Veja no fundo desta página uma apresentação em 23 slides: a origem dos sentimentos que gémeos singulares relatam com mais frequência e uma descrição dessas sensações e emoções.LUTO INSONDÁVEL PRESO NUMA ESPIRAL DE AMOR SEM FIM
7 de dezembro de 2009
A consciência da condição de gémeo sobrevivente (que, quando adquirida, de repente se torna numa explicação clara para o que antes não fazia sentido) é inversamente proporcional à dor sofrida por aqueles que perderam com quem em tempos dividiram o lar-útero; aqueles que não deviam ter de sofrer entregues à solidão dos seus corações por não haver por parte da sociedade o devido reconhecimento.
Lutar sozinho contra esta condição inefável é especialmente difícil quando de início o problema é estar-se sozinho!
Temos que ser o salmão que nada rio acima num mundo não-gémeos, que afinal o são em número cada vez menor.
Em vez de olhar para o lado e ignorar temos hoje que ser diligentes, reconhecer e responder a esta epidemia iminente de gémeos sobreviventes: o número de gémeos e múltiplos está a aumentar, também como consequência das concepções medicamente assistidas.
Os gémeos sobreviventes estão por todo o lado à nossa volta. Dia a dia reinterpretam a sua vivência intra-uterina - o seu sonho do ventre -... alguns poucos sabem-no e estão a conseguir ultrapassá-lo, outros sabendo-o não conseguem evitá-lo, mas a maioria não faz a menor ideia.
É lidando com a situação ao nível pessoal e também social que, num curto espaço de tempo, poderemos curar-nos, colocando esta primeira parte da nossa história no seu devido lugar.
Livres para viver a vida sem estarmos presos a uma fidelidade ao passado, que nunca existiu no aqui e agora, e felizes por saber que honrámos a verdade conforme ela se nos apresenta, poderemos então dar largas às qualidades que são realmente nossas e nos ligam a este mundo. Deveria ser assim: deixar ir, largar o facto de ter começado como gémeo, por ter sido explorado, entendido, reconhecido e honrado, por estar agora no seu devido lugar.
Aquilo a que resistimos persiste, e continuar a ignorar este dilema não é mais uma opção. Não podemos minorar a importância do luto por estes "outros" perdidos e não podemos dar-nos ao luxo de continuar a ignorar a nossa verdade interior.
Tradução do texto de apresentação escrito por Monica Hudson em http://wombtwin-us.blogspot.com/
30 de abril de 2009
Althea em Portugal
Aqui na zona norte Althea transmitiu a mensagem numa palestra com a presença de 12 adultos e 5 crianças na noite de sexta-feira 24, todos de algum modo envolvidos no tema, que acabou com uma deliciosa sopa e pão macrobiótico. No sábado fizemos um workshop de quatro horas com um pequeno grupo de quatro gémeos sobreviventes. Com alguns exercícios simples de toque corporal as pessoas entraram em contacto com os seus sentimentos, e reconheceram imediatamente como a perda dos seus gémeos os fazia sentir.
Em Carcavelos, no Essência do Ser, tivemos um grupo maior para o workshop de quatro horas e o tempo foi curto para conseguir chegar a todos os dezassete participantes. Althea apresentou a informação que recolheu sobre o modo como se geram os gémeos e como se dá o desaparecimento de um deles, e depois passou ao trabalho prático com os participantes que se agruparam-se de acordo com o que preferencialmente sentiam:
- o vazio: renegar a necessidade de reencontrar a/o saudosa/o irmã/o voltando ao sofrimento, ao Buraco Negro.
- a solidão: não ficar sozinho no sofrimento, aceitar a ajuda dos amigos.
- a luta (pela vida): libertar-se da energia Beta (identificação com o gémeo perdido), e fazer o caminho para a força de vida da energia Alfa (do próprio sobrevivente).
- a rejeição: deixar de esperar pela resposta que nunca virá, fazer a despedida.
Como puderam já constatar pela renovação da imagem e o novo nome deste blog, toda esta actividade trouxe muita inovação.
Assim pensámos que fazia sentido criarmos um dia uma associação sem fins lucrativos congénere da Wombtwin.com em Portugal, como que uma irmã gémea da Associação que Althea criou em Londres para podermos organizar-nos em termos de estruturas de apoio a gémeos sobreviventes e pormos os nossos próprios projectos em marcha. Estamos a pensar chamar-lhe Wombtwin.pt - Associação de Gémeos Sobreviventes de Gestações Gemelares ou Múltiplas.
Temos agora também um fórum de discussão no Yahoo, para dar oportunidade a todos os participantes nos Workshops da Althea de trocarem ideias, sentimentos, dúvidas, enfim, para poderem dar continuidade ao trabalho que foi iniciado naquele encontro com Althea Hayton. Aqui no Blog, do lado direito mais a baixo têm um botão de acesso ao grupo.
5 de janeiro de 2009
Wombtwin Day
A Associação Wombtwin.com estabeleceu o dia 21 de Dezembro como o Wombtwin Day – O Dia do Sobrevivente de Gestação Múltipla.
Esta data é uma das três em que é festejado São Tomé, chamado "o Gémeo" na Bíblia. Tomé não é propriamente um prenome, mas sim a palavra equivalente a gémeo, vindo do aramaico Tau'ma (תום). Muito se discute de quem ele teria sido irmão gémeo. A festa Ocidental é a 21 de Dezembro, em igrejas Católicas romanas e sírias é a 3 de Julho, e na igreja grega é a 6 de Outubro.
Nos EUA e noutros lugares, o dia 3 de Julho está já bem estabelecido como a data em que pares de gémeos celebram a sua gemelaridade, pelo que não seria uma data conveniente para nós gémeos sobreviventes. 21 de Dezembro sim, faz sentido por duas razões:
- porque a data fica cerca de 7 meses antes do Dia de Gémeos (3 de Julho) e muitos gémeos "desaparecem" por volta das 8 semanas;
- porque sendo o dia mais escuro do ano, o solstício de Inverno, depois dele movemos-nos lenta e suavemente na direcção da Luz de um novo Verão (quantos sobreviventes não se encontram num lugar muito escuro, e quando descobrem esta sua condição, quase instantaneamente, começam a mover-se na direcção da luz).
Como forma de comemorar o dia 21 de Dezembro e de recordar o irmão perdido no sentido da cura e do alívio desta ferida, Althea Hayton convidou os sobreviventes a realizarem nesse dia algum tipo de ritual ou introspecção.
As afirmações que a seguir se apresentam foram propostas por Althea como ideias para quem quisesse realizar um ritual e não sabia como, mas como ela própria afirmou, chegava o simples facto de guardar alguns minutos desse dia para recordar o seu irmão gémeo.
- Deixo-te agora para ires em liberdade para onde deves estar, já que sei que nunca estiveste destinado a estar aqui comigo.
- Por manter-te próximo de mim, para me ajudares, não podeste ir para a tua nova morada. Vai agora; é seguro para ti partires assim como o é para mim para ficar.
- Sinto a tua passagem por mim e compreendo que o que me trouxeste foi como uma ligeira sombra da relação gemelar num fragmento de memória , apenas isso…
- Estou aqui, tu não. Ficarei por cá mais algum tempo, e logo nos reencontraremos.
2 de julho de 2008
Notícias da 1ª Conferência
No passado dia 21 de Junho participei em Londres na 1ª Conferência anual da Wombtwin.com, com o tema Da Teoria à Terapia. Tive assim a oportunidade de conhecer pessoalmente quem está à frente desta organização realmente pioneira que investiga e apresenta pública das consequências pisco/emocionais que caracterizam os gémeos sobreviventes de gravidezes gemelares.
Acompanhados por de cerca de 30 participantes de diversas idades e nacionalidades, lá estavam Althea Hayton e Nick Owen, duas pessoas bastante diferentes que se completam no modo como abordam o trabalho acerca de gémeos sobreviventes. Ela com a busca minuciosa da evidência científica e dos dados estatísticos, e ele mais com uma observação do ponto de vista psico-emocional; gente que assume com consistência a sua razão, que se apresenta com uma invejável segurança no futuro e uma alegre tranquilidade no presente.
Althea Hayton falou dos efeitos físicos e psicológicos de ser gémeo sobrevivente de uma gravidez múltipla, apresentando ao seu modo transparente e objectivo um powerpoint, a consultar aqui.
Nick Owen apresentou de um modo mais poético a questão da busca de uma terapêutica adequada para gémeos sobreviventes. Encontrar um terapeuta preparado para trabalhar com sobreviventes de gravidezes gemelares não é fácil, é ir contra a maré, há demasiado conhecimento, demasiados factos que se opõem a essa "hipótese". Como afirma Nick "A Sociedade tem um bloqueio em relação a aceitar as vivências pré-natais, e nós próprios, os gémeos sobreviventes, temos esse bloqueio em nós, lutamos com ele diariamente. Precisamos como terapeuta de alguém muito especial, porque o nosso é um problema muito especial".
Para dar resposta ao trabalho psicoterapeutico no âmbito do trauma pré natal, como é aqui o caso, ficou bem clara nesta conferência a necessidade de uma evolução nas psico-terapias. Segundo John Rowan, o palestrante que falou do papel do gémeo desaparecido na psicoterapia pré e peri-natal, "entrar no pré-natal implica entrar nos níveis subtis do transpessoal, do simbólico, e isso aponta para um trabalho com o uso de rituais e o trabalho com imagens".
Para além dos assunto apresentados pelos especialistas, os temas que vieram à baila nas discussões participadas pelos presentes foram igualmente atraentes. Nesses debates, e também nos intervalos, todos aproveitaram para trocar experiências e vivências pessoais, o que criou um clima de união, como se aquele evento fosse uma festa entre amigos que há muito tempo não se viam. Pode ler aqui (em inglês) alguns comentários dos participantes, registados no final do dia.
26 de maio de 2008
1ª Conferência Wombtwin.com
Oradores:
Althea Hayton: Directora do Projecto Wombtwin.com Ltd.
Os efeitos físicos e psicológicos de ser gémeo sobrevivente de uma gravidez múltipla.
John Rowan: Psicoterapeuta pré- e perinatal
O papel do gémeo desaparecido na psicoterapia pré- e perinatal
Nick Owen, Psicoterapeuta, Director Wombtwin.com Ltd.
Em direcção a uma terapeutica para gémeos sobreviventes
Workshops de pequenos grupos para:
Gémeos sobreviventes
Terapeutas
Familiares de Gémeos sobreviventes
Profissionais da área médica.
Por esta altura será também lançado o último livro de Althea Hayton - A Silent Cry, wombtwin survivors tell their stories (Um grito silencioso, gémeos sobreviventes contam a sua história).
Nos últimos cinco anos centenas de pessoas contactaram Althea Hayton, e algumas contaram-lhe a sua história. Esta é uma antologia dessas histórias contadas pelos próprios gémeos sobreviventes. Se quiser saber mais tem aqui mais informações acerca do livro.
25 de maio de 2008
Início
Estudos realizados por Althea Hayton concluem que a memória intra-uterina da experiência gemelar imprime nos sobreviventes determinadas características como o sentimento de solidão, de algo que falta nas suas vidas, o medo de ser abandonado, o sentimento de estar incompleto e de ser diferente ou bizarro. Para lidarem com a dor da perda estas pessoas recorrem a todo o tipo de fantasias, na ilusão de preservar e reinterpretar o seu sonho do ventre, isto é, reconectar-se com o seu irmão gémeo. Nada parece ser mais importante para eles do que isso, nem mesmo a própria vida. Uma vez desvendada a história da sua origem como gémeo e resgatada a carga emocional que os sobrecarrega desde a sua vida no útero, a necessidade de repetir o seu sonho do ventre tende a diminuir ou cessa completamente, para grande benefício pessoal do indivíduo. Althea Hayton faz ainda um trabalho de acompanhamento individual via Internet a quem o solicite. Estando também em linha com este blog, Althea deseja "as boas vindas a todas as pessoas de língua portuguesa de toda parte! Espero que apreciem este blog."
Depois de muito ler e estudar, ouvir e buscar, reflectir e sentir, quero colocar à vossa disposição a informação e as ideias que vou tendo acerca de ser gémeo sobrevivente. Este blog vai-nos servir para trocarmos ideias acerca desta matéria, surpreendente para a maior parte da opinião pública, em português.
Reencontrar a minha irmã desaparecida foi a peça do puzzle que faltava para chegar a mim própria, pois ao ousar encarar-me de frente consegui finalmente ver através do fino véu que a encobria.
Desejo que este seja um sítio útil para todos os meios-gémeos que procuram conhecer-se melhor, para que possam entender e confiar nos seus sentimentos.