri composto ainda por Yvette Centeno, Helena Carvalhão Buescu, Ernesto José Rodrigues e Carlos Mendes de Sousa.

Sem nomear outros títulos discutidos, Pinto do Amaral refere que "havia outros livros bons, mas este representa uma renovação, um passo muito intenso em relação a livros anteriores e uma diferença na poesia portuguesa contemporânea, ao nível do estilo, do discurso".

Quanto ao prémio – no valor de dois mil contos, a ser entregue em data a anunciar –, Franco Alexandre declarou ao PÚBLICO simplesmente: "Acho agradável", ressalvando que "os prémios não garantem nada, significam apenas que algumas pessoas leram e gostaram". Mas se o efeito for mais algumas pessoas virem a ler, talvez se reforce o "eco muito ténue" que o poeta diz sentir em relação à sua poesia.

António Franco Alexandre, 54 anos, nasceu em Viseu, onde viveu até ir para Toulouse, França, estudar Matemática. Tinha 17 anos e acabara de publicar o seu livro de estreia, "Distância", o único que não veio a incluir na reunião da sua obra ("Poemas", Assírio & Alvim).

No livro agora premiado, Toulouse, onde viveu sete anos, é precisamente o cenário do "primeiro capricho", uma "narrativa mais ou menos obscura" (segundo resume o próprio autor) intitulada "le tiers exclu, fantasia política", em que as personagens são nomeadas por iniciais e cruzam memórias de corpos, copos, praças, livros, quadros, numa fluência quase de ladainha, de recitação, de mantra, em que irrompem frases, versos, palavras em alemão, francês, inglês.

"Dificilmente, contudo, / recordo o rosto de B., o corpo de B. às avessas / do ar, o sopro da boca de B., inclinando-se sobre a minha nuca. Dificilmente, contudo, recordo / o corpo do amigo talvez inocente de B. marchando / por ruas suburbanas, aprendendo artes, argot, / inventando Rodes: pode-se rir do trocadilho."

De Toulouse, partiu para a Universidade de Harvard, EUA, para continuar a estudar Matemática. Daí seguiu para Paris, onde em paralelo estudou filosofia. Doutorado nas duas áreas, e tendo regressado a Portugal em 1975, é desde então professor de filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa. Diz que se a matemática teve alguma influência na sua poesia foi para o fazer "desejar o caos".

Dos "Quatro Caprichos" – que descreve como "um poema em quatro andamentos" – não elege nenhum: "Às vezes detesto-os todos, às vezes gosto de todos..." Mas num livro concebido como uma experiência – "Ando a fazer experiências, se tudo correr bem um livro chega para a fazer, e passo a outra coisa, mesmo que não tenha sido bem sucedido" – crê que o primeiro e o terceiro são os mais experimentais e que o segundo, "corto viaggio sentimentale, capriccio italiano" revela maior continuidade em relação à sua obra. Nesta sequência encontramos das mais belas passagens do livro, como a que reproduzimos em baixo, ou ainda: "Existias de noite como a letra / de todo o movimento, e das estrelas / o céu pintado ao fundo; / e distraído, às vezes, confessava/ amar a tua pele como quem / quer dizer-te: não morras nunca mais."

O terceiro capricho, "rosencrantz, episódio dramático", é o mais breve (dez páginas), segundo Franco Alexandre "o mais capricho de todos, e o mais abstracto também".

Finalmente, o quarto, "syrinx, ficção pastoral", alterna dois narradores, o da esquerda com texto a negro, o da direita com texto a azul. Que podem ir do Tejo a Nova Iorque, do Centro Comercial Colombo à arca de Noé, da música tecno ao canto dos amantes bíblicos, até um deles dizer: "Vamos cair num poço, sem / bússola e pára-quedas, vamos ser o primeiro amor a dois no mundo."

Franco Alexandre, que na poesia portuguesa contemporânea não se sabe situar – "Não sei quem é a minha família, não sei se existe..." –, continua a tomar como influência maior os grandes textos bíblicos. Foi para os poder ler que esteve diversas vezes em Jerusalém a estudar hebraico. "É uma cultura que hoje quase desconhecemos..."

Os autores de quem eventualmente se sente mais próximo são Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge e Helder Moura Pereira, com quem em 1976 fez o livro colectivo "Cartucho". "Mas não sei se eles ainda se sentem próximos de mim..." Além dos títulos já citados, publicou "Sem Palavras Nem Coisas" (74), "Os Objectos Principais" (79), "A Pequena Face" e "Visitação" (83), "As Moradas 1& 2" (87), "Oásis" (92) e "Poemas" (96, incluindo o inédito "Moradas").

Acredita que se a poesia deve algo à música, não é a composição, mas a arte do improviso.

venho dormir junto de ti
e o meu corpo é uma coisa diferente
do que se vê ou toca ou sente;
é, fora de mim, essa coluna de ar onde respiro,
olhos que beijam o teu corpo exacto,
as muitas mãos que dobram o teu rosto.
Um deus que dorme, um deus que dança, e mais
que um mero deus, o breve amor do tempo.


© 2000 PÚBLICO
posted by George Cassiel @ 2:56 da tarde   0 comments
terça-feira, fevereiro 15, 2005
Lutos
Hoje é dia de luto nacional, naquele dia não foi! Não houve eleições!

Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.
Odiei o que era fácil
Procurei-te na luz, no mar, no vento.


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
posted by George Cassiel @ 11:47 da manhã   0 comments
Turner

"Chichester Canal", Turner, 1828
posted by George Cassiel @ 11:38 da manhã   0 comments
José Gil
Faltou aqui uma referência a este livro:


Este é um bom exemplo de uma obra que se tornou fundamental, não pela publicidade que a acompanhou, mas pela indiscutível pertinência e qualidade da reflexão proposta pelo autor. Uma visão "límpida" sobre a realidade portuguesa.

O Autor explica-o:
"Tratando o pequeno escrito acima apresentado um tema difícil de classificar, impõe-se acrescentar algumas observações. O objecto do texto aproxima-se mais do que os historiadores chamam "mentalidades" do que de qualquer outra matéria disciplinar. Mas recorre-se a apontamentos etnográficos, a factos e anedotas triviais, a conceitos psicanalíticos e filosóficos, a outros da ciência política, etc. Digamos que, epistemologicamente, o campo explorado é indefinido, com uma transversalidade no trajecto de certas noções que pode ter as suas vantagens.
(...) Enfim, contrariamente ao que pode parecer, nenhum pressuposto catastrofista ou optimista quanto ao futuro do nosso país subjaz ao breve escrito agora publicado. Se não se falou "no que há de bom", em Portugal, foi apenas porque se deu relevo ao que impede a expressão das nossas forças enquanto indivíduos e enquanto colectividade. Seria mais interessante, sem dúvida, mas também muito mais difícil, descobrir as linhas de fuga que em certas zonas da cultura e do pensamento já se desenham para que tal aconteça. Procurou-se dizer o que é, sem estados de alma, mas com a intensidade que uma relação com este país supõe."
posted by George Cassiel @ 11:23 da manhã   2 comments
A Noite mais Escura da Alma - Ana Teresa Pereira - 1997
"A noite mais escura da alma" de Ana Teresa Pereira, publicado em 1997, revelou-se, pela sua simplicidade, uma obra muito interessante. O modelo levado à exaustão, ao jeito de "Fairy Tale" moderna, que caracteriza a autora, ganha neste livro uma força intensa.

Constituído por três partes:
- O anjo esquecido (sete capítulos mais epilogo)
“We are the prey of the angels” – Iris Murdoch

- Sete anos (sete capítulos)
“There are principalities and powers, fallen angels, animal gods, spirits cut loose and wandering in the void” – Iris Murdoch

- A noite mais escura da alma (sete capítulos)
“There are awful penalties for crimes against the gods” – Iris Murdoch.
posted by George Cassiel @ 10:53 da manhã   0 comments
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Ana Teresa Pereira IV
A propósito de

agora "Em mãos", um texto de Fátima Maldonado, publicado no Expresso de 24 Janeiro 98:

"É impossível ler Ana Teresa Pereira sem que Angela Carter, a americana que reinventou os contos de fadas, apareça de imediato. O Quarto dos Horrores e Heróis e Bandidos, os dois na Caminho, criam um universo fantástico próximo do da escritora portuguesa, talvez menos obsessivo, já que Ana Teresa Pereira toca sempre os mesmos temas - o duplo, a inevitabilidade de matar, literalmente, o amor, o retorno em corpos vários sempre iguais, a casa isolada, a torre -, numa constância de pesadelo que provoca a quem tenta organizar esse mundo dores de cabeça muito reais. Li A Noite Mais Escura (Caminho) e A Coisa Que Eu Sou ao mesmo tempo, e as histórias repetem-se, encadeiam-se em sequência, estranhíssima sarabanda em que os amantes se devoram, renascendo para de novo se consumirem. O perfume obsessivo das camélias sempre presente, os animais penetrando o território dos humanos, misturando-se, consanguíneos.

A primeira vez que a encontrei foi na Black Sun, Fairy Tales, reeditados agora na segunda parte deste livro. As Asas, um conto - se assim se podem chamar os textos muito curtos que vão recorrendo a outros, ou melhor, chamando por outros, como se a escritora convocasse os mesmos demónios ajudada por instrumentos mágicos - onde os anjos despertam no seu dia, 8 de Novembro, e Aramiel convida Carla a engendrar com ele feras e pássaros, inquieta como certas tapeçarias medievais. Há em Ana Teresa Pereira um génio para transformar a situação mais banal numa câmara de horrores, apenas se pressente de início, mas vai tomando conta das veias, um gás não letal feito para adormecer toda a renitência ao embarque, partida para um outro lado do mundo onde há flores de pedra, beleza convulsa e morte seduzida. Os contos têm a mesma tessitura dos de fadas, igual silêncio nos caminhos de sombra onde os jovens encontram o destino, ora anjo, ora animal heráldico, quase sempre vampiro.

Os referentes da escritora são Henry James, Cronenberg, que sofre da mesma obsessão - o duplo, os gémeos; Dante Gabriel Rossetti, cujo universo ela não cessa de recriar, as mulheres de longos cabelos ruivos, as flores usadas como se fossem armas, prenúncio de desastre, as grandes casas abandonadas aos animais nocturnos, a égua da noite à solta nos bosques. Tem também uma grande capacidade de falar de escritores ou artistas sem cair no ridículo, muito rara na prosa portuguesa. Ana Teresa Pereira mexe-se com grande à-vontade citando poetas ingleses no original, sem que pareça de forma nenhuma pretensiosa. Gosto muito dos pequenos ensaios em que fala de filmes, do culto que devota a certos mestres. «Martin Scorsese comentou a respeito de David Cronenberg: 'Ele não sabe de que tratam realmente os seus filmes.' Ao que este respondeu mais tarde: 'I hope I don't' (...). Depois de Videodrome ('a very heavy experience'), Cronenberg não quis escrever um novo guião; precisava de trabalhar material de outra pessoa enquanto recuperava as forças. Assim, filmou The Dead Zone a partir de uma história de Stephen King. Mas o filme para ele era sobre o rosto de Christopher Walken - todas as coisas que existiam naquele rosto.»

A escritora chamou a esta peça She Who Whispers, que é também o título de um conto escrito por Cronenberg quando ainda estava na universidade, e que depois iria ser a matriz de The Double, filme com Anthony Hopkins, em que uma vez mais o tema são os gémeos, gémeas incarnadas por Geena Davis. «Cronenberg resolveu mudar o nome da personagem, Anne, para Geena. Geena em hebraico significava as lixeiras que ardiam interminavelmente no exterior das cidades; era uma designação do inferno. Mas a palavra quer dizer também jardim, jardim murado, o que era perfeito para a personagem: 'Tu és um jardim murado, minha irmã, minha esposa...'.» Sobre Henry James, há também no livro outro pequeno ensaio: «'Vivemos no escuro', escreveu Henry James. 'Vivemos no escuro, fazemos o que podemos.'»

Não é vulgar na nossa literatura esta independência: criar um universo neogótico, fantasmático, em que as personagens se movem entre túmulos, alimentam-se de água e morangos e dormem com seres híbridos de grandes olhos verdes com quem geram crias de raça semelhante; ao contrário da moda, que exige frases curtas, realismo e contenção, a escritora não teme nem a escrita nem as jóias barrocas, os mundos paralelos, a morte a comandar. Há uma sensualidade de cripta nos seus livros, aconchego na manta do sangue derramado, disponibilidade para reconhecer os guias mais negros na sombra das capelas profanadas."
posted by George Cassiel @ 6:29 da tarde   0 comments
Leituras no fim de semana
Tendo terminado a "Biographie de la faim" de Amélie Nothomb (Ed. Albin Michel) e "Memoria de Mis Putas Tristes" de Garcia Marquez (Ed. Vintage, Espanha), alterei a secção "Em mãos" e, obviamente, o "Arquivo de Leituras".

Uma pequena nota sobre o último livro do García Marques: trata-se de uma "reescrita", bem conseguida, do clássico de Yasunary Kawabata "A Casa das Belas Adormecidas". Não estava a espera desta surpresa, apesar do autor colocar no início da obra uma citação do japonês. O ponto de partida é o mesmo. Argumentos semelhantes, mas estilos substancialmente diferentes. O resultado é bom.

Quanto a Amélie Nothomb, a exemplo de outras obras como o "Temor do Tremor" e "Metafísica dos Tubos", este último livro tem uma carga explicitamente autobiográfica. Recomenda-se a leitura já, ou após tradução.
posted by George Cassiel @ 9:38 da manhã   0 comments
sexta-feira, fevereiro 11, 2005
Bom fim-de-semana!
posted by George Cassiel @ 5:22 da tarde   0 comments
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
SEBALD - novidade editorial - mais uma obra póstuma
Acaba de sair no Reino Unido:


A crítica do Sunday Times de 6 de Fevereiro:

"For someone who died in 2001, W G Sebald has been remarkably prolific over the past few years. Three volumes of poetry, an essay collection and a long work of what Sebald chose to call “prose fiction” (his masterpiece, Austerlitz) have been published in English since his shocking death in a car crash. Some of these books have felt bitty (two of the poetry collections in particular), and one wonders whether Sebald, who exercised a fastidious control over the translation and publication of his work while he was alive, would have consented to their release.

Michel Foucault once asked what limits we place on the definition of a leading author’s “work” after his death: do we publish, for example, Nietzsche’s “rough drafts”, his “journal jottings and crossings out”, or even his “laundry lists”? Such questions are worth posing with regard to Sebald, for he is the most important European prose writer of the past 15 years. It is almost certain that, had he lived longer — he was only 57 when he died — he would have won the Nobel prize.

There are times, it is true, when his narrative technique of fastidious omission leads him to bite off more than he can eschew. And Vertigo (1990), his first substantial work, is an awkward book, afflicted by the tonal wavers of a writer whose voice is breaking to something deeper and more permanent. But The Emigrants (1993), The Rings of Saturn (1995) and Austerlitz (2001) constitute an immense achievement.

As those readers who have travelled before into Sebald’s greyscale worlds will know, he wrote his books in an uncanny, piebald literary genre that mingled fiction, travelogue and historical anecdote. Scattered among his text are small black-and-white photographs of the places, people and objects that are encountered by his narrators during their journeys.

Sebald’s great theme was mourning, his great mode melancholy and his great proposition was that the past of a culture can work on an individual in the same way as personal trauma. It is for this reason that, in his books, the dead have far greater presence and power than the living. His narrators move through the empty but past-haunted streets of familiar towns in Britain and Europe, following the traces of previous atrocities and sufferings. This may make his books sound oppressive. They are, but in a manner that is exceptionally moving and provoking. His writing has a turbulent power to disturb the sediments of thought and of history.

Many of these same interests and effects are at work in Campo Santo, another posthumous publication. The book comprises four short sections from an unfinished “prose fiction” set in Corsica, which Sebald began and then abandoned in the mid-1990s, along with 12 essays selected from across his career. As such, Campo Santo adds to the asteroid belt of fragments that now encircles Sebald’s completed books. Nevertheless, it seems to me that it will come to be seen as indispensable to an understanding of his work.

The Corsican shards are written in the same long and lovingly decrepit sentences as The Rings of Saturn, and they share with that great book an interest in, among other things, incarceration and deforestation. There are, too, eerily moving digressions on mourning rituals in Corsica, and their transformation by modernity, and a fine meshing of Sebald’s meditations on trees with those of Edward Lear, another melancholic visitor to Corsica’s high Alpine forests.

It is the essays, however, that make Campo Santo such a valuable book. They are widely spaced in time (written between 1975 and 1999) but have been well chosen and are ordered chronologically, so that, as one reads through them, one watches Sebald the academic slowly transforming into Sebald the writer. Authors who write essays on authors they admire often end up describing themselves. This is certainly true of the five exceptional pieces included here on Bruce Chatwin, Franz Kafka (twice), Vladimir Nabokov and Wolfgang Hildesheimer, which act as code sheets by which the enigma of Sebald’s own style can be, if not cracked, at least approximated. From Chatwin, Sebald clearly learns how to use historical story suggestively; Kafka prompts him to meditate on the power of photographs both to charm and to lacerate, while Nabokov teaches him that the “the desire to suspend time can prove its worth only in the most precise re-evocation of things long overtaken by oblivion”.

So many of the insights that occur here can be tilted back to reflect Sebald’s own unforgettable prose, but perhaps none more so than his remark of Nabokov’s Speak, Memory that: “The most brilliant passages in his prose often give the impression that our worldly doings are being observed by some other species not yet known to any system of taxonomy, whose emissaries sometimes assume a guest role in the plays performed by the living."
por ROBERT MACFARLANE
posted by George Cassiel @ 6:48 da tarde   1 comments
Cultura de eventos
A propósito do revoltado comentário de um "Pinguim do Apocalipse", recomendo a leitura de "Escola, Territorio e Politicas culturais" de João Teixeira Lopes:

Naturalmente, dá-lhe razão!
posted by George Cassiel @ 2:57 da tarde   0 comments
segunda-feira, fevereiro 07, 2005
No meu bairro, ali ao fundo da rua (imagens II)
posted by George Cassiel @ 4:15 da tarde   1 comments
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
Bom fim de semana!

Greuze, "A Child Who Sleeps on his Book", 1755
posted by George Cassiel @ 5:42 da tarde   1 comments
quinta-feira, fevereiro 03, 2005
Atenção: Correntes de Escrita 2005
Todo o programa aqui.
posted by George Cassiel @ 4:02 da tarde   0 comments
Indisponibilidades
excesso de trabalho = menos tempo passado em frente do teclado = menos posts = menos comunicação com o exterior!

Já agora... e por não haver tempo para mais, fica um curto apelo: o Santana Lopes precisa de um resultado histórico! Ajudem-no, por favor! Vamos dar-lhe menos de 28%! A bem da ética política e da credibilização deste país.
Obrigado.
posted by George Cassiel @ 10:33 da manhã   0 comments

GEORGE CASSIEL

Um blog sobre literatura, autores, ideias e criação.

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"Este era un cuco que traballou durante trinta anos nun reloxo. Cando lle chegou a hora da xubilación, o cuco regresou ao bosque de onde partira. Farto de cantar as horas, as medias e os cuartos, no bosque unicamente cantaba unha vez ao ano: a primavera en punto." Carlos López, Minimaladas (Premio Merlín 2007)

«Dedico estas histórias aos camponeses que não abandonaram a terra, para encher os nossos olhos de flores na primavera» Tonino Guerra, Livro das Igrejas Abandonadas

 
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