26 fevereiro 2009

Museu d'Orsay: animatógrafo parisiense?

A PSP de Braga, como é conhecido, apreendeu exemplares de um livro intitulado "Pornocracia"que exibia na capa uma célebre pintura do pintor francês Gustave Courbet (1819-1877) da escola realista e não renascentista como noticiou a TVI. Enviou o auto para o Ministério Público. Vamos ver no que isto vai dar...
A pintura faz parte das colecções do Museu d'Orsay em Paris, é considerada uma obra de arte evidentemente e por isso está exposta no referido museu. A PSP alega que fez a apreensão para evitar desacatos. Desacatos? Não por ser divulgação de pornografia (até porque isso acontece na televisão em canais generalistas, basta passar por um vulgar quiosque para exemplares do género serem identificados com facilidade) mas para evitar desacatos!? Outra história com contornos semelhantes aconteceu em relação a um cortejo de carnaval. Foram censuradas imagens alegadamente pornograficas divulgadas por um computador (por acaso ou talvez não um Magalhães). Depois a decisão ficou sem efeito e lá correu o desfile com a normalidade carnavalesca do costume.


Quer num caso quer noutro é absolutamente ridículo gastar-se tempo e certamente dinheiro (dos contribuintes evidentemente) com este tipo de actuação. Já sem falar do falso moralismo, da falta de sentido de humor, a falta de cultura geral, etc, etc, latentes. Um Estado que não valoriza a Liberdade e as liberdades (o que implica obviamente responsabilidade), que quer assumir o controle excessivo dos cidadãos, até nossos aspectos mais pessoais por vezes, de carácter quase policial (recorde-se o episódio das visitas policiais a sedes de sindicatos antes de determinadas manifestações por exemplo) não é o caminho que uma democracia pluralista deve seguir.


Imagine-se se as autoridades policiais francesas apreendessem a própria pintura de Courbet! Museu d'Orsay animatógrafo parisiense? Se já foi estação de comboios...


Concentremo-nos no essencial, pelo menos quando estão em causa as intervenções e as posições do Estado e respectivas autoridades, que do acessório tratamos nós em amenas cavaqueiras nos cafés ou noutros sítios eventualmente indecorosos para alguns. Aí sim podemos dizer disparates, fazer disparates (desde que não colidam com a liberdade dos outros, com a dignidade humana e com a Lei naturalmente) que ninguém tem nada a ver com isso. Indecoroso a meu ver, para não dizer pornográfico mesmo, é o Estado ser tão protector da moral e dos bons costumes mas não se envergonha por ser mau pagador, não ser honrado em tantos compromissos que assume, etc. Confusões entre o essencial e o acessório que são dispensáveis. Aí sim todos beneficiarão.

30 janeiro 2009

Curiosidades

Por acaso sabiam que António Vitorino é o presidente da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva?

29 janeiro 2009

Um cenário

Dado o problema político que o Primeiro Ministro português atravessa (veremos se assumirá também contornos de natureza judicial) eis um cenário possível: Sócrates apresenta a sua demissão ao Presidente da República (PR), António Costa deixa a presidência da Câmara Municipal de Lisboa (CML), assumida entretanto pelo seu vice-presidente Marcos Perestrello, para formar governo pois Cavaco decidira não convocar eleições antecipadas. Dá posse a António Costa (o PR sente-se mal na Sala dos Embaixadores do Palácio da Ajuda na tomada de posse) e ao novo governo. Passados uns meses Cavaco demite o governo de Costa por este se ver envolvido numas quantas pretensas trapalhadas e aí convoca eleições legislativas antecipadas. O PS com Costa à cabeça e o PSD com Ferreira Leite vão a votos. O PSD ganha as eleições com maioria absoluta e Ferreira Leite é empossada como Primeira-Ministra. Entretanto na CML Costa volta à presidência mas Sá Fernandes está cada vez mais afastado até à ruptura (com Costa pois com o Bloco de Esquerda já havido sido!). Roseta assume definitivamente que é vereadora da oposição na Câmara. A CML torna-se instável e fazem-se pressões para eleições antecipadas. Assim acontece. Entretanto pelo PPD/PSD Santana avança deixando o cargo de Ministro de Estado e da Administração Interna que desempenhava no Governo de Ferreira Leite. O PS não apoia Marcos Perestrello que avança como independente (o motivo que corre à boca pequena é que tem um nome demasiado pomposo para ser cabeça de lista de um grande partido popular da esquerda democrática moderna). Arrobas da Silva (vereador do PS em Cascais) é o candidato do PS à CML. Santana ganha as eleições em Lisboa sem maioria absoluta no executivo municipal.

Será? Cheira-me um bocado (grande, enorme) a déjà vu... Será?

28 janeiro 2009

Nós por lá

A Gare da Estação Central dos Caminhos de Ferro em Maputo (projecto de Gustave Eiffel) foi considerada pela Newsweek como sendo provavelmente a mais bela de toda a África e a sétima classificada numa lista de nove estações ferroviárias seleccionadas por especialistas em todos os continentes. Foi inaugurada em Março de 1910 (ainda em monarquia portanto...). Por exemplo, no âmbito da geminação - datada de 20 de Março de 1982 - de Maputo e Lisboa (esta sim faz todo o sentido existir e ser consolidada, ao contrário de algumas que pairam no ar como Gaza...) algo poderia e deveria ser programado para uma comemoração condigna dos cem anos do edifício em 2010.



Nós por lá deixámos marcos de qualidade, testemunhos portugueses que são espelhos de nós próprios enquanto povo aberto ao mundo, cosmopolita (como pode paradoxalmente haver tanta tacanhice??), bem integrado e integrador. O património cultural, em particular o arquitectónico, de raízes portuguesas disperso pelo mundo atesta isso mesmo. Grande parte dele precisa de conservação, de restauro e de ser valorizado. Nesta selecção da revista norte-americana os critérios foram o próprio traçado arquitectónico e o estado de conservação. Ao que parece a dita estação está bem preservada. Pedro BH conheces in loco? Confirmas?





A lista é:



"1. St. Pancras, London


2. Grand Central Terminal, New York


3. Chhatrapati Shivaji, Mumbai


4. Central Station, Antwerp, Belgium


5. Dare des Bénédictins, Limoges, France


6. Lahore Railway Station, Pakistan


7. Central Railway Station, Maputo, Mozambique


8. Hua Hin Railway Station, Thailand


9. Atocha Station, Madrid"





in Newsweek, 19 de Janeiro de 2009




23 janeiro 2009

A tomada de posse, o desfile e a Universidade


Na tomada de posse do 44º Presidente dos Estados Unidos da América, que é como quem diz de Barack Obama, há um facto que não é considerado essencialmente político (mas talvez devesse ser num determinado sentido) que deve ser realçado. Assisti a parte da cerimónia de tomada de posse e retive algo extremamente importante: a participação no desfile de universidades americanas! Moças trajadas (mas não muito, apesar do frio em Washington D.C.) a rigor bem ao estilo universitário americano. Bom, mas não é neste aspecto, que curiosamente destaco impulsivamente, que me quero centrar.

A importância do momento, a presença universitária nesse mesmo momento histórico (quer se goste, quer se esteja de pé atrás, quer não se goste de todo) é o que quero sublinhar (e a traço duplo). A relevância cultural, científica, social, logo deve também ser considerada política no seu sentido mais lato e nobre, do meio académico nos E.U.A. é algo que nos deve, por um lado impressionar, por outro sensibilizar. O papel que a Universidade tem e o que pode vir a ter merece atenção, reflexão e decisões.

A Europa possui universidades com grandes tradições e pergaminhos, com qualidade científica efectiva. Não é isso que está em causa. O impacte social e o peso em diversos sectores da sociedade e da economia que a Universidade alcança nos E.U.A., apesar de tudo é diferente do que sucede na Europa. Nisso os norte-americanos são diferentes. Cá assistimos a este tipo de desfiles no carnaval, nos E.U.A. na tomada de posse do presidente. Com uma grande vantagem do segundo sobre o primeiro. Neste resume-se a diversão e folclore (o que não é necessariamente mau). Naquele podemos atribuir contornos intelectuais e científicos. E bem. O ponto é mesmo esse. A Universidade ensina, forma, qualifica (à partidas as boas quer na Europa quer nos E.U.A) e assume, no caso americano, uma relevância social e política com tanto peso como os militares e a defesa (talvez não tanto mas muito peso pronto!). E bem sabemos o peso que estes têm do outro lado do Atlântico... Nos E.U.A. a Universidade está ao mesmo nível, em termos de influência pública, da comunicação social, de grande empresas com peso económico-social, etc. Quem ganha são os norte-americanos. Bem, aqueles que de uma maneira ou de outra podem ou conseguem forma de pagar as elevadas propinas. A qualidade também se paga. Há também que ter em conta os ganhos indirectos e a longo prazo. Estes não têm preço! Mas esta é outra discussão.

05 janeiro 2009

Volta, estás perdoado!

Como é o primeiro post que escrevo este ano desejo a todos um excelente ano de 2010... 2009 aliás! Sim vamos ter de passar por ele, com realismo, determinação e também esperança, mas sem ilusões. Se o tempo não volta para trás, como seria desejável nalgumas ocasiões, também não acelera, como seria (é) desejável noutras.

Espero que apesar da dita crise financeira e económica de escala global o mundo avance nos processos de paz ( a actual situação no Médio Oriente, infelizmente, não aponta nesse sentido), que se consiga insistir na formação dos recursos humanos, no alcance mais alargado da educação, da cultura e da ciência, que se consiga arranjar soluções alternativas criativas, inovadoras e sobretudo eficazes, que não passem, praticamente em exclusivo, pela injecção de capital do Estado nas empresas (ainda para mais com critérios de selecção questionáveis), que seja feita a escolha prioritária de apoio a projectos de pequena ou média dimensão mas com resultados profícuos e duradouros. Incluo aqui projectos na área da cultura, mas também da economia, sobretudo se falarmos de turismo cultural ou ambiental de qualidade que permitem uma ponte directa entre um sector e o outro. Escrevia outro dia sobre isto um professor universitário catedrático de economia, cuja tese de doutoramento versa sobre a economia internacional, alertando para a importância deste tipo de selecção de investimento público em detrimento das grandes obras públicas, também conhecidas como obras de regime, que pelo menos parcialmente deveriam (e devem) sofrer profunda revisão. Meus caros sabem a que ilustre professor me refiro? Campos e Cunha, ex-ministro das finanças do governo Sócrates, que sai do governo apenas pouco mais de quatro meses após ter tomado posse. Percebe-se bem o motivo da saída (afastamento?) e clarifica para quem ainda pudesse ter alguma espécie de dúvidas qual o rumo que leva o actual governo, ou ausência deles (de rumo e de governo). Logo foi apontado como pouco político e rapidamente remodelável, ou seja, criou mau estar no aparelho do PS e crispação com a dupla Lino e Pinho, portanto é para afastar. É incrível como quem tem ideias estruturadas sobre determinadas matérias, que até dariam projectos interessantes e importantes, razoáveis e viáveis, com um bom equilíbrio custo/benefício é tantas vezes tido como pouco político e se tiver "sorte" ainda por excessivamente técnico em jeito de disfarce do cilindro partidário a sobrepor-se a tudo o resto, mesmo que esse resto seja o interesse público e o desenvolvimento do país. E o problema é ainda mais grave quando constatamos que Campos e Cunha não é caso isolado nem excepção à regra.


Mas Campos e Cunha enquanto governante já lá vai (embora perante tudo o que mencionei é caso para dizer "Volta, estás perdoado!"), temos de pensar quem se seguirá a Sócrates e sobretudo que tipo de democracia queremos e podemos ter, que tipo de organizações políticas e sociais melhor servirão o interesse nacional, e possivelmente rever os próprios interesses nacionais e sua hierarquia de prioridades. Em tempos de guerra, que é como quem diz de crise, não se limpam armas, mas existem algumas (se não armas, ferramentas) que devem estar sempre impecáveis, mesmo (ou às vezes sobretudo) durante crises: capacidade de reflexão, espírito crítico, visão estratégica, dedicação e empenho às causas públicas.

Venha 2009!

10 novembro 2008

Jardim do Torel


Outro dia estive no Jardim do Torel. Estava no renovado Jardim de S. Pedro de Alcântara e ao avistar o Torel no outro lado da Avenida da Liberdade resolvi ir até lá (ainda para mais tinha feito essa promessa aqui no blog precisamente num "post" sobre S. Pedro de Alcântara). Subi no Elevador do Lavra e lá cheguei. E o desconsolo foi total. Aliás foi mais do que isso. Tinha havido uma festa de uma qualquer associação e o cenário aproximava-se do caótico. O Jardim para além de degradado ainda estava por limpar e "arrumar". A vista para o antigo Valverde, que é como quem diz Avenida da Liberdade, é que funcionou como escape, pelo menos momentâneo pois não ia ali somente para descansar e gozar a vista. Penso sinceramente que a blogoesfera pode dar um contributo (um entre outros necessariamente) para a promoção da cidadania, e em particular no que diz respeito à cidade de Lisboa. Aliás, existem já felizmente alguns blogs que se especializaram em assuntos lisboetas e que alertam para diversos problemas que a cidade enfrenta. A Gazeta é mais generalista (penso que assim deve continuar), porém quando aqui comecei a escrever afirmei que uma das temáticas a abordar seria a lisboeta. Ainda bem que os meus amigos Gazeteiros Pedro BH e Rodrigo MG (também nas "Crónicas Alfacinhas") se pautam pela dedicação a Lisboa. Nunca seremos em demasia.


De volta ao Jardim do Torel. Sujo e degradado, situado numa rua com casas e palacetes de finais do século XIX/inícios do século XX, bem próximo do Campo de Santana...Numa zona bem central da cidade onde espaços verdes e de lazer fazem sempre falta, não só para os que lá moram (que são infelizmente cada vez menos nessas zonas, tendência essa que deve ser invertida a todo o custo sob pena da cidade, da verdadeira cidade, ir morrendo) mas para todos os outros lisboetas e cidadãos nacionais ou estrangeiros que visitam, trabalham ou passam pela cidade. É essa a essência das zonas públicas. Neste caso de um jardim público que deve ser reabilitado, mantido, preservado, dignificado de forma simples pelos seus utentes por uma utilização responsável e que se paute pelo civismo e pela tutela por uma gestão responsável.


Espero que a C.M.L. assuma as suas responsabilidades e que os cidadãos que o frequentam usufruam do espaço (após as obras necessárias pois agora só mesmo pela vista) com todo o civismo. Sem ser excessivamente pessimista não sei qual será mais difícil. Como não gosto particularmente de generalizações esperemos que não seja tanto assim e que o Jardim volte a sê-lo em pleno. Aquilo que é Património tal como o tanque, azulejos, esculturas seja recuperado, mobiliário de jardim renovado e zonas verdes requalificadas. A juntar a isto critérios mais exigentes de utilização e cedência do espaço. Ser público deve significar precisamente o contrário do que aparentemente sucede. Uso e abuso. A boa prática é bom uso e penalização dos abusos. E a C.M.L. a zelar pelo património da cidade que é de todos. Não o fazendo é tão ou mais irresponsável do que aqueles que atiram lixo para o chão, caminham por entre os canteiros ou arrancam bocados do jardim.

07 novembro 2008

Tapada das Necessidades


O Ministério da Agricultura, pela mão do Ministro Jaime Silva, assinou um protocolo com a CML que concede a gestão da Tapada das Necessidades à autarquia lisboeta.
Este Jardim Histórico, porventura o mais importante da cidade de Lisboa, encontra-se há anos votado ao abandono, ocupando um espaço privilegiado da cidade, sem que os lisboetas dele possam usufruir dignamente.
Já anteriormente tive ocasião de escrever um texto neste Blog sobre a Tapada.
Espera-se que esta mudança de tutela traga de facto a tão desejada requalificação do antigo jardim real onde D. Fernando II na companhia do seu filho D. Pedro V iniciou a experiência botânica que fez nascer o Parque Nacional da Pena, ou onde D.Carlos instalou o seu atelier de pintura ( hoje ocupado pelo gabinete do ex-Presidente da República Jorge Sampaio). Trata-se de um espaço ímpar da cidade de Lisboa que merece toda a atenção na sua requalificação, pelo seu significado histórico e pela riqueza botânica que possui entre as dezenas de espécies que lá se encontram desde meados do séc. XIX.
Estaremos atentos ao que por lá se fará!

05 novembro 2008

História!

Esta noite fez-se História!
A eleição de Barack Hussein Obama para Presidente dos EUA é um marco na história da América que traz consigo um notável capital de mudança e de esperança.
O mundo, e os EUA em particular, aguardam com imensa expectativa que as palavras proferidas no seu discurso esta noite se tornem realidade.
Ambos os candidatos, Obama e o republicano Mc Cain, fizeram discursos de enorme dignidade e elevação.
Esta noite assistiu-se a um exercicio de Democracia inspirador pela sua dimensão e significado.Esta noite, o Mundo fez as pazes com os EUA. Esta noite a esperança foi profundamente renovada.Esta noite fez-se História!

03 novembro 2008

Esperança


A eleições que se realizam amanhã nos EUA constituem um factor de esperança importantissimo. Não há memória recente de que umas eleições presidenciais norte-americanas despertassem tanto interesse, não só internamente, mas no mundo inteiro. Para isso contribui necessariamente não só a crise financeira e económica que o mundo atravessa, e que mais do qualquer outra tem um efeito global, mas também o carácter politico desta eleição. Ao fim de uma década, começa a ser bastante visivel , mesmo para aqueles que nunca quiseram ver, que o consulado republicano de W. Bush fez caminhar os EUA para uma situação muito complexa, que é transversal às finanças, à economia, à politica interna, as relações externas e a todas as áreas da tradicional actuação das autoridades americanas. A somar a estes factores, já de si preocupantes quando se reportam a um país hegemónico como os EUA, junta-se uma profunda crise de autoridade.
A escolha entre os dois candidatos que disputam estas eleições, é portanto de suma importância. Mais do que reforçar as finanças e a economia, o próximo Presidente dos EUA terá de restaurar a credibilidade e a autoridade dos EUA, quer ao nível interno quer externo. Trazer de novo os EUA ao concerto das nações na compreensão de um mundo cada vez mais global é uma missão urgente e necessária.
Estou crente que o Senador democrata Barack Obama vai vencer estas eleições. Eu e muitos milhões pelo mundo inteiro. Assiste-se neste momento a um «suspense» das atenções globais neste resultado eleitoral exactamente proporcional à esperança que o mundo tem de mudança de liderança nos EUA e por essa via à escala global.
A política republicana está esgotada. Mesmo que Mc Cain não seja igual a W. Bush, a verdade é que não traz nada de novo ao discurso político e sobretudo não taz consigo nenhum capital de esperança.
Barack Obama será presidente dos EUA. A sua eleição trará um novo fôlego à politica internacional e o facto de ser o primeiro Presidente negro dos EUA não é de menosprezar. Isso só por si traz uma enorme mais valia para a Democracia americana e para a dignificação dos negros naquele pais.
Seja como fôr, Obama será sempre presidente dos EUA, quer isto dizer, que apesar de todas as esperanças, não se espere que o seu governo não seja o da defesa dos interesses norte-americanos em primeiro lugar. No entanto, qualquer mudança politica neste momento, que aponte para um regularização da actuação dos EUA no mundo, de acordo com o Direito Internacional e numa linha de pacificação dos conflitos regionais, que tem sido a politica defendida pelos Democratas, é só por si motivo de esperança. Aguardemos!
A Era W. Bush terminu por fim. Um dia, quando se fizer a historia deste período, e as contas desta década de guerra, de desrespeito pelos valores da politica à luz do Direito e de descalabro financeiro, talvez se perceba que este foi provavelmente o pior consulado de sempre da Casa Branca.O Mundo é hoje um sitio pior para se viver.
Esperemos que dentro de uma década possamos afirmar o contrário!

28 outubro 2008

Teias Palacianas


(Palácio da Pena, Sintra)

26 outubro 2008

Sem vergonha no rosto


Sócrates em entrevista recente disse que Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas são rostos do passado associados a anteriores governos que fracassaram... Não foi precisamente Sócrates que pertenceu a um governo passado liderado (ou nem por isso) por Guterres e que não se pode dizer que tenha tido propriamente grandes sucessos, ainda para mais em "tempo de vacas gordas"!? É preciso não ter vergonha na cara, ou no rosto como preferirem. Isto já sem falar da subjectividade dos conceitos de sucesso ou fracasso políticos. Mas é inquestionável o pântano criado e que alegadamente Guterres com a sua demissão ainda julgava evitar. Logo pântano não me parece algo associável a sucesso, estou certo ou estou errado? E Sócrates estava nesse barco que estagnou, certo? Não é que não tem mesmo vergonha nenhuma!

23 setembro 2008

Há realidades intemporais...

"Mas os pedantes irritam-se sempre quando os outros sabem tão bem como eles o seu mesquinho ofício; tudo servia de pretexto para as suas observações maldosas; eu tinha mandado incluir no programas das escolas as obras excessivamente desdenhadas de Hesíodo e Énio; aqueles espíritos rotineiros atribuíram-me imediatamente a intenção de destronar Homero e o límpido Virgílio, que, todavia, eu citava constantemente. Não havia nada a fazer com aquela gente."




in YOURCENAR, Marguerite, "Memórias de Adriano", Ulisseia, p. 171

11 setembro 2008

O estado da Nação...

-Uma adolescente de 16 anos pode fazer livremente um aborto mas não pode pôr um piercing.

- Um jovem de 18 anos recebe 200 € do Estado para não trabalhar; um idoso recebe de reforma 236 € depois de toda uma vida do trabalho.

-Um marido oferece um anel à sua mulher e tem de declarar a doação ao fisco.

-O mesmo fisco penhora indevidamente o salário de um trabalhador e demora 3 anos a corrigir o erro.

-Nas zonas mais problemáticas das áreas urbanas existe 1 polícia para cada 2 000 habitantes; o Governo diz que não precisa de mais polícias.

-Um professor é sovado por um aluno e o Governo diz que a culpa á das causas sociais.

- O café da esquina fechou porque não tinha WC para homens, mulheres e empregados. No Fórum Montijo o WC da Pizza Hut fica a 100mts e não tem local para lavar mãos.

- O governo incentiva as pessoas a procurarem energias alternativas ao petróleo e depois multa quem coloca óleo vegetal nos carros porque não paga ISP (Imposto sobre produtos petrolíferos).

- Nas prisões são distribuídas gratuitamente seringas por causa do HIV, mas é proibido consumir droga nas prisões!

- No exame final de 12º ano és apanhado a copiar chumbas o ano, o primeiro-ministro fez o exame de inglês técnico em casa e mandou por fax e é engenheiro.

- Um jovem de 14 mata um adulto, não tem idade para ir a tribunal. Um jovem de 15 leva um chapada do pai, por ter roubado dinheiro para droga, é violência doméstica!

- Uma família a quem a casa ruiu e não tem dinheiro para comprar outra, o estado não tem dinheiro para fazer uma nova, tem de viver conforme podem. 6 presos que mataram e violaram idosos vivem numa sela de 4 e sem wc privado, não estão a viver condignamente e associação de direitos humanos faz queixa ao tribunal europeu.

- Militares que combateram em África a mando do governo da época na defesa de território nacional não lhes é reconhecido nenhuma causa nem direito de guerra, mas o primeiro-ministro elogia as tropas que estão em defesa da pátria no KOSOVO, AFEGANISTÃO E IRAQUE.

- Começas a descontar em Janeiro o IRS e só vais receber o excesso em Agosto do ano que vem, não pagas as finanças a tempo e horas passado um dia já estas a pagar juros.
- Fechas a janela da tua varanda e estas a fazer uma obra ilegal, constrói-se um bairro de lata e ninguém vê.

- Se o teu filho não tem cabeça para a escola e com 14 anos o pões a trabalhar contigo num oficio respeitável, é exploração do trabalho infantil, se és artista e o teu filho com 7 anos participa em gravações de telenovelas 8 horas por dia ou mais, a criança tem muito talento, sai ao pai ou à mãe!

-Numa farmacia pagas 0.50€ por uma seringa que se usa para dar um medicamento a uma criança. Se fosse drogado, não pagava nada!

Obrigado Portugal. Estamos orgulhosos.
Nota: recebido por e-mail

05 setembro 2008

A Festa do Avante

Inicia-se hoje mais uma edição da festa do Avante! Numa passagem rápida pelo site do PCP, poderemos constatar que entre os ilustres camaradas internacionais convidados e com direito a stand, encontramos:

o PC da China; o PC da Coreia do Norte; o PC de Cuba; etc.

Tudo expoentes maximos da democracia.

Todos amantes da Liberdade, seja ela política, de expressão ou qualquer outra.

Tudo boa gente, seguramente incapaz de fazer mal ao proximo, ainda que este último pense de maneira diferente.

E no fim da festa, não faltará o discurso do camarada Jerónimo, como sempre, em nome dos mais fracos e oprimidos, em nome das classes operárias e pasme-se dos direitos democráticos!

Enfim, teremos este fim de semana na Atalaia um dos momentos altos da hipocrisia e cinismo político do PCP. Nada aliás a que não estejemos habituados!

Valha-nos o facto de este ano não terem convidado organizações terroristas como as FARC (depois do episódio de libertação de Ingrid Bettencourt, seria arriscar demasiado!).

Teremos pois uma festa sem terroristas, mas cheia de representantes de ditaduras!

É assim mesmo! Avante Camaradas! Que o Sol brilhará para todos nós...

Está seguro disso?

É inegável que existe no seio da sociedade portuguesa um sentimento de insegurança latente. É igualmente inegável que as estatísticas da criminalidade, em particular daquela de carácter mais violento, acompanham esse sentimento. Não se trata, portanto, de uma criação mediática (ainda que este tipo de ocorrência tenha grande eco nos meios de comunicação social) nem de uma argumentação falaciosa da oposição só para massacrar o governo. É a realidade e esta é dura. Sempre sujeita a interpretações é verdade. Mas neste caso não há margem para muitas. Nem para poucas. O retrato ainda não é dramático, embora grave, mas está a crescer a olhos vistos e pode tornar-se num cenário sem precedente no panorama nacional.
Como reage o governo por intermédio do Ministério da Administração Interna e das forças de segurança?

Mega operações stop, prisão preventiva para quem possua uma arma ilegal e mais? Não me estou a recordar. Falha de memória certamente. É verdade umas quantas pistolas para renovar o equipamento da PSP e GNR.

Não é por mega operações stop que se vai terminar a escalada de criminalidade violenta e com novos fenómenos criminais. Podem ser apanhados condutores com excesso de álcool ou drogas (e bem), excesso de velocidade (e bem, embora os 120 km nas A's sejam discutíveis), falta de documentos ou habilitação legal para conduzir (e bem), eventualmente algumas armas ilegais (e bem). Agora o tráfico de armas, de droga, assaltantes à mão armada e outros criminosos mais pesados não. É bom que se tenha noção clara disso. Por um lado existe um discurso que aponta no sentido da sobrelotação dos estabelecimentos prisionais, no excesso da aplicação da medida máxima de coação a prisão preventiva. Surge entretanto outro, igualmente oficial, a reforçar a prisão preventiva para todos os indivíduos que possuam uma arma ilegal. Irá funcionar, irão o Estado e as suas estruturas ter capacidade para dar uma resposta eficaz a tudo isto? Parece-me que não. Legislar a quente e em resultado de acontecimentos específicos dá sempre mau resultado. Não tenho formação jurídica mas sempre ouvir dizer isto e com confirmação na prática. É uma subversão daquilo que deve ser a racionalidade na concepção e criação legislativa.

Em termos da operacionalidade e articulação das forças de segurança o que está o goveno a fazer? No que diz respeito ao aumento efectivo de agentes no terreno a desenvolver policiamento de proximidade, altamente dissuasor da criminalidade, e ao desvio de elementos das forças de segurança de funções administrativas de gabinete para essas outras funções o que está a ser feito?
As próprias condições dos agentes e militares não favorecem em nada o seu empenho e profissionalismo, que já muito fazem uma vez que têm uma profissão de risco que não é plenamente assumidada pela tutela. Há certamente bons e maus profissionais como em todos os sectores mas nem todos se arriscam tanto a ver o seu salário reduzido (pagamento de certas despesas inerente ao trabalho policial) ou a serem sujeitos a julgamento, porventura com alguma frequência, simplesmente por cumprirem em condições a sua missão.

O governo acha que está a dar respostas adequadas. Sr. Primeiro-Ministro está mesmo seguro disso? Só esperemos que lhe saia o tiro pela culatra. Em sentido figurado claro.

30 junho 2008

Lisboa: de Costa à contra Costa

Começo na zona oriental da cidade.

Por deliberação da Câmara Municipal de Lisboa o rés-do-chão e cave do emblemático Palácio da Mitra vão ser arrendados à Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) por 350,00 € mensais enquanto as futuras instalações para a sua sede na zona das Olaias não estão prontas.
O edifício histórico na posse da autarquia lisboeta desde 1930 apesar de sofrer vários atropelos ao longo do seu caminho acaba por assumir um papel de dignidade municipal ao acolher o Museu da Cidade entre 1941 e 1973 (independentemente das opcções museológicas na época poderem ser hoje contestadas, sobretudo à luz da museologia contemporânea). Será que ao longo de todo este tempo não se pensou um pouco na melhor forma de valorizar tal palácio? Manifestamente não. O Palácio Pimenta no Campo Grande para onde se mudou o Museu da Cidade em 1973 apresenta sinais claros que a falta de prioridade atribuída à recuperação de edifícios históricos (e também a uma mais clara política museológica municipal) afecta o actual espaço museológico que conta a história de Lisboa (ainda que de forma incompleta). Se não existe forma de se avançar com a recuperação do actual museu quanto mais do edifício onde esteve sediado o antigo! Já não bastando esta falta de preservação e valorização do património arquitectónico urbano junta-se-lhe aquilo que a meu ver deve ser tido por uma gestão danosa do imóvel municipal. 350 € por mês e um período de carência de cinco anos! (na prática não há lugar ao pagamento de renda). Mais vale assumirem de vez que pretendem que o edifício caia de velho. Isso sim seria ainda mais grave do que gestão danosa.




Desembarque no Terreiro do Paço.

Outro episódio do périplo na selva lisboeta prende-se com a utilização do Terreiro do Paço aos Domingos (o tal dia em que é das pessoas...). O Pátio da Galé (ala ocidental) tem sido palco de vários acontecimentos organizados pela autarquia. O festival do peixe (aproveito para recordar também o dia da sopa no Palácio de S. Bento) entre outros marcaram presença no dito espaço. A qualidade e o bom gosto (que é sempre discutível...) não têm sido as tónicas dominantes. Agora podemos ver uma exposição sobre o Plano da Baixa (1758-2008). É uma reconversão do projecto de exposição que deveria ter sido inaugurada em 2005 por ocasião dos 250 anos do grande terramoto. Houve complicações de vária ordem e não abriu. Surge agora esta exposição.
O comissariado científico é da responsabilidade dos professores Ana Tostões e Walter Rossa cujas qualidades académicas e científicas são insuspeitas. No que diz respeito à organização e montagem já não serei tão peremptório. Neste momento o Pátio da Galé não oferece condições para uma exposição de qualidade. A sua requalificação está incompleta pois pretendeu-se começar a "casa pelo telhado". Programaram-se actividades para o local (programação também ela discutível) e depois logo se procederá (quando?!) à reabilitação do dito pátio. Apresenta ainda estruturas de telhados com chapas de zinco ou de plástico que para além do mau aspecto imediato (bem como as casas de banho existentes) provocam um grande aumento de temperatura no seu interior, o que não é agradável para os visitantes e sobretudo não é nada recomendável para os objectos expostos. O corredor de entrada com a sua passadeira encarnada engelhada e algo suja, umas esvoaçantes cortinas pretas dos lados e a sinalética inicial são manifestamente produtos de fabrico amador.
O circuito da exposição acaba por se tornar um pouco confuso acabando o visitante por se dispersar e perder, de alguma forma, o fio condutor. Outros aspectos criticáveis são o tratamento dado ao período entre 1756 e 1758 do qual existe informação histórica escassa e que foi tratado museograficamente com bastante exagero ao entrarmos numa quase câmara escura onde sobressaem umas luzes roxas; um outro é o terminar da exposição, já próximo da saída onde figura uma réplica branca em grande formato da estátua equestre de D. José I cujo original da autoria de Machado de Castro pode ser apreciado a dois passos bem no centro do Terreiro do Paço. Também o transporte da grande maqueta concebida pelo olissipógrafo Matos Sequeira do Campo Grande para o Terreiro do Paço não me parece o mais apropriado.

Gostei da diversificação da abordagem (ainda que não propriamente organizada da forma mais conviniente) pelos seguintes aspectos: Informação histórica geral e outra mais específica de carácter urbanístico, arquitectónico e de engenharia; apresentação ao início de acontecimentos semelhantes, numa perspectiva comparativa, ao terramoto de 1 de Novembro de 1755 que ocorreram anteriormente em Itália (na Sicília com a erupção do Etna) e no final uma visão de relance e de futuro da zona Baixa/Chiado e respectiva reabilitação (espero que não tão longínqua quanto isso apesar da criação da Sociedade de Reabilitação Urbana).

A exposição passa muito por temas de arquitectura e engenharia...não deveria a autarquia lisboeta saber que não se começa a fazer uma casa pelo telhado?

Como as costas já vão largas e tenho margem para futuros "postes"deixo para uma outra oportunidade a reabilitação da frente ribeirinha que começa mal (pelo menos é um mau indício) com a saída mais do que prematura de José Miguel Júdice da sua direcção.

16 junho 2008

O Equivoco II


A Irlanda disse Não.

O Primeiro-ministro português toma a atitude dos irlandeses como uma afronta que pôe em causa o momento mais importante da sua carreira política.

Os politicos europeus, escudados nos seus parlamentos (que são nossos) consideravam que não tinham de explicar nada aos soberanos povos da Europa comunitária. Não fosse a Constituição irlandesa que obriga a referendar Tratados desta natureza e viveriamos todos cegos sob a égide de um Tratado ignorado.
Não tenho pena. Assim é a Democracia, e assim é a Europa.
Esperemos que alguém se dê ao trabalho de começar a explicar o Tratado aos cidadãos.
Quanto ao Primeiro-ministro de Portugal, não sei se lhe servirá de consolo afirmar que se devem contar pelos dedos de uma mão os irlandeses que sabem quem é José Sócrates Pinto de Sousa.

31 maio 2008

O Barba Laranja


O ódio como lhe chamou Vasco Pulido Valente... "(...)aquele senhor das barbas da Quadratura do Círculo(...)". Para os menos atentos estava Luís Filipe Menezes a referir-se a Pacheco Pereira e não a Lobo Xavier ou Carlos Andrade.

Fazer a diferença

Hoje consumam-se mais umas eleições directas para eleger o líder do PPD/PSD. Os seus militantes (com as cotas em dia e que forem votar obviamente) escolhem entre Manuela Ferreira Leite, Pedro Santana Lopes, Pedro Passos Coelhos e Patinha Antão. Independentemente do resultado (ainda que me pareça claro que Manuela Ferreira Leite está em vantagem) julgo que o panorama político não se alterará substancialmente e em meu entender tal mudança é aquilo que mais necessitamos para um avanço da nossa democracia participativa. Renovação estruturada e sólida dos actuais partidos portugueses que são a base da vida democrática. Tanto tempo em campanhas, debates, mediatismo e tudo ficará basicamente na mesma. Não se discute (pior não se trabalha em prol de, embora tenha de sublinhar a existência de honrosas excepções) o essencial, questões estruturantes e de fundo, projectos necessários e de qualidade que contribuam e marquem positivamente várias gerações, reformas de todo o sistema político a começar pelas próprias estruturas partidárias. Coisas que tenham a ver com a qualidade de vida, com o desenvolvimento integrado e sustentável, passam tantas e tantas vezes para um plano confrangedoramente secundário assim como egoísmos vários que atiram para esse mesmo plano o civismo, a cidadania, a riqueza da diversidade e do pluralismo. A democracia e as pessoas, enquanto indivíduos e cidadãos, merecem outro tratamento, outra consciência, outra ponderação e atitude. Por parte de todos e cada um de nós, em particular daqueles que exercem responsabilidades públicas. Para impulsionar tudo isto tenho insistido na renovação, na refundação partidária. Isso sim iria contribuir para fazer verdadeiramente a diferença. Estamos bastante cansados, saturados mesmo, de ouvir falar em reformas, mudança, etc, etc, inclusivamente alguns de nós (infelizmente poucos e nem todos assim tão bons...), tentamos dar o nosso contributo para que essas palavras e conceitos tenham expressão prática. Mas não basta mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma. É preciso fazer melhor e fazer a diferença. Enquanto isso tentamos...um impulso à chamada ala liberal pode ser um começo. Deve ser um começo. Tem de ser um começo. Já começa a tardar...